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- O doente tem direito a ser tratado no respeito pela dignidade humana;

Transcrição:

PARECER CJ 279/2014 Sobre: Direitos do Cliente / Responsabilidade do Enfermeiro Solicitado por: Digníssimo Bastonário, na sequência de pedido de membro devidamente identificado 1. As questões colocadas: Venho por este meio solicitar parecer/análise sobre situação específica que divide equipa de enfermagem. Tendo em conta os pareceres da comunidade europeia a ótica do cliente enquanto agente ativo na decisão dos cuidados a serem prestados: Um cliente de um qualquer serviço hospitalar, formação diferenciada, estando perfeitamente orientado e organizado, ciente dos seus direitos, solicita que não seja levantada a grade da sua maca por se sentir apertado, referindo não conseguindo dormir de noite com a mesma levantada. Sendo explicado que é um procedimento de segurança e norma hospitalar. Durante a noite o cliente cai da maca, existe alguma responsabilidade legal/profissional/ética a ser imputada ao Sr. Enfermeiro? especificamente por essa situação? A decisão do doente não é soberana, contribuindo para o seu bem-estar, estando este na posse de todas as suas faculdades mentais para poder decidir? 2. Fundamentação 2.1. Ordem dos Enfermeiros, enquanto associação profissional representativa de todos os enfermeiros, tem como desígnio fundamental promover a defesa da qualidade dos cuidados de enfermagem prestados à população, bem como o desenvolvimento, a regulamentação e o controlo do exercício da profissão de enfermeiro, assegurando a observância das regras de ética e deontologia profissional (artigo 3.º, n.º 1 do Estatuto da Ordem dos Enfermeiros, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 104/98, de 21 de Abril, alterado e republicado em Anexo à Lei n.º 111/2009, de 16 de Setembro, doravante designado abreviadamente por EOE); 2.2. O Conselho Jurisdicional, enquanto supremo órgão jurisdicional da Ordem 1, é o órgão competente para a apreciação da interpretação que é devida na aplicação dos normativos estatutários e regulamentares que regem a atuação da Ordem dos Enfermeiros através dos seus órgãos. 3. Apreciação 3.1. Face à situação apresentada pelo peticionante torna-se importante abordar diferentes vertentes da mesma, nomeadamente, o direito do utente em ver respeitada a sua auto determinação, no mesmo sentido o dever do enfermeiro em procurar em todas as situações garantir os melhores cuidados preconizados pela leges artis para o utente e como terceiro a capacidade do utente para a tomada de decisão. 3.2. Recomendamos a leitura do Enunciado de Posição da Ordem dos Enfermeiros sobre Consentimento Informado para Intervenções de Enfermagem OE15MAR2007 EP02/07, e da Carta dos Direitos dos doentes internados, Direção Geral da Saúde. 1 Ponto 1 do Artigo 24.º do EOE Parecer CJ- 279/2014 Página 1 de 5

Relativamente ao direito do utente em ver respeitada a sua auto determinação temos a referir: 3.3. Refere José de Oliveira Ascenção que o homem não só funda o Direito, como este se destina todo a servir o homem. É para a realização do homem que a ordem jurídica existe. A globalidade da sua organização, mesmo nos aspetos mais técnicos, tem o sentido de servir o homem que a integra 2 ; 3.4. Refere a Constituição da República Portuguesa que a mesma tem por base a dignidade da pessoa humana 3 ; 3.5. Da dignidade humana deriva a inviolabilidade de cada pessoa, o reconhecimento da autonomia de cada um para traçar os seus próprios planos de vida e as suas próprias normas de excelência, sem outros limites a não ser o direito semelhante dos outros à mesma autonomia; 3.5.1. Deste modo, um dos direitos decorrentes da dignidade do ser humano é o da autodeterminação, na operacionalização da sua autonomia, isto é, a aptidão para formular as próprias regras de vida; 3.5.2. O enfermeiro no seu dever de promover a autonomia procura defender os direitos da pessoa e do cidadão que não se extinguem por alterações na situação de saúde. O respeito pela dignidade da pessoa humana significa, na realidade, a promoção da sua capacidade para pensar, decidir e agir. 4 ; 3.6. No mesmo sentido refere o EOE que as intervenções de enfermagem são realizadas com a preocupação da defesa da liberdade e da dignidade da pessoa humana e do enfermeiro 5 e que são princípios orientadores da atividade dos enfermeiros o respeito pelos direitos humanos na relação com os clientes 6 ; 3.7. De acordo com o enquadramento conceptual dos Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem, a Pessoa é um ser único, com dignidade própria e direito a auto determinar-se 7 ; 3.8. Refere a Constituição da República Portuguesa que a lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias nos casos expressamente previstos na Constituição, devendo as restrições limitar-se ao necessário para salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos 8 ; 3.9. Refere ainda que todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública 9 ; 3.10. Salienta que a integridade moral e física das pessoas é inviolável 10, e que a todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada e familiar e à proteção legal contra quaisquer formas de discriminação 11 ; 3.11. No mesmo sentido, refere a Direção Geral de Saúde, na sua página digital, que a carta dos direitos e deveres dos doentes pretende consagrar o primado do cidadão, considerando-o como figura central de todo o Sistema de Saúde, reafirmando os direitos humanos fundamentais na prestação dos cuidados de saúde e, especialmente, protege a dignidade e integridade humanas, bem como o direito à autodeterminação 12 ; 2 Cf. José de Oliveira Ascenção. Pessoa, Direitos Fundamentais e Direito da Personalidade. Revista Mestrado em Direito, Osasco, Ano 6, n.1, 2006, p. 145-168. 3 Artigo 1.º da Constituição da República Portuguesa 4 Ponto 1 do Enunciado de Posição OE15MAR2007 EP02/07 5 Ponto 1 do Artigo 78.º do Estatuto da Ordem dos Enfermeiros, Na redação resultante das alterações operadas pela Lei n.º 111/2009, de 16 de Setembro. 6 Alínea b) do Ponto 3 do Artigo 78.º do EOE 7 Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem: Enquadramento conceptual, Enunciados descritivos, Ordem dos Enfermeiros (2002). 8 Ponto 2 do Artigo 18.º da Constituição da República Portuguesa 9 Artigo 21.º da Constituição da República Portuguesa 10 Ponto 1 do Artigo 25.º da Constituição da República Portuguesa 11 Ponto 1 do Artigo 26.º da Constituição da República Portuguesa 12 http://www.dgs.pt/pagina.aspx?screenwidth=1600&mlkid=d4upjqjeqaxrtt45w45r4w45&cn=55065716aaaaaaaaaaaaaaaa, consultado a 17.12.2014 Parecer CJ- 279/2014 Página 2 de 5

3.12. Refere explicitamente que o consentimento ou recusa da prestação dos cuidados de saúde devem ser declarados de forma livre e esclarecida, salvo disposição especial da lei 13 e que o utente dos serviços de saúde pode, em qualquer momento da prestação dos cuidados de saúde, revogar o consentimento 14 ; 3.13. No mesmo sentido refere o EOE que o enfermeiro tem o dever de respeitar, defender e promover o direito da pessoa ao consentimento informado 15, sobre os projetos terapêuticos que lhe são propostos, exercendo desta forma a sua autodeterminação que é necessariamente livre e esclarecida, consentindo ou dissentindo; Quanto à segunda vertente relativa ao dever do enfermeiro em procurar em todas as situações garantir os melhores cuidados preconizados pela leges artis para o utente, temos que: 3.14. Refere o REPE que a Enfermagem é a profissão que, na área da saúde, tem como objetivo prestar cuidados de enfermagem ao ser humano, são ou doente, ao longo do ciclo vital, e aos grupos sociais em que ele está integrado, de forma que mantenham, melhorem e recuperem a saúde, ajudando-os a atingir a sua máxima capacidade funcional tão rapidamente quanto possível. 16 ; 3.15. Refere também que deve participar nos esforços profissionais para valorizar a vida e a qualidade de vida 17 ; 3.16. Deve procurar adequar as normas de qualidade dos cuidados às necessidades concretas da pessoa 18 ; 3.17. A Lei n.º 15/2014, de 21 de março visa a consolidação dos direitos e deveres do utente dos serviços de saúde 19 ; 3.18. Relativamente aos deveres do utente dos serviços de saúde, refere que o utente deve respeitar as regras de organização e funcionamento dos serviços e estabelecimentos de saúde 20, devendo colaborar com os profissionais de saúde em todos os aspetos relativos à sua situação 21 ; 3.19. Refere que o utente dos serviços de saúde tem direito à prestação dos cuidados de saúde mais adequados e tecnicamente mais corretos 22 e que devem ser prestados humanamente com respeito pelo utente 23, dando sempre ênfase à autodeterminação da pessoa na tomada de decisão no seu projeto de saúde, e de vida; 3.20. Seguindo a mesma linha orientadora do exercício da autodeterminação refere que o doente tem o dever de colaborar com os profissionais de saúde, respeitando as indicações que lhe são recomendadas e, por si, livremente aceites 24 ; 3.21. Relevamos que o enfermeiro tem o dever de registar fielmente as observações e intervenções realizadas, nos termos da alínea d) do Artigo 83.º do EOE; Quanto à terceira vertente relativa à capacidade do utente para a tomada de decisão, temos que: 3.22. A escolha da pessoa (consentimento ou dissentimento) é o último passo depois da informação e validação da mensagem para que o utente possua a informação e se sinta livre para decidir ; 3.23. Importa considerar que informar diz respeito a transmitir dados sobre qualquer coisa, sendo aquilo que reduz ou elimina a incerteza, contribuindo para o processo de adaptação e para a tomada de decisão. A informação é constituída por dados relativos a um contexto útil e revestidos de significado - é um meio e não 13 Ponto 1 do Artigo 3.º da Lei n.º 15/2014, de 21 de março 14 Ponto 2 do Artigo 3.º da Lei n.º 15/2014, de 21 de março 15 Alínea b) do Artigo 84.º do EOE 16 Ponto 1 do Artigo 4.º do Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros (REPE), Decreto-Lei n.º 161/96, de 4 de Setembro, na redação resultante das alterações operadas pelo Decreto-Lei n.º 104/98, de 21 de Abril 17 Alínea c) do Artigo 82.º do EOE 18 Alínea b) do Artigo 88.º do EOE 19 Ponto 1 do Artigo 1.º da Lei n.º 15/2014, de 21 de março 20 Ponto 2 do Artigo 24.º da Lei n.º 15/2014, de 21 de março 21 Ponto 3 do Artigo 24.º da Lei n.º 15/2014, de 21 de março 22 Ponto 2 do Artigo 4.º da Lei n.º 15/2014, de 21 de março 23 Ponto 3 do Artigo 4.º da Lei n.º 15/2014, de 21 de março 24 http://www.dgs.pt/pagina.aspx?screenwidth=1600&mlkid=d4upjqjeqaxrtt45w45r4w45&cn=55065716aaaaaaaaaaaaaaaa, consultado a 17.12.2014 Parecer CJ- 279/2014 Página 3 de 5

um fim em si mesma; mais importante que apenas dizer é ser compreendido, ou seja, que a informação seja transformada em significado, para a pessoa; 3.24. Do direito da pessoa possuir a informação para formar uma vontade livre e esclarecida, decorre o dever de informação dos profissionais. 25 ; 3.25. Relativamente à informação a ser transmitida ao cliente, tratando-se de um processo comunicacional que não é estanque em si mesmo, a apresentação da necessidade de utilizar as grades da cama, como procedimento de segurança e norma hospitalar, é potencialmente limitativo como argumento, para que o cliente possa sustentar a sua tomada de decisão; 3.25.1. Deve ser explicitada a fundamentação da norma, para que o cliente compreenda a sua necessidade; 3.26. Refere o código penal que o consentimento pode ser expresso por qualquer meio que traduza uma vontade séria, livre e esclarecida do titular do interesse juridicamente protegido, e pode ser livremente revogado até à execução do facto 26 ; 3.27. O consentimento só é eficaz se for prestado por quem tiver mais de 16 anos e possuir o discernimento necessário para avaliar o seu sentido e alcance no momento em que o presta 27 ; 3.28. Refere quanto aos menores ou incapazes que a lei deve prever as condições em que os representantes legais dos menores ou incapazes podem exercer os direitos que lhes cabem, designadamente o de recusarem assistência, com observância dos princípios constitucionais 28 ; 3.29. De acordo com a Lei n.º 25/2012 que regula as diretivas antecipadas de vontade, são requisitos de capacidade serem maiores de idade 29, não se encontrarem interditas ou inabilitadas por anomalia psíquica 30 e se encontrarem capazes de dar o seu consentimento consciente, livre e esclarecido 31 ; 3.30. Define no seu Artigo 5.º quais os limites das diretivas antecipadas de vontade: que sejam contrárias à lei, à ordem pública ou determinem uma atuação contrária às boas práticas 32, cujo cumprimento possa provocar deliberadamente a morte não natural e evitável 33 e em que a pessoa não tenha expressado, clara e inequivocamente, a sua vontade 34 ; 3.31. O enfermeiro deve atuar no respeito pela autonomia do cliente, garantindo o seu direito a auto determinação, garantindo que a sua vontade é respeitada, podendo a qualquer momento ser livremente revogado pelo próprio. A tomada de decisão deve ser consubstanciada como referido, na informação adequada quanto ao objetivo e à natureza da intervenção, bem como às consequências e riscos; Assim devemos ter em conta: 3.32. À Ordem dos Enfermeiros, bem como a todos os seus membros, compete denunciar todas as situações em que a segurança e qualidade dos cuidados de saúde e não em exclusivo aos cuidados de enfermagem possam estar em risco; 25 Ponto 2 do Enunciado de Posição OE15MAR2007 EP02/07 26 Ponto 2 do Código Penal Lei n.º 69/2014, de 29/08 27 Ponto 3 do Código Penal Lei n.º 69/2014, de 29/08 28 Artigo 11.º da Lei n.º 15/2014, de 21 de março 29 Alínea a) do Artigo 4.º da Lei n.º 25/2012, de 16 de julho 30 Alínea b) do Artigo 4.º da Lei n.º 25/2012, de 16 de julho 31 Alínea c) do Artigo 4.º da Lei n.º 25/2012, de 16 de julho 32 Alínea a) do Artigo 5.º da Lei n.º 25/2012, de 16 de julho 33 Alínea b) do Artigo 5.º da Lei n.º 25/2012, de 16 de julho 34 Alínea c) do Artigo 5.º da Lei n.º 25/2012, de 16 de julho Parecer CJ- 279/2014 Página 4 de 5

3.33. Refere a Ordem dos Enfermeiros, no seu Enunciado de Posição sobre Consentimento Informado, que A Ordem dos Enfermeiros defende o direito de cada pessoa à autodeterminação e a uma adequada informação que permita tomar decisões face aos projetos de cuidados que lhe são propostos 35 ; 3.34. A Ordem dos Enfermeiros reforça a obrigação profissional de salvaguardar e proteger os direitos humanos 36 ; 3.35. Os enfermeiros têm o dever de informar e de obter consentimento para a realização de intervenções de enfermagem 37 ; 3.36. O respeito pela autonomia leva à aceitação da vontade da pessoa informada seja aceitar (consentir) ou recusar (dissentir) a proposta de intervenção e/ou cuidados, caminhando desta forma para o empoderamento do cliente. 38 ; 3.37. Ao enfermeiro compete respeitar e salvaguardar os direitos do cliente e as suas tomadas de decisão livres e autónomas, de acordo com a lei (maior de 16 anos e capacidade de discernimento para consentir ou dissentir). 4. Conclusão Tendo por base a questão colocada, o Conselho Jurisdicional considera o seguinte: 4.1. Compete ao enfermeiro no respeito pela auto determinação do cliente e na procura de garantir cuidados seguros e de qualidade, fornecer toda a informação para que o cliente, capaz de tomar a decisão, possa sustentar o seu consentimento ou dissentimento, numa decisão livre e esclarecida; 4.2. O utente tem direito de ver respeitada a sua vontade, assente num consentimento ou dissentimento livre e esclarecido, devendo esta ser devidamente registada; 4.3. O dever do enfermeiro garantir a segurança do cliente não se sobrepõe ao princípio constitucional de autodeterminação da pessoa/cliente. Foi relator Rui Moreira. Aprovado na reunião plenária de 09 de janeiro de 2015. Pel' O Conselho Jurisdicional Enf.º Rogério Gonçalves Presidente 35 Ponto 1 da Posição da Ordem dos Enfermeiros, no seu Enunciado de Posição OE15MAR2007 EP02/07 36 Ponto 2 da Posição da Ordem dos Enfermeiros, no seu Enunciado de Posição OE15MAR2007 EP02/07 37 Ponto 3 da Posição da Ordem dos Enfermeiros, no seu Enunciado de Posição OE15MAR2007 EP02/07 38 Ponto 3 do Enunciado de Posição OE15MAR2007 EP02/07 Parecer CJ- 279/2014 Página 5 de 5