ESTUDO DO PERFIL DO INTEGRANTE DA MARCHA DO MST. Emerson Wruck 1,4, Cleber Giugioli Carrasco 1,4, Marcus Vinícios Vieitas Ramos 2,4, Ricardo Caetano Rezende 3,4 1 Pesquisador do Instituto Veritas (veritas@ueg.br). 2 Assistente Técnico do Instituto Veritas. 3 Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação. 4 Professor da UnU CET - UEG Resumo O trabalho se constituiu do estudo dos integrantes da marcha do MST, realizado em Maio de 2005 entre Goiânia e Brasília. Foi feita uma pesquisa quantitativa, foi utilizada uma amostra acidental de 398 integrantes da marcha. Dentre os principais resultados, verificou-se que a maioria possui um perfil jovem e com baixa escolaridade. Foi constatado ainda que grande parte dos marchantes (47%) afirma estar no MST pela insatisfação com as desigualdades sociais e o desemprego. Palavras Chaves Perfil do Marchante, Análise Estatística, Pesquisa de Opinião. 1. Introdução O Movimento dos trabalhadores Sem Terra (MST), realizou, em Maio de 2005, uma marcha de protesto entre Goiânia e Brasília, com o objetivo de chamar a atenção do Governo Federal e da Sociedade para o problema da Reforma Agrária e as desigualdades sociais existentes no País. Segundo os organizadores, participaram da marcha cerca de 10.000 integrantes, oriundos de todas as regiões do País. O objetivo desse trabalho foi à identificação do perfil desse marchante, procurando identificar suas origens e sua ligação com a atividade agropecuária. Também houve interesse nas informações referentes à escolaridade, condição do marchante dentro do movimento e a satisfação com o governo atual. 2. Material e Métodos A pesquisa foi realizada na Cidade de Anápolis-GO, no dia 06 de Maio de 2005. A pesquisa foi do tipo quantitativa (Mattar, 1996 [1]) realizada em um ponto de grande fluxo de marchantes.a escolha do entrevistado foi de forma acidental, o questionário foi estruturado com questões fechadas e
espontâneas (Pinheiro,2004[2]). Os entrevistadores foram alunos da UEG, treinados para este tipo de abordagem. O número de entrevistas realizadas foi de 398, utilizando o modelo para amostras simples ao acaso (Nunes,2000 [3]) temos que para um intervalo de confiança estimado de 95% a margem de erro máxima da pesquisa é estimada em 4,8 pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados encontrados no total da amostra (variável qualitativa). Com relação ao controle de qualidade, todos os questionários foram lidos e codificados, questionários incompletos ou com respostas duvidosas foram descartados. No trabalho de campo, supervisores fiscalizavam os entrevistadores, todo para minimizar respostas induzidas ou inventadas pelo entrevistador. Para a análise dos dados, foram utilizadas técnicas de estatística descritiva (Tukey,1977 [4]) como gráficos e tabelas construídos no Software Excel (Laponi, 1996[5]). 3. Resultados e Discussão Abaixo se apresenta uma descrição do perfil do marchante: Tabela 1 Distribuição por Sexo Sexo Freq. Percentual Masculino 284 71,36% Feminino 114 28,64% Tabela 2 - Distribuição por idade. Idade Freq. Percentual De 16 a 24 anos 216 54,27% De 25 a 34 anos 84 21,11% De 35 a 44 anos 59 14,82% De 45 a 59 anos 36 9,05% De 60 anos ou mais 3 0,75% 100,00% 90,00% 80,00% 70,00% 69,85% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 21,86% 20,00% 10,00% 5,78% 1,51% 1,01% 0,00% Solteiro(a) Casado/Amasiado(a) Separado(a) Viúvo(a) Outro Figura 1: Distribuição por Estado Civil.
Verifica-se que a maioria dos integrantes da marcha são do sexo masculino (71,36%). Percebe-se aqui um perfil jovem, 75,38% dos integrantes tem até 34 anos e cerca de 70% são solteiros. Este perfil se justifica dado às dificuldades de uma caminhada de quase 200 km. Vale frisar que este não é o perfil do integrante do MST, mas sim o do Marchante do MST. Tabela 3 : Distribuição por Escolaridade. Grau de Instrução Freq. Percentual Analfabeto 15 3,77% Lê e escreve 15 3,77% Fund. Incompleto 125 31,41% Fund. Completo 52 13,07% Médio Incompleto 71 17,84% Médio Completo 96 24,12% Sup. Incompleto 17 4,27% Sup. Completo 7 1,76% Em geral, o marchante apresenta uma escolaridade baixa, quase 70% dos entrevistados não possuem ensino médio completo, o que diminui a possibilidade de conseguir emprego na cidade. Tabela 4: Região onde Nasceu Regiões Freq. Percentual Nordeste 162 40,70% Sudeste 98 24,62% Sul 85 21,36% Centro-Oeste 39 9,80% Norte 7 1,76% Internacionais 4 1,01% Não Sabe/Não Resp. 3 0,75% Tabela 5: Região Atual de Moradia Regiões Freq. Percentual Nordeste 144 36,18% Sudeste 108 27,14% Sul 78 19,60% Centro-Oeste 57 14,32% Norte 10 2,51% Internacionais 0 0,00% Não Sabe/Não Resp. 1 0,25% Pelas Tabelas 4 e 5, percebemos uma maior presença de integrantes das regiões nordeste e sudeste do país. Tabela 6: Distribuição por local onde morava antes de integrar o movimento Local onde Morava Freq. Percentual Cidade acima de 500 mil Hab. 56 14,07% Cidade entre 100 a 500 mil Hab. 65 16,33% Cidade abaixo de 100 mil Hab. 162 40,70% Vilarejos 48 12,06% Fazenda/Sítio 46 11,56% Não Sabe/Não Resp. 21 5,28%
Aqui se tem que 64,32% moravam em cidades abaixo de 100 mil habitantes, vilarejos ou sítios/fazendas, sinalizando um perfil rural ao passo que 30,4% moravam em cidades acima de 100 mil habitantes sinalizando um perfil mais urbano. Tabela 7: Distribuição segundo condição na atividade agropecuária. Atividade Agropecuária Freq. Percentual Produtor/Proprietário/Assentado 169 42,46% Trabalhador Diarista 72 18,09% Nunca trabalhou 54 13,57% Trabalhador Parceiro 31 7,79% Trabalhador Assalariado 27 6,78% Outro 45 11,31% Pela Tabela 7, percebe-se que de forma geral 75,12% apresentam uma ligação direta com a agropecuária. Temos também que 13,57% nunca trabalharam na atividade e 11,31% afirmaram estar relacionados com outra condição dentro da atividade. De forma geral, percebe-se que os integrantes da marcha não são somente pessoas ligadas à atividade agropecuária. Não Sabe/Não Resp. Outros 1,26% 4,02% Desejo de possuir terra e Insatisfação Desemprego e Desejo de possuir terra Perdeu sua propriedade 0,75% 0,75% 1,76% Influência de familiares/amigos 13,07% Desemprego 17,34% Insatisfação com desigualdades sociais Desejo de possuir terra 29,65% 31,41% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% Figura 2: Distribuição segundo a principal razão para aderir ao MST. Segundo os entrevistados, a principal razão para aderir ao MST está associada ao desejo de possuir terra (31,4%), seguida pela insatisfação com as desigualdades sociais (29,65%) e desemprego (17,34%). Percebe-se aqui, que o movimento não integra somente pessoas em busca de terras, mas também insatisfeitas com as desigualdades sociais e com o desemprego, problemas que afligem todos os brasileiros. Temos ainda que a maioria dos marchantes entrevistados (54,52%) afirma ser discriminada por pertencer ao MST.
Com relação à avaliação do governo, os marchantes apresentaram as seguintes opiniões: Tabela 8: Condições da Saúde. Condições da Saúde Freq. Percentual Melhoraram 138 34,67% Se Mantiveram 202 50,75% Pioraram 47 11,81% Não Sabe/Não Resp. 11 2,76% Tabela 9: Condições de Emprego Condições do Emprego Freq. Percentual Melhoraram 99 24,87% Se Mantiveram 176 44,22% Pioraram 100 25,13% Não Sabe/Não Resp. 23 5,78% Temos 34,67% afirmam que as condições de saúde no atual governo melhoram contra 11,81% que afirmam que pioraram e 50,75% afirmam que se mantiveram. Dessa forma, parece que grupo marchante mais aprova que desaprova a política do governo com relação à saúde. Com relação à questão do emprego, não se tem evidência de uma melhora ou não na opinião dos marchantes. Tabela 10: Questão Agrária. Condições da Política Agrária Freq. Percentual Melhoraram 116 29,15% Se Mantiveram 178 44,72% Pioraram 86 21,61% Não Sabe/Não Resp. 18 4,52% Tabela 11: Avaliação sobre governo. Avaliação Geral Freq. Percentual Ótima 12 3,02% Boa 89 22,36% Regular 232 58,29% Ruim 44 11,06% Péssima 14 3,52% Não Sabe/Não Resp. 7 1,76% Tem-se que 29,15% dos marchantes entrevistados afirmam que as condições da Política Agrária no atual governo melhoram contra 21,61% que afirmam que pioraram e 44,72% afirmam que se mantiveram. Dessa forma, parece que grupo marchante se mostra bastante dividido com relação opinião quanto política Agrária do atual governo. A maioria dos marchantes entrevistados (58,29%) afirma que a administração do governo atual é regular, 25,38%, afirmam ser ótima ou boa e 14,58% afirmam ser ruim ou péssima. Com relação à renda familiar, a maioria (61,81%) tem renda familiar de até 2 Salários Mínimos. 4. Conclusões: Pode-se afirmar que os entrevistados marchantes apresentam o seguinte perfil. A maioria é do sexo masculino (71,36%), com 75,18% possuindo até 34 anos sendo que quase 70% são solteiros. Possuem baixa escolaridade, 70% dos entrevistados não possuem o ensino médio completo, e baixa renda, 61,81% tem renda familiar de até 1 Salário Mínimo. A maioria nasceu nas regiões nordeste e sudeste (65,32%) e atualmente a maioria pertence a essas regiões (63,32% ).Para o perfil
agropecuário temos que 64,32% moravam em cidades de até 100 mil habitantes ou vilarejos ou sítios/ fazendas. Temos também que 75,12% apresentam alguma ligação direta com a atividade agropecuária. A principal razão para estarem no MST é o desejo de possuir terra (31,4%), seguido da insatisfação com as desigualdades sociais (29,65%) e desemprego (17,34%). Tem-se ainda que 75,13% é integrante do movimento a mais de 2 anos e que 41,2% já são assentados.temos que 54,42% afirmam que se sentem discriminados pela sociedade por serem integrantes do movimento. Aqui percebemos que os integrantes da marcha não eram somente pessoas ligadas ao meio rural, mas também pessoas vindas de médias e grandes cidades, sem relação direta com a terra. Pessoas em geral com baixa escolaridade, desempregadas e descontentes com as desigualdades sociais, que vêem no MST uma esperança de vida melhor. A grande questão é se estas pessoas teriam capacidade para produzir e se auto-sustentar no campo. Uma outra questão é com relação à avaliação do governo. Na avaliação geral do governo, a maioria avalia a administração atual como regular (58,29%); 25,3% afirmam ser ótima ou boa e 14,58% afirmam ser ruim ou péssima. Percebe-se que o governo não foi mal avaliado por parte do marchante, que foi uma surpresa para os pesquisadores. Esse fato se justifica dado à posição do MST que é de apoio ao Governo Lula, mesmo este governo não atendendo o movimento da forma prometida em campanha política. Em resumo, o MST fez seu protesto de forma cautelosa, mostrando para a sociedade a sua capacidade de mobilização e sua grande organização, deixando claro sua força e seu desejo de justiça social. 5. Referencias Bibliográfica [1] Mattar; F. N. Pesquisa de Marketing. São Paulo, Atlas, 1996. [2] Pinheiro, R.M.; Castro, G.C.; Silva, H.H; Nunes, J.M.G. Comportamento do consumidor e pesquisa de mercado. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2004. [3] Silva;N.N. Amostragem Probabilística: Um curso Introdutório. São Paulo, Editora da USP, 2001. [4] Tukey, J. Exploratory Data Analysis. Addison-Wesley, Reading, MA. 1977. [5] Lapponi; J,C. Estatística usando o Excel. São Paulo, Lapponi Treinamento e Editora, 1997.