Coluna África em Conto: "Mamedjane, um conto moçambicano" por Por Dentro da África - domingo, fevereiro 22, 2015 http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/coluna-africa-em-conto-mamedjane-um-conto-mocambicano-2 Por Hirondina Joshua, Por dentro da África Foto: Virginia Maria Yunes Maputo - Levantou os olhos como se alcançasse o céu. Sua felicidade atingia o mar, o movimento das ondas, o brilho do dia, a cor das plantas, toda uma beleza natural nela se fazia em metamorfose. Ia casar. Ia mudar de vida e ter a sua própria família. Ia ser outra neste espaço sem lugar. Nas vésperas do seu casamento, Mbale não se bastando do presente e dos conselhos dados pela mãe, pôsse a fazer um pedido, queria um presente não surpresa como o que recebera, mas um proposto por ela. O que Mbale pediu foi de assustar mesmo muito singular, de arrepeiar as veias da mente. Ela pediu uma cabra, sim uma cabrita. Mas o que uma cabra podia mudar na sua vida? Que de diferente podia ter isso? Para a mãe da Mbale isso era radicalmente diferente, era o mesmo que lhe pedir ouro em estado animal ou mágico, se prefirirem. Esse pedido foi extremamente ousado para o entender dela. O quê?! Tu sabes que a Mamedjane é como se fosse minha filha. Não a quero perder principalmente agora que te vais embora disse a mãe da Mbale. Foto: Yssyssay Rodrigues - Moçambique 1 / 5
Mamedjane era a cabra. Ela é que fazia todos os trabalhos domésticos e era a melhor companheira da mãe da Mbale. Linda, de cores nunca antes vistas, uma verdadeira harmonia celestial. Para além da beleza extra gozava igualmente de uma outra; a intra essa que descrevia o Ser de Mamedjane por completo, conquistava o mundo dentro d um outro mundo, qualquer um que se fizesse perto dela; arrancava-se a razão, muito apesar de que isso nunca se tenha vindo a suceder (estar perto dela). Mamedjane não pode ser vista por ninguém comentou a mãe, por saber que Mamedjane era uma cabrita mágica, e seria um verdadeiro escândalo se a vissem. Todos que visitavam a casa da Mbale nunca a viram. Mamedjane vivia no mato perto da casa. Na verdade, não vivia, morava no mato. Mamedjane vivia mesmo era no seu interior, rodeada da humanaanimal que era. Mamedjane se parecia com ela mesma. Chegou o dia do casamento, e Mbale suplicou, pediu de joelhos a Mamedjane. Por favor dê me a sabe que não cozinho bem ainda, e lá no meu lar há muita coisa por fazer muitos trabalhos domésticos Por favor, não quero passar vergonha, não quero perder o lar disse Mbale disse lacrimejando. Está bem dar te ei mas com uma condição: Mamedjane não ficará todo o dia contigo, trabalhará até o meio dia, e não deixes que alguém a veja por nada, ouviste bem? Prometa me prometa me isso. Disse a mãe de Mbale. Registro da leitora Maria José da Silva - Moçambique E Mbale prometeu cumprir com a promessa. Assim já tinha quem lhe ajudasse nas tarefas domésticas do lar. Ghu ghu ghu, chegava a cabra na casa da família Mhuhere. Hiiiii é uma cabra, olha a cabra com a lenha na cabeça Dizia uma criança chamando as outras. Enquanto isso, Mamedjane descarregava a lenha atrás da casa. Todas as crianças aproximaram se ao redor de Mamedjane, obeservando a, admirando a situação. Todos os dias, Mbale acordava para ir à machamba e quando voltava não mais se preocupava com nenhum trabalho caseiro. Pois Mamedjane já os tinha feito todos. Mamedjane catava água, arrumava a casa, recolhia lenha, e pilava. Mbale encontrava tudo feito. Todos os dias Mamedjane descarregava lenha atrás da casa e sempre que fizesse isso era vista pelas crianças da família Mhuhere. 2 / 5
Passado algum tempo ela já era conhecida por todas crianças. A alegria e simpatia de Mamedjane eram radiantes, enfeitiçava qualquer um. Mamedjane conversava muito, cantava, ria, contava estórias, enfim Era uma ótima amiga. As crianças gostavam tanto da sua canção que nalgumas vezes davam lhe comida para que Mamedjane cantasse para elas. Mamedjane, canta para nós! Leva esta manga e este pedaço de xima Pedia uma criança. Mamedjane cantava e dançava mas não parava de fazer os seus trabalhos. Enquanto cantava, as crianças aplaudiam radiantes de alegria Dias alegres passavam Mamedjane e as crianças naquela casa. De nenhuma maneira o marido de Mbale deveria descobrir, senão se separava dela. Dias passaram passaram dias e organizou se uma festa na casa da família Mhuhere. E como era normal e habitual as mulheres da família tinham que trabalhar triplamente nos dias de festa. E Mbale quis poupar esforços, usando a Mamedjane para trabalhar nos preparativos da festa (como sempre faziam os trabalhos quando todos estivessem na machamba). Já se tinha feito todas as compras: bebidas, comidas, roupas pois era uma festa de convívio. Havia muito milho por pilar. Enquanto Mbale ia à machamba, Mamedjane fazia parte dela nos preparativos da festa. Mbale foi ao mato onde vivia Mamedjane avisar para que Mamedjane não fosse trabalhar no dia da festa. Foto: Luis Miguel Rodrigues - Mocambique Como já sabes, amanhã teremos festa, trouxe comida e bebida já que não deves vir porque ninguém te pode ver. Fiz a questão de seleccionar as melhores partes das comidas e bebidas para ti. Explicou Mbale. Feito isto, Mamedjane deciciu fazer a festa na sua casa, começou então a comer e beber. Bebeu, bebeu, bebeu Embriagou tudo que podia. Mamedjane não resistiu a bebida que se encontrava nos potes, aliás, a bebida é que não a resistiu e, a bebeu primeiro, num acto assim: metido na vontade quase confundido com tudo que é inabalável, humano, mundano e insano. Uma das crianças da família Mhuhere, deixou escapar contando ao pai tudo que acontecia quando ele se encontrava ausente. Pai, quando não estás cá em casa vem uma cabra descarregar lenha atrás da casa, e ainda por cima ela faz todos trabalhos domésticos. Contou uma das crianças, de forma ingénua. O quê? Que estória é essa? Deves estar a delirar Respondeu o pai. 3 / 5
? verdade pai Insistiu a criança e o pai continuava a não acreditar, pensado que aquilo era apenas uma imaginação infantil. No dia seguinte, o sol acordou mais belo que nunca antes tinha se visto. A anunciar a grande e esperada festa na família Mhuhere. Galinhas, vacas, bebidas e muito mais eram transportados de um lado para o outro. A correria era intensa, e até se podia ver poeira em todo o quintal. O barulho era mais do que sons gritantes. Muita dança e cantoria faziam se sentir, a casa estava completamente em orgia. No meio daqueles tumultos apareceu Mamedjane com lenha nas costas como era habitual, descarregou atrás da casa, só que desta vez todo o mundo estava a ver. Mamedjane não perdeu tempo, foi levar o pilão e começou a pilar, a cantar e a rir. As crianças que lá estavam começaram a saltar de alegria ao ver a sua querida amiga. Puseram se então a cantar a famosa canção de Mamedjane: Oooh Gumba nhfuuu Vha ca Mhuhere gumba nhfuuu Va hê mhacinwine gumba nhfuuu Tradução: A família Mhuhere (som do pilar) Foi à machamba (som do pilar) Oooh (som do pilar) Aquilo foi um autêntico escândalo. Ver uma cabra a pilar e cantar! E ainda por cima embriagada Não é normal. E é quase inacreditável. Olhem olhem é uma ca cab cabra a pilar Que tipo de feitiçaria é essa? Gritavam e comentavam apavoradas as pessoas. O mais engraçado de tudo isto foi toda a gente ver que Mamedjane era conhecida por todas as crianças da família. O marido da Mbale não levou tempo com a sua arma de caça Bhum bhum bhum atirou no animal matando o. Isso era a última coisa que não devia ter acontecido à Mamedjane. 4 / 5
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) Coluna África em Conto: "Mamedjane, um conto moçambicano" - 02-22-2015 Mbale desesperou se, pois, já tinha perdido a Mamedjane e não tinha conseguido cumprir com a promessa da sua mãe. Do lado de fora podia-se ouvir alto: Leva o teu animal e SAIA JÁÁA daqui SUA PREGUIÇOSA afinal casei me com quem, contigo ou com a tua cabra? Enquanto isso, um outro lado se abria dentro dela para que se ouvissem outras vozes: a da dor gritada pelo olhar; e da lágrima num silêncio 5 / 5