BRINCANDO E APRENDENDO: DIÁLOGOS SOBRE PRODUTOS DA BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA, COM JOVENS DO BRINCANDO NAS FÉRIAS, DO SESC- RONDÔNIA

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1 BRINCANDO E APRENDENDO: DIÁLOGOS SOBRE PRODUTOS DA BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA, COM JOVENS DO BRINCANDO NAS FÉRIAS, DO SESC- RONDÔNIA 1 Vânia Beatriz Vasconcelos de Oliveira ( 2 ); Izabel Cristina Silva ( 3 ); Embrapa Rondônia², Museu do Babaçu da Amazônia. vania.beatriz@embrapa.br; izabelcrisrondonia@gmail.com RESUMO O objetivo deste trabalho é socializar experiência metodológica da Oficina Educomunicativa Ambiental realizada em julho de 2013, com os participantes do Programa Brincando nas férias do SESC, em visita à Embrapa Rondônia. Um grupo de 40 jovens participou do evento que teve como tema o ABC de produtos da biodiversidade amazônica. A metodologia consistiu na realização de uma roda de conversa, excursão ao campo experimental, visita ao Museu do Babaçu, degustação de produtos da biodiversidade e avaliação de aprendizado por meio de um jogo. As atividades desenvolvidas caracterizam-se como prática educomunicativa socioambiental que se recomenda seja reaplicada em eventos que tenham semelhante finalidade, uma vez que os diálogos estabelecidos proporcionam a socialização dos conhecimentos sobre a floresta e a percepção ambiental dos participantes de forma lúdica. Palavras chaves: educomunicação; sociobiodiversidade, castanha-do-brasil, babaçu. INTRODUÇÃO A rica biodiversidade Amazônica tem sido alvo de pesquisas que visam conhecer as formas de manejar os ecossistemas para garantir a conciliação entre a produtividade dos recursos explorados e a manutenção dos serviços ecológicos da floresta. Um dos enfoques dessas pesquisas é o manejo sustentável de produtos extrativistas e a valorização dos produtos florestais não madeireiros (PFNM) como é o caso da andiroba, do babaçu e da castanha-do-brasil, que proporcionam o sustento de milhares de amazônidas, bem como colaboram para a sustentabilidade ambiental. 1 Artigo submetido ao GT-10 Educação Ambiental. 2 Comunicóloga, MsC. Extensão Rural, Especialista Jornalismo Científico Embrapa Rondônia 3 Pedagoga. Esp. em Análise Ambiental(UNIR) em Gestão Ambiental (IFRO).Fundou o Museu do Babaçu em RO.

2 Estabelecer conexão entre os resultados das pesquisas ciuentíficas e o cotidiano do cidadão comum tem sido o objeto de pesquisas em comunicação desenvolvidas por OLIVEIRA (2010) que em atividades na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa, em Rondônia, desenvolve práticas educomunicativas socioambientais que servem, como ferramentas pedagógicas para que professores e educadores ambientais as utilizem em atividades em sala de aula ou em eventos ligados à temática ambiental, como é o caso das Conferencias da Infância e Juventude para o Meio Ambiente. A Oficina foi solicitada pelo Serviço Social do Comércio SESC em Rondônia, que realiza anualmente, o Programa Brincando nas Férias, que é uma colônia de férias destinada a crianças e adolescentes de 6 a 15 anos, que tem por objetivo proporcionar aos participantes atividades recreativas, esportivas, educativas e culturais, incluindo a abordagem da temática ambiental em oficinas. Considerando o objetivo do SESC, as diretrizes da política de comunicação da Embrapa e as ações do programa de gestão ambiental da empresa que atua não só internamente, mas nas comunidades do entorno, foi elaborada a programação da Oficina, reunindo conteúdos de educação ambiental e de comunicação para a popularização da ciência florestal. A proposta tem por base experiências de desenvolvimento de práticas educomunicativas para a educação não formal, nas quais se tem trabalhado na perspectiva da comunicação dialógica e a elaboração coletiva de conhecimentos, usando para isso, dentre outras possibilidades, músicas que abordam problemas socioambientais na região amazônica. (OLIVEIRA, 2012). A temática da biodiversidade foi adotada em razão das ações de educomunicação previstas no Projeto Kamukaia/Repensa, coordenadas pela primeira autora e da divulgação do babaçu através do Museu Interativo do Babaçu, coordenado pela segunda autora. A Rede Kamukaia é uma rede de pesquisa criada em maio de 2005, que visa gerar resultados úteis para a implantação de planos de manejo sustentável de produtos florestais não madeireiros (PFNM) e definição de políticas públicas. O Museu do Babaçu foi criado, em julho de 2013 como uma ferramenta para

3 incentivar e aproximar as experiências dos atores sociais de comunidades extrativistas à aprendizagem. Tendo como anseio trazer para essas comunidades: Educação ambiental e cidadã; Fomento à pesquisa e inovação tecnológicas; Criação de novo espaço de cultura, lazer e conhecimento e criação de cenário inovador quanto ao uso sustentável do babaçu. A divulgação visa a sensibilização para o uso múltiplo, gerando informações e comunicações sustentáveis, ou seja, que o resultado das pesquisas geradas envolva os atores de toda cadeia produtiva promovendo conhecimento de forma que beneficie todos da comunidade e o equilíbrio do bioma amazônico. Este trabalho situa-se no campo da educomunicação, da inter-relação Comunicação/Educação linha de pesquisa desenvolvida pelo NCE-ECA/USP, que vem solidificando esse campo de estudos. Com o avanço dos estudos do NCE o conceito de educomunicação passa a designar todos os esforços realizados pela sociedade no sentido aproximar os campos da cultura, comunicação e educação (SOARES, 2002). O desenvolvimento e divulgação de práticas educomunicativas que levem informações e ao mesmo tempo proporcionem a reflexão sobre as questões ambientais, neste caso em especial, sobre a importância dos produtos da sociobiodiversidade, tem sua importância por contribuir para a difusão da consciência ecológica, para além da percepção do ambiente como o meio natural. (OLIVEIRA, 2013). Portanto, pretende-se através deste trabalho, socializar a experiência de realização da Oficina Educomunicativa Ambiental com os participantes do Programa Brincando nas férias do SESC, em julho de PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O objeto de análise são os procedimentos metodológicos da Oficina realizada com um grupo de 40 crianças e adolescentes (doravante denominados jovens), de 10 a 14 anos. Os procedimentos metodológicos que orientaram a realização da Oficina tem como referência a proposição metodológica de uma prática educomunicativa (OLIVEIRA, 2010 op. cit.) na qual, um dos três elementos que a compõem é o lugar,

4 a sala de aula/oficina, não o espaço físico, mas como o lugar do contrato de comunicação, de parceiros em interação. Na primeira etapa da Oficina os alunos participaram da roda de conversa metodologia utilizada nos processos de leitura e intervenção comunitária, que consiste na participação coletiva de trocas de experiências, conversas, discussão e divulgação de conhecimentos sobre uma determinada temática, que tem como principal objetivo motivar a construção da autonomia dos sujeitos por meio da problematização, da socialização de saberes e da reflexão voltada para a ação. (NASCIMENTO e SILVA, 2009,2013). Os recursos didáticos pedagógicos empregados na roda foram: audiovisuais (03 filmetes). Na visita ao campo experimental os participantes fizeram observação de copa de castanheiras com o uso de binóculos. Na exposição, além de mudas, foram expostos produtos in natura e subprodutos da castanha (semente, ouriço) e do babaçu. Na degustação foi utilizada uma prensa para a quebra da castanha. Ao final, foi feita a avaliação com o Jogo das Perguntas, que utiliza um painel em lona plástica, medindo 3m x 1,20m representando uma floresta plantada (Figura 1.) Figura 1 - Painel do Jogo Floresta Plantada

5 RESULTADO E DISCUSSÃO Apresentamos aqui as observações registradas, no desenvolvimento das atividades: Roda de Conversa e Excursão ao Campo Experimental. Roda de Conversa O roteiro das abordagens e da discussão na Roda de Conversa orienta-se pela questão: O que a Ciência faz, o que a sociedade pode fazer para minimizar os impactos florestais?. Inicialmente para apresentar informações sobre o que faz a Ciência, neste caso representada pelas ações de pesquisa da Embrapa, foi apresentado o filmete Em busca da semente roubada, que aborda o desenvolvimento de tecnologias para a produção de alimento e apresenta as principais tecnologias desenvolvidas pela Embrapa em todo os País. Além disso foi apresentado um vídeo de animação Teca na escola que apresenta a Teca (Tectona grandis) como espécie florestal de rápido crescimento. Ao iniciar a discussão na Roda de Conversa os participantes foram estimulados a compartilhar suas experiências e vivências sobre os produtos do ABC ( Andiroba, Babaçu, Castanha). Foram apresentadas imagens dos produtos e debatido o conhecimento dos participantes sobre seus usos. Na abordagem sobre a castanha-do-brasil, foi apresentado o videoclipe Canto dos Castanhais ( ) que aborda aspectos do cotidiano dos castanheiros); e o filmete A cutia que mostra este roedor enterrando a semente da castanha e assim, atuando como vetor de dispersão da espécie, contribuindo assim para o enriquecimento da floresta, pelo aumento da população natural da espécie na mata. Um dos aspectos mais interessantes revelados nas conversas é que os adolescentes demonstraram ter conhecimentos cuja transmissão é originária de seus pais e avôs. A maioria tem a castanha como parte do seu hábito alimentar. Também foram compartilhadas muitas informações sobre o uso alimentar e medicinal dos demais produtos da sociobiodiversidade.

6 Excursão ao campo experimental A excursão guiada ao Campo Experimental consistiu de três atividades: Visita ao Museu Itinerante do Babaçu, degustação de alimentos com o uso de castanha e babaçu e a avaliação de aprendizado com o Jogo das Perguntas. O roteiro da visita ao campo experimental da Embrapa em Porto Velho consistiu de caminhada em trilha, incluindo a observação de uma floresta plantada de castanha-do-brasil e da copa de uma castanheira com o auxilio de um binoculo e orientados por técnicos e pesquisadores da Embrapa. O Museu Itinerante do Babaçu tem por objetivo divulgar as potencialidades da Palmeira Babaçu que são inúmeras, desde a geração de energia ao artesanato. Na exposição itinerante, são apresentados o fruto do babaçu e seus subprodutos (artesanato usando palha e semente, carvão vegetal etc). (Figura 2) Figura 2 - Colonins degustando o mingau com farinha de Babaçu Foram enfatizadas as potencialidades e a importância do babaçu, dentre elas o uso na alimentação humana, como componente da multimistura desenvolvida para

7 combater a desnutrição infantil. Também foi feita a exposição de mudas e subprodutos da castanha: castanha em casca, ouriço ao natural e reutilizado como artesanato. A degustação do babaçu foi na forma de farinha que misturada compôs a massa do mingau de banana. Jogo das Perguntas O jogo da pergunta tem por objetivo fazer uma avaliação do aprendizado. O painel ilustrado, representa uma Floresta Plantada, foi elaborado como parte dos recursos didáticos pedagógicos do projeto de divulgação científica Com. Ciência Florestal ( ) para ser usado com estudantes de nível Fundamental. Os participantes são divididos em dois grupo, que respondem perguntas sobre o que fora visto nas atividades da oficina. Cada grupo escolhe um participante para representá-lo, mas para estimular a cooperação, caso o representante não soubesse a resposta, poderia receber a ajuda de seus companheiros de equipe. A cada resposta certa o representante avança uma casa para dentro da floresta representada no painel. As perguntas foram elaboradas previamente e outras foram elaboradas de improviso, conforme o desdobramento do tema das discussões na Roda de Conversa. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da acelerada degradação dos ambientes naturais e escassez de recursos, que ameaçam a sobrevivência das gerações futuras, um dos grandes desafios para a humanidade é buscar formas de conviver de forma sustentável com o meio ambiente natural. Um dos argumentos que tem predominado nas iniciativas do o que fazer da Ciência é da Sociedade é a valorização dos recursos naturais renováveis, para proteger os ecossistemas florestais. Outro forte argumento é o do conhecimento da percepção e dos valores dos atores sociais. Neste contexto, esta experiência metodológica de Oficina Educomunicativa

8 Ambiental, teve por objetivo promover o diálogo com jovens representantes da sociedade, visando ao mesmo tempo levar informações sobre o agir da Ciência, representada por instituições de pesquisa e conhecer suas percepções e valores em relação aos produtos da floresta. Sob o aspecto metodológico, as atividades caracterizam-se como prática educomunicativa socioambiental. As considerações ora apresentadas têm por objetivo apontar rumos a serem corrigidos, no sentido de melhor reaplicação da prática, adequando a programação da Oficina ao seu público. Com relação à Roda de Conversa o tempo para sua aplicação foi muito restrito. Em eventos que haja maior disponibilidade de tempo, sugere-se explorar outros assuntos, como a relação de consumo. Embora a maioria tenha dito que comia castanha in-natura, não ficou evidente a percepção do acesso ao consumo de produtos alimentícios industrializados, nem de produtos cosméticos. Mesmo com a restrição do tempo, na experiência foram compartilhadas muitas informações sobre o uso alimentar e medicinal dos produtos da sociobiodiversidade. Entretanto a ampliação do debate com a fala de outras pessoas do grupo, além de mais enriquecedor, poderia ajudar a confrontar e comprovar a veracidade de informações, uma vez que algumas delas, de certa forma surpreenderam, a exemplo do garoto, que disse conhecer o jamaxi 4. Algumas perguntas complementares permitiram confirmar que o conhecimento era real, e não fruto da imaginação do menino. Quanto a degustação, foi sugerido ao SESC que o lanche que seria servido aos colonins tivesse componentes da castanha ( picolé, biscoitos) mas por razões de ordem operacional a organização do evento não conseguiu viabilizar esta demanda, por isso, promoveu-se a degustação da castanha in natura e do mingau. A experiência da quebra da castanha, mesmo tendo se formado uma grande fila, manteve o interesse dos jovens, que aguardaram a sua vez de manipular a prensa e quebrar uma castanha. Outro aspecto a ser mais explorado em outras iniciativas seria o fornecimento de informações sobre os componentes nutricionais dos produtos e até mesmo de receitas culinárias. A receptividade ao mingau de banana com a farinha de babaçu foi muito boa, considerando que não é muito difundido o uso dessa mistura. Quanto a avaliação, como 4 Tipo de cesto tecido em palha, utilizado na coleta da castanha.

9 não se tinha informação prévia do grupo a não ser a faixa etária, inicialmente foi pensado em dividir o grupo entre meninos e meninas, mas como estavam usando camisetas em cores distintas, foram as cores da camiseta que definiram a formação dos dois grupo. Não obstante estas considerações, observadas as adaptações ao perfil do público, alguns procedimentos podem ser reaplicados em eventos com objetivos similares, uma vez que proporcionam a socialização dos conhecimentos sobre a floresta e a percepção ambiental dos participantes de forma lúdica. REFERÊNCIAS NASCIMENTO, M. A. G.; e SILVA, C. N. M. Rodas de conversa e oficinas temáticas: experiências metodológicas de ensino-aprendizagem em geografia. In: ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICA E ENSINO DE GEOGRAFIA, 10., 2009, Porto Alegre. Anais...np. Disponível In: Acessado em: 16 ago OLIVEIRA, V.B.O. Metodologia de produção de videoclipes com uso de música amazônica para a educomunicação científica e ambiental. Porto Velho, RO: Embrapa Rondônia, Disponível em: OLIVEIRA, V. B. V.; VIEIRA, A. H.; BENTES-GAMA, M. M.. O uso de música em oficina temática de biodiversidade florestal. In: Empresa, meio ambiente e responsabilidade socioambiental. Valéria Sucena Hammes et al. (Ed. Tec.). Brasília - DF: Embrapa, p , 2012 (Educação Ambiental para o Desenvolvimento, vol.6). OLIVEIRA, V. B. V. Oficina de Radioescola: prática educomunicativa na elaboração de discurso ambiental para mídia-educação. In: COLOQUIO INTERNACIONAL MIDIA E DISCURSO NA AMAZONIA, 1, 2013, UFPa, Belém, Caderno de Resumos... np. Disponível in: uawfzfgd4oji1nzg2ntqyzmnmogfhode SOARES, I. Gestão comunicativa da educação: caminhos da educomunicação. Revista Comunicação e Educação, ano 7, p , 2002.