A CONCORDÂNCIA VERBAL DE TERCEIRA PESSOA DO PLURAL NO PORTUGUÊS POPULAR DA COMUNIDADE RURAL DE RIO DAS RÃS - BA

Documentos relacionados
A REALIZAÇÃO DO SUJEITO PRONOMINAL DE REFERÊNCIA ARBITRÁRIA NA COMUNIDADE LINGUÍSTICA DE VITÓRIA DA CONQUISTA *

A CONCORDÂNCIA VERBAL: A RELEVÂNCIA DAS VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS E NÃO LINGÜÍSTICAS

LHEÍSMO NO PORTUGÛES BRASILEIRO: EXAMINANDO O PORTUGÛES FALADO EM FEIRA DE SANTANA Deyse Edberg 1 ; Norma Lucia Almeida 2

UMA ANÁLISE SOCIOFUNCIONALISTA DA DUPLA NEGAÇÃO NO SERTÃO DA RESSACA

A VARIAÇÃO DO MODO SUBJUNTIVO: UMA RELAÇÃO COM O PROCESSO DE EXPRESSÃO DE MODALIDADES

A FLEXÃO PORTUGUESA: ELEMENTOS QUE DESMISTIFICAM O CONCEITO DE QUE FLEXÃO E CONCORDÂNCIA SÃO CATEGORIAS SINTÁTICAS DEPENDENTES 27

CRIAÇÃO LEXICAL: O USO DE NEOLOGISMOS NO PORTUGUÊS FALADO EM DOURADOS

GRAMATICALIZAÇÃO DO PRONOME PESSOAL DE TERCEIRA PESSOA NA FUNÇÃO ACUSATIVA

A MARCAÇÃO DE NÚMERO NO SINTAGMA NOMINAL NOS FALANTES BREVENSES: UM EXERCÍCIO VARIACIONISTA

XI COLÓQUIO DO MUSEU PEDAGÓGICO 14 a 16 de outubro de Maria Zélia Alves Nogueira (UESB) Jorge Augusto Alves da Silva (UESB)

A VARIAÇÃO NÓS/ A GENTE NO PORTUGUÊS FALADO DE FEIRA DE SANTANA: COMPARAÇÃO ENTRE FALARES DO PB

A VARIAÇÃO/ESTRATIFICAÇÃO DO SUBJUNTIVO EM ORAÇÕES PARENTÉTICAS

OS PRONOMES PESSOAIS-SUJEITO NO PORTUGUÊS DO BRASIL: NÓS E A GENTE SEGUNDO OS DADOS DO PROJETO ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL

VARIAÇÃO PRONOMINAL EM CONCÓRDIA SC. Lucelene T. FRANCESCHINI Universidade Federal do Paraná

A VARIAÇÃO NÓS E A GENTE NO PORTUGUÊS CULTO CARIOCA

VARIAÇÃO NO USO DAS PREPOSIÇÕES EM E PARA/A COM VERBOS DE MOVIMENTO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

O USO CORRENTE DA VARIEDADE NÃO-PADRÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA: UM ESTUDO DE CASO DA COMUNIDADE DA DERRADEIRA MUNICÍPIO DE VALENÇA

ANÁLISE VARIACIONISTA DO PROCESSO DE MONOTONGAÇÃO NO BREJO DA PARAÍBA

Os aspectos da marcação de concordância verbal na língua falada em Serra Talhada - PE

ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DE ARTIGOS DEFINIDOS DIANTE DE POSSESSIVOS PRÉ-NOMINAIS E ANTROPÔNIMOS EM DADOS DE FALA* 1

Variação e mudança: Análise empírica da concordância verbal na terceira pessoa do plural (P6) em Vitória da Conquista BA

O PAPEL DA VARIAÇÃO DIAGENÉRICA NA CONCORDÂNCIA VERBAL DA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO

CONCORDÂNCIA DE NÚMERO NOS PREDICATIVOS ADJETIVOS E PARTICÍPIOS PASSIVOS DO PORTUGUÊS FALADO EM MACEIÓ: UM ESTUDO VARIACIONISTA

Realizações do sujeito expletivo em construções com o verbo ter existencial na fala alagoana

Concordância nominal e verbal em Belo Horizonte: análise comparativa das variáveis saliência fônica e escolaridade

ESTARÁ O PORTUGUÊS BRASILEIRO DEIXANDO DE SER LÍNGUA DE SUJEITO-PREDICADO? *

AS LÍNGUAS DE CABO VERDE

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

CONCORDÂNCIA NOMINAL: ANÁLISE DA VARIAÇÃO EM MACEIÓ

Adriana Gibbon (Universidade Federal de Santa Catarina)

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

REALIZAÇÕES DAS VOGAIS MÉDIAS ABERTAS NO DIALETO DE VITÓRIA DA CONQUISTA BA

ELEMENTOS ANAFÓRICOS NA COORDENAÇÃO 1

TÍTULO DA PESQUISA: O ir e vir das preposições - um estudo diacrônico dos complementos dos verbos ir e vir no português mineiro de Uberaba.

A VARIAÇÃO NA REALIZAÇÃO DO SUJEITO PRONOMINAL NO PORTUGUÊS POPULAR DO MUNICÍPIO DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS BAHIA

VARIAÇÃO NA CONCORDÂNCIA VERBAL NO FALAR BRASILEIRO: APONTAMENTOS ACERCA DA ATUAÇÃO DE FATORES LINGUÍSTICOS E SOCIAIS

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

AS CONSTRUÇÕES DE OBJETO DUPLO NO PORTUGUÊS AFRO-BRASILEIRO

Reflexões sobre a Redução eles > es e a Simplificação do Paradigma Flexional do Português Brasileiro


CONCORDÂNCIA VERBAL COM O PRONOME DE SEGUNDA PESSOA DO SINGULAR NA FALA DE MORADORES DE FLORIANÓPOLIS

Concordância verbal, variação e ensino

Variação na concordância verbal de terceira pessoa do plural em Vitória da Conquista

DO ANTIGO AO NOVO: DA MUDANÇA DA TEORIA LINGUÍSTICA À MUDANÇA DA LÍNGUA

Regularidades no fenômeno da concordância verbal em variedades do português brasileiro: estudo sociolinguístico comparativo

O USO DOS PRONOMES PESSOAIS NÓS/ A GENTE EM CONCÓRDIA SC

Estudo sociolinguístico da concordância verbal de 3ª pessoa do plural no português de São Tomé e Príncipe

ATUAÇÃO DE FATORES SOCIAIS SOBRE A VARIAÇÃO NA CONCORDÂNCIA VERBAL NO FALAR BRASILEIRO

Nonada: Letras em Revista E-ISSN: Laureate International Universities Brasil

1 NÓS/A GENTE: RELAÇÕES DE GÊNERO E ESCOLARIDADE EM COMUNIDADES DE PRÁTICAS SERGIPANAS

A VARIAÇÃO DA CONCORDÂNCIA NOMINAL NUM DIALETO RURAL

A influência da escolaridade no processo de variação de concordância verbal na língua usada em Serra Talhada

PARÂMETROS SOCIOLINGUÍSTICOS DO PORTUGUÊS DE NATAL. Palavras-chave: variação lingüística; sociedade; conectores coordenativos

ANÁLISE DA ELEVAÇÃO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS SEM MOTIVAÇÃO APARENTE 1. INTRODUÇÃO

Minas Gerais pertence à área de falar baiano, à área de falar sulista, à área de falar fluminense e à área de falar mineiro, conforme Nascentes (1953)

Raquel Pereira Maciel PG/UFMS. Justificativa

VARIÁVEIS ESTRUTURAIS: EFEITOS NA CONCORDÂNCIA VERBAL DO PORTUGUÊS FALADO EM SALVADOR

A REALIZAÇÃO DAS FRICATIVAS ALVEOLARES NAS CAPITAIS DA REGIÃO SUDESTE: UM ESTUDO A PARTIR DOS DADOS DO ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL (ALiB)

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

REFLEXÕES SOBRE O APAGAMENTO DO RÓTICO EM CODA SILÁBICA NA ESCRITA

APAGAMENTO DO PLURAL NA CONCORDÂNCIA NOMINAL DO FALANTE DE MACEIÓ

VARIAÇÃO NÓS E A GENTE NA FALA CULTA DA CIDADE DE MACEIÓ/AL

PADRÕES DE CONCORDÂNCIA VERBAL DE TERCEIRA PESSOA PLURAL NO PORTUGUÊS DE SÃO TOMÉ E NO PORTUGUÊS DE MOÇAMBIQUE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO DEPARTAMENTO DE LÍNGUA E LITERATURA VERNÁCULAS. Cecília Augusta Vieira Pinto

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

SOBRE SALVADOR: RESULTADOS DE TRÊS ESTUDOS VARIACIONISTAS

Silvia Figueiredo Brandão Universidade Federal do Rio de Janeiro/cnpq, Brasil

APRESENTAÇÃO: ENCONTRO COMEMORATIVO DO PROJETO VARSUL: VARSUL 30 ANOS

Nós versus a gente no português falado no noroeste paulista

UM ESTUDO VARIACIONISTA SOBRE O PREENCHIMENTO DA POSIÇÃO DO SUJEITO EM DADOS DE FALA

1 Introdução. (1) a. A placa dos automóveis está amassada. b. O álbum das fotos ficou rasgado.

Apresentar uma análise inicial da variação na sílaba postônicaem paroxítonas segundo a

A concordância nominal no português brasileiro falado em Nova Iguaçu. Nominal agreements in the Brazilian Portuguese spoken in Nova Iguaçu

CONCORDÂNCIA VERBAL EM VITÓRIA DA CONQUISTA: VISÃO DE CONJUNTO DOS FATORES LINGUÍSTICOS

IV Seminário de Iniciação Científica

FALAR POPULAR DE FORTALEZA: UMA ABORDAGEM VARIACIONISTA

Variação na Concordância Nominal de Número no Português Popular de Vitória da Conquista - BA: Sócio-História do Português do Brasil

DOMÍNIOS DE Revista Eletrônica de Lingüística Ano 1, nº1 1º Semestre de 2007 ISSN

ANÁLISE DESCRITIVA DOS ASPECTOS SEMÂNTICO-PRAGMÁTICOS QUE PREJUDICAM A INTERCOMPREENSÃO DOS ALUNOS TIMORENSES DA UNILAB

VOGAL [A] PRETÔNICA X TÔNICA: O PAPEL DA FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL E DA INTENSIDADE 86

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

Denise Porto Cardoso CAPÍTULO

O APAGAMENTO DO /R/ FINAL NA ESCRITA DE ESTUDANTES CATUENSES

A CONCORDÂNCIA NOMINAL DE NÚMERO NO PORTUGUÊS AFRO-BRASILEIRO

A concordância verbal no português popular de Salvador: uma amostra da variação linguística na periferia da capital baiana

A APLICAÇÃO DA CONCORDÂNCIA VERBAL EM DUAS COMUNIDADES DE PRÁTICAS DE SERGIPE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS CONCORDÂNCIA NOMINAL INTERNA AO SN E MONITORAÇÃO ESTILÍSTICA

ESTUDO SOCIOFUNCIONALISTA DE ESTRUTURAS COM O CLÍTICO SE NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

UMA ANÁLISE DOS FATORES EXTRALINGÜÍSTICOS NA FALA DE COMUNIDADES AFRO-BRASILEIRAS ISOLADAS

II SiS-Vogais. Priscilla Garcia Universidade Federal da Bahia. Belo Horizonte MG Maio de 2009

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

PADRÃO FORMÂNTICA DA VOGAL [A] REALIZADA POR CONQUISTENSES: UM ESTUDO COMPARATIVO

Formas variantes LOIRA ~ LOURA ~ LORA no português falado em Belo Horizonte

A concordância em estruturas passivas e de predicativo do sujeito

Renata Lívia de Araújo Santos *

A ELISÃO DA VOGAL /o/ EM FLORIANÓPOLIS-SC RESULTADOS PRELIMINARES

VOGAIS NASAIS EM AMBIENTES NÃO NASAIS EM ALGUNS DIALETOS BAIANOS: DADOS PRELIMINARES 1

Variação linguística e ensino de Língua Portuguesa: aspectos inovadores na escrita escolar

Reitor Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos. Vice-reitora Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro

Transcrição:

Página 57 de 510 A CONCORDÂNCIA VERBAL DE TERCEIRA PESSOA DO PLURAL NO PORTUGUÊS POPULAR DA COMUNIDADE RURAL DE RIO DAS RÃS - BA Juscimaura Lima Cangirana (UESB) Elisângela Gonçalves (UESB) RESUMO Procura-se, por meio desta pesquisa, estudar a fala vernácula da comunidade rural (quilombola) de Rio das Rãs, localizada em Bom Jesus da Lapa, Bahia. Nela, analisa-se empiricamente a aplicação da regra de concordância verbal de terceira pessoa do plural (CV de P6) no desempenho linguístico de falantes dessa comunidade. Assim, desenvolve-se um estudo piloto, em que, através da metodologia da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2006 [1966], 2008 [1972]), verificou-se que, apesar do baixo índice de aplicação da CV de P6, a variável social faixa etária revela um resultado interessante: os falantes mais jovens realizam mais concordância do que os mais velhos. PALAVRAS-CHAVE: Comunidade de Rio das Rãs. Concordância Verbal. Sociolinguística Variacionista. INTRODUÇÃO Estudos realizados sobre a concordância verbal de terceira pessoa do plural (CV de P6) no português brasileiro (PB), com base na Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008 [1972]; WEINREICH, LABOV e HERZOG, 2006 [1968]), têm mostrado que esse fenômeno constitui uma variável linguística que abrange duas variantes: (+) presença da marca de plural ou variante padrão ou (-) marca zero ou variante não padrão.

Página 58 de 510 Assim, com a presente pesquisa, objetivamos verificar a aplicação da regra de CV de P6 em dados de fala da comunidade quilombola de Rio das Rãs, por meio do controle e análise da variável social faixa etária, cujos estudos têm apontado para que os falantes mais jovens tendem a realizar variantes inovadoras, ao contrário dos mais velhos. MATERIAL E MÉTODOS Para a construção desta amostra de fala, constituída para uma análise preliminar da concordância verbal de terceira pessoa do plural na comunidade de Rio das Rãs, utiliza-se da metodologia proposta pela Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008 [1972]; WEINREICH, LABOV e HERZOG, 2006 [1968]). Ainda, toma-se como fonte de pesquisa sobre esse fenômeno, estudos como os de Lemle & Naro (1977), Naro (1981), Guy (1986), Scherrre (1988), Naro e Scherrre (1999), Silva (2005) dentre outros. O corpus é composto por 06 (seis) entrevistas, registradas em inquéritos com duração de 50 minutos cada. Para sua constituição, os informantes foram selecionados, considerando perfis sociais como: (a) Sexo (03 do sexo masculino e 03 do sexo feminino); b) Faixa etária (02 jovens 25 a 35 anos; 02 adultos 45 a 55 anos; 02 idosos com mais de 65 anos); c) Grau de escolaridade (03 analfabetos e 03 com escolarização precária); d) Exposição à mídia, e) Estadia fora da comunidade. Neste estudo, foram selecionadas as seguintes variáveis linguísticas: a) Realização e Posição do Sujeito; b) Concordância Nominal no Sujeito; c) Indicação do Plural no SN Sujeito; d) Caracterização Semântica do Sujeito; e) Saliência Fônica e f) Forma do último constituinte do SN que está antes do verbo, e a variável social faixa etária. Para a realização das entrevistas, utilizou-se um gravador de voz modelo Sony PX-240 na e a Chave de Transcrição cedida pelo projeto Vertentes do Português (LUCCHESI, 2001) foi usada para a transcrição grafemática das mesmas. Os dados foram rodados pelo

Página 59 de 510 programa estatístico GoldVarb X e sua transcrição, por meio do programa Transcriber 2.0. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a rodada dos dados no GoldVarb X, obteve-se um total de 205 ocorrências, das quais 29 apresentam aplicação da regra de concordância, equivalendo a 14,1%, e 176 acontecem sem concordância, equivalendo a 85,9%, conforme demonstram os exemplos em (1a) e (1b), respectivamente. (1) a. Vocês não estão trabaiando. b. Quando eles construiu. Apesar de a não-concordância prevalecer nas ocorrências, este trabalho se deteve à análise da margem de uso de concordância verbal entre os informantes de diferentes faixas etárias, no intuito de verificar se está havendo nessa comunidade uma mudança quanto à aplicação dessa regra, ou seja, se os mais velhos tendem a fazer menos concordância e os mais novos, por outro lado, favorecem a sua realização. Vale ressaltar que não se pode falar em mudança em curso, dado o baixo índice de aplicação da regra pelos informantes da comunidade de 14,1%. Olhando para os dados, vê-se que a tendência à realização de concordância de P6 aparece mais nos jovens (de 25 a 35 anos), em 18.7% dos casos; o mesmo se percebe entre os adultos (de 35 a 45 anos), que aparecem com 18.4% de emprego de concordância. Na fala dos mais velhos (os que têm mais de 65 anos), por outro lado, constata-se uma queda considerável no percentual de ocorrência de concordância (menos da metade) 7.4%. Certamente, os resultados obtidos para os grupos mais jovens (em oposição aos mais velhos) ocorrem em função de seu convívio com outros grupos fora da comunidade, assim como devido à sua exposição à mídia, à internet, participação em associações e ao fato de serem escolarizados. Todavia, uma questão se estabelece neste contexto: por que a realização de concordância está sendo vista como inovadora, sendo que é

Página 60 de 510 sabido que a sua não realização é que consiste em mudança em progresso no português brasileiro? Para uma possível resposta, deve-se considerar que se trata de uma comunidade isolada, quilombola, cuja variedade falada se formou a partir do contato linguístico e que é caracterizada pelo isolamento geográfico, cultural e linguístico, cuja norma é a não concordância de P6. Assim, a aplicação da concordância é que consiste em variante inovadora. CONCLUSÃO Espera-se que a análise deste pequeno corpus possa contribuir com as pesquisas sociolinguísticas voltadas para a descrição do português brasileiro, ao refletir sobre quais implicações as reconfigurações dos espaços urbano-rural podem trazer para a variedade de língua usada por esses indivíduos, especificamente, no que se refere à variedade linguística empregada pelos falantes mais jovens da comunidade quilombola do Rio das Rãs, localizada no Oeste da Bahia. REFERÊNCIAS LABOV, W. Padrões Sociolinguísticos. Tradução: Marcos Bagno, Maria Marta Pereira Scherre, Caroline Rodrigues Cardoso. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. LEMLE, M.; NARO, A. J. Competências básicas do português. Relatório final de pesquisa apresentado às instituições patrocinadoras MOBRAL e Fundação FORD. Rio de Janeiro, 1977. LUCCHESI, D. A variação na concordância de gênero em uma comunidade de fala afro-brasileira: novos elementos sobre a formação do português popular do Brasil. 2001. 331 f. Tese (Doutorado em Língua Portuguesa) Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2001. NARO, A. Idade. In: MOLLICA, C. (Org.). Introdução à Sociolingüística Variacionista. 3.ed. Rio de Janeiro: FL/UFRJ, p. 17-25, 1996.

Página 61 de 510 SCHERRE, M. M. P. Paralelismo lingüístico. Estudos de linguagem. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG. 7(2): 29-59 jul/dez de 1998. WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística. Tradução: Marcos Bagno. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.