EDUCAR PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS: UMA ANÁLISE DO CICLO DE PALESTRAS DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO INFANTIL DA UERJ

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1 EDUCAR PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS: UMA ANÁLISE DO CICLO DE PALESTRAS DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO INFANTIL DA UERJ Erika Jennifer Honorio Pereira Vera Maria Ramos de Vasconcellos; Zélia Barreiros da Costa Universidade do Estado do Rio de Janeiro Programa de Pós-Graduação em Educação Eixo: Pesquisa, Educação, Diversidades e Culturas Categoria: pôster O objetivo deste artigo é refletir criticamente sobre a educação das relações étnicoraciais vivenciadas no ciclo de palestras Direitos Humanos e Educação Infantil: questões de raça, etnia, sexo e Gênero/UERJ, Apresentaremos a proposta de curso e analisaremos, com base nas discussões produzidas pelos participantes os relatos de preconceito, discriminação e racismo como expressões significativas, presentes no ambiente escolar. Neste trabalho daremos ênfase aos debates produzidos nos encontros quinzenais, voltados para as relações étnico-raciais. O procedimento metodológico foi de palestras expositivas, amplo debate e reflexão crítica com os 40 participantes envolvidos (professores de Educação Infantil e alunos de pedagogia). Concluímos com a pesquisa que atividades de problematizações e discussão sobre a temática étnico-racial são importantes e necessárias, diante à lacuna de conhecimentos divulgados aos professores, as dificuldades cotidianas e despreparo frente às questões relacionadas à raça e etnia, sobretudo na Educação Infantil. Palavras-chave: relações étnico-raciais; educação infantil; diversidade

2 EDUCAR PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS: UMA ANÁLISE DO CICLO DE PALESTRAS DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO INFANTIL DA UERJ Introdução O presente artigo tem por objetivo refletir sobre a educação das relações étnico-raciais, a partir do Ciclo de Palestras Direitos Humanos e Educação Infantil: questões de raça, etnia, sexo e gênero, realizado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). O ciclo de palestras foi construído a partir de reflexões teórico-práticas realizadas no Núcleo de Estudos da Infância: Pesquisa & Extensão (NEIPE), vinculado ao Programa de Pós-graduação em Educação (PROPED), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão sobre Infância e Formação de professores de creche, desde As indagações que orientam este trabalho tiveram início quando, ao observar o universo da Educação Infantil, percebemos a necessidade de discussão sobre o tema entre os professores que atuam (ou irão atuar) nas unidades de educação infantil. Anterior ao Ciclo de Palestras, o NEIPE/UERJ, desde 2009 já organizara Oficinas sobre o tema, nos Centro de Estudos Coletivos, com as creches vinculadas à Pesquisa 1 para os diretores, agentes auxiliares de creche 2 e professores de Educação Infantil do município do RJ 3. Os Centros de Estudos Coletivos têm o propósito de acompanhar de perto o trabalho educacional desenvolvido nas creches municipais e compartilhar as pesquisas produzidas pelo grupo de pesquisa. Em, 18 de setembro de 2013 desenvolvemos a oficina Contação de Histórias Afro-Brasileiras, que teve por foco discutir, no coletivo, a diversidade de práticas literárias produzidas e/ou adotadas no dia-a-dia das creches, e as possibilidades de apropriações para uma educação que inclua as relações étnico-raciais. A oficina nos 1 O Percurso de Agentes Auxiliares e Professores na Creche: da nomeação à construção de uma pedagogia para a infância carioca, financiado pela FAPERJ (E-26/ /2012), Que dá continuidade ao projeto anterior Agente Auxiliar de Creche: Educadores da Infância Carioca (FAPERJ-E-26/ /08). 2 Hoje intitulados Agentes de Educação Infantil 3 As oficinas anteriores foram coordenadas pela Profª Vera Lucia Neri

3 alertou para a complexidade das questões que nos propomos a problematizar e a discutir. Observamos muitas indagações dispersas, posicionamentos pré-concebidos sobre a questão racial e, ao mesmo tempo, revelou o desejo de muitos professores de trabalhar com esta temática, em contrapartida ao despreparo de quase todos frente à mesma. Percebemos então ser necessário ampliar as discussões iniciadas pela oficina, que culminou na elaboração do projeto de aperfeiçoamento profissional Ciclo de Palestras Direitos Humanos e Educação Infantil: questões de raça, etnia, sexo e gênero. A partir de duas pesquisas do grupo: sobre as relações étnico-raciais 4 (I Diversidade Étnico-Racial nas Escolas) e outra sobre gênero e sexualidade 5 (II Diálogo Escolar sobre Sexualidade e Gênero), ambas no universo da educação infantil, o Ciclo de Palestras 6 teve por objetivo ampliar a discussão que leve a capacitação de professores, profissionais que atuam na Educação Infantil e estudantes de Pedagogia para trabalhar e construir uma cultura de valorização da diversidade humana. As atividades aconteceram entre 09/10/13 a 18/12/13, às quartas-feiras das 16h às 18:30h, perfazendo um total de dez encontros, com carga horária de 25h 7. Materiais e Metodologia Foram utilizados recursos audiovisuais, vídeo gravação, projeção de filmes e slides. Disponibilizamos também livros de literatura infantil afro-brasileira e materiais para a atividade escrita e artística. O caminho metodológico adotado no Ciclo de Palestras esteve em consonância com as orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro- Brasileira; (2004). A partir deste documento, a educação das relações étnico-raciais impõe aprendizagens entre brancos e negros, trocas de conhecimentos, quebra de 4 Tema da dissertação de mestrado da primeira autora deste artigo, sob orientação da segunda. 5 Tema de doutorado de José Baptista de Mello Neto (da FE/UFPB em estágio doutoral, no PROPED/UERJ, em 2013) 6 O participante, de acordo com seu interesse poderia optar pela participação semanal ou quinzenal (por unidade temática). 7 Todo Ciclo de Palestras ocorreu nas dependências da UERJ, no 12º andar da Faculdade de Educação.

4 desconfianças, projeto conjunto para construção de uma sociedade ética, justa e equânime. A educação das relações étnico raciais pressupõe que: Para obter êxito, a escola e seus professores não podem improvisar. Têm que desfazer mentalidade racista e discriminadora secular, superando o etnocentrismo europeu, reestruturando relações étnicoraciais e sociais, desalienando processos pedagógicos. (BRASIL, 2004) A proposta pedagógica do Ciclo de Palestras esteve sustentada nos conhecimentos teórico-práticos e vivenciais, adquiridos ao longo da trajetória da equipe docente e discente do NEIPE/UERJ. Todos envolvidos no âmbito do ensino, pesquisa e extensão no campo da infância, da Educação em Direitos Humanos e da Educação das relações étnico-raciais. O conteúdo do ciclo de palestra foi projetado nas reuniões semanais de estudos no grupo de pesquisa/uerj, onde discutimos a construção, planejamento e adequação do projeto. Foram cinco encontros e tiveram a seguinte metodologia: a. no primeiro momento de cada encontro foi feito um diagnóstico, com uma sondagem de conteúdos e levantamento de expectativas do corpo discente; b. no segundo momento foram realizadas palestras expositivas com uso de recursos audiovisuais e oficinas pedagógicas; c. reflexão crítica e discussão com os participantes. Foi adotada a seguinte estrutura curricular: 1º Encontro Tema: Relações étnico-raciais no Brasil (objetivos: - Analisar os diferentes aspectos da ideologia racial brasileira; - Refletir sobre como o preconceito racial se expressa atualmente, e possíveis estratégias de combate). Bibliografia: FERREIRA (2000); PEREIRA(2006), SKIDMORE (1976). 2º Encontro Tema: A educação infantil e a educação para as relações étnicoraciais (objetivos: - Refletir sobre atitudes e práticas que evidenciam a presença de discriminação e preconceito na pré-escola; - Refletir sobre ações que possibilitem a construção da identidade positiva da criança negra). Bibliografia: BRASIL (2006); CAVALLEIRO (2001). 3º Encontro Tema: As Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira

5 (objetivo: - Analisar cuidadosamente como foram implementadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana). Bibliografia: - BRASIL (2003), (2004), (1997); MEC/SECAD (2006); MUNANGA (2005). 4º Encontro Tema: - Lei /2003, alterada pela Lei /2008 (objetivos:- Refletir sobre a implantação da Lei nos últimos 10 anos; - Conhecer elementos da cultura africana refletindo criticamente sobre sua importância na formação da cultura brasileira). Bibliografia: BRASIL (2003), (2008); FANON (1980). 5º Encontro Tema: - Literatura infantil afro-brasileira (objetivo: - Fornecer subsídios teóricos e práticos aos educadores para que, através da abordagem com a literatura infantil, possam atuar pedagogicamente no combate à discriminação cultural e étnico-racial). Bibliografia: BRASIL (2005); MEMMI (1977); MUNANGA (2005). Resultados e Discussões No cenário brasileiro onde relatos de racismo, preconceito e discriminação são frequentes nos noticiários e na vida cotidiana. Percebemos que discutir tais questões com sujeitos que atuam ou atuarão na educação de crianças foi de extrema relevância. Inicialmente, pressupomos que encontraríamos professores despreparados frente a tais questões. No primeiro encontro, ouvimos relatos dos participantes de que o maior interesse no curso era pela busca de conhecimento, pois essa era uma questão presente nos contextos educacionais e sociais, que, entretanto, não sabiam o que fazer, como trabalhar tal temática, principalmente com crianças pequenas. Pudemos constatar com as falas dos sujeitos participantes que a demanda por este campo de problematização e discussão era real. (...)Meu interesse foi pela proposta de discussão que eu acho que a gente não tem muito aqui, acho que é válido. (...)Eu me interessei pelo tema, porque esse é um tema que eu não ouvi falar muito bem aqui na faculdade(...)

6 O curso propiciou um movimento no grupo de discussão das relações étnicoraciais, vividos tanto pelos participantes quanto pela palestrante. Nessa ótica, buscouse problematizar as diversas formas de diagnosticar, analisar e apresentar respostas às demandas tradicionais e emergentes, oriundas de preconceitos, discriminações e racismos no espaço escolar da creche e pré-escola. Os resultados são de cunho qualitativo e dizem respeito à mobilização dos participantes para a aprendizagem, pelo interesse e a busca de conhecimento articulado à realidade, tendo como referência suas próprias necessidades e/ou interesses institucionais e pessoais. A cada encontro era solicitado que os participantes expressassem como estavam vivenciando a experiência do ciclo de palestras, nesses momentos ouvíamos relatos de desconstrução de ideias préconcebidas. (...) Essa mudança tem que partir em 1º lugar da gente, ainda mais nós como educadoras e educadores. Começando com a nossa postura, mudando o nosso modo de enxergar as pessoas. A gente pode achar que essa mudança não surja de início, pois é um trabalho diário e contínuo, mas ela terá efeito sim (...) Acredito que vivemos cada vez mais em uma sociedade desigual, onde a discriminação, o preconceito e o racismo estão ainda muito presentes. Durante a palestra...aprendi e pude me aprofundar no assunto. Ao ver documentários, relatos tive ainda mais certeza sobre a questão da raça. Inclusive em creches, na Educação Infantil(...) (...)O racismo no Brasil é visto como algo banido, porém não é isso que é vivenciado pelos negros na sociedade capitalista brasileira. Haja visto, que o negro sofre com todo esse poder discriminatório. A sociedade necessita abrir os olhos e perceber que vivemos em um país, onde relativamente somos vistos como iguais, mas na prática isso não acontece. Precisamos nos conscientizar e buscar nas relações étnico-raciais uma forma de convivência plena. Os 40 sujeitos participaram ativamente de todo movimento de desconstrução/reconstrução e apropriação de novos conhecimentos. A cada encontro era possível notar o interesse de todos, demonstrado nas falas, nas solicitações de sugestões de atividades com crianças, de materiais didáticos e bibliografia. Para possibilitar o compartilhamento de vídeos, troca de experiências e bibliografias sobre a

7 temática apresentada foi criado um grupo de , onde tais materiais foram disponibilizados. O diferencial no percurso metodológico adotado foi possibilitar maior flexibilidade na adequação dos conteúdos programados, que puderam ser modificados segundo demandas e necessidades surgidas ao longo da atividade de aperfeiçoamento profissional sem afetar a organização e a sistematicidade da temática central. Na avaliação crítica do trabalho, ficou evidente o baixo número de professores de educação infantil inscritos (nosso público alvo prioritário), a maior receptividade se deu pelos estudantes de Pedagogia. Apesar da grande divulgação da proposta e do interesse demonstrado pelos participantes da Oficina de setembro do mesmo ano, dos 40 participantes, somente três eram professores. Questionamos qual a razão da baixa participação dos professores da rede local: seria o horário? A temática não despertou interesse? Permanece o desafio de pensar propostas que alcancem esses profissionais. Conclusão A partir da atividade realizada, concluímos que a ação foi bem-sucedida, pois possibilitou a discussão de processos educativos que levem a mudanças as relações étnico-raciais. Apesar da ausência do público-alvo, os presentes se apropriaram do tema abordado, relacionando teoria e práticas cotidianas. Nossa perspectiva é dar continuidade sistemática de atividades através de cursos e oficinas voltados para a educação das relações étnico-raciais. O Ciclo de Palestras possibilitou ampliar no grupo de pesquisa do NEIPE/UERJ as discussões referentes à educação das relações étnico-raciais, sobretudo na Educação Infantil. Possibilitou a formação dos estudantes de graduação vinculados ao Neipe que se envolveram com o curso, participando de todo processo de elaboração, planejamento e realização do ciclo. Especificamente está sendo desenvolvida uma pesquisa de dissertação de mestrado com objetivo de investigar os discursos e os movimentos produzidos no decorrer desse processo educativo. Utilizaremos como material de análise as

8 transcrições de gravações em vídeo e áudio dos encontros. As análises qualitativas apoiam-se na perspectiva teórica de Lev Vigotski (2000) e visa apreender os sentidos que constituem o conteúdo do discurso dos sujeitos participantes e os significados partilhados. Consequentemente, compreender os sentidos produzidos e os significados compartilhados, passa por analisar também o contexto individual, histórico, social e cultural nos quais os sujeitos estão inseridos. Acreditamos que há uma combinação possível e necessária entre as falas e os contextos. A análise das falas dar-se-á por meio de procedimento de codificação, categorização e descrição analítica, configurando a aplicação do método de Análise do Conteúdo, intentando em uma maior apreensão e profundidade no tratamento dos dados, já que: A análise de conteúdo fornece informações suplementares ao leitor crítico de uma mensagem, seja este linguista, psicólogo, sociólogo, crítico literário, historiador, exegeta religioso ou leitor profano desejando distanciar-se da sua leitura «aderente», para saber mais sobre esse texto (BARDIN, 2002, p. 133). Será considerado a todo o momento que o trabalho de construção dos dados deverá ser realizado com base nos valores éticos e que [...] o conhecimento é uma construção que se faz a partir de outros conhecimentos sobre os quais se exercita a apreensão, a crítica e a dúvida (MINAYO, 1994, p. 89). Desta forma, espera-se que o conhecimento aqui produzido possa contribuir na construção de novas relações étnicoraciais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Trad. Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70, BRASIL. Lei de 09 de janeiro de 2003 que altera a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e cultura Afro-Brasileira, e dá outras providências. Brasília, Brasília DF: Parecer CNE/CP 003/04. Brasília: MEC/CNE, 2003.

9 . Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: MEC/CNE 10/03/ Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas transversais, ética / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC/SEF, Orientações e Ações para Educação das Relações Étnico-Raciais. Brasília: SECAD, BRASIL. Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº /03 Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, CAVALLEIRO, Eliane (Org). Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossa escola. São Paulo: Selo Negro, FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. RJ, Fator, FERREIRA, Ricardo Franklin. Afro-descendente. Identidade em construção. São Paulo: EDUC; Rio de Janeiro: Pallas, MEC/SECAD. Orientações e Ações para a Educação das Relações Etnicorraciais. Brasília-DF: MEC/SECAD, MEMMI, Albert. Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador. 2 ed. RJ. Ed Paz e Terra, MINAYO, Maria Cecília de Souza, O Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. 3. ed. São Paulo Rio de Janeiro: HUCITEC-ABRASCO, MUNANGA, Kabengele (org). Superando o Racismo na Escola. Brasília: MEC- SECAD, PEREIRA, Erika Jennifer Honório. O Preconceito racial: origens e representações escolares. Pesquisa monográfica, UNIRIO. Rio de Janeiro SKIDMORE, Thomas E. Preto no branco. Rio de Janeiro: Paz e terra, VYGOTSKY, L. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000.