CONSIDERAÇÕES FINAIS ACERCA DO PROJETO DE PESQUISA PIBIC/FA DO CÓDEX À TELA: O USO DO COMPUTADOR NO CONTEXTO ESCOLAR

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1 CONSIDERAÇÕES FINAIS ACERCA DO PROJETO DE PESQUISA PIBIC/FA DO CÓDEX À TELA: O USO DO COMPUTADOR NO CONTEXTO ESCOLAR Patrícia Biondo Nicolli Soares (Bolsista PIBIC-FA/G CLCA UENP/CJ) Rosiney Ap. Lopes do Vale (Orientadora GP Leitura e Ensino - CLCA UENP/CJ) Introdução No decorrer da história até os dias atuais é possível evidenciar modificações que permearam as práticas de leitura e escrita, à medida que o suporte dos textos, função social e modos de leitura e escrita tem se transformado. Assim, como a criação do livro, que alterou os modos de ler e recepcionar os textos, hoje nos deparamos com novos suportes, dentre eles: a tela. Diante de modificações, pretendemos, por meio de uma pesquisa de campo, realizada com os alunos no 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Rui Barbosa, Jacarezinho/PR, ter uma visão mais abrangente sobre o assunto focando o surgimento do computador e, mais ainda, da Internet, no contexto escolar. Nesse sentido, sabe-se que a escola assume certo significado que relaciona a criança e o mundo e é dessa forma que o conhecimento adquirido é transmitido, repensado e produzido, assim, verificar o uso do computador como ferramenta pedagógica pela escola apresenta-se pertinente, num momento em que tal prática, dentro e fora dela, tem aumentado consideravelmente em decorrência dos novos avanços tecnológicos. Desse modo, as discussões em torno do referido tema justificam-se pela possibilidade de trazer contribuições para a compreensão da mudança nos perfis dos leitores, ao longo da história, do códex à tela: seus interesses, modos de ler e compreender. Lembramos que a opção do computador como suporte de tela, ocorre por ainda ser um objeto relativamente recente no ambiente escolar. Os suportes de leitura e informação se modificam cada vez mais com o decorrer dos tempos e, necessitam de políticas de formação sobre sua implementação, uma vez que, assim como qualquer outro instrumental que pode ser aproveitado em situações de ensinoaprendizagem depende muito do uso que se faz dele. Diante disso, objetivamos inicialmente, 179

2 apresentar um levantamento histórico sobre os diversos suportes de leitura, do códex à tela tendo como referencial teórico de base Cavallo e Chartier (2002) e Chartier (1998), também examinar as mudanças ocorridas nos suportes de leitura, desde a antiguidade clássica até os dias atuais, em que o computador tem se despontado como uma ferramenta atraente para o ato da leitura, trazendo não só modificações nas estruturas do suporte material, mas nas maneiras de ler. Posteriormente, coletamos dados no município de Jacarezinho/PR, no Colégio Estadual Rui Barbosa EFMP, com a colaboração dos alunos do 6º do Ensino Fundamental e da professora da turma. Materiais e métodos A pesquisa se realizou, primeiramente, com a elaboração de levantamento bibliográfico, leitura e fichamento das obras onde destacamos Roger Chartier, historiador e pesquisador francês, que estuda a história da cultura dos livros, bem como a trajetória da cultura e da escrita como práticas sociais. Ele considera a transgressão do rolo de papel para o códice, a primeira grande revolução da história do livro, uma vez que, agora a estrutura é baseada em páginas e capítulos. Por conseguinte, maior ainda tem sido o salto para o suporte eletrônico, que exibe sob uma tela, quaisquer tipos de obras já escritas, segundo o autor, a maior transformação na técnica de produção e reprodução de textos. Foram lidos vários outros textos, dentre os quais mencionamos a autora Carla Viana Coscarelli, cujo texto apresenta aspectos do letramento digital e de que modo isso pode ser útil à educação, citando, ainda, algumas sugestões de sites e programas que podem servir de aliados para os professores enriquecerem suas aulas. Também autores de artigos como Magda Soares, Gilberto Lacerda Santos, Antônio Carlos Santos Xavier, detalham a leitura na tela do computador, ou seja, a prática de leitura no ambiente virtual e a possível relação com outras mídias, além de argumentar que essas tecnologias possuem determinados efeitos sociais, cognitivos que devem ser averiguados. Por conseguinte, realizamos reuniões mensais de orientação em que discutimos questões como: tecnologias na escola, aspectos em que ele pode ser útil à educação, se os professores estão preparados para essa nova realidade, entre outras. A partir das discussões, traçamos um perfil dos leitores ao longo da história e elencamos nessas leituras elementos que 180

3 contribuíram para a pesquisa de campo no laboratório de informática com os alunos do 6º ano do Colégio Rui Barbosa, de Jacarezinho/PR. Para a coleta de dados in loco, optamos pela observação direta das aulas no laboratório de informática, no qual o computador foi usado como meio didático e um questionário respondido pelos alunos. Os resultados obtidos contaram com a participação de 26 alunos de um total de 30, uma professora e uma funcionária. Durante as observações em sala de aula, pudemos detectar alguns pontos relevantes como: falta de afinidade da professora com o computador (software); familiaridade ou não dos alunos com o computador (hardware e software); grande interesse dos alunos; ausência de acompanhamento técnico manutentor (imediato) dos equipamentos. Tal abordagem nos permitiu verificar de que modo às praticas de leitura, os conteúdos didáticos e também aqueles disponibilizados pela internet estão sendo trabalhados e consequentemente aprendidos em sala de aula, por meio do computador. Não obstante, tais observações geraram uma série de constatações e reflexões, apresentadas a seguir, sobre o tema proposto. Resultados e Discussão Compreender as práticas de leitura que a escola tem diante dos textos em tela e sua representação nos propicia enveredar para possíveis reflexões acerca do letramento digital. Analisar quais os usos que os estudantes fazem da tela como prática de leitura e escrita pode nos apresentar suas concepções de leitura e escrita dentro da cibercultura. Além disso, podemos observar em que medida esse universo pode interferir nas práticas pedagógicas dos professores ou na relação de ensino-aprendizagem. As escolas públicas de um modo geral têm recebido computadores instalados em salas específicas para seu uso. O governo tem selecionado estagiários das próprias escolas para atuarem como monitores dessas salas. Deparamo-nos, portanto, com possíveis novas políticas públicas para apropriação desse suporte como instrumento de pesquisa e aprendizado, que será necessariamente em leitura e escrita. Por isso, apesar do surgimento dos celulares, tabletes, priorizamos aqui o computador desktop como suporte principal, pois ainda não é recorrente o uso desses outros suportes em escolas públicas. 181

4 Com base na realidade observada na ocasião da coleta de dados, ressalto que a sala de informática é bem organizada e boa parte dos alunos, mesmo não possuindo computador em casa, apesar das dificuldades, sabia utilizá-lo. O laboratório de informática possui 42 computadores que operam com o sistema Linux. Os alunos têm acesso ao laboratório apenas para fazer pesquisa e desde que seja fora do horário de aula, e para isso, precisam de uma requisição do professor responsável por designá-la. Já os professores, para usarem a sala, precisam agendar uma semana antes da aula a ser ministrada. Vale destacar, que a professora tem computador e acesso a internet em casa, e se mostrou receptiva e positiva em ralação ao uso pedagógico das novas tecnologias de comunicação e informação, apesar de não ter formação em cursos de informática. No entanto, as observações na sala de informática revelaram que as aulas e as atividades são ministradas de modo aleatório, sem sequência didática ou metodologia. Em todas as aulas acompanhadas, a atividade era imposta aos alunos, sem que houvesse um motivo ou função social para sua realização, como por exemplo, no dia em que a tarefa a ser realizada era criar um . Nesse dia em específico, os alunos foram instruídos a criar um no servidor yahoo. Para isso, houve algumas dificuldades tais como: alguns equipamentos não funcionavam; internet muito lenta e travando, isso quando não caia e os alunos tinham que reiniciar as atividades, tornando a prática cansativa e desanimadora para a maioria deles, mas ao final, com o auxílio da professora, todos puderam concluir a atividade com sucesso. Quanto aos resultados obtidos contaram com a participação de 26 alunos de um total de 30 e uma professora. Foi perguntado aos alunos quais os tipos de sites mais conhecidos e o que mais gostavam de pesquisar. Os resultados indicam que os sites de busca são os mais acessados, (29,1%) seguidos das redes sociais (25%), apresentando entre os dois, pequena diferença e a internet é mais usada na pesquisa de jogos (40%). A maioria (61,5%), quando questionado sobre o que se entende por site, alegou não ter conhecimento, muito embora já tivessem respondido quais os sites de sua preferencia. Isso reflete a falta de informação específica e conhecimento técnico de alguns termos considerados básicos, uma vez que, pelas respostas, os alunos não entendem a relação entre nomes e ações. Os resultados também indicam que o computador é mais usado para navegar na internet (58,8%) e que 65,3% deles fazem parte de alguma rede social. Um 182

5 dado importante é que durante esse processo 69,2% permanecem mais de uma hora por dia na rede e sem supervisão dos pais. Nesse contexto, é importante atentar para dificuldade da professora com o trabalho que inclui as novas tecnologias, apesar do bom empenho, ao usar o computador como meio alternativo para a aprendizagem, é perceptível a falta de habilidade, de instruções, de metodologias, para que houvesse de fato uma finalidade naquilo que se propunha, ficando a atividade restrita ao entretenimento. Em favor disso, podemos citar, por exemplo, a investigação realizada por Santos (2003), buscando esclarecer modalidades de uso da internet em situações de ensino fundamental. Sua pesquisa revelou que os professores demonstraram interesse e vontade de inovar, mas estavam de mãos vazias, sem instrumentos teóricos e empíricos para isso, de modo que o uso da internet ainda é bastante limitado, embrionário e aquém das possibilidades desse poderoso meio de comunicação e informação. (SANTOS, 2003, p.311) E finalmente, cabe lembrar que a história da leitura e dos seus suportes, como também a da humanidade de maneira geral, é história de adaptação, sempre. E nesse contexto, no espaço educativo, as práticas pedagógicas, estarão melhor centradas, no momento em que for possível realmente estar trabalhando na direção de incorporar novos saberes/modos de conhecer (...) Desse modo, aqueles que fazem a cultura escolar devem refletir sobre como incorporar as novas tecnologias. (GOULART, 2011, p.55) Conclusão Feitas as considerações acima, esperamos que os pontos arrolados, tenham sido suficientes para evidenciar o quanto pode ser explorado o terreno da leitura e das novas tecnologias e o quão diversas são as formas de abordagem, diversas, mas não menos importantes umas das outras, uma vez que esses vieram trazer novos elementos para se pensar a questão do ensino, uma vez que, podemos perceber a mudanças no comportamento de professores e alunos. Atualmente, pensar a educação sem levar em consideração as mudanças que a tecnologia, em especial o uso do computador e da internet, trouxeram à sociedade, seria criar uma forma de exclusão para os alunos, uma vez que novas habilidades vêm sendo exigidas nas 183

6 diversas práticas sociais. Urgente se faz a adoção de políticas públicas que atendam os professores nas necessidades teóricas, práticas e que deem suporte material de qualidade, para que se possa realizar um trabalho que seja realmente significativo. Referências CAVALLO, Guglielmo; CHARTIER, Roger (Orgs.). História da leitura no mundo ocidental. Trad. Fulvia Moretto, Guacira Machado e José Antônio Soares. São Paulo: Ática, CHARTIER, Roger. A Aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora Ática, GOULART, Cecília. Letramento e novas tecnologias. In: COSCARELLI, Carla. V.; RIBEIRO, Ana. Elisa (Org.) Letramento digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2011, p SANTOS, Gilberto Lacerda. A internet na escola fundamental: sondagem de uso por professores. Educação e Pesquisa. São Paulo. V.29. p Julho/dez Para citar este artigo: SOARES, Patrícia Biondo Nicolli. Considerações finais acerca do projeto de pesquisa PIBIC/FA do códex à tela: o uso do computador no contexto escolar. In: X SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS - Estudos Linguísticos e Literários Anais... UENP Universidade Estadual do Norte do Paraná Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, ISSN p