Gleisa Calixto Antunes Faculdade de Estudos Administrativos FEAD. Raquel Quirino Faculdade de Educação da UFMG

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1 1 A PERCEPÇÃO DE ESTUDANTES E DA COMUNIDADE ESCOLAR SOBRE O PROGRAMA EDUCACIONAL DE RESISTÊNCIA ÀS DROGAS (PROERD) DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS Gleisa Calixto Antunes Faculdade de Estudos Administrativos FEAD Raquel Quirino Faculdade de Educação da UFMG RESUMO: Este artigo deriva da dissertação de Mestrado em Administração e apresenta um estudo acerca do Programa Educacional de Resistência às Drogas Proerd totalmente desenvolvido pelos servidores da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais que atuam como coordenadores, instrutores e avaliadores do programa em escolas do Ensino Básico do Estado. Pretende-se apresentar a percepção dos estudantes e da comunidade escolar, egressos de duas turmas deste programa, acerca de sua eficácia e sua consonância com as políticas públicas sobre drogas em nível nacional. Foram utilizados como recursos metodológicos: (i) um questionário com os alunos de quatro escolas que desenvolveram o Proerd; (ii) um formulário para diretores e professores de dezoito escolas; (iii) um roteiro de entrevista semiestruturada com o coordenador metodológico do Proerd do Estado de Minas Gerais. A Lei n o /96 institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD) e o Art. 18 dessa Lei trata das atividades de prevenção do uso indevido de drogas, aquelas direcionadas para a redução dos fatores de vulnerabilidade e risco e para a promoção e o fortalecimento dos fatores de proteção. Nesta perspectiva, o presente estudo verificou que o Proerd em MG no período 2008 a 2010 foi efetivo em seus objetivos e contribuiu para o alcance dos objetivos das políticas estadual e federal de combate e prevenção às drogas. Após a pesquisa teórico empírica com os alunos, professores e diretores envolvidos no programa em Minas Gerais, no período estudado verificou-se que os objetivos do Proerd estão em consonância com os objetivos propostos

2 2 nas políticas públicas sobre drogas e alcançou também todos os seus próprios objetivos, sendo, portanto, um programa que muito tem contribuído para a prevenção do uso de drogas entre os jovens em situação de risco. Palavras-chave: Políticas Públicas Educacionais; Políticas sobre drogas; PROERD. 1 Introdução Este artigo resulta de uma pesquisa de mestrado realizada na cidade de Belo Horizonte (MG) com o objetivo de avaliar um programa institucional de prevenção às drogas da Polícia Militar de Minas Gerais, denominado Programa Educacional de Resistências às Drogas (Proerd). A pesquisa original investigou como o Proerd contribui para o alcance dos objetivos das políticas públicas sobre drogas, segundo a percepção dos estudantes egressos do Programa e de professores e gestores que compõem a comunidade escolar envolvida, no período de Buscou-se também descrever a política nacional de combate às drogas; identificar os indicadores para a avaliação do Programa; correlacionar os seus objetivos com os objetivos das políticas nacional e estadual sobre drogas e, por fim, identificar se o Proerd-MG alcançou os seus próprios objetivos no período estudados. O Proerd é um programa desenvolvido nas escolas públicas e privadas de educação básica e foi criado nos Estados Unidos em 1983, sendo desenvolvido em mais de 58 países em todo o mundo. Em 1992, foi trazido para o Brasil pelo Comando da Polícia Militar do Rio de Janeiro. No ano de 1997 alguns policiais de Minas Gerais foram devidamente capacitados na metodologia do Programa e no ano de 1998 iniciou-se como projeto piloto em algumas cidades do interior do estado e atualmente é desenvolvido em todas as regiões do estado e em todos estados da federação brasileira. O currículo do referido programa visa instrumentalizar os estudantes com conhecimentos e estratégias de resistência às drogas ilícitas mais usuais entre os jovens, tais como álcool, tabaco, maconha, inalantes, cocaína, e crack. As políticas governamentais sobre o álcool já vêm acontecendo há mais de um século e, a partir do ano de 1914, alguns países, como Rússia, Estados Unidos, Canadá, Finlândia Noruega e Islândia, tiveram experiências de proibição total de seu uso. Entre os anos de 1920 e 1930, tais leis foram revogadas e substituídas por políticas regulatórias

3 3 mais brandas (OBSERVATÓRIO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS, 2011). A Organização Mundial da Saúde (OMS) coordenou um projeto que visou analisar todas as evidências disponíveis sobre as políticas públicas em relação ao álcool, que resultou em dois livros: Políticas de controle do álcool em uma perspectiva de saúde pública e Política do álcool e o bem comum. A pesquisa estabelece que existam medidas de eficácia comprovadas para reduzir os custos e os danos relacionados ao uso de álcool, buscando o bem comum. É possível desenvolver estratégias que influenciam tanto a quantidade de álcool consumida por uma comunidade quanto os comportamentos de consumo e os contextos de alto risco causadores dos problemas relacionados ao seu consumo. A colaboração entre a OMS e pesquisadores da área de saúde resultou no lançamento de outro livro Alcohol: no ordinary commodity, pautado em pesquisas epidemiológicas que revelam mudanças na forma como o álcool afeta a saúde e o bemestar social da população em diferentes regiões do mundo e em como os governos nacionais e locais se responsabilizam a cada dia mais, elaborando políticas de saúde específicas ao combate desses problemas, inclusive programas de prevenção e tratamento (SENAD, 2010; 2011). Ainda segundo a OMS, um dos fatores que geram a predisposição ao consumo de drogas é o seu fácil acesso. A Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes, em 2005, concluiu que grande número de pessoas vulneráveis é exposto às drogas quando elas se tornam mais disponíveis, e os problemas associados ao seu uso se tornam mais notados. No Brasil o Decreto Federal nº 5.912/2006 definiu os responsáveis pelas ações para a redução da demanda e oferta de drogas. A redução da demanda fica vinculada ao gabinete da Presidência da República; a redução da oferta fica vinculada ao Ministério da Justiça, por meio da Polícia Federal (BRASIL, 2006). No entanto, ainda existem alguns equívocos em relação às prioridades e investimentos nessa área. Todavia, algumas ações em nível local já se realizam por meio de Conselhos, como o Conselho Municipal Antidrogas (COMAD), e também por Conferências e Debates. Definiu-se, em nível local, a política própria sobre álcool e outras drogas de forma integrada, com a participação de vários setores da sociedade. Em Minas Gerais, as Secretarias de Educação, de Saúde, de Ação Social, os conselhos locais, associações de bairros, setores não governamentais, Poderes Legislativo,

4 4 Judiciário e Executivo estão atuando interativamente. Mesmo com algumas ações de prevenção bastante divulgadas e praticadas é importante considerar que elas nem sempre apresentam evidências de eficácia. Alguns modelos de prevenção já foram estudados em termos de efetividade, como programas de serviço social, aconselhamento breve em serviços de atenção primária, cursos ou palestras em escolas e comunidades, entre outros. No entanto, o custo efetividade dessas ações foi baixo (BRASIL, 2010; 2011). De acordo com a diretriz do Proerd (MINAS GERAIS, 2010), esse Programa consiste num esforço cooperativo da Polícia Militar do Estado, escola e família, visando prevenir o uso abusivo de drogas ilícitas e a prática de atos de violência entre estudantes do ensino fundamental, bem como nas comunidades, por meio de atividades educacionais reflexivas, em sala de aula, conduzidas por um policial militar devidamente capacitado sob as normas do (Drug Abuse Resistence Education) D.A.R.E. America. Segundo a coordenação estadual do Proerd, desde o ano de 1998, esse Programa vem sendo desenvolvido em várias escolas de todas as regiões de Minas Gerais. O Programa complementa o projeto pedagógico da escola, segundo o que prescreve a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN nº 9.394/1996, em seu art. 2, que diz que a educação é dever da família e do estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tendo por finalidade o desenvolvimento integral do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996). Os objetivos que permeiam os conteúdos das lições do Proerd, descritos no Manual do Instrutor Proerd (2011), denotam que esse programa busca colaborar com o desenvolvimento biopsicossocial da criança e do adolescente, estimulando-os à reflexão sobre a complexidade e possibilidades da vida cotidiana, com foco na prevenção ao uso indevido de drogas e na preservação da saúde física, emocional e na paz social. Além disso, buscam estabelecer um relacionamento de confiança entre policiais militares, alunos, professores e família, por meio do diálogo permanente sobre questões que se relacionam às drogas. Algumas pesquisas sobre a efetividade e aceitação desse Programa, como as empreendidas por Perovano (2006), Souza e Filho (2008), entre outros em algumas regiões do País demonstram sua efetividade em outros estados, portanto, analisar como o Proerd contribui para o alcance dos objetivos das políticas públicas sobre drogas no Estado de Minas Gerais é de suma importância para a continuidade desta política pública.

5 5 2 A política nacional de combate às drogas No início do século XX, os governos de vários países, inclusive o Brasil, passaram a integrar em suas pautas de políticas públicas o tema drogas (BRASIL, 2010; 2011). Em 1911, houve o primeiro tratado internacional, a Convenção de Haia, que estabeleceu o controle da comercialização de algumas drogas, como o ópio, a morfina, a heroína e a cocaína. O Brasil aderiu a esse tratado e em 1914 estabeleceu o Decreto nº 2.861/1914 que reafirmou a adoção de medidas para impedir o uso abusivo dessas drogas no país. Esse decreto desencadeou uma série de legislações com o objetivo de controlar não só o uso, mas o comércio de drogas, partindo daí a criminalização dessas condutas. Foram criados o Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN), que foi extinto em 1998, e a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), com as atribuições de elaborar e articular planos e políticas sobre drogas no Brasil. O Decreto nº 4.294, de 1921, estabeleceu punição por meio da privação da liberdade para quem vendesse cocaína, ópio e seus derivados. Nesse mesmo ano, o Decreto nº estabeleceu a criação de sanatórios para toxicômanos, sendo que a internação poderia ser requisitada pelo próprio dependente químico, pela família ou por um juiz, caso houvesse envolvimento legal por parte do usuário de drogas. O Decreto nº , de 1932, ampliou o número de substâncias ilícitas, entre elas, a maconha. A Lei nº 6.368, de 1976, tipificou os crimes relativos ao tráfico e ao porte de drogas no País, dispondo sobre medidas de prevenção, de tratamento e de recuperação, e esteve em vigor por trinta anos, sendo revogada pela Lei nº /06, que traz em seu art. 1 a responsabilidade de todos em colaborar na prevenção e na repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes. O art. 4 estabeleceu que os dirigentes de estabelecimentos de ensino, hospitalares ou entidades sociais, culturais, recreativas, esportivas ou beneficentes, deveriam adotar, de comum acordo e sob a orientação técnica de autoridades especializadas, todas as medidas necessárias à prevenção do tráfico ilícito e do uso indevido de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, nos recintos ou imediações de suas atividades. A Lei nº /2006 instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), prescrevendo medidas para prevenção do uso indevido de drogas, bem como atenção e reinserção social de seus usuários e dependentes, estabelecendo normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito, definindo os crimes e as penalidades sobre o tráfico de entorpecentes.

6 6 Quanto ao usuário e/ou dependente de drogas ilícitas, a Lei nº /2006 não mais prevê a pena de privação da liberdade em seu art. 28. Isso significa descriminalização, ou despenalização da posse de drogas para consumo pessoal. No entanto, a conduta descrita no art. 28 continua sendo ilícita, tratando-se de uma ilicitude peculiar, mas não a legalização de drogas. Descriminalizar significa retirar de algumas condutas a condição de crime. O art. 36 traz considerações sobre as substâncias entorpecentes ou capazes de determinar dependência física ou psíquica àquelas que assim forem especificadas em Lei ou relacionadas pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia, do Ministério da Saúde. O capítulo I da mesma Lei trata da prevenção ao uso de drogas e, em se art. 4, traz os princípios do SISNAD (BRASIL, 2006, p.37), quais sejam: a promoção de consensos nacionais; responsabilidade compartilhada entre estado e sociedade; fatores intersetoriais correlacionados ao uso indevido de drogas; e a integração das estratégias nacionais e internacionais. Em relação aos seus objetivos, a SISNAD busca: contribuir com a inclusão social do cidadão; a implantação de projetos pedagógicos de prevenção ao uso indevido de drogas nas instituições de ensino público e privado, alinhados às Diretrizes Curriculares Nacionais e aos conhecimentos relacionados às drogas; promover a construção e a socialização do conhecimento sobre drogas no País e a integração entre as políticas públicas federais, estaduais e municipais de prevenção ao uso indevido de drogas; reduzir os fatores de vulnerabilidade e risco e a promoção e o fortalecimento dos fatores de proteção; o reconhecimento do uso indevido de drogas como fator de interferência na qualidade de vida do indivíduo e na sua relação com a comunidade à qual pertence; o fortalecimento da autonomia e da responsabilidade individual em relação ao uso indevido de drogas; o compartilhamento de responsabilidades e a colaboração mútua com as instituições do setor privado e com os diversos segmentos sociais, incluindo usuários e dependentes de drogas e respectivos familiares por meio do estabelecimento de parcerias e outros. A Lei contempla em suas diretrizes também, em um parágrafo único, que as atividades de prevenção ao uso indevido de drogas dirigidas à criança e ao adolescente deverão estar em consonância com as diretrizes emanadas pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA). Os problemas relacionados ao consumo de álcool e outras drogas podem ser reduzidos por meio de políticas com ações eficazes. As políticas públicas, comprometidas

7 7 com a prevenção, tratamento e promoção do ser humano numa perspectiva de integração social, minimizam o sofrimento decorrente do consumo e dependência de drogas. Antes da criação do SISNAD, a ausência de propostas concretas e a falta do estabelecimento de uma clara política de saúde voltado para o consumo de drogas levaram ao surgimento de várias alternativas de atenção ao usuário, tendo como único objetivo a abstinência. A sociedade atual tem políticas potenciais, que estão em processo de expansão contínua sendo possíveis outras formas de produzir novas perspectivas de vida para aqueles que sofrem devido ao consumo de álcool e outras drogas. Tal produção não ocorre somente pelo estabelecimento de Leis, planos ou propostas, e sim, pela implementação e exercício no cotidiano dos serviços, práticas e instituições, com definição sistematizada de responsabilidades para cada esfera governamental (BRASIL, 2010; 2011). 3 Políticas públicas sobre drogas no estado de Minas Gerais Em Minas Gerais, a subsecretaria de políticas antidrogas (SUBPAD) tem o objetivo e a competência de planejar, organizar dirigir, coordenar, executar, controlar e avaliar as atividades setoriais relativas ao uso indevido de substâncias e produtos psicoativos em todo o estado de Minas Gerais, por meio de ações de prevenção ao uso de entorpecentes, tratamento, recuperação e reinserção social do dependente químico (MINAS GERAIS, 2010). Os setores que desenvolvem ações preventivas são o Centro de Referência em Álcool e outras Drogas, com atendimento personalizado ao usuário e aos seus familiares e o Centro de Acolhimento SOS DROGAS, que orienta educadores, familiares e usuários de drogas e encaminha para tratamento especializado, quando necessário. Segundo o Observatório Mineiro de Informação sobre Drogas (2011), o Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas (CONEAD), um órgão vinculado à Secretaria de Esporte e Juventude (SEEJ), criado em 1983, tem a responsabilidade de estabelecer as diretrizes da política estadual sobre drogas a serem desenvolvidas no estado de Minas Gerais, nas áreas de prevenção, redução da oferta de drogas, tratamento, reinserção social e fiscalização. Conforme disponível no site ( o Observatório Mineiro de Informação sobre Drogas (OMID) tem o objetivo de contribuir na gestão da política pública sobre drogas, gerindo e difundindo conhecimento por meio da mídia impressa e digital, e viabilizando o desenvolvimento da comunicação. O estado de Minas Gerais instituiu a política estadual sobre drogas e criou o Sistema Estadual sobre Drogas (SEAD), sob o Decreto nº /2006 (MINAS GERAIS,

8 8 2006). O SEAD sistematiza as ações públicas do Estado no que tange ao uso e ao abuso de álcool e outras drogas. As políticas sobre drogas são de interesse de todos os segmentos da sociedade civil organizada, segurança pública, educação, saúde - o que ocorre não só em Minas Gerais, mas em todos os estados brasileiros. Segundo Lafaiete Andrade, então Secretário de Estado de Defesa Social, esse decreto amplia a capacidade de enfrentamento ao uso das drogas e seus desdobramentos na criminalidade no estado de Minas Gerais. (OBSERVATÓRIO MINEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS, 2011), pois segundo Velho (2011, 98), (...) É importante, assim, não se esquecer do que já foi apontado por diversos autores, a carga simbólica associada ao acesso e uso de armas. O tráfico destas, não custa insistir, está indissoluvelmente vinculado ao de drogas. Assim, a 4ª Conferência de Políticas Públicas sobre Drogas, adotou como tema: Violência, Drogas e Cidadania. O objetivo foi estabelecer diretrizes para a consolidação e alinhamento do Plano Estadual de Políticas Públicas sobre Drogas, em que se discutiram e se consolidaram as propostas apresentadas pelas regiões e municípios mineiros. A Conferência teve como base a Política Nacional sobre Drogas, Lei n o /06 (BRASIL, 2006). Segundo Bertole (2011), consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS), Minas Gerais está em posição de destaque na implantação de políticas públicas sobre álcool e outras drogas, configurando-se como um exemplo para o País. O Decreto nº , de 16 de fevereiro de 2011, cria a Agenda Intersetorial de Prevenção ao Uso Indevido de Drogas, na qual os órgãos e entidades da administração pública direta, autárquica e fundacional, que desenvolvem programas sociais no âmbito de sua atuação, deverão contribuir com ações educativas e preventivas contra o uso indevido de drogas, passando a se tornar ações de transversalidade obrigatória. 4 O Proerd em Minas Gerais O Proerd está presente, atualmente, em 50 estados americanos e em 58 países nos cinco continentes e já beneficiou, ao redor do mundo, aproximadamente, 40 milhões de pessoas (PEROVANO, 2006, p. 94). O seu currículo (...) foi desenvolvido para ser um sistema de prevenção à violência e ao uso indevido de drogas, com métodos que priorizam a moral e os bons costumes, a afetividade e os modelos de vida saudável. (DELL ANTÔNIA, 1999, p.36).

9 9 Segundo Perovano (2006, p.18), o Programa trabalha com estratégias de prevenção primária junto à família, escola, comunidade e jovens que poderiam correr o risco de se envolverem com drogas e violência. Em Minas Gerais, o Proerd foi institucionalizado por meio da Diretriz para a Produção de Serviços de Segurança Pública (DPSSP) nº 01/2002-CG, centralizando sua coordenação na Seção de Emprego Operacional do Estado Maior da Polícia Militar de Minas Gerais. (MINAS GERAIS, 2010). A Tabela 1 demonstra o número de municípios atendidos e o número de instrutores atuantes em Minas Gerais, desde o ano de 2003 a Observe-se que, nos primeiros anos de implantação do Programa, o atendimento foi menor: Tabela 1 Municípios atendidos em MG e instrutores atuantes desde a implantação do PROERD em1998 Ano 1998 a (*) Municípios Prejudicado Instrutores Prejudicado Fonte: Coordenação Estadual PROERD PMMG/DAOp (*) Ano em que foram centralizadas, efetivamente, as ações para o estado. A Tabela 2 mostra o número de escolas atendidas no estado de Minas Gerais a cada ano. Os anos de 1998 a 2002 foram considerados prejudicados devido às fragilidades do início das ações no estado. Em 2010, o Proerd atendeu escolas em Minas Gerais, tendo nesse ano o maior número de escolas atendidas pelo Programa. Tabela 2 Total de escolas atendidas em Minas Gerais Ano Total de escolas atendidas 1998 a 2002 Prejudicad o 2003( 200 *) Fonte: Coordenação Estadual Proerd PMMG/DAOp (*) Ano em que foram centralizadas, efetivamente, as ações para o estado.

10 10 Em relação ao número de pessoas atendidas, incluindo crianças, adolescentes, pais ou responsáveis por crianças e adolescentes, o ano de 2009 foi o mais atendido pelo Proerd, totalizando pessoas (Tabela 3). Tabela 3 Total de pessoas (crianças, adolescentes e pais) atendidas em Minas Gerais ANO 1998 a 2003 Somatório ano Total Geral Fonte: Coordenação Estadual Proerd PMMG/DAOp Os Instrutores são os policiais militares que vão às escolas e, para o desenvolvimento do Programa, estão capacitados 644 PMs. Os mentores são os multiplicadores, ou seja, fazem parte da equipe de treinamento de instrutores, pois já têm mais tempo de experiência no desenvolvimento do Programa nas escolas, somando um total de 29 PMs. Os facilitadores e ou coordenadores de curso são os mais experientes e treinados pela equipe do D.A.R.E. America, somando um total de 14 facilitadores. Tabela 4 Instrutores, mentores e facilitadores que estão atuando no estado março de 2012 POLICIAIS MILITARES QUANTIDADE Instrutores (executores) 644 Mentores (multiplicadores) 29 Facilitadores (coordenadores de curso) 14 Total 687 Fonte: Coordenação Estadual Proerd PMMG/DAOp 5 A pesquisa empírica Foram escolhidas quatro escolas públicas estaduais de ensino fundamental da região oeste de Belo Horizonte para a realização da pesquisa empírica, por ser uma região

11 11 de acesso mais facilitado. As escolas nas quais o Proerd foi implantado foram comunicadas da intenção da pesquisa e escolhidas de maneira aleatória e não intencional. Os sujeitos da pesquisa foram os estudantes que durante o 5º e 7º anos cursaram o Proerd, totalizando 88 alunos, sendo 38 do sexo masculino e 50 do sexo feminino, com faixa etária de 12 a 16 anos, que responderam a um questionário composto por 17 questões de múltipla escolha. Também foram sujeitos da pesquisa 18 professores e gestores de 18 escolas de várias regiões de atuação da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, que responderam ao Formulário de Avaliação do Instrutor do Proerd. Esse formulário foi encaminhado via web, com questões de múltipla escolha, que objetivaram avaliar o desempenho dos policiais instrutores do Proerd. Foi verificado o desempenho de 17 instrutores. Foi também realizada uma entrevista semiestruturada com o coordenador metodológico do Proerd de Minas Gerais. O Senhor Capitão Ferraz, coordenador metodológico do Proerd de Minas Gerais esclareceu que os cinco currículos educacionais do Proerd representam uma ação permanente do estado na prevenção primária, e formam um ciclo completo, no qual os conceitos e habilidades enfatizadas pelo Programa são desenvolvidos de forma gradual e progressiva, desde a educação infantil até o ensino médio, contando ainda com um currículo especial voltado à preparação dos adultos para ajudar as crianças e adolescente a colocarem em prática esses conhecimentos. O currículo infantil é destinado a crianças na faixa etária de 5 a 9 anos de idade cronológica (educação infantil e 1º ao 5º anos iniciais do ensino fundamental), com foco no desenvolvimento das primeiras noções de cidadania, de segurança pessoal e de práticas saudáveis. O currículo educacional para crianças de 10 anos de idade cronológica ou mental, aplicado no 5º ano do ensino fundamental, com um mínimo de 10 encontros (um a cada semana). Conta ainda com lições suplementares sobre bullying e conversa em família, esta última envolvendo os pais no aprendizado do aluno. O currículo educacional para adolescentes é destinado aos adolescentes na faixa etária de 12 anos de idade cronológica ou mental, que estejam cursando o 7º ano do ensino fundamental, com ênfase na participação ativa dos alunos na formulação e debate sobre situações de pressão e risco, bem como maneiras de evitar e afastar-se dessas situações danosas. O currículo é aplicado com um mínimo de 10 encontros (um a cada semana).

12 12 Conforme o coordenador, o currículo educacional para o ensino médio será implementado pelo centro de treinamento do Proerd da Polícia Militar de Minas Gerais após adaptação à cultura dos adolescentes mineiros. Esse currículo é destinado aos jovens na faixa etária de 15 a 18 anos de idade cronológica ou mental que estejam cursando o ensino médio (aplicado preferencialmente no 1º ano), com o objetivo de ampliar e consolidar as maneiras de se utilizar informações sobre drogas e violência para fazer escolhas positivas, com especial foco na gerência do controle emocional. Para o coordenador, o currículo educacional para pais e comunidade destina-se a pais e/ou responsáveis por crianças e adolescentes. Tem no mínimo cinco encontros de 2 horas para compartilhamento de informações que viabilizem o enfrentamento de problemas locais relacionados às drogas e à criminalidade. Um dos objetivos desse currículo é mostrar aos pais a sua importância na vida de seus filhos. Ele afirma ainda que os programas comunitários permitem a participação de qualquer adulto (a partir de 18 anos de idade). É um currículo educacional em formatação mais flexível e tem como foco dotar a comunidade de informações relevantes para a solução de problemas locais, previamente diagnosticados, relacionados à questão das drogas e/ou da violência. 5.1 O contato dos estudantes com drogas Do total de alunos, 88 responderam ao questionário, sendo que 38 (43,18%) deles são do sexo masculino e 50 (56,82%) são do sexo feminino. Os alunos que participaram do questionário tem a idade de 12 a 16 anos. Do total de entrevistados, 14,77% alegam já ter experimentado algum tipo de droga, sendo que 64,77 % do total já experimentaram bebida alcóolica. Desse universo, 58% são do sexo masculino e 42% do sexo feminino. Por meio das respostas às perguntas: se eles já experimentaram alguma droga e "se já experimentaram bebida alcóolica percebe-se que a maioria dos alunos não sabe que bebida alcóolica é uma droga, apesar de er lícita. No entanto, perguntados se acham que têm informações suficientes sobre os malefícios das drogas adquiridos no Programa, 73,60% responderam que sim. Assim, uma lista de drogas mais usuais foi apresentada aos alunos, para que marcassem as que eles tivessem experimentado. 42,05% disseram já ter experimentado bebida alcóolica; 35,23% não experimentaram nenhuma droga; 6,81% experimentaram bebida alcóolica e cigarro; 5,68% experimentaram bebida alcóolica, cigarro e outras drogas

13 13 não listadas no questionário; 4,54 experimentaram cigarro; 2,27% experimentaram bebida alcóolica e maconha; 1,14% experimentaram bebida alcóolica, cigarro, maconha, crack e outras drogas; 1,14% experimentaram crack e maconha e 1,14% experimentaram cigarro, maconha e crack. Sobre o que faz os jovens e adolescentes experimentarem drogas, na opinião de 55,68% dos alunos é a influência de amigos; 25% acha que é pela curiosidade; 4,54% alega que é para chamar a atenção dos pais; 12,5% para ser aceito no grupo; 1,14% pensa que é para ser aceito no grupo e também pela influência de amigos e 1,14% associa todos estes fatores. 5.2 Avaliação do Proerd e da imagem da PM pelos alunos Questionados se sabiam o sginificado da sigla PROERD, dos 88 alunos respondentes, 60% disseram conhecer a siglas me em relação à recomendação do Programa à outra escola, 76,14% responderam que sim. Dos alunos respondentes, 89,77% disseram que seus pais acham importante ter o Proerd na escola; 7,95% responderam que suas famílias não acham importantes; 1,14% responderam que a família nem sabe que existe o Proerd e 1,14% disse não saber qual é a opinião da família sobre o Proerd. Acerca da imagem da Polícia Militar na comunidade, 82,95% disseram que a imagem da polícia militar e seu reconhecimento pela comunidade melhoraram após as aulas do Proerd. Dentre os 88 alunos respondentes, 42,04% afirmaram que conhecem alunos que participaram do Proerd e depois voltaram a se envolver com drogas. O número total de conhecidos dos respondentes e drogas consumidas por eles são: 28 usam maconha, oito usam cigarro; sete usam cocaina; quatro usam crack; e três usam bebida alcóolica. Ao associar violência e o uso de drogas, 92,04% disseram que acreditam que o Proerd ajuda a evitar a violência e o envolvimento com drogas. Ao pedir aos alunos que avaliassem o Proerd com nota de 0 a 5, obteve-se a seguinte pontuação: 59,09% avaliaram com nota cinco; 28,40% deram nota quatro; 10,23% deram nota três; 1,14% deu nota dois e um respectrivamente.

14 Avaliação do PROERD e dos instrutores pelos professores e diretores Na parte do formulário dos professores e diretores destinada às críticas, observações e sugestões ao Proerd, verificou-se que o Programa é muito requisitado pelas escolas e bem avaliado por elas. Das 18 escolas, 12 registraram elogios aos instrutores pela segurança, conhecimento, competência e responsabilidade na aplicação do Programa. Uma escola elogiou o instrutor pelo ótimo relacionamento com os alunos e com todos da escola. A maioria das escolas que se manifestou nesse campo da avaliação, pede maior carga horária e continuidade do Programa para os outros anos, abrangendo maior número de alunos. Uma das escolas parabenizou a PMMG pela iniciativa em levar aos estudantes esse Programa tão importante para a sociedade. Os instrutores foram avaliados pelos professores e gestores das escolas, segundo os cinco quesitos elencados na Tabela 5, que são parte essencial do curso de formação de instrutor do Proerd, comprovando-se que possuem o domínio necessário para o desenvolvimento do Programa, não necessitando, portanto, de adequações do curso preparatório. A escolha dos quesitos teve o propósito de verificar a aplicabilidade do curso de formação dos policiais no PROERD. Por meio da avaliação das escolas, percebe-se que os instrutores tiveram as frequências relativas dos quesitos muito próximas e altas. Tabela 5 Avaliação do desempenho do instrutor do Proerd pelos professores e gestores das escolas entrevistadas Quesitos Frequência Absoluta (N) Frequência Relativa (%) Pontualidade ,74% Postura ética ,05% Domínio de classe ,66% Recursos didáticos ,83% Habilidades de facilitação ,21% Fonte: Dados da pesquisa

15 15 6 A guisa de conclusão Ao final dos estudos teóricos e das investigações empíricas, concluiu-se que o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd) é efetivo em seus objetivos, pois a maioria dos alunos respondentes dos questionários demonstra, por meio de suas respostas, que assimilaram as lições do Programa. Quanto à consonância do Proerd com as políticas sobre drogas, percebe-se, por meio do art.18 da Lei nº /06, que os objetivos do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD) vêm ao encontro dos objetivos do Proerd quando se trata de atividades direcionadas para a redução dos fatores de vulnerabilidade e risco e para a promoção e o fortalecimento dos fatores de proteção. Os currículos do Programa oportunizam aos adolescentes conhecer os malefícios das drogas e desenvolverem habilidades para identificar as estratégias de resistência para Recusar, Explicar, Abster-se e Livrar-se de situações de risco (Livro do Estudante, 7º ano). No parágrafo único do capítulo I que trata da prevenção às drogas na Lei nº /06 tem-se que: as atividades de prevenção do uso indevido de drogas dirigidas à criança e ao adolescente deverão estar em consonância com as diretrizes emanadas pelo Conselho Nacional dos direitos da Criança e do adolescente (CONANDA). Assim sendo, verifica-se que o Proerd traz em suas lições atividades de reflexão adequadas à faixa etária da criança e do adolescente. O art. 19, inciso XI, da referida Lei, menciona a implantação de projetos de prevenção ao uso indevido de droga nas instituições de ensino público e privado, alinhados às Diretrizes Curriculares Nacionais e aos conhecimentos relacionados a drogas. O Proerd favorece um diálogo entre a escola, a polícia e a família nas várias questões que permeiam as drogas. E contribui, também para o alcance dos objetivos das políticas estadual e federal de combate e prevenção ao uso de drogas, desenvolvendo seus objetivos alinhados a vários aspectos dos objetivos dessa política. Pela sua importância e alcance, sugerem-se novas pesquisas, sobretudo objetivando verificar se os investimentos para o Proerd por parte dos governos estadual e federal têm sido suficientes e como vêm sendo utilizados.

16 16 Referências AGÊNCIA BRASIL. Disponível em: < Acesso em: 06 jun ASSEMBLEIA DE MINAS. Disponível em: < Acesso em 12 dez BRASIL. Decreto Lei nº 2.861, de 24 de janeiro de Brasília, DF, BRASIL. Decreto Lei nº 4.294, de 06 de julho de Brasília, DF, BRASIL. Decreto Lei nº , de 24 de julho de Institui a política estadual sobre drogas. Brasília, DF, BRASIL. Lei nº 6.368, de 21 de outubro de Revogada pela Lei nº /06 Brasília, DF, BRASIL. Ministério da Educação e Cultura (MEC). Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/1996. Brasília, DF, 2006a. BRASIL. Ministério da Justiça. Legislação e políticas públicas sobre drogas no Brasil. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Brasília, DF, BRASIL. Ministério da Saúde. A Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas. 2 ed. Brasília, DF, 2004a. BRASIL. Sistema Nacional de Políticas Sobre Drogas (SISNAD). Brasília, DF, BRASIL. Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (SENAD). Brasília, DF, 2010; DELL ANTÔNIA, Valberto. A implantação do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência pela PMSC (PROERD). Florianópolis: USSC, Monografia (Especialização em Segurança Pública). Universidade do Sul de Santa Catarina, MINAS GERAIS. Decreto Lei nº /2006. Institui a Política Estadual sobre Drogas, 2006.

17 17 MINAS GERAIS. Decreto Lei nº , de 30 de janeiro de Institui a composição de conselhos de políticas públicas do Estado de Minas Gerais. MINAS GERAIS. Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Diretriz nº Belo Horizonte: MINAS GERAIS. Secretaria Nacional de Segurança Pública - Termo de referência para o Programa Educacional de Resistência às Drogas. Belo Horizonte, 2009a. MINAS GERAIS. Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Programa Educacional de Resistência às Drogas (PROERD). Plano de treinamento: formação de Instrutores PROERD. 14 ed. Belo Horizonte: PMMG, 2009b. MINAS GERAIS. Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Programa Educacional de Resistência às Drogas (PROERD). Manual do Instrutor PROERD. 1 ed. Belo Horizonte: Editora PMMG, MINAS GERAIS. Secretaria de Defesa Social (SEDS). Disponível em < Acesso em: 12 dez OBSERVATÓRIO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGRAS. Disponível em: < Acesso em: 23 nov PEROVANO, D Gean. Concepções dos instrutores do Programa Educacional de Resistência às Drogas e a Violência, sobre sua Formação Dissertação (Mestrado em Educação). Curitiba, 2006.