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BALDUINIA. n.16, p. 6-12, 15-IlI-2009 ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE EUGENIA MANSOI O. BERG (MYRTACEAE)l JOSE NEWTON CARDOSO MARCrnORP SIDINEIRODRIGUES DOS SANTOS3 RESUMO A anatomia da madeira de Eugenia manso io. Berg é descrita, com base em material do Rio Grande do Sul. Entre outros caracteres anatômicos, salientam-se: porosidade difusa, poros predominantemente ou exclusivamente solitários, placas de perfuração simples, pontoações intervasculares alternas e raios heterogêneos estreitos. Sob o ponto de vista taxonômico, são especialmente importantes: a ausência de ornamentações em pontoações, o parênquima axial difuso-em-agregados e em linhas tangenciais, e as fibras com pontoações areoladas. Palavras-chave: Eugenia manso i, Anatomia da Madeira, Myrtaceae. ABSTRACf [Wood anatomy of Eugenia mansai O. Berg (Myrtaceae)]. The wood anatomy of Eugenia manso io. Berg is described, based on materiais from Rio Grande do Sul state, Brazil. Diffuse porous wood, with predominantly or exclusively solitary vessels, simple perforation plates, alternate intervessel pits and narrow heterogeneous rays, were observed. The absence of vestured pits in vessel walls, the presence of diffuse-in-aggregates parenchyma cells, associated with tangentiallines, and the presence of bordered pits on fibers, are specially important under the taxonomic point of view. Key words: Eugenia manso i, Wood Anatomy, Myrtaceae. INTRODUÇÃO O gênero Eugenia L. compreende mais de 500 espécies de árvores e arbustos, dispersas, em sua maioria, pelas regiões tropicais e subtropicais da América, Ásia e, mais raramente, da Austrália e África (Record & Hess, 1949). De acordo com a concepção taxonômica mais atualizada, que inclui os gêneros Calycarectes e Hexachlamys, o gênero Eugenia inclui 31 espécies nativas no Rio Grande do Sul (Sobral, 2003). I Recebido para publicação em 14/11/2008 e aceito para publicação em 30111/2008. 2 Engenheiro Florestal, Dr., Professor Titular do Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. Bolsista de Produtividade em Pesquisa, CNPq - Brasil. balduinia@mail.ufsm.br 2 Biólogo, bolsista do CNPq - Brasil, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa Maria, CEP 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil. Conhecida popularmente como pitangaamarga ou falsa-pitanga, Eugenia mansa i O. Berg é nativa em matas ciliares do Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil (Rotman, 2005), de São Paulo ao Rio Grande do Sul (Mattos, 1984). Para este Estado, Sobral (2003) refere coletas nas matas ciliares dos rios Ibicuí, Ijuí e Jacuí. Árvore de pequeno porte (até 5 m), Eugenia mansa i apresenta casca persistente, com pequenos sulcos. As folhas, simples, opostas, ovais (comprimento/largura < 2,5), acuminadas e de margem inteira, são de consistência papirácea, concolores ou levemente discolores, apresentando o primeiro e segundo par de nervuras secundárias em ângulo de 45-55, com relação à nervura principal (Santander & González, 2007). A madeira, devido à pequena dimensão dos troncos, é utilizada apenas como lenha (Marchiori & Sobral, 1997). Ainda desconhecida sob o ponto de vista anatômico, a descrição do xilema secundário de Eugenia mansa i constitui o objetivo do presen- 6

te trabalho, que visa a contribuir para o conhecimento estrutural das Mirtáceas nativas no Rio Grande do Sul. REVISÃO DE LITERATURA No tocante ao aspecto, propriedades e estrutura da madeira, a variação entre espécies de Eugenia mostra-se tão grande como a verificada entre diferentes gêneros da subfarrulia Myrtoideae (Record & Hess, 1949). Com relação aos caracteres anatômicos, a literatura dispõe de escassas informações, sendo raras as descrições pormenorizadas de espécies nativas. Para o conjunto do gênero, Metcalfe & Chalk (1972) referem vasos muito numerosos e de diâmetro muito pequeno a médio, geralmente solitários ou então em múltiplos ocasionais até numerosos de 2-4 poros, providos, em algumas espécies, de espessamentos espiralados. O parênquima axial, inteiramente ou predominantemente apotraqueal, pode ser paratraqueal aliforme ou confluente em raras espécies. Os raios, de células procumbentes, eretas e quadradas, podem compor-se inteira ou predominantemente de células procumbentes (Metcalfe & Chalk, 1972). No parênquima axial de Eugenia, bem como das Mirtáceas em geral, são freqüentes os cristais de oxalato de cálcio, em câmaras. Para algumas espécies é assinalada, por diversos autores, a presença de grãos de sílica no parênquima axial e/ou em células radiais, bem como de septos em fibras e de canais esquizógenos (Metcalfe & Chalk, 1972). A presença de tiloses, por sua vez, é referida por Dadswell & Eckersley (1935) para os vasos de algumas espécies de Eugenia, entre outros gêneros da farmlia. Para Eugenia involucrata DC., Marchiori (1984) refere elementos vasculares longos (365-582-843 /lffi), numerosos a muito numerosos (14-20-28/mm 2 ) e com 38-53-73 llm de diâmetro, aspectos que concordam com a natureza higrófila da espécie. Para a identificação anatômica, o autor salienta, ainda, a presença de tênues espessamentos espiralados em vasos, de pontoações simples em fibras, a heterogeneidade do tecido radial, bem como os valores quantitativos de fibras, parênquima axial e raios. Em estudo comparativo do lenho de Eugenia uniflora L. e E. cerasiflora Miq., Soffiatti & Alfonso (1999) destacam a uniformidade estrutural de ambas as madeiras, distiguindo-as com base no parênquima axial e presença de cristais. MATERIAL E MÉTODOS O material estudado consiste de duas amostras de madeira, coletadas no município de São Vicente do Sul, Rio Grande do Sul. As amostras de madeira e exsicatas botânicas foram incorporadas à Xiloteca e Herbário do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Santa Maria (HDCF), sob os números 2387 e 2391, respectivamente. Para a descrição da madeira, foram preparadas lâminas de cortes anatômicos e de macerado. Do material lenhoso, foram extraídos três corpos de prova (2x1x3 cm) da parte mais externa do lenho, próxima ao câmbio, orientados para obtenção de cortes nos planos transversal, longitudinal radial e longitudinal tangencial. Um outro bloco foi também retirado, com vistas à maceração. O preparo de lâminas de cortes anatômicos seguiu a técnica padrão no Laboratório de Anatomia da Madeira da Universidade Federal do Paraná: as amostras de madeira foram amolecidas por fervura em água e seccionadas em micrótomo de deslizamento, regulado para a obtenção de cortes com espessura nominal de 2011m.Estes, foram tingidos com acridina-vermelha, crisoidina e azul-de-astra (Dujardin, 1964), desidratados em série alcoólica-ascendente (30%, 50%, 70%, 95% e duas vezes em álcool absoluto), diafanizados em xilol e montados em lâminas permanentes, usando-se "Entellan" como meio de montagem. Para as lâminas de macerado, adotou-se o método de Jeffrey (Burger & 7

Richter, 1991) e coloração da pasta com safranina 1%; a montagem de lâminas seguiu o anteriormente descrito, com a diferença de que as três primeiras etapas foram desenvolvidas sobre papel de filtro. A descrição microscópica da madeira baseou-se nas recomendações do IAWA Committee (1989). No caso da percentagem dos tecidos foram realizadas 600 determinações ao acaso, usando-se contador de laboratório, conforme proposto por Marcruori (1980). Afreqüência de poros/mm 2 foi obtida de forma indireta, a partir de um quadrado de área conhecida, superposto a fotomicrografias de seção transversal da madeira. As medições foram r~alizadas em microscópio Carl Zeiss, com ocular de escala graduada, no Laboratório de Anatomia da Madeira da Universidade Federal de Santa Maria. Nas características quantitativas, os números entre parênteses equivalem aos valores mínimos e máximos observados. O valor que acompanha a média é o desvio padrão. As fotornicrografias foram tomadas em microscópio Olympus CX40, equipado com câmera digital Olympus Camedia C3000. DESCRIÇÃO ANATÔMICA Madeira de porosidade difusa. Anéis de crescimento distintos, delimitados pelo achatamento radial das fibras e, menos freqüentemente, pela presença de estreita zona fibrosa mais escura no limite do anel de crescimento, ou pelo alinhamento tangencial de poros no lenho inicial (Figura 1A,B). Vasos muito numerosos a extremamente numerosos, com média variando de 64 (HDCF 2391) a 221 (HDCF 2387) poros / mm 2, ocupando, respectivamente, 8,8 a 19 % do volume médio da madeira. Conteúdo de coloração castanha ou avermelhada, escasso e de presença ocasional em vasos. Poros exclusiva ou predominantemente solitários e em múltiplos radiais curtos (2-4 poros), de seção poligonal, por vezes circular a oval, muito pequenos (29,7 ± 8,1 (15-55) 11m), de paredes finas (2,8 ± 0,6 (2,5-5,0) 11m) e sem padrão definido de organização (Figura 1A,B). Elementos vasculares de comprimento médio (592,4 ± 120,6 (380-860) 11m), com placas de perfuração simples (Figura ld), oblíquas, e apêndices geralmente em ambas as extremidades. Pontoações intervasculares alternas, não ornamentadas, circulares (4,4 ± 0,5 (4,1-5,1) 11m) e com abertura em fenda inclusa (Figura 1E). Pontoações raio-vasculares semelhantes às intervasculares, embora menores (3,7 ± 0,5 (3,1-4,1) 11m) e restritas às margens dos raios. Espessamentos espiralados, ausentes. O parênquima axial, abundante, contrasta com o tecido fibroso; com freqüência de 16 (HDCF 2387) a 22 (HDCF 2391) % do volume da madeira, dispõe-se em arranjo apotraqueal difuso-em-agregados e em linhas tangenciais estreitas (1-3 células de largura), por vezes reunidas em faixas contínuas (Figura 1A,B). Séries parenquimáticas geralmente com 8 (4-11) células, medindo 581,4 ± 78,0 (375-740) 11mde altura (Figura 1F). Séries cristalíferas abundantes, com até 12 cristais prismáticos solitários, em células normais ou subdivididas do parênquima axial, maiores do que as adjacentes (Figura 1G). Raios muito numerosos (23 ± 2,4 raios/mm), ocupando 20,4 ± 3,7 % do volume da madeira. Raios heterocelulares (Figura 1C), compostos de células procumbentes na parte multisseriada, e 1-16 (mais comumente 3-8) fileiras marginais de células quadradas e, principalmente, eretas. Raios estreitos, com 1-2 (raro 3) células de largura (Figura 1F,G). Raios mu1tisseriados com 5-24 (mais comumente 7-13) células e 365 ± 159 (120-800) 11mde altura; a parte mu1tisseriada é geralmente mais curta do que as margens unisseriadas. Raios unisseriados com 256,8 ± 120,5 (70-560) jlffi e 1-14 (mais freqüentemente 2-6) células de altura. Raios axialmente fusionados, freqüentes. Inclusões minerais, células envolventes e células perfuradas, ausentes; conteúdo de coloração escura, escasso. Fibras com pontoações distintamente areoladas nas paredes radiais e tangenciais, com 8

aberturas cruzadas (Figura 1G). Tecido fibroso representando 47,3 ± 4,3 % do volume da madeira. Fibras de comprimento médio (989,6 ± 155,4 (660-1270) 11m), com 14,9 ± 2,7 (10-22,5) 11mde largura, e paredes finas a espessas, por vezes muito espessas (5,1 ± 1,1 (3,1-7,5) 11m). Fibras septadas, fibras gelatinosas e espessamentos espiralados, ausentes. Traqueídeos vasicêntricos, presentes. Demais caracteres: Variantes cambiais, tubos laticíferos e taniníferos, canais intercelulares, máculas, células oleíferas ou mucilaginosas e estratificação, ausentes. ANÁLISE DA ESTRUTURA ANATÔMICA A estrutura anatômica de Eugenia manso i reúne características típicas de Myrtaceae, segundo Record & Hess (1949) e Vliet & Baas (1984). É o caso da porosidade difusa, das placas de perfuração simples, das pontoações intervasculares alternas, do parênquima apotraqueal seriado, dos raios heterogêneos e estreitos, das fibras com pontoações areoladas, e dos traqueídeos vasicêntricos. Menos freqüente na referida farrulia botânica (Vliet & Baas, 1984), a presença de poros em múltiplos radiais está de acordo com o relacionado por Metcalfe & Chalk (1972) para Eugenia spp. Poros solitários foram também observados por Marchiori (1984b), em estudo anatômico de Eugenia invoiucrata, e por Soffiatti & Angyalossy-Alfonso (1999), para outras duas espécies do mesmo gênero. Cabe salientar, todavia, que na espécie em estudo observaram-se poros solitários apenas na amostra com menor freqüência do caráter (HDCF 2391), fato que limita o valor diagnóstico do mesmo. Ainda com relação aos vasos, cabe destacar a ausência de ornamentações no pontoado intervascular, caráter freqüente no gênero em estudo (Marchiori, 1984b; Soffiatti & Angyalossy-Alfonso, 1999) e em outros da família, investigados por Marchiori (1984a,c, 1987a,b, 1988, 1997, 1998). Metcalfe & Chalk (1972) reportam espessamentos espiralados para algumas espécies de Eugenia e Myrceugenia. A ausência do caráter em Eugenia manso i, embora predominante na farrulia, pode contribuir para separar esta espécie de outras afins, caso de E. invoiucrata (Marchiori, 1984b), provida de espessamentos espiralados tênues, bem como de Myrceugenia myrtoides (Marchiori, 1987b), M. giaucescens (Marchiori, 1988) e Campomanesia guazumaefolia (Marchiori, 1998). Pouco freqüente na fanulia, a presença de parênquima apotraqueal em linhas tangenciais mostra-se de valor diagnóstico (Wiedenbrug, 1948; Vliet & Baas, 1984), servindo, por exemplo, para separar a espécie em estudo de E. invoiucrata, espécie que, de acordo com Marchiori (1984b), apresenta parênquima difuso. Soffiatti & Angyalossy-Alfonso (1999) valeramse do mesmo caráter para separar outras duas espécies de Eugenia, demonstrando seu valor diagnóstico para o referido gênero botânico. A presença de séries cristalíferas no parênquima axial é aspecto freqüente na farrulia, inclusive em espécies de Eugenia, como demonstram os estudos de Marchiori (1984) e Soffiatti & Angyalossy-Alfonso (1999); a abundância do caráter, aliás, pode servir para a identificação de espécies, de acordo com as duas últimas autoras. Com relação às madeiras nativas investigadas por Marchiori e listadas na bibliografia, Myrciaria tenelia, Caiyptranthes concinna, Myrceugenia myrtoides, M. giaucescens e Campomanesia guazumaefolia não apresentam inclusões minerais na estrutura anatômica. A estrutura radial é muito semelhante ao observado por Marchiori (1984b) e por Soffiatti & Angyalossy-Alfonso (1999) para outras espécies do mesmo gênero, carecendo de importância sob o ponto de vista taxonômico. Em nível genérico, o caráter pode ser útil, como no caso de Campomanesia, gênero com raios mais largos, 9

FIGURA I - Fotomicrografias da estrutura anatômica. A - Limite de anel de crescimento (cc), porosidade difusa, poros solitários e parênquima apotraqueal difuso-em-agregados, em seção transversal. B - Mesmo plano anatômico, destacando poros de seção poligonal, circular a oval, parênquirna em linha tangencial (seta) e fibras de paredes finas até espessas. C - Raio heterogêneo, com células procumbentes no corpo multisseriado e células quadradas e eretas nas margens, visto em seção longitudinal radial. D - Mesmo plano anatômico, salientando placa de perfuração simples (quadrado). E - Vaso com pontoações intervasculares alternas (seta), em seção longitudinal tangencial. F - Raios estreitos e parênquima axial seriado (seta), em seção longitudinal tangencial. G - Detalhe de série parenquimática cristalífera (seta), raios uni e bis seriados e fibras com pontoações areoladas, em seção longitudinal tangencial. 10

de até 6 células (Metcalfe & Chalk, 1972). A presença de conteúdos, bem como sua abundância, podem, igualmente, ser valiosos para a identificação. Em Eugenia mansoi, a observação de escasso conteúdo em células radiais assemelha-se ao observado em E. uniflora e E. cerasiflora (Soffiatti & Angyalossy-Alfonso, 1999); o caráter, todavia, não é referido para E. involucrata (Marchiori, 1984b). Cabe salientar que esta característica adquire maior importância no caso de espécies com conteúdo abundante, caso de Myrceugenia myrtoides (1987b), Calyptrantes concinna (Marchiori, 1997) e Campomanesia guazumaefolia (Marchiori, 1998). A observação de pontoações areoladas em fibras de Eugenia manso i contraria referência de Metcalfe & Chalk (1972) para o gênero em questão; segundo estes autores, tanto em Eugenia, como em Gomidesia e Jambosa, ocorrem ponto ações simples ou indistintamente areoladas. Marchiori (1984b) anota, igualmente, a presença de fibras libriformes na madeira de E. involucrata. Por outro lado, a observação de fibras com pontoações areoladas, por Soffiatti & Angyalossy-Alfonso (1999), corrobora os resultados do presente estudo. Devido à variabilidade observada, a natureza das fibras cresce em importância na segregação de espécies em Eugenia. Com relação às características quantitativas, os valores de elementos vasculares aproximamse aos referidos por Marchiori (1984b), com exceção da freqüência (21/mm 2 ) e diâmetro (58Ilm) de poros, que ficaram abaixo e acima, respectivamente. Com relação aos resultados de Soffiatti & Angyalossy-Alfonso (1999), apenas o diâmetro de poros referido pelas autoras (42Ilm) merece observação, por ser consideravelmente maior do que o presentemente observado. Cabe lembrar que características quantitativas, em especial de vasos, são muito influenciadas pelas condições do meio, devendo, portanto, serem tomadas com cautela. Na espécie em estudo, a freqüência de poros apresenta uma variação maior entre as amostras coletadas do que o verificado em outras espécies (inclusive de outros gêneros), listadas na bibliografia. No tocante à altura das séries de parênquima axial, não se observa divergência com relação aos trabalhos anteriormente referidos, havendo, apenas, pequenas diferenças nos limites inferior e superior. Este fato reduz o valor taxonôrnico do caráter, ao menos para as espécies em que ocorre sobreposição. No caso dos raios, a tendência coincide com o observado no parênquima axial, com exceção da freqüência, pois, em valores médios, ultrapassa o referido por Marchiori (1984b) para Eugenia involucrata (16 raios/ mm). Por sua vez, o comprimento de fibras (989Ilm) assemelha-se ao encontrado por Soffiatti & Angyalossy-Alfonso (1999), ficando, todavia, um pouco abaixo do referido por Marchiori (l984b) para E. involucrata (1226Ilm); esta característica anatômica, bem como a freqüência de raios, pode ser útil para fins taxonôrnicos, no gênero em questão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BURGER, L. M., RICHTER, H. G.Anatomia da Madeira. São Paulo: Ed. Nobel, 1991. 154 p. DUJARDIN, E. P. Eine neue Holz-Zellulosenfaerbung. Mikrokosmos, n. 53, p. 94, 1964. IAWA CüMMITTEE. IAWA list of microscopic features for hardwood identification. IA WA Bulletin., v.lo, n. 3, p. 218-359,1989. MARCHIORI, J. N. e. Estudo anatômico do xi/ema secundário de algumas espécies dos gêneros Acacia e Mimosa, nativas no Estado do Rio Grande do Sul. 1980. 186f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1980. MARCHIüRI, J. N. e. Anatomia descritiva da madeira do murtilho Myrrhinium loranthoides (Hook. et Am.) Burret (Myrtaceae). Revista do Centro de Ciências Rurais, Santa Maria, v. 14, n. 1, p. 43-50, 1984a. MARCHIüRI, J. N. e. Anatomia da madeira de Eugenia involucrata De. (Myrtaceae). Ciência e Natura, Santa Maria, v. 6, p. 127-136, 1984b. 11

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