Pentecostes Homilias Meditadas Lectio Divina para a Família Salesiana P. J. Rocha Monteiro, sdb Solenidade do Pentecostes - Ano B Jo 20,19-23 Act 2,1-11 1. Introdução Como é bom e suave, Senhor, o vosso Espírito que habita em nós! Águas e fontes, cantai um hino a Deus. Louvai o Senhor, Vós que renascestes da água e do Espírito (Laudes). Dia de Pentecostes. 50 dias depois da Páscoa. Era uma festa agrícola, na qual se agradecia a Deus a colheita da cevada e do trigo e que recordava Moisés a celebrar a Aliança santa com o seu povo de Israel. Nos textos de hoje vemos uma comunidade a nascer no meio de fenómenos que não são normais. O Espírito faz germinar em nós as sementes de ressurreição e abre caminhos novos de esperança. Viver do Pentecostes é viver embriagado da vida divina deitada prodigamente no nosso coração. Não é uma igreja mais humana de que temos necessidade, mas uma igreja mais divina; desta maneira também ela será verdadeiramente humana (Card. Ratzinger).
2. A paz esteja convosco Na tarde daquele dia, estando fechadas as portas da casa com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-se no meio deles e disselhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. João situa-nos no anoitecer do dia de Páscoa. O ambiente era de medo. Lucas, na primeira leitura, narra a descida do Espírito Santo celebrando a Aliança com Deus e o nascimento do Povo de Israel. Usa os símbolos vento de tempestade e o fogo como símbolos da revelação de Deus no Sinai. Por outro lado, ao descrever este mistério de alegria do Senhor com a comunidade, pretende unir a morte do Senhor na cruz com a vida nova do Espírito da comunidade nascente. 3. Recebei o Espírito Santo Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos». Jesus começa por saudá-los, desejando-lhes a paz. Em seguida, Jesus mostrou-lhes as mãos e o lado. São os sinais que evocam a entrega de Jesus, o amor total expresso na cruz. Vem depois a comunicação do Espírito. O sopro de Jesus sobre eles é o sopro criador, com o Espírito, para a missão frágil-forte do Perdão, Jubileu Divino do Espírito. Este sopro, este alento, só aparece neste lugar em todo o Novo Testamento!
Mas não é difícil construir uma bela ponte para Gn 2,7, para o sopro ou alento criador de Deus no rosto do homem (A. Couto). O Espírito faz germinar em nós as sementes de ressurreição e abre caminhos novos de esperança. Nós somos do tempo da missão do Espírito. Compete a cada cristão levar por diante este projeto do Pai. 4. A Páscoa unida ao Pentecostes O Evangelho lembra-nos a Páscoa unida ao Pentecostes. O Espírito que agora irrompe, é o mesmo dado aos Apóstolos. Porque só Ele é Criador. E a remissão dos pecados é uma nova criação. Podemos afirmar que tirar o pecado do mundo é a maior urgência do Reino e a maior tarefa a cumprir. Eliminemos o pecado do coração dos homens e, então, teremos um novo céu e uma nova terra. A reconciliação dos homens com Deus e entre si é obra do Espírito Santo. Salmo 103 (104) 5. Bendiz, ó minha alma, o Senhor Bendiz, ó minha alma, o Senhor. Como são grandes, Senhor, as vossas obras! A terra está cheia das vossas criaturas. Se lhes tirais o alento, morrem... Se mandais o Vosso espírito, retomam a vida. Glória a Deus para sempre! O Espírito leva a cumprimento a obra da Criação, porque restitui vida ao que o nosso pecado parecia levar à ruína e à morte.
1 Cor 12,3b-7.12-13 6. Dons espirituais São Paulo escreveu sobre os dons espirituais na sua primeira carta aos Coríntios, capítulos 12-14. Se quisermos compreender melhor o que eles são, e como devem ser usados, podemos estudar esses capítulos. Contêm instruções sobre os dons espirituais. São manifestações do espírito. As questões à volta dos carismas (dons especiais concedidos pelo Espírito a determinadas pessoas ou grupos para proveito de todos) faziam-se sentir. Havia gente que se considerava escolhida por Deus e eles é que eram detentores dos carismas. Ora S. Paulo faz ver que Deus concede os seus carismas a toda a comunidade. São para servir, para o bem comum. Os dons espirituais, portanto, são manifestações da presença e do poder de Deus. São Paulo, na sua carta, descreve os nove dons como manifestações do espírito. 7. Quem é o Espírito Santo? Quem é o Espírito Santo? O Espírito Santo, o Eterno Esquecido, está sempre presente. Sem protagonismos ou vaidades, Ele escolhe a interioridade, lugar onde se fazem confidências, se cria comunhão, se sonha o futuro e se contempla silenciosamente o essencial. Em segredo, o Espírito Santo é sempre para o outro. Ele é o Amor em cada amor, a alma em cada vida, o ar de cada respiro, misterioso coração do mundo, êxtase de Deus, efusão ardente. O Espírito é doce carícia divina que deixa no nosso coração o dom maravilhoso da sua presença. Ali, no mais íntimo, onde a humanidade abraça a divindade, está o Espírito de Deus.
8. Espírito de Deus Espírito de Deus, fonte, manancial da Palavra. Silêncio e solidão são os ambientes maternos a partir dos quais tem de brotar toda a palavra, toda a comunicação. É o Espírito de Deus que dá a capacidade para ouvir, para escutar o silêncio do mar, das montanhas, de uma flor, do vento e das nuvens. A pessoa é essencialmente comunhão, relação, comunicação. É pessoa na medida em que se comunica, que deixa ressoar Deus nela. Só pode ser pessoa quando se apercebe da profundidade do seu ser, da sua solidão, onde ela está na sua própria presença, onde nasce constantemente o seu ser, o seu eu, onde ela se apreende, se possui e a partir de onde se pode dar ao outro. Aqui se compreende melhor a vida no Espírito. 9. Pentecostes de Maria Maria recebeu o Espírito ao conceber o Seu Filho. Recebeu a Igreja na oferta de Jesus no Calvário e recebeu o Espírito Santo ao nascer a igreja no dia do Pentecostes na companhia dos amigos de Seu Filho. O silêncio de Maria estava repleto de Deus. Os seus silêncios também se faziam longos e profundos, mas nunca distantes. Gostava da solidão, mas também de estar com outras pessoas. Como era bela a flor que crescia, germinada do tronco de Jessé (Is 1,11). A graça de Deus estava de verdade com Ele. Maria observava-o. Guardava todas estas coisas no seu coração. Pensava. Esperava. Envolvia-a o silêncio do mistério para o qual vivia.
10. Pentecostes Pentecostes, quando o Espírito nos toca e nos envolve... Texto luminoso, plataforma divina de ternura e emoção, alento ao cair da tarde; Casa à beira rio, símbolo de mim, da minha interioridade, ali onde sou pessoa sagrada; Espírito Divino onde se abrem janelas para o mar e a luz longinquamente se definhe; Vidas nascidas acesas que lentamente se vão apagando pela vida fora até repousar em Deus; Amor verdadeiro, gerador de sonhos com esplendor num céu estrelado de Maio mariano; Divino Espírito, alma da minha alma, ajoelho e venero. Eu Te adoro. Eu Te adoro.
Esplendor do Pentecostes Divino Espírito, alma da minha alma, Iluminai-me, guiai-me, fortalecei-me, consolai-me. Dizei-me o que fazer, dai-me as vossas ordens. Prometo submeter-me a tudo o que quiserdes de mim E aceitar tudo o que permitirdes que me aconteça. (Card. Mercier) Divino Espírito, alma da minha alma, Murmúrio manso, terno, acolhedor, Trombeta estridente na colina ardente. Alma da minha alma, eu Te adoro. Manto de púrpura envolve meu Rei. Liturgia cósmica de estrelas nos ares, Sinfonia de veludo eu tocarei. Divino Espírito, Te adorarei. Amor aceso, amor que me aqueces, Acende em mim a luz, sabedoria, Estrelas da vida longe iluminadas, Perto do céu ao longe prateadas. Vento, velas enfunadas, esplendor, Portador de bálsamos e perfumes. Anjos santos de Deus em adoração Comigo ao Deus Trino Uno e Santo. Chuvinha miudinha, rocio, Divino Espírito, Cai sobre mim com Tua luz ao de leve. Cura-me, liberta-me, sou pobre sem Ti. Rocia a minha alma com gotas celestes.
Senhora minha Mãe, minha loucura, Beleza ondeante em mar azulado, Guia meus passos desejos minha mente Purifica-me, livra-me do pecado. E quando o sol se deitar, E a irmã lua for branquear, Possa eu, Divino Espírito, Alma da minha alma, Em Ti repousar. J. Rocha Monteiro in Palavra ardente