ENQUADRAMENTO COMUNITÁRIO DOS AUXÍLIOS ESTATAIS SOB A FORMA DE COMPENSAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO

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Transcrição:

COMISSÃO EUROPEIA Direcção-Geral da Concorrência SAC Bruxelas, DG D (2004) ENQUADRAMENTO COMUNITÁRIO DOS AUXÍLIOS ESTATAIS SOB A FORMA DE COMPENSAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO 1. OBJECTO E ÂMBITO DE APLICAÇÃO 1. Decorre da jurisprudência do Tribunal de Justiça 1 que as compensações de serviço público não constituem auxílios estatais, na acepção do nº 1 do artigo 87º do Tratado, se preencherem determinadas condições. Se estas condições não forem preenchidas e se estiverem reunidos os critérios gerais de aplicabilidade do nº 1 do artigo 87º, tais compensações constituem auxílios estatais. 2. A Decisão nº da Comissão, de, relativa à aplicação do artigo 86º do Tratado aos auxílios estatais sob a forma de compensação de serviço público concedidos a certas empresas encarregadas da gestão de serviços de interesse económico geral, define em que condições determinadas compensações de serviço público constituem auxílios estatais compatíveis com o nº 2 do artigo 86º e isenta estes auxílios da obrigação de notificação prévia. As compensações de serviço público que constituem auxílios estatais e que não são abrangidas pelo âmbito de aplicação da Decisão nº, estão sujeitas à obrigação de notificação prévia. O presente enquadramento destina-se a definir em que condições estes auxílios estatais podem ser compatíveis com o mercado comum nos termos do nº 2 do artigo 86º. 3. O presente enquadramento é aplicável em todos os sectores regidos pelo Tratado CE, com excepção do sector dos transportes. 4. As disposições do presente enquadramento aplicam-se sem prejuízo de disposições específicas mais restritivas, relativas às obrigações de serviço público contidas em actos legislativos e medidas comunitárias sectoriais. O presente enquadramento não é aplicável aos serviços públicos de radiodifusão abrangidos pela Comunicação da Comissão relativa à aplicação das regras em matéria de auxílios estatais ao serviço público de radiodifusão 2. 5. As disposições do presente enquadramento aplicam-se sem prejuízo das disposições comunitárias em vigor em matéria de contratos públicos. 1 2 Acórdão de 24 de Julho de 2003, no processo C-280/00, Altmark Trans e acórdão de 27 de Novembro de 2003, processos apensos C-34/01 a C-38/01, Enirisorse SpA. JO C 320 de 15.11.2001. 1

2. CONDIÇÕES DE COMPATIBILIDADE DAS COMPENSAÇÕES DE SERVIÇO PÚBLICO QUE CONSTITUEM AUXÍLIOS ESTATAIS 2.1. Disposições gerais 6. No seu acórdão Altmark, de 24 de Julho de 2003, o Tribunal de Justiça fixou as condições em que as compensações de serviço púbico não constituem auxílios estatais. A fixação do montante da compensação no quadro de uma concorrência real e efectiva ou com base nos custos de empresas médias bem geridas é com efeito susceptível de aumentar a eficácia dos SIEG, sem pôr em causa o seu funcionamento 3. Afigura-se, contudo, que em determinados casos os critérios do acórdão Altmark relativos à fixação do montante da compensação não podem ser preenchidos e, por conseguinte, tais compensações constituirão auxílios estatais. 7. A Comissão considera que estes auxílios estatais podem ser declarados compatíveis com o Tratado, nos termos do nº 2 do artigo 86º, se forem necessários ao funcionamento dos SIEG e não afectarem o desenvolvimento das trocas comerciais numa medida contrária aos interesses da Comunidade. Desta forma, devem estar preenchidas as condições a seguir indicadas. 2.2. Verdadeiro serviço de interesse económico geral, na acepção do artigo 86º do Tratado CE 8. Decorre da jurisprudência que na ausência de regulamentação comunitária na matéria, os Estados-Membros dispõem de um amplo poder de apreciação quanto à natureza dos serviços susceptíveis de serem qualificados de interesse económico geral. Assim, na ausência de regulamentação comunitária na matéria, incumbe à Comissão garantir a aplicação destas disposições sem erros manifestos. Com efeito, resulta do nº 2 do artigo 86º que as empresas encarregadas da gestão dos serviços de interesse económico geral são empresas encarregadas de «uma missão particular». 2.3. Necessidade de um acto que defina as obrigações de serviço público e as modalidades do cálculo da compensação 9. A noção de serviço de interesse económico geral na acepção do artigo 86º do Tratado implica que as empresas em causa tenham sido encarregadas de uma missão particular atribuída pelo Estado 4. Decorre deste princípio que é necessária uma atribuição de serviço público para definir as obrigações recíprocas das empresas em causa e do Estado. Por Estado devem entender-se as autoridades centrais, regionais ou locais. 10. A missão de serviço público deve ser confiada através de um acto oficial que, em função do direito dos Estados-Membros, pode assumir a forma de um acto legislativo, de um acto regulamentar ou de um contrato. A missão pode também ser definida em diversos actos. Este acto, ou conjunto de actos, deve indicar, nomeadamente: A natureza precisa das obrigações de serviço público. 3 4 Este convite não deve ser interpretado como uma opinião da Comissão, segundo a qual as empresas encarregadas de SIEG seriam necessariamente mal geridas. Ver neste sentido, nomeadamente, o acórdão do Tribunal de Justiça, de 21 de Março de 1974, BRT/SABAM, processo 127/73, Col. 1974, p. 00313. 2

As empresas e o território em causa. A natureza dos direitos exclusivos ou especiais eventualmente concedidos às empresas. Os parâmetros de cálculo de uma eventual compensação e sua revisão, assim como do lucro razoável. Estes parâmetros podem, nomeadamente, tomar em consideração os custos específicos efectivamente suportados pelas empresas nas regiões abrangidas pelo nº 3, alíneas a) e c), do artigo 87º do Tratado CE. As modalidades de reembolso de eventuais compensações excessivas e as modalidades da eventual intervenção do Estado em caso de subcompensação. 11. O disposto no ponto 10 não é aplicável no caso de tarifas sociais impostas pelo Estado. Nesta situação, o Estado-Membro pode compensar as empresas em causa com base em dados quantificados transmitidos a posteriori pelas empresas. 2.4. Montante da compensação 12. O montante da compensação não pode ultrapassar o necessário para cobrir os custos ocasionados pelo cumprimento das obrigações de serviço público, tendo em conta as receitas obtidas, assim como um lucro razoável pela execução dessas obrigações. Este lucro pode incluir, nomeadamente, a totalidade ou parte dos ganhos de produtividade realizados pelas empresas em causa durante um período estabelecido e limitado, sem alterar o nível de qualidade dos serviços fixado pelo Estado. Os custos a tomar em consideração são todos os custos ligados ao funcionamento do SIEG. Quando as actividades da empresa em causa se limitam ao SIEG, podem ser tomados em consideração todos os seus custos. Quando a empresa realiza igualmente actividades para além do SIEG, apenas podem ser considerados os custos ligados ao SIEG. Neste caso, devem ser respeitadas as disposições da directiva da Comissão relativa à transparência das relações financeiras entre o Estado e certas empresas 5. A contabilidade interna deve, em especial, apresentar de forma distinta os custos e as receitas relativos ao SIEG e os dos outros serviços, bem como os parâmetros de repartição dos custos. 13. Quando uma empresa é encarregada da gestão de diversos SIEG, quer porque a autoridade que atribui o SIEG é diferente, quer porque é diferente a natureza do SIEG, a contabilidade interna da empresa deve permitir verificar a ausência de compensações excessivas a nível de cada SIEG. 14. Os custos atribuídos ao SIEG podem cobrir todos os custos variáveis ocasionados pela sua prestação, uma contribuição adequada para os custos fixos e uma remuneração apropriada dos capitais próprios afectados ao SIEG 6. Os custos atribuídos a eventuais actividades para além do SIEG devem cobrir todos os custos variáveis, uma contribuição adequada para os custos fixos e uma remuneração apropriada dos capitais próprios. Estes custos não podem, em caso algum, ser imputados ao SIEG. O cálculo dos custos deve basear-se em princípios contabilísticos geralmente reconhecidos. 5 6 Directiva 80/723/CEE. Ver acórdão do Tribunal de Justiça, de 3 de Julho de 2003, Chronopost SA, processos apensos C-83/01 P, C-93/01P e C-94/01P. 3

15. As receitas a tomar em consideração devem pelo menos incluir todas as receitas provenientes do SIEG. Se a empresa dispõe de direitos exclusivos ou especiais associados a outro SIEG que gera lucros que excedem o lucro razoável, tal como definido no ponto seguinte, ou se beneficia de outras vantagens concedidas pelo Estado, os mesmos devem ser tomados em consideração, independentemente da sua qualificação face ao artigo 87º, sendo acrescentados às suas receitas. O Estado-Membro pode igualmente decidir que os lucros obtidos por outras actividades para além do SIEG devem ser afectados, no todo ou em parte, ao financiamento do SIEG. 16. Por lucro razoável deve entender-se uma taxa de remuneração do capital que tome em consideração o risco, ou a ausência de risco, suportado pela empresa devido à intervenção do Estado, nomeadamente se este último conceder direitos exclusivos ou especiais. Normalmente, esta taxa não deve ultrapassar a taxa média registada no sector em causa durante os últimos anos. Nos sectores onde não existem empresas comparáveis à empresa encarregada do SIEG, a comparação pode ser efectuada com empresas situadas noutros Estados-Membros ou, se necessário, pertencentes a outros sectores. Para a determinação do lucro razoável o Estado-Membro pode introduzir critérios de incentivo, nomeadamente em função da qualidade do serviço prestado. 17. O montante da compensação inclui todas as vantagens concedidas pelo Estado através de recursos estatais. Estes recursos estatais devem ser efectivamente utilizados pela empresa para assegurar o funcionamento do SIEG para os quais são concedidos. Os recursos estatais concedidos para o financiamento de um SIEG, e utilizados para intervenções noutros mercados para além do SIEG, constituem auxílios não justificados pela obrigação de serviço público e, por conseguinte, incompatíveis. Estas disposições não prejudicam todavia a liberdade de as empresas beneficiárias de compensações de serviço público utilizarem como o desejarem o seu lucro razoável. 18. Quando obrigações de serviço público idênticas incidem sobre diversas empresas, os parâmetros de cálculo da compensação devem ser idênticos para todas as empresas. 3. EXCESSO DE COMPENSAÇÃO 19. O Estado deve realizar, ou mandar realizar, um controlo regular da ausência de excesso de compensação. Uma vez que este excesso de compensação não é necessário ao funcionamento do SIEG, constitui um auxílio estatal incompatível que deve ser reembolsado ao Estado. 20. Quando o excesso de compensação não ultrapassar 10% do montante da compensação anual, pode transitar para o ano seguinte. Alguns SIEG podem registar custos com uma significativa variação anual. Neste caso, poderá revelar-se necessário para o funcionamento do SIEG um excesso de compensação superior a 10% durante vários anos. É conveniente, contudo, que seja efectuado um balanço com uma periodicidade adaptada a cada sector de actividade que, de qualquer forma, não deve ultrapassar 3 anos e que o excesso de compensação verificado no termo desse período seja reembolsado. 21. Pode ser utilizado um excesso de compensação para financiar outro SIEG explorado pela mesma empresa, mas esta transferência deve constar da contabilidade da empresa em causa. 22. Quando a compensação beneficia uma empresa pública, o eventual excesso de compensação pode ser utilizado pelo Estado, na qualidade de accionista, para proceder a 4

uma injecção de capital a favor da referida empresa, após verificação do critério do investidor privado. Todavia, esta transferência deve ser realizada segundo as modalidades habituais em matéria comercial, ou seja, sob a forma de aumento de capital ou de concessão de empréstimos, e deve respeitar a regulamentação nacional relevante, nomeadamente em matéria comercial e fiscal. Esta operação deve ser claramente identificada no balanço da empresa beneficiária e resultar de uma decisão formal das autoridades públicas. A decisão deve identificar precisamente qual a utilização da transferência financeira. Em contrapartida, se a injecção de capital não estiver em conformidade com o princípio do investidor privado, deve ser notificada à Comissão nos termos do nº 3 do artigo 88º do Tratado. 23. O montante de um excesso de compensação não pode ficar à disposição de uma empresa, alegando-se que se trata de um auxílio compatível com o Tratado (por exemplo, auxílios a favor do ambiente, auxílios ao emprego, auxílios às PME, etc.). Se o Estado-Membro desejar conceder tais auxílios, deve respeitar o procedimento de notificação prévia previsto no nº 3 do artigo 88º. O pagamento do auxílio só pode ser efectuado depois da sua autorização pela Comissão. Se estes auxílios forem abrangidos por um regulamento de isenção por categoria, devem ser respeitadas as condições do regulamento aplicável. 4. APLICAÇÃO DO ENQUADRAMENTO 24. O presente enquadramento é aplicável a partir da sua publicação no Jornal Oficial da União Europeia e é válido até 31 de Dezembro de 2007. A Comissão poderá, após consulta dos Estados-Membros, alterar o enquadramento antes de 31 de Dezembro de 2007, por razões importantes relacionadas com o desenvolvimento do mercado comum. 25. A Comissão aplicará as disposições do presente enquadramento a todos os projectos de auxílio em relação aos quais tenha de decidir após a publicação do enquadramento no Jornal Oficial da União Europeia, mesmo se tais projectos tiverem sido notificados antes da referida publicação. No que se refere aos auxílios não notificados, a Comissão aplicará: As disposições do presente enquadramento se o auxílio tiver sido concedido após a publicação do enquadramento no Jornal Oficial da União Europeia. As disposições em vigor no momento da concessão do auxílio nos restantes casos. 5