2 Trajetória da pesquisa

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Transcrição:

21 2 Trajetória da pesquisa No primeiro semestre no Programa de Pós-Graduação da PUC - Rio, além das disciplinas obrigatórias, cursei a disciplina eletiva Sociologia da Educação, escolha coerente com meu desejo de uma compreensão mais ampla da sociedade em que vivemos e das questões atuais do fenômeno da educação dentro do contexto mundial. Nas aulas da disciplina, tive contato com o SOCED Grupo de Pesquisas em Sociologia da Educação, e surgiu o interesse em conhecer as propostas desse grupo. Esse momento é dedicado, no Programa, para que os alunos possam conhecer os grupos de pesquisa e se filiar a um deles, caso esse seja seu desejo. Essa escolha normalmente é feita a partir das afinidades e das possibilidades de conjugação dos interesses pessoais do aluno com os interesses gerais do grupo. Fui conhecer, então, o SOCED e vislumbrei a possibilidade de conjugar meu interesse pessoal de pesquisa com o trabalho já em andamento pelo grupo. O encontro, para muitos, poderia ser considerado improvável, já que o SOCED desenvolve, desde 2001, pesquisas sobre escolas com referencial de qualidade que atendem, majoritariamente, a alunos oriundos de famílias com alto capital informacional e econômico, e meu interesse sempre foi, como já mencionado, estudar escolas públicas em espaços populares, que, em geral, não apresentam bons resultados nas avaliações oficiais (Ribeiro & Kaztman, 2008). Essa aparente diferença de interesses foi entendida, por mim e pelo grupo, como uma possibilidade de realização de um estudo comparativo entre duas escolas que apresentassem diferentes resultados em relação ao desempenho dos alunos nas avaliações oficiais: uma com resultados satisfatórios e outra não, visando investigar, então, quais poderiam ser os elementos, em cada contexto escolar, capazes de fazer a diferença na produção ou não da qualidade de ensino. Dentro dessa perspectiva, minha pesquisa foi se delineando a partir da contribuição das discussões e das trocas com os outros pesquisadores do grupo.

22 Esse contato me proporcionou familiarização com a produção acadêmica anterior do grupo e do campo em geral, contribuindo para a aquisição do habitus 8 científico, processo que exige tempo e esforço e que tem no debate entre os pares um importante aliado (Brandão, 2008). 2.1 A construção do material empírico do SOCED Integrei o grupo no momento em que se iniciava a inserção dos dados do survey (questionários de pais, professores e alunos do 9º ano do ensino Fundamental) referentes à pesquisa Contextos institucionais e a construção da qualidade do ensino na educação básica proposta para o biênio 2009-2010. Essa pesquisa dava continuidade às investigações sobre processos de produção de qualidade de ensino em escolas de prestígio, mas agora inserindo escolas públicas da Rede Municipal da cidade do Rio de Janeiro. Os questionários foram aplicados em cinco escolas privadas, das quais uma com duas unidades em bairros diferentes, e quatro escolas públicas municipais, totalizando 10 unidades escolares. No primeiro semestre de 2009, foram aplicados 2.597 questionários (pais, professores e alunos) distribuídos conforme quadro abaixo: Quadro 1: Levantamento da aplicação de questionários do survey SOCED, 2009 Rede de ensino Pais Professores Alunos Escolas públicas 467 89 530 Escolas privadas 578 171 762 Total 1045 260 1292 Fonte: Survey SOCED, 2009 As escolas privadas foram selecionadas dentre aquelas que se mantiveram no topo do ranking do ENEM dos anos 2005, 2006 e 2007, considerando o número expressivo de alunos da escola participando desses exames. Além disso, as escolas deveriam estar localizadas em diferentes bairros da cidade e não terem sido estudadas pelo SOCED em pesquisas anteriores. 8 Utilizado no sentido desenvolvido por Pierre Bourdieu de disposições permanentes para pensar, sentir, escolher e agir em consonância com as exigências de uma situação. É o que permite desenvolver o senso do jogo.

23 As escolas públicas foram selecionadas com base no estudo dos resultados obtidos pela rede municipal do Rio de Janeiro na Prova Brasil nos anos de 2005 e 2007 na 4ª e na 8ª séries 9. As escolas deveriam ter nota média padronizada na Prova Brasil superior à média do município, serem consideradas de médio ou grande porte (ter mais de 800 e pelo menos três turmas do 9º ano), ter ensino fundamental completo, estarem distribuídas entre as quatro faixas de nível socioeconômico NSE (a partir de dados do Censo Escolar de 2005 para 8ª série) e serem localizadas dentro da área de abrangência de diferentes CREs (Paes de Carvalho & Felipe, 2008). A opção por alunos do 9º ano se justifica pela grande probabilidade de alunos desse nível de ensino já terem, depois de pelo menos oito anos de escolarização anterior, se apropriado da cultura escolar através das práticas institucionais e pedagógicas às quais foram submetidos ao longo desses anos. Além disso, nessa faixa etária, o aluno já apresenta mais autonomia para o preenchimento dos questionários. Os questionários de todos os atores da pesquisa (pais, professores e alunos) possuem questões que permitem traçar um perfil socioeconômico e sociodemográfico dos mesmos, o que possibilita localizá-los no bojo da sociedade mais ampla. Questões que abordam a percepção de um cada dos atores sobre a sua escola visando captar a via institucional das disposições escolares, também são comuns a todos os questionários 10. Os dados do survey e as informações obtidas através de entrevistas com agentes escolares e observações do cotidiano das instituições de ensino constituem um rico material empírico que alimentaram a tanto a pesquisa-mãe do SOCED quanto pesquisas individuais de mestrandos, doutorandos e outros membros da equipe, propiciando a realização de análises das influências dos processos organizacionais e pedagógicos que articulam os agentes escolares na produção do 9 Utilizando nomenclatura vigente na época, o que hoje corresponde ao 5º e 9º ano do Ensino Fundamental. 10 Os questionários de professores, pais e alunos utilizados na pesquisa encontram-se no Anexo I, desse trabalho.

24 sucesso escolar, com foco prioritário na gestão escolar e na construção das disposições escolares através das relações de ensino-aprendizagem 11. 2.1 Construindo um objeto de pesquisa Como já mencionado anteriormente, minha entrada no SOCED traz a possibilidade de um estudo comparativo entre uma escola com bons resultados, nas avaliações oficiais e outra não. A pesquisa-mãe já incluía uma escola pública municipal localizada em Bonsucesso, área de abrangência da 4ª CRE (Coordenadoria Regional de Educação) que também é responsável pelas escolas da Maré, área territorial de meu interesse de pesquisa. Sendo assim, a Escola A, aquela com bom desempenho, já estava a priori escolhida, faltava, então, escolher a escola com desempenho não satisfatório, que será chamada de Escola B. Para dar validade técnica ao estudo comparativo, a segunda escola da pesquisa foi escolhida dentro dos mesmos critérios já estabelecidos pelo SOCED e utilizados para a seleção das quatro escolas da primeira fase da pesquisa. Foi realizado um estudo com a intenção de fazer uma espécie de espelho: dentro da área de abrangência da 4ª CRE foram identificadas as escolas com as mesmas características estruturais estabelecidas anteriormente pelo SOCED, mas que apresentavam baixos resultados nas avaliações oficiais. Dentre as escolas que surgiram desse estudo, foi escolhida uma escola da Maré e os primeiros contatos com a Secretaria Municipal de Educação, para obtenção de autorização para a aplicação dos questionários do survey foram iniciados. Autorizado pela SME e pela 4ª CRE, foi feito um contato inicial com a escola e deu-se início ao processo de aplicação de questionários (os mesmos aplicados nas escolas anteriores) para professores, pais e alunos. A metodologia utilizada nessa etapa, assim como em todas as outras, foi a mesma utilizada na primeira fase da pesquisa: os questionários de professores foram distribuídos em dia de Centro de Estudos 12, depois de uma breve apresentação do grupo de pesquisa e de seus objetivos. Os professores puderam 11 Maiores informações sobre as pesquisas do SOCED podem ser obtidas em http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/soced.php?strsecao=index 12 Espaço instituído na Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro destinado para realização de reuniões pedagógicas, encontros de formação ou planejamento.

25 responder depois e entregar à direção das escolas. Quanto aos questionários de alunos, os mesmos foram aplicados por membros do grupo de pesquisa em horários de aula, sempre acompanhados pela coordenação pedagógica da escola. Geralmente os professores que estavam nas turmas naquele horário permaneciam no espaço e alguns aproveitavam para também responder o questionário de professor. Houve uma diferença na aplicação dos questionários de pais: na Escola A, a distribuição foi feita pela direção da escola para todos os alunos. Na Escola B, apenas receberam questionário de pais os alunos que estavam na escola no dia da aplicação do questionário de alunos. Como os questionários de alunos foram aplicados em uma única vez, não havendo retorno para aplicação para os alunos faltosos, tivemos, na Escola A, mais questionários respondidos de pais do que de alunos. Quadro 2: Resumo da aplicação dos questionários nas escolas da pesquisa Resumo de aplicação Previstos Respondidos % Professores Escola A 26 22 85% Escola B 29 23 79% Total (A+B) 55 45 82% Pais Escola A 171 138 81% Escola B 111 73 64% Total (A+B) 282 211 75% Alunos Escola A 171 136 80% Escola B 156 111 71% Total (A+B) 327 247 76% Fonte: Survey SOCED, 2009 Assim, estava constituído o material empírico para um estudo comparativo entre duas escolas públicas da rede municipal de educação do Município do Rio de janeiro, uma que apresentou bons resultados na Prova Brasil de 2005 e 2007 de alunos de 9º ano, a Escola A, e outra cujo desempenho foi abaixo da média municipal, também com alunos da mesma série nessa mesma avaliação, denominada Escola B. Como já foi dito antes, as duas escolas se localizam em espaços geográficos vizinhos, uma em Bonsucesso e outra na Maré, atendem alunos cujas famílias apresentam o mesmo nível socioeconômico, e por fazerem

26 parte da mesma rede de ensino, a priori, teriam as mesmas condições oferecidas pelo Estado. Além disso, o resultado do desempenho das duas escolas na Prova Brasil e no IDEB de 2005 e 2007 valida nossa opção pelas duas escolas para um estudo sobre qualidade de ensino na rede municipal. Como podemos verificar no quadro abaixo, a Escola A apresenta melhores resultados que as médias municipal, estadual e nacional, enquanto a Escola B está abaixo da média do município: Quadro 3: Prova Brasil e IDEB dos anos finais do Ensino Fundamental - 2005 e 2007 Nota Média Padronizada (Prova Brasil) IDEB 2005 2007 2005 2007 Brasil 4,18 4,4 3,1 3,4 UF (RJ) 4,69 4,78 3,6 3,8 Município (RJ) 4,71 4,62 3,7 4,3 Escola A 5,53 5,62 4,5 5,1 Escola B 4,36 4,11 3,1 3,6 Fonte: Quadro elaborado a partir de informações do site do Inep/MEC 2.3 Os caminhos da pesquisa Uma análise exploratória dos dados foi feita para identificar as questões que se mostravam com diferenças percentuais significativas quando comparados os resultados das duas escolas. Identificadas as questões, foram feitos cruzamentos com outras do mesmo questionário ou com questionários de outro agente educacional. O segundo passo foi analisar os depoimentos de membros das direções e professores das duas escolas. Esses depoimentos foram coletados em entrevistas semiestruturadas com diretores e coordenadores pedagógicos, no contato com os professores no momento de aplicação de questionários e nos encontros para a apresentação dos dados obtidos através da aplicação dos questionários 13. 13 Em todas as escolas públicas da pesquisa SOCED, houve uma apresentação dos dados dos questionários de pais e alunos em reuniões com os professores da escola, aproveitando o espaço do Centro de Estudos. Além desse retorno, todos os dados dos três questionários foram entregues em um caderno à direção da escola.

27 A análise do material empírico nos permitiu identificar características organizacionais e sociopedagógicas das escolas que poderiam indicar elementos importantes para a compreensão da diferença de desempenho dos alunos das duas escolas nas avaliações oficiais. Para entender as possíveis causas dessa diferença, a investigação procurou: traçar perfil de cada unidade de ensino, considerando: estrutura organizacional da escola em termos de pessoal (diretor adjunto, coordenador pedagógico, professor de sala de leitura, agentes administrativos); número de alunos; número e perfil dos professores; estrutura física da escola (salas de aula, quadras esportivas, auditórios, sala de leitura, laboratórios de informática e ciências); projetos SME e MEC entre outros; delinear os perfis sociodemográficos dos agentes escolares (professores, pais e alunos) identificar características da gestão da escola. Os dados necessários para análise dos elementos acima listados, foram construídos a partir de: relatórios de registro da aplicação dos questionários realizada em 2009; banco de dados dos questionários do SOCED, aplicados em 2009 para pais, alunos e professores; entrevistas com equipe de direção e coordenação pedagógica e relatórios de visitas às escolas desde o primeiro contato, em 2009, até o retorno dos dados no primeiro semestre de 2010. No próximo capítulo, serão apresentas a estrutura de funcionamento da rede municipal e das escolas para contextualização do universo da pesquisa.