COMPORTAMENTO DE CULTIVARES E LINHAGENS DE ALGODOEIRO NO ESTADO DE SÃO PAULO: ANO AGRÍCOLA 2001/02 1 Edivaldo CIA 2,5, Milton Geraldo FUZATTO 2, Julio Isao KONDO 2, Nelson Paulieri SABINO 2,5, Ederaldo José CHIAVEGATO 3, Norma de Magalhães ERISMANN 2, Luiz Henrique CARVALHO 2, Denizart BOLONHEZI 4, Dulcineia Elizabete FOLTRAN 4, Francisco Seiiti KASAI 4, Nelson BORTOLETTO 4, Paulo Boller GALLO 4, Paulo César RECCO 4 & Raffaela ROSSETO 4 RESUMO São apresentados os resultados de 15 experimentos do projeto Ensaio Nacional de Variedades de Algodoeiro Herbáceo, complementados por testes específicos para avaliação da resistência a doenças, realizados no ano agrícola de 2001/2002, nas principais regiões produtoras de algodão do Estado de São Paulo. Diferenças substanciais foram observadas entre os genótipos com respeito à produtividade, quer de algodão em caroço quer de fibra, demonstrando falta de adaptabilidade ampla, de alguns deles, às condições de cultivo nesse Estado. Apesar de se mostrar destacada em alguns genótipos, a porcentagem de fibra não constituiu fator predominante na produção de fibra por área. A maioria das cultivares e linhagens estudadas revelou suscetibilidade e uma ou mais das doenças mais sérias que podem ocorrer nesse Estado. INTRODUÇÃO O projeto ENSAIO NACIONAL DE VARIEDADES DE ALGODOEIRO HERBÁCEO, coordenado pela EMBRAPA-ALGODÃO e pelo Instituto Agronômico (IAC) foi realizado no ano agrícola de 2001/02 em praticamente todos os Estados produtores de algodão, no Brasil. Embora seus na análise por Estados ou Regiões que seus dados se mostram mais conseqüentes, uma vez que, então, podem constituir fundamento para tomadas de decisão na escolha de cultivares. Nesse trabalho são apresentados os resultados obtidos com esse projeto, no Estado de São Paulo, no ano agrícola de 2001/2002. MATERIAL E MÉTODOS Com delineamento em Blocos ao Acaso, quatro repetições, foram estudados os 12 genótipos constantes das tabelas 1 e 2, oriundos na sua maioria de entidades públicas que realizam melhoramento genético do algodoeiro no Brasil. As parcelas experimentais foram constituídas por resultados possam ser publicados em conjunto (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA, 1981, 1982), é duas linhas de 5m de comprimento, com espaçamentos entre elas variando entre 0,80m e 1,00m, conforme a localidade. Entre as parcelas e nas bordaduras do ensaio foi plantada uma linha marginal, com a cultivar IAC 23. O plantio foi realizado nos meses de outubro e novembro, conforme o local, empregando-se a adubação básica de 350 kg/ha, da fórmula 4-20-20. Na ocasião do desbaste, quando 1 Trabalho realizado com auxílio financeiro da FAPESP, do FIALGO e da MAEDA S/A AGROINDUSTRIAL. 2 Pesquisadores Científicos, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970, Campinas-SP, cia@iac.sp.gov.br 3 Professor Assistente, Doutor, Departamento de Fitotecnia. ESALQ-USP. Piracicaba-SP 4 Pesquisadores Científicos, DDD APTA. 5 Bolsista CNPq
foram deixadas 30 plantas/linha, foi feita adubação em cobertura, na base de 40 kg N/ha. Os tratos culturais e o controle de pragas variaram nos diferentes locais, mas foram realizados sempre em bom nível tecnológico. Nas condições apontadas, foram realizados 15 experimentos, em locais representativos da cotonicultura paulista, quer quanto à clima e solo, quer quanto à incidência de doenças. A colheita deuse, em uma ou mais vezes, conforme o experimento, nos meses de março a maio. Em amostras de 20 capulhos por parcela foram efetuados estudos de componentes da produção e de características tecnológicas da fibra. Por último, em testes paralelos foram feitas avaliações para resistência a doenças, de todos os genótipos integrantes dos experimentos, segundo os métodos expostos por GRIDI-PAPP et al. (1994) e por CIA et al. (1999). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na tabela 1 encontram-se resultados de produção e alguns de seus componentes, bem como da precocidade e do comportamento em face de doenças. Quanto à produção de algodão em caroço verifica-se baixa adaptabilidade, à região, dos genótipos EPAMIG PRECOCE 1, BRS SUCUPIRA e BRS IPÊ, que foram suplantados em cerca de 22, na média, pelas quatro cultivares mais produtivas. Em relação a outras características, além das diferenças notáveis com respeito ao peso de capulho e de sementes, vale ressaltar pela importância econômica a desigualdade quanto à porcentagem de fibra, que atingiu, em valor absoluto, 2,9, entre os genótipos extremos. Todavia, é útil observar que bastou para a cultivar IPR 94 a de pior desempenho, junto com a IAC 23, nessa característica produzir cerca de 7 a mais, de algodão em caroço, para que sua produção de fibra por área, praticamente se igualasse à da cultivar com a mais alta porcentagem. Compensação semelhante se verificou com a IAC 23, que, tendo rendimento no beneficiamento 2,2 menor do que os da CNPA ITA 90 e da DELTAOPAL, mas produzindo cerca de 8 mais de algodão em caroço, superou estas em mais de 2, na produção de fibra por área. Com respeito a doenças verifica-se que, considerando os seis parasitas constantes da tabela 1, destacou-se a IAC 24, embora, de acordo com a escala proposta por Cia et al (2002), se enquadrem, como ela, na categoria medianamente resistente, os genótipos BRS AROEIRA, BRS SUCUPIRA, IPR 94-227-918, CNPA ITA 90, DELTAOPAL e IAC 23. Entretanto, levando em conta apenas as três doenças mais destrutivas murcha de Fusarium, nematóides e ramulose que efetivamente limitam a produtividade na região, a IAC 24, com de Resistência Múltipla =0,926 foi a única que se caracterizou como resistente e também como segura ( de Segurança =0,804), de acordo com a escala mencionada. As demais variaram de medianamente resistente BRS AROEIRA, IPR 99-65, IPR 94-227-918, DELTAOPAL e IAC 23) a suscetível (EPAMIG PRECOCE 1, BRS IPÊ, IPR 94 e MG/UFU/91). Na tabela 2 encontram-se os resultados da análise tecnológica da fibra, caracterizando, grosso modo, três níveis de qualidade: um superior, compreendendo os genótipos IPR 94, BRS SUCUPIRA, IPR 94-227-918 e DELTAOPAL; um intermediário, com BRS IPÊ, IAC 24, BRS AROEIRA, IPR 99-65, CNPA ITA 90 e IAC 23; e um nitidamente inferior, com EPAMIG PRECOCE 1 e MG/UFU/91. CONCLUSÕES 1. Notável variação quanto a produtividade, resistência a doenças, porcentagem de fibra e qualidade desta, foi observada no estudo de 12 genótipos de algodoeiro realizado em regiões de plantio no Estado de São Paulo.
2. A porcentagem de fibra não constituiu fator determinante da produção de fibra por área, pois uma diferença, entre genótipos, de quase 3 do rendimento no beneficiamento, foi compensada por cerca de 7 a mais na produção de algodão em caroço. 3. Com base no valor global de cultivo e uso, mostraram-se aptos para plantio nesse Estado os genótipos IAC 24, IPR 94-227-918, DELTAOPAL, IPR 99-65 e IAC 23, com restrição a alguns deles em regiões onde são endêmicas ou prováveis de ocorrer, doenças limitantes às quais eles são suscetíveis, ainda que medianamente.
Tabela 1. Características agronômicas e índices de resistência a doenças obtidos em ensaios realizados no ano agrícola 2001/2002, em regiões algodoeiras do Estado de São Paulo. Genótipos Produção kg/parcela Fibra 100 sementes g 1 capulho g Preçocidade Fusarium Nematóides Ramulose s Relativos para doenças Stemphy- Alter-naria Ramulium laria Múlt. Segur. 1-BRS IPÊ 2,12 DE* 40,5 C 10,3 G 5,9 FG 70,0 C 0,753 0,462 0,251 0,897 0,850 0,909 0,627 0,157 2-IPR 94 2,45 A 38,7 E 11,9 C 6,8 BC 70,9 C 1,017 0,660 0,218 0,910 0,928 0,455 0,619 0,135 3-EPAMIG Prec 1 1,94 F 39,1 E 10,7 F 6,2 E 85,5 A 0,394 0,136 0,670 1,013 1,043 0,451 0,508 0,069 4-IAC 24 2,45 A 40,1 D 12,3 B 7,1 A 70,8 C 0,992 0,868 0,922 0,961 1,047 0,484 0,854 0,413 5-BRS AROEIRA 2,22 CD 38,8 E 11,2 E 6,5 D 64,7 D 0,730 0,640 0,862 0,949 1,009 0,536 0,769 0,412 6-IPR 99-65 2,46 A 39,9 D 11,8 CD 6,8 B 71,8 C 1,062 0,846 0,388 0,480 1,047 0,517 0,670 0,260 7-MG/UFU/91 2,29 BC 41,6 A 11,6 D 7,1 A 75,7 B 0,816 0,531 0,283 0,916 0,978 0,556 0,628 0,178 8-BRS SUCUPIRA 2,03 EF 40,8 BC 10,4 G 6,1 EF 64,9 D 0,620 0,686 0,711 1,001 0,902 0,645 0,749 0,464 9-IPR 94-227-918 2,50 A 39,7 D 11,0 E 6,6 CD 72,5 BC 1,072 0,683 0,441 0,878 1,000 0,522 0,727 0,321 10-CNPA ITA 90 2,21 CD 41,0 B 9,9 H 5,7 G 70,8 C 0,929 0,542 0,513 0,968 0,733 1,000 0,754 0,387 11-DELTAOPAL 2,19 CD 40,9 B 10,0 H 5,9 FG 72,8 BC 0,772 0,561 0,748 0,910 0,964 0,472 0,715 0,338 12-IAC 23 2,38 AB 38,7 E 12,5 A 6,9 AB 69,1 C 0,733 0,600 1,000 0,779 1,036 0,504 0,751 0,378 F trat o, 17,20 58,44 137,44 44,33 21,19 - - - - - - - - CV 14,6 2,5 5,3 9,0 8,0 - - - - - - - - r I (1) 0,80 0,94 0,97 0,92 0,84 - - - - - - - - * Teste de Duncan a 5 de probabilidade. (1) Correlação intra-classe.
Tabela 2. Características da fibra obtidas no equipamento HVI, referentes a experimentos realizados no ano agrícola 2001/2002 em regiões algodoeiras do Estado de São Paulo. GENÓTIPOS Comprimento 2,5 mm Uniformidade Compr, Fibra Curta Tenacidade g/tex Elongação Micronaire Maturidade Finura m Tex Açúcar Reflectância Amarelecimento +b Previsão Tenacidade do fio CSP 1 BRS IPÊ 26,7 FG* 46,5 A 9,2 E 27,7 D 6,862 A 4,40 A 76,7 A 200,0 G 0,30 CD 78,5 DE 9,38 DE 2129 D 2 IPR 94 27,6 B 45,9 B 8,3 ABC 28,8 BC 6,842ABCD 4,21 CD 74,7 BC 192,9 DE 0,28 BC 79,2 AB 9,12 B 2189 A 3 EPAMIG PREC. 1 26,6 G 44,3 G 11,2 G 24,8 F 6,815 EF 3,85 F 71,8 F 178,7 A 0,37 F 77,9 FG 9,51 F 2083 E 4 IAC 24 26,8 F 46,7 A 8,7 D 26,9 E 6,830 CDE 4,25 C 74,1 BCD 195,6DEF 0,31CDE 78,2 EF 9,61 F 2138 CD 5 BRS AROEIRA 27,9 B 45,1 E 8,6 CD 30,6 A 6,808 F 4,20 CD 74,1 BCD 193,3 DE 0,29 BC 77,6 G 9,61 F 2154 B 6 IPR 99-65 27,7 C 44,7 F 9,3 E 27,7 D 6,848 ABCD 4,07 E 72,9 E 188,2 B 0,27 B 78,7 CD 9,33 BC 2150 BC 7 MG/UFU/91 26,4 H 45,5 CD 10,6 F 24,8 F 6,828 DE 4,34 AB 76,2 A 197,3 FG 0,31CDE 77,3 H 9,75 G 2043 F 8 BRS SUCUPIRA 28,1 A 45,5 D 8,0 A 30,5 A 6,852 AB 4,11 E 73,7 CDE 189,0 BC 0,30 CD 77,8 G 9,51 F 2184 A 9 IPR 94-227-918 27,9 B 45,7 BC 8,1 AB 28,4 C 6,797 F 4,27 BC 74,6 BC 195,9 EF 0,21 A 79,4 A 8,95 A 2192 A 10 CNPA ITA 90 27,1 E 45,8 B 9,2 E 28,8 BC 6,850 ABC 4,20 CD 74,9 B 192,4CDE 0,33 F 78,8 C 9,33 CD 2156 B 11 DELTAOPAL 27,4 CD 46,0 B 8,5 BC 29,2 B 6,860 A 4,14 DE 72,7 E 191,8BCD 0,32 DE 78,9 BC 9,28 CD 2187 A 12 IAC 23 27,3 DE 46,6 A 8,2 AB 28,0 D 6,837 BCD 4,08 E 73,4 DE 188,2 B 0,30 CD 78,4 DE 9,48 EF 2180 A F trat o, 61,16 46,98 59,24 112,49 10,17 26,63 17,18 19,84 14,75 32,28 28,32 99,79 CV 2,10 1,89 11,2 4,8 0,7 5,1 3,5 5,0 25,9 1,1 3,6 1,7 r I (1) 0,94 0,92 0,94 0,97 0,70 0,87 0,80 0,83 0,78 0,89 0,87 0,96 * Teste de Duncan a 5 de probabilidade. (1) Correlação intra-classe.
BIBLIOGRAFIA CIA, E.; FUZATTO, M.G.; KONDO, J.I.; GRIDI-PAPP, I.L. & CHIAVEGATO, E.J. Evolução da resistência múltipla a doenças em linhagens avançadas de algodoeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 2., 1999, Ribeirão Preto. Anais... Campina Grande, EMBRAPA-CNPA, 1999. 716p. CIA, E.; FUZATTO, M.G.; PIZZINATTO, M.A. & BORTLETTO, N. Uma escala para classificação da resistência de cultivares a doenças do algodoeiro. Summa Phytopathologica 28(1): 1-5, 2002. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa do Algodão. Campina Grande, PB. Ensaio Nacional de Variedades de algodoeiro herbáceo, I : 1977/78. Campina Grande, 1981, 63 p. (EMBRAPA-CNPA, Boletim de Pesquisa, 2). EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa do Algodão. Campina Grande, PB. Ensaio Nacional de Variedades de algodoeiro herbáceo, II: 1978/79. Campina Grande, 1982, 63p. (EMBRAPA-CNPA, Boletim de Pesquisa, 9). GRIDI-PAPP, I.L.; CIA, E.; FUZATTO, M.G.; CHIAVEGATO, E.J.; DUDIENAS, C.; PIZZINATO, M.A.; SABINO, J.C.; CAMARGO, A.P. & CAMPANA. M.P. Melhoramento do algodoeiro para resistência múltipla a doenças, nematóides e broca-da-raiz em condições de campo. Bragantia, Campinas, 53(1): 33-45, 1994.