Notas Botânicas. João Renato Stemahnn

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Transcrição:

Notas Botânicas João Renato Stemahnn SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros SILVA, DGB., org., KOMISSAROV, BN., et al., eds. Os Diários de Langsdorff [online]. Translation Márcia Lyra Nascimento Egg and others. Campinas: Associação Internacional de Estudos Langsdorff. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1997. 400 p. Vol. 1. ISBN 85-86515-02-7. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

Notas Botânicas João Renato Stemahnn A publicação dos diários de Langsdorff oferece a nós, leitores, a oportunidade de mergulhar em mais uma aventura de um naturalista, no Brasil do início do século XIX. Assim como Saint-Hilaire, Spix e Martius, Pohl, Príncipe de Wied-Neuvied, Langsdorff também registrou as impressões de sua viagem ao interior do Brasil. A apresentação dos diários na sua forma original nos obriga a viajar no mundo privado dos pensamentos do autor, o que sem dúvida alguma torna a leitura muito mais interessante - e desprovida do julgamento prévio que as mãos de terceiros impõem, obrigatoriamente a qualquer obra. Antes de comentar as notas botânicas aqui apresentadas, é importante ressaltar alguns aspectos que possam passar desapercebidos ao leitor e que considero importantes para uma melhor compreensão. Devemos estar cientes que Langsdorff era médico de formação e, apesar de seu conhecimento em diversas áreas, não era um botânico. Por esse motivo, um jovem botânico alemão, Riedel, foi convidado a participar desta expedição e das subseqüentes que vieram a ser realizadas, ficando incumbido da coleta e registro das espécies vegetais encontradas durante a expedição. As plantas medicinais, foram, então, em termos botânicos, o foco de seus registros. Langsdorff, em diversas passagens, descreveu o uso de espécies medicinais utilizadas pela população e pelos índios brasileiros, e ressaltou a importância do uso de plantas medicinais numa região completamente destituída de assistência médica ou farmacêutica. Algumas espécies, como a raiz-preta, o jaborandi, a ipeca continuam, até hoje, sendo importantes e empregadas na medicina popular brasileira. Langsdorff sabia da importância de coletar amostras destas espécies para a sua correta identificação, e não media esforços para colecioná-las. Digno de destaque é o relato sobre a tentativa de coletar uma amostra de ipeca, Cephaelis ipecacuanha uma espécie medicinal usada em intoxicações, como vomitivo, muito comercializada na época. Langsdorff relatou a certo momento: "Tive dificuldade para fazer as pessoas compreenderem de que eu queria a planta com todas as folhas e

a raiz, possivelmente em flor e com semente". Neste episódio, ele conta que percorreram a floresta por quatro horas e conseguiram coletar uma única planta. Sobre esta espécie, ainda, relata o quão rara ela estava se tornando devido a coleta indiscriminada. Este talvez seja um dos mais antigos registros mostrando uma preocupação com a possibilidade de extinção de uma espécie vegetal no Brasil. Talvez poucas pessoas saibam como é realizado o trabalho botânico em campo, que nesta expedição esteve aos cuidados de Riedel. A base do trabalho é a coleta de amostra das plantas em flor e/ou em fruto, pois a classificação das plantas é realizada principalmente através da análise de características florais. As amostras de plantas devem ser prensadas entre papéis absorventes (mata-borrões), e o processo de secagem consiste em trocar constantemente os papéis úmidos pelos secos. Os papéis úmidos, por sua vez, precisam ser secos para poderem ser reutilizados durante a viagem, o que era em geral realizado junto ao fogo. Por esse motivo, e não somente pelo conforto, podemos entender um pouco melhor a preocupação diária relatada por Langsdorff na obtenção de abrigo para o pernoite ou mesmo a longa permanência num mesmo local. As coleções, botânicas e zoológicas, eram sem dúvida alguma os produtos mais preciosos da expedição e demandavam cuidados especiais durante toda a viagem, até serem remetidas para algum lugar seguro, como a Fazenda Mandioca, de sua propriedade. Os riscos de perdê-las eram constantes, como durante a travessia de rios, períodos de chuva excessiva, extravio das mulas com as cargas, roubos, etc. Ε difícil, entretanto, termos uma noção exata da dimensão das dificuldades enfrentadas pelos viajantes. Os sistemas de classificação utilizados à época, como os de Linneu e Jussieu, foram construídos baseados principalmente na flora européia, que é pobre se comparada com aquela encontrada nos trópicos. A cada nova remessa de plantas da região tropical, novos grupos de plantas eram descritos, e por esse motivo fascinava a idéia de realização de expedições naturalistas e a coleta das espécies da flora de regiões desconhecidas, como aquela do interior do Brasil. O aporte de novos conhecimentos na área da botânica gerado pelas expedições foi sem dúvida imenso no período da primeira metade do século XIX, especialmente na área da taxonomia. Muitas das amostras de plantas coletadas por Riedel durante a expedição de Langsdorff foram descritas para a ciência pela primeira vez

na grandiosa obra iniciada pelo botânico alemão, Martius, denominada Flora Brasiliensis. As amostras examinadas nesta obra são muitas vezes tipos nomenclaturais das espécies descritas, ou seja, o documento ao qual o nome de uma espécie está permanentemente associado. As amostras coletadas por Riedel, em sua maioria, encontram-se depositadas no herbário de São Petersburgo, na Rússia, e continuam sendo utilizadas por botânicos do mundo inteiro e citadas nos estudos taxonômicos. O caminho percorrido pela expedição cruzou diferentes formações vegetais como a floresta atlântica, a floresta estacionai semidecídua, o cerrado e os campos rupestres e de altitude. Nem sempre os termos utilizados para denominar estas formações vegetais foram estes, mas foi possível interpretar o tipo vegetacional pela fisionomia descrita, pelas espécies características e pela região de ocorrência. O leitor irá encontrar, também, em diversos momentos, comentários a respeito da influência da altitude, da temperatura, das geadas e do vento, na fisionomia da vegetação e distribuição de algumas espécies. Dentre as formações vegetais percorridas, os campos rupestres na região da Serra do Cipó (Serra da Lapa) foram os que mais impressionaram os viajantes, sobretudo pela sua riqueza florística e exuberância de formas ali encontradas. Em certo momento, tamanha foi a diversidade encontrada, que Langsdorff quase não acreditou no que viu e comentou: "As espécies de Melastoma, Vellozia, Barbacenia, especialmente Eriocaulon e Malpighia, reproduzem-se aqui de forma fantástica, inacreditável, que deixa as pessoas enfeitiçadas, sem querer acreditar no que os olhos vêem. Seriam realmente novas formas de Vellozia, Rhexia, Melastoma?". Se na época, pouca ou nenhuma importância era dada à conservação e ao manejo dos recursos naturais, em diversos momentos Langsdorff manifestou sua preocupação a esse respeito. Isso pode ser notado especialmente quando ele relatou o dano causado ao solo pelo uso indiscriminado do fogo, a destruição das florestas até o topo dos morros, a necessidade do plantio de algumas espécies florestais, a devastação causada pela mineração desordenada, entre outras passagens. Sobre a mineração, que tanto ouro e diamante extraiu, e riquezas deu ao governo português, constatou em diversos momentos a sua quase indissociável relação com a miséria do povo que nela trabalhava. Estes exemplos demonstram sua forte percepção para problemas ambientais surgidos àquela época, problemas estes que não foram em sua maioria

resolvidos até hoje em nosso país. Finalmente, gostaria de comentar algo sobre as notas botânicas apresentadas. Elas formam uma tentativa de atualizar as informações contidas no texto original. As espécies citadas diversas vezes no texto foram comentadas apenas na primeira citação. O uso aparentemente excessivo de nomes científicos apresentados nas notas, com o nome da família botânica da espécie entre parênteses, procurou informar com mais precisão a identidade das espécies, uma vez que o nome popular, como poderá ser visto no texto, pode referir-se a diversas espécies e variar de região para região (como o jaborandi, por exemplo). Além disso, diversos nomes científicos citados por Langsdorff estão desatualizados. Isso significa que muitas espécies que pertenciam a um determinado gênero, hoje pertencem a outro, e o nome antigo não é mais utilizado, ou em seu novo conceito não inclui as espécies brasileiras, por exemplo. Tais informações, apesar de pouco significado terem para um leitor leigo, poderão ser de extrema importância para pesquisadores que porventura venham a utilizar os registros etnobotânicos contidos nestes diários.