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Transcrição:

Deliberação Proc. n.º 5-AL/2013 (Ata n.º 82/XIV) Participação de cidadão contra o Partido Socialista relativa ao financiamento da campanha eleitoral promovida no concelho de Nelas Lisboa 12 de março de 2013

Proc. n.º 5/AL-2013 Reunião n.º 82/XIV, de 12.03.2013 Assunto: Participação de cidadão contra o Partido Socialista relativa ao financiamento da campanha eleitoral promovida no concelho de Nelas Proc.º n.º 5/AL-2013 Deliberação Atendendo ao regime constitucional e legal vigente, a atividade de propaganda política/eleitoral não está limitada a um determinado período temporal. O artigo 19.º da Lei n.º 19/2003, de 20 de junho, ao considerar despesas de campanha eleitoral as efetuadas pelas candidaturas, com intuito ou benefício eleitoral, dentro dos seis meses imediatamente anteriores à data do ato eleitoral respetivo, não pode ser interpretado no sentido de limitar ações de propaganda político/eleitoral antes de iniciado o referido período temporal. As regras estabelecidas em matéria de financiamento das campanhas eleitorais devem ser cumpridas, devendo, no caso em análise, haver um registo de todas as receitas percecionadas e despesas efetuadas, incluindo as que se realizem antes dos seis meses imediatamente anteriores à data do ato eleitoral. Mais deliberou que se dê conhecimento do processo à Entidade das Contas e Financiamentos Políticos. Pág. 1 de 7

Parecer n.º 24/GJ/2013 I ELEMENTOS DO PROCESSO 1. O cidadão Carlos Manuel Marques Santos apresentou a participação que se transcreve: Decorreu no pretérito sábado, em Nelas, Distrito de Viseu, uma situação que reputo de atentatória da democracia e dos mais elementares princípios pelos quais a mesma se rege, que passo a relatar: 1 - O Candidato do Partido Socialista, às Eleições Autárquicas de 2013 efetuou a apresentação da sua candidatura dentro da legalidade cerca das 17,00 horas. (Anexo 1); 2 - Cerca das 18,30 horas e constante de Convite (anexo1) procedeu à inauguração da sua "Sede de Campanha" situada na Av. João XXIII em Nelas (Anexo 2); 3 - Esta "Sede de Campanha" está com montras decoradas desde o dia 9 de Fevereiro. 4 - Encontra-se completamente mobilada e equipada com sistemas de som e imagem. Neste contexto apelo a V. Exa. para análise da situação, uma vez que ainda não está definida a data das eleições, nem de acordo com a legislação em vigor podem ser contabilizadas quaisquer despesas referentes a esta candidatura. Assim quem paga o quê e como paga, de onde vem o financiamento e como é registado. 2. Notificado para se pronunciar sobre os factos constantes da participação, o candidato do PS José Borges da Silva respondeu o seguinte: Relativamente ao assunto que me é remetido aqui ficam os meus comentários e informação: - É verdade que no dia 23 de Fevereiro passado foi apresentada a minha candidatura nas próximas eleições autárquicas á presidência da Câmara de Nelas como 1 candidato independente do Partido Socialista, Câmara de Nelas essa atualmente governada pela Coligação PSD/PP; - A apresentação foi feita pelas 17h no Edifício "Multiusos" na Praça do Município em Nelas, disponibilizado gratuita e gentilmente pela autarquia e contou com a presença de cerca de 400 pessoas; - A esse evento seguiu-se uma reunião de apresentação do espaço que vai servir de sede de candidatura sita na Av. João XXIII, também em Nelas; Pág. 2 de 7

- Os eventos realizaram-se, nomeadamente ao abrigo dos princípios e direitos constitucionais, exercitáveis, parece-nos, a todo o momento e sem necessidade de fixação de calendário, como os do estado de direito democrático, do direito de reunião e manifestação, do direito de participação na vida pública e politica e do direito de participar em associações e partidos políticos e de concorrer democraticamente para a formação da vontade popular, previstos nos arts. 2, 45, 48 e 51 da Constituição da Republica Portuguesa; - No exercício dos aludidos direitos serão observadas todas as leis em vigor, nomeadamente a Lei de Financiamento dos Partidos Políticos e das Campanhas Eleitorais (Lei 19/2003, de 20 de Junho, com as alterações introduzidas pelo DL 287/2003 de 12 Nov., Lei 64-A/2008 de 31 Dez., Lei 55/2010 de 24 Dez. e Lei 1/2003 de 3 Jan.) nos termos das quais será seguido o regime contabilístico apropriado que há-de refletir, nomeadamente, o inventário dos bens afectos, a discriminação das receitas e seu modo de recebimento, a discriminação das despesas e a discriminação de operações de capital a que haja eventualmente lugar; - Contas essas que serão apresentadas às entidades próprias a quem cabe apreciar e fiscalizar e no momento próprio também legalmente previstos (vide nomeadamente art. 23 da citada Lei do Financiamento); - Assim, tranquilo pode ficar o alegado cidadão denunciante porque tudo será feito para honrar os por si defendidos valores da transparência, mas também por nós tudo será feito para defender os valores e princípios da liberdade, informação e participação politicas com responsabilidade, sem constrangimentos ou intimidações seja de que natureza forem e ainda que provindos por interposta pessoa dos poderes instituídos e ou dos que se sentem eventualmente incomodados pelo projecto que encabeço. - Seja como for aqui fica o protesto da mais elevada estima e consideração pela Comissão Nacional de Eleições e o compromisso de correcção imediata de qualquer eventual aspecto procedimental que lhe caiba legal e constitucionalmente preservar. (cf. Doc. 2) II APRECIAÇÃO JURÍDICA 3. A Constituição da República Portuguesa consagra, no artigo 37º, a liberdade de expressão e informação, a todos garantindo O direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e ser informados, sem impedimentos nem discriminações. Pág. 3 de 7

Ora, sendo a propaganda, nomeadamente a propaganda política, uma forma de expressão do pensamento abrangida pela proteção daquele preceito constitucional, a todos é garantido, por um lado, o direito de propaganda e de utilização dos meios adequados próprios e, por outro, o direito ao não impedimento de ações, que exige espaço de decisão livre de interferências, estaduais ou privadas. 4. O regime legal da propaganda em geral encontra-se estabelecido na Lei n.º 97/88, de 17 de agosto. Este diploma procura equilibrar a liberdade de propaganda com outros direitos constitucionais, tais como, o direito de propriedade privada, bem como ordena por objetivos a atuação dos sujeitos privados, promotores da propaganda, e impõe determinadas proibições (artigo 4º, n.ºs 1 e 2). 5. A natureza jurídico-constitucional da liberdade de propaganda caracteriza o direito e está ligada à sua dimensão individual-subjetiva, mas não afasta o papel do Estado na promoção de condições que o tornem efetivo. Tal como se afirma no Acórdão nº 636/95 do TC, que se pronunciou precisamente sobre a compatibilidade com a Constituição de vários preceitos da Lei nº 97/88, O direito não tem uma dimensão única individual-subjectiva. Tem ainda uma dimensão funcional ou institucional que o liga aos desafios de legitimidade-legitimação da ordem constitucional democrática ; A liberdade de expressão [e a de propaganda política que nela se radica] constitui mesmo um momento paradigmático de afirmação do duplo carácter dos direitos fundamentais, de direitos subjectivos e de elementos fundamentantes de ordem objectiva da comunidade. É que a regulação constitucional da liberdade de expressão não está só a determinar, delimitar e assegurar o estatuto jurídico do indivíduo. Por ela adquire realidade e "toma forma a ordem da Democracia e do Estado de Direito" (idem). Nessa medida, a lei protege a ação de propaganda e garante o seu exercício. 6. Em obediência ao quadro constitucional traçado e tendo presente o regime da Lei n.º 97/88, vigoram os seguintes princípios: - A todos é garantido o direito de fazer propaganda, não estabelecendo a lei qualquer restrição ao respetivo âmbito subjetivo; Pág. 4 de 7

- A atividade de propaganda é livre, não carecendo de comunicação, autorização ou licença prévia por parte das autoridades administrativas. Apenas está sujeita a licenciamento, nos termos gerais, quando envolva a execução de obras de construção civil. - A propaganda política pode ser desenvolvida livremente fora ou dentro dos períodos eleitorais, com ressalva das proibições expressamente previstas na lei. - As restrições à propaganda encontram-se expressamente determinadas na lei. 7. Atendendo, assim, ao regime constitucional e legal da atividade de propaganda e com referência aos factos relatados na participação, deve afirmar-se que a propaganda política/eleitoral não está limitada a um determinado período temporal. Pois, tratar-se-ia de restrição contrária aos termos da Constituição e da lei reguladora da atividade de propaganda. Aliás, de todos os momentos em que a propaganda se desenvolve sobressai aquele que antecede o ato eleitoral ou referendário, como por ex. o momento atual com vista às próximas eleições autárquicas. 8. Nessa medida, o artigo 19.º da Lei n.º 19/2003, de 20 de junho, ao considerar despesas de campanha eleitoral as efetuadas pelas candidaturas, com intuito ou benefício eleitoral, dentro dos seis meses imediatamente anteriores à data do ato eleitoral respetivo, não pode ser interpretado no sentido de limitar ações de propaganda político/eleitoral antes a referida data. Caso contrário, e como já se viu, inverter-se-ia a ordem constitucional vigente, ao anular o princípio da liberdade de propaganda e impor um caráter temporário à atividade de propaganda político/eleitoral. 9. Em todo o caso, devem cumprir-se as regras estabelecidas em matéria de financiamento das campanhas eleitorais, devendo, no caso que nos ocupa, haver um registo de todas as receitas percecionadas e despesas efetuadas com vista à sua apresentação junto do Tribunal Constitucional, seja na conta anual do partido político que suporta a candidatura em causa, seja na conta da campanha eleitoral. Pág. 5 de 7

O facto de se tratar de despesas efetuadas antes de iniciado o período de seis meses mencionado no artigo 19.º, não desobriga a candidatura a registá-las nas contas, bem pelo contrário, pois é um princípio fundamental da lei do financiamento de que todos os atos de despesa devam ser declarados e documentados, com vista à sua fiscalização por parte do Tribunal Constitucional. 10. O procedimento descrito vai ao encontro do que tem sido o entendimento da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos, conforme resulta, por exemplo, do documento Recomendações a partidos políticos e coligações referente às eleições autárquicas de 2009, no qual considera que eventuais despesas incorridas antes dos seis meses imediatamente anteriores à data do ato eleitoral, terão de estar devidamente suportadas do ponto de vista documental, serão assumidas pelo Partido e posteriormente debitadas/imputadas à Campanha, devendo o Partido e o Mandatário Financeiro nacional (central) da Campanha declarar formalmente que essas despesas são inequivocamente despesas de Campanha. III - CONCLUSÃO Pelo que fica exposto, conclui-se o seguinte: Atendendo ao regime constitucional e legal vigente, a atividade de propaganda política/eleitoral não está limitada a um determinado período temporal; O artigo 19.º da Lei n.º 19/2003, de 20 de junho, ao considerar despesas de campanha eleitoral as efetuadas pelas candidaturas, com intuito ou benefício eleitoral, dentro dos seis meses imediatamente anteriores à data do ato eleitoral respetivo, não pode ser interpretado no sentido de limitar ações de propaganda político/eleitoral antes de iniciado o referido período temporal; As regras estabelecidas em matéria de financiamento das campanhas eleitorais devem ser cumpridas, devendo, no caso em análise, haver um registo de todas as receitas percecionadas e despesas efetuadas, incluindo as que se realizem antes dos seis meses imediatamente anteriores à data do ato eleitoral. Pág. 6 de 7

IV PROPOSTA Propõe-se que se delibere aprovar a presente Informação, da qual se retiram as seguintes conclusões: - Atendendo ao regime constitucional e legal vigente, a atividade de propaganda política/eleitoral não está limitada a um determinado período temporal; - O artigo 19.º da Lei n.º 19/2003, de 20 de junho, ao considerar despesas de campanha eleitoral as efetuadas pelas candidaturas, com intuito ou benefício eleitoral, dentro dos seis meses imediatamente anteriores à data do ato eleitoral respetivo, não pode ser interpretado no sentido de limitar ações de propaganda político/eleitoral antes de iniciado o referido período temporal; - As regras estabelecidas em matéria de financiamento das campanhas eleitorais devem ser cumpridas, devendo, no caso em análise, haver um registo de todas as receitas percecionadas e despesas efetuadas, incluindo as que se realizem antes dos seis meses imediatamente anteriores à data do ato eleitoral. Mais se propõe dar conhecimento do processo à Entidade das Contas e Financiamentos Políticos. Ilda Carvalho Rodrigues Gabinete Jurídico Pág. 7 de 7