A UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL: PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA NA UFG

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1 A UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL: PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA NA UFG Cleide Aparecida Carvalho Rodrigues/FE Comunicação Formação e profissionalização docente A implantação do programa da Universidade Aberta do Brasil na Universidade Federal de Goiás- UFG e em outras Instituições de Ensino Superior (IES) é uma atividade arrojada para o MEC, para as IES e para os municípios, visto que exige diferentes fatores articulados para o cumprimento deste papel social das esferas institucionais e ao mesmo tempo exige a qualidade da educação superior a distância. Neste sentido, o foco desta comunicação é o processo de implantação da educação a distância ( EAD) na UFG a qual não pode perder de vista a discussão teórica e política na dimensão macro e meso da gestão institucional. A EAD tem sido um desafio para as IES pela sua acelerada expansão, por exigir posturas educativas diferenciadas do convencional ensino presencial, por incluir novos instrumentos de comunicação e informação, exigir novas tecnologias e processos comunicacionais (como os ambientes virtuais) e requerer uma política de implementação de parcerias entre instituições públicas das esferas federal, estadual e municipal. Palavras chaves: educação a distância, gestão, ensino superior. EM FOCO No Brasil, a criação por Roquette-Pinto da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1922, tinha como plano sistemático a utilização educacional da radiodifusão como forma de ampliar o acesso à educação. Registra-se, entretanto, que em 1939 os primeiros cursos a distância funcionavam por correspondência, organizados pela Marinha e pelo Exército Brasileiro visando a preparação de oficiais. Outra experiência conhecida por muitos é o Instituto Universal Brasileiro que, fundado em 1941, ainda hoje oferta cursos profissionalizantes e supletivos de ensino fundamental e médio, contando atualmente com cerca de 160 mil alunos matriculados. Além dessas, outras experiências brasileiras podem ser citadas, tais como: a de radiodifusão do Movimento de Educação de Base (MEB) que, na década de 60, alfabetizava pelo rádio e procurava conscientizar a população marginalizada e desfavorecida de regiões pobres do País; o Projeto Minerva, criado pelo MEC em 1970, que, utilizando-se de material impresso, executou programas de formação geral, oferecendo cursos de qualificação de 1º e 2º graus e o curso de Madureza, atualmente denominados supletivo. Todas essas iniciativas tiveram seus impactos no desenvolvimento da EAD no Brasil. No âmbito da formação de professores realizada a distância um dos primeiros programas foi o do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (IRDEB), que durou de 1969 a Em 1973 foi criado o Projeto Logos, com o qual se pretendia formar professores leigos com recursos do MEC e das Prefeituras Municipais. Nele, utilizava-se material impresso. Os alunos eram atendidos em Núcleos Regionais mantidos pelas Secretarias de Educação. Desde a década de 1970 assistimos, no Brasil, às tentativas de organização de programas e experiências em Educação a Distância (EAD). Em cada uma dessas

2 experiências a participação governamental significou desenvolvimento das modalidades de educação com o uso de diferentes tecnologias. Em âmbito nacional registra-se, no Brasil, na década de 90, o primeiro curso de pedagogia a distância, destinado para formação de professores da 1 a a 4 a série do ensino fundamental. Trata-se de uma proposta da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), que em caráter experimental desenvolveu a partir de 1995 a formação para professores em serviço da rede pública estadual e municipal. Até então só havia cursos de extensão e especialização ofertados pelo Centro de Educação Aberta e a Distância (CEAD) da Universidade de Brasília. Ainda na década de 1990 o Ministério da Educação (MEC) implanta no Brasil o Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO) e o Programa TV Escola, destinado à formação continuada de professores em serviço. Constata-se, entretanto, que esses programas não atingiram seu objetivo, que era atender a contento as necessidades da sociedade de empregar tecnologias nas práticas sociais. A partir de 1998, com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases do Brasil, de 1996, que em seu artigo de número 80 insere a EAD como uma modalidade de ensino em todos os níveis, observa-se um crescente envolvimento de Instituições de Ensino Superior com os cursos a distância. Em 2002, o Relatório da Comissão Assessora para Educação Superior a Distância (SESU/MEC) apresentou as iniciativas de cursos a distância e semipresenciais em programas de capacitação de docentes, especialmente para atender as Redes Públicas com projetos de cooperação entre instituições de ensino e governos estaduais e municipais. Esse relatório mostrou os crescentes números da EAD no Brasil. Enquanto em 1998 foram protocolados 8 pedidos de instituições para ter o credenciamento para a oferta desta modalidade de educação, em 2002 foram solicitados ao MEC o credenciamento de 47 novas instituições na oferta de EAD. Das vagas a distância ofertadas no Brasil em 2002 o relatório aponta que 80% eram de cursos voltados para a formação dos professores. Em relatório apresentado pela equipe do MEC no Seminário Internacional sobre Universidades Virtuais na América Latina e Caribe, realizado em 2003 em Quito, Equador, consta que, até dezembro de 2002, 33 instituições de Ensino Superior do Brasil ofereceram cursos a distância com o reconhecimento de órgãos oficiais, e 1 instituição estava em fase de credenciamento. Das credenciadas, 24 ofereceram cursos de pósgraduação lato sensu, 4 ofereceram cursos de graduação e 4 haviam obtido do MEC autorização em caráter experimental para a oferta de cursos específicos. Desse modo, em 2002, o Brasil dispunha de um total de 60 cursos a distância em vigor, somando alunos. Em uma contabilização de abril de 2005 até fevereiro de 2006, o Brasil contava com 166 instituições credenciadas pelo MEC para oferecerem cursos a distância. 42 das instituições cadastradas eram públicas, e 124 eram privadas. Segundo o relatório de 2007 da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABRAED), em 2006 eram 225 instituições credenciadas pelo sistema de ensino a ministrar EAD no país. Os brasileiros tiveram à sua disposição 889 cursos a distância no ano de 2008, a maior parte (27,7%) de pós-graduação lato sensu, e os restantes (30,6%) de extensão, aperfeiçoamento ou capacitação. A graduação, com 205 cursos, chegou a apenas 23% do total. EM BUSCA A implantação do projeto da UAB na Universidade Federal de Goiás e em outras Instituições de Ensino Superior (IES) é uma atividade arrojada para o MEC, para as IES e

3 para os municípios, visto que exige diferentes fatores articulados para o cumprimento deste papel social das esferas institucionais e ao mesmo tempo exige a qualidade da educação superior a distância. Sabe-se que um grande influenciador das políticas públicas e das reformas educativas no Brasil é o Banco Mundial (BID). Trata-se do organismo internacional que mais tem força e conta com o maior número de propostas para a educação na América Latina. A orientação recebida por ele não poderia ser outra senão a de refletir as tendências da nova ordem econômica mundial e, portanto, exigir indivíduos com habilidades intelectuais mais diversificadas e flexíveis, integrados na busca de um ensino mais eficiente, que estimule a competitividade, a descentralização e a privatização do ensino. Isso implica uma educação escolar articulada com o novo paradigma produtivo. O quadro brasileiro atual mostra que o estabelecimento de linhas de trabalho em EAD requer a consideração da diversidade de um país continental (pois dos municípios brasileiros apenas possuem faculdades, faculdades essas que têm níveis de desenvolvimento problemáticos e regionalizados), bem como a importância do intercâmbio das instituições que fazem parte de consórcio, como prevê a configuração da UAB. Neste sentido, a educação a distância tem sido um desafio para as instituições de educação superior (especialmente as públicas) pela sua acelerada expansão, por exigir posturas educativas diferenciadas do convencional ensino presencial, por incluir novos instrumentos de comunicação e informação, por exigir novas tecnologias e processos comunicacionais (como os ambientes virtuais) e requerer uma política de implementação de parcerias entre instituições públicas das esferas federal, estadual e municipal. Considerando que o momento atual de implantação de uma política nacional de cursos superiores a distância, por meio do Sistema da Universidade Aberta do Brasil, exige a configuração de formas de gestão específicas de cada instituição e seus respectivos cursos, bem como as diretrizes definidas pela CAPES/MEC, a proposta desta política nacional de implantação de um sistema integrado de EAD no Brasil tem características próprias, pois possui variáveis que devem ser consideradas no âmbito da expansão do ensino superior a distância. A equipe nacional da UAB tem apresentado como proposta o trabalho de parceria e a construção de práticas autônomas das instituições de ensino superior, seja na oferta de cursos e definição de vagas e nas formas de elaboração de materiais didáticos, seja no estabelecimento de convênios com órgãos e instituições que promovam a democratização do ensino superior neste país. Servindo como referência, este princípio tem possibilitado as instituições formadoras o desenvolvimento de ações administrativas e pedagógicas tais como a flexibilização do cronograma, a inserção de outras atividades, a organização de encontros presenciais, a adoção de formas variadas de atendimento ao cursista, as formas de seleção e formação dos tutores, as estratégias de resgatar os cursistas, enfim, as decisões que garantiram a singularidade de cada instituição e ao mesmo tempo as diretrizes definidas pelo MEC como referenciais de qualidade da Educação a Distância. O PROCESSO Neste contexto o Governo Federal, por meio do MEC, criou em 2005 a Universidade Aberta do Brasil (UAB), que credencia as universidades federais e os Centros Federais Tecnológicos para a oferta de educação superior pública e gratuita na modalidade a distância. A Universidade Federal de Goiás (UFG) e outras 17 universidades federais participaram do primeiro edital da UAB para a expansão do ensino superior

4 público e gratuito pelo interior do Brasil. No âmbito do Fórum das Estatais pela Educação com foco nas Políticas e Gestão da Educação Superior a UAB tem 5 eixos fundamentais: 1. Expansão pública da educação superior, considerando os processos de democratização e acesso; 2. Aperfeiçoamento dos processos de gestão das instituições de ensino superior, possibilitando sua expansão em consonância com as propostas educacionais dos estados e municípios; 3. A avaliação da educação superior a distância, tendo por base os processos de flexibilização e regulação em implementação pelo MEC; 4. As contribuições para a investigação em educação superior a distância no país; 5. O financiamento dos processos de implantação, execução e formação de recursos humanos em educação superior a distância. Lançado em 2005, seu primeiro edital permitiu a implantação da primeira etapa da rede de Polos de Apoio Presencial e de cursos ofertados por universidades federais - foram selecionados nesta etapa 291 municípios no país com 46 mil vagas de ensino superior. Neste processo o MEC, juntamente com as instituições de ensino superior, tem adotado as medidas cabíveis para a oferta dos cursos superiores a distância como modelos básicos para programas pedagógicos, validação de diplomas, credenciamento de instituições, autorização dos cursos, capacitações de profissionais especiais, níveis de cooperação entre instituições e Polos de Apoio Presencial, dentre outros aspectos. Muitos aspectos, ainda, encontram-se em processo de adaptação, como o preparo das equipes nas instituições que ofertam os cursos. Em 2006 deu-se início a segunda etapa da UAB com o segundo edital, que abriu mais 269 novos polos e mais de 30 mil novas vagas. Nele estavam previstos mais 3 editais para os próximos 2 anos, os quais abririam mais 750 polos presenciais. Com isso, o objetivo do MEC é de chegar a 2010 com mais de 1000 pólos em funcionamento, e por conseguinte alcançar um total de novas vagas no sistema de educação superior. Após a articulação, na qual foram determinadas que instituições ofertarão cursos nos respectivos polos, deu-se início aos processos de planejamento, seleção, capacitação das equipes, produção de material, etc. Os envolvidos na UAB que disponibilizam a oferta e o acompanhamento dos cursos são as Instituições (Universidades e CEFETS/ IFETS) que realizam processos de seleção e fazem visitas aos Polos de Apoio Presencial. O município- Polo oferece espaço físico de apoio presencial aos estudantes da sua região, tendo como responsabilidade manter as instalações físicas necessárias para apoiar os alunos em questões tecnológicas e de laboratório, entre outros. 1 No atual momento, as políticas de implementação da educação a distância passam por um processo de construção de propostas alternativas voltadas para a melhoria do ensino, a democratização, a ampliação do acesso e a inovação técnico-pedagógica, as quais provocam revisão de postulados teóricos vigentes, e muitas vezes cristalizados, de formação. É importante destacar que o início do processo de implantação do sistema UAB foi defendido pela coordenação nacional a organização de centros ou núcleos de EAD nas IES, sendo estes os articuladores dos projetos internos das instituições. No caso da UFG, a criação do Centro Integrado de Aprendizagem em Rede (CIAR), em 2007, visou 1 Fonte: capturado em 21/09/2008.

5 inicialmente atender a esta indicação do MEC e implantar os cursos a distância na UFG. Entretanto, duas questões dificultaram este encaminhamento. Em nível macro, a questão concentra-se na ausência de articulação dos projetos de EAD na Secretaria de Educação a Distância (SEED/MEC) com a diretoria da Universidade Aberta do Brasil, situada na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES/MEC), bem como a ausência de um planejamento integrado das ações da UAB a ser encaminhado para as IES. Essa desarticulação tem gerado a implantação de cursos sem estudo prévio das condições e demandas propícias de cada Polo de Apoio Presencial. Além disso, os procedimentos operacionais dos cursos ofertados pelos programas da Seed/MEC e os da Universidade Aberta do Brasil apresentam diferenças nas concepções pedagógicas quanto a atribuições de tutoria, tabelas de remuneração de bolsas e outros recursos financeiros na utilização do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), formas de gestão e de material didático. É importante lembrar que o processo histórico de EAD neste país tem sido marcado por programas isolados e desarticulados com a conjuntura do sistema educacional. Entendo que no contexto de implantação de uma política nacional de EAD, se faz necessário o estabelecimento de diretrizes e critérios balizadores para sustentar um programa nacional, os quais precisam ser seguidos e adequados pelas instituições de ensino, pois os resultados apresentados de muitos projetos executados de forma isolada indicam altos índices de evasão e ausência de práticas educativas inovadoras que deveriam repercutir no contexto da escola, após esses cursos. Neste contexto de estruturação dessa política não se deve perder de vista as pesquisas já realizadas sobre projetos de educação a distância promovidos pelo MEC. Ressalta-se que a definição criteriosa dessa política será um marco na história da EAD neste país e de suas prospecções futuras, que poderão ser exitosas ou não. No nível meso constatou-se que os coordenadores dos cursos e o corpo docente dos cursos da Universidade Federal de Goiás, aprovados pela UAB, não detinham conhecimento teórico e prático suficientes para coordenar um curso de graduação ou lato sensu a distância. Isso gerou entendimentos diferenciados do planejamento e realização das ações referidas aos cursos, principalmente pela ausência de uma cultura de educação a distância na UFG e até mesmo de uso de tecnologias nas práticas acadêmicas de forma não apropriada. O fato é que o modelo de educação a distância presente nos projetos da UFG seguia o mesmo modelo da educação presencial. Essa situação fez com que fosse adotado integralmente o modelo estabelecido pelo sistema da UAB, o qual merece uma análise teórica e adaptação para atender a configuração de um projeto de aprendizagem em rede como propõe o CIAR. Em outros setores da UFG constatou-se dificuldade quanto aos procedimentos para gerir os recursos financeiros, que não acompanhavam a dinâmica necessária para execução dos cursos a distância, o que provocou muitas vezes atrasos no envio de documentos ao MEC e dificuldades na organização da logística dos encontros presenciais dos cursos. Entende-se que a institucionalização da EAD em uma instituição de ensino superior necessita de definições das políticas e planejamento compatíveis com o projeto de desenvolvimento institucional. No caso da UFG, com tradição no ensino presencial, que é caracterizado por práticas pedagógicas individualizadas, esse nível de definição torna-se essencial para o estabelecimento de uma política institucional de EAD articulada com a missão da universidade. Com a preocupação em preservar a autonomia institucional, a definição da oferta de cursos não pode perder de vista a concepção de EAD e os tempos de estruturação dos projetos de formação profissional essenciais para um ensino de qualidade. Neste sentido, alerta-se que caso esses aspectos não sejam observados tanto a nível macro do MEC quanto a nível meso e micro nas instituições de ensino superior, corre-se o

6 risco de que a concepção de EAD de qualidade fique comprometida, pois será intensificada sua imagem negativa e já estereotipada por projetos não-exitosos. Considero que o conjunto de experiências acumuladas neste percurso da UFG aponta elementos suficientes para a definição de políticas e concepções, padrões, normatizações internas de EAD nesta instituição. Enfim, ressalta-se a urgência em definir formas de integração internas e com o sistema da Universidade Aberta do Brasil na tentativa de consolidar uma política nacional pautada de fato na vertente da parceria, da institucionalização, na democratização e na qualidade do ensino superior. Referências NÓVOA, António. Para uma análise das instituições escolares. In: NÓVOA, António (Coord.). As organizações escolares em análise. Lisboa: Dom Quixote, RODRIGUES, Cleide A. C. Mediações na formação a distância de professores: autonomia, comunicação e prática pedagógica. Tese, UFBA, 2006 RUMBLE, Greville. A gestão dos sistemas de ensino a distância. Tradução Marília Fonseca. Brasília: Ed. UnB/Unesco, Profª. Drª Cleide Aparecida Carvalho Rodrigues (CIAR/UFG) Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia. Mestre em Educação Brasileira e Especialização em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Federal de Goiás. Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Goiás e atua na função de Direção do Centro Integrado de Aprendizagem em Rede da UFG (CIAR/UFG). Tem experiência na área de educação, com ênfase em formação de professores, atuando principalmente nos seguintes temas: formação de professores, educação a distância, mídias e educação, tecnologias de informação e comunicação, construção do conhecimento e pesquisa na formação docente.