ESTUDO DA FOTODEGRADAÇÃO DE EFLUENTE DE INDÚSTRIA DE CELULOSE E PAPEL EMPREGANDO OS FOTOCATALISADORES DE TiO 2, ZnO E Nb 2 O 5

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ESTUDO DA FOTODEGRADAÇÃO DE EFLUENTE DE INDÚSTRIA DE CELULOSE E PAPEL EMPREGANDO OS FOTOCATALISADORES DE TiO 2, ZnO E Nb 2 O 5 Rubiane Ganascim Marques Veronice Slusarki Santana Nádia Regina Camargo Fernandes-Machado RESUMO:O setor de celulose e papel apresenta um efluente com uma elevada carga orgânica e alta coloração. Os tratamentos convencionais são eficientes para redução de DQO e DBO do efluente, mas mesmo após tratamento biológico, o efluente apresenta uma elevada coloração. Muitas indústrias já estão utilizando técnicas de tratamento terciário de efluentes para o polimento do mesmo, como a ultrafiltração. Uma alternativa para o polimento é a fotocatálise heterogênea. O presente trabalho teve como objetivo o estudo da degradação fotocatalítica de efluente de uma indústria integrada de produção de celulose e papel. Foram realizadas as caracterizações dos catalisadores através de difração de raio-x e análise textural. Os testes fotocatalíticos foram realizados em reator batelada sob irradiação UV (250W). Os catalisadores reduziram parcialmente a carga orgânica do efluente. Os melhores resultados foram obtidos com ZnO, sendo alcançada uma redução de 35% da DQO quando foi utilizado ZnO mássico calcinado a 500 o C. Palavras chaves: Fotocatálise heterogênea. Efluente Kraft. Pentóxido de nióbio.

1 INTRODUÇÃO A indústria de celulose e papel é uma das indústrias mais importantes no mundo (Koet al., 2009). O setor brasileiro de produção de celulose e papel vem contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento sócio-econômico do país. No Brasil existem 222 empresas ligadas diretamente à indústria de celulose e papel com atividades em 539 municípios localizados em 18 estados (Bracelpa, 2012). Em 2009, a produção mundial de papel e polpas de madeira foi estimada em 177 milhões de toneladas de celulose e 370 milhões de toneladas de papel (Bracelpa, 2012). Neste contexto, o Brasil é o 4º maior produtor de celulose (14 milhões de toneladas produzidas em 2010) e o 9º maior produtor de papel (9,8 milhões de toneladas produzidas em 2010) no mundo. Segundo Andrade (2006), com o crescente aumento da produção de celulose e papel, as empresas buscam melhorar os processos industriais empregados, pois estes devem se basear na utilização de informações seguras, precisas e diretamente relacionadas ao produto final para continuarem sendo competitivas no mercado. Em praticamente todas as etapas de produção de celulose e papel ocorre geração de algum tipo de poluente (Pokhrel e Viraraghavan, 2004). A carga poluidora, contida nos despejos procedentes dos processos de produção de celulose e papel, varia de fábrica para fábrica, dependendo do tipo de polpação, a qualidade da matéria prima empregada e do produto final desejado (SENAI, 1995). O processo de polpação predominante no mundo é a polpação kraft (Peralta- Zamoraet al., 1997, Cardoso, 2006), uma das características desse processo é a geração de um efluente com alta DQO, alta demanda química de oxigênio (DBO), elevada coloração, turbidez e baixa concentração de oxigênio dissolvido. A seguir são apresentados resumidamente as principais fontes de geração de efluente em uma planta integrada de celulose e papel. No preparo da madeira, cascas de madeira, areia, solo e sujeira são removidos, utilizando-se água para a lavagem das toras. Os despejos líquidos gerados nesta etapa apresentam baixa coloração, valores de ph em torno de sete,e alta concentração de sólidos suspensos e sólidos dissolvidos. (IPT,1988).

Na etapa de cozimento, o efluente gerado é chamado de licor negro, este efluente contém compostos de lignina e seus derivados, extrativos, resinas álcoois, fenóis, acetona, etc. isso acarreta em uma elevada DBO, DQO, AOX e compostos orgânicos voláteis (Pokhrel e Viraraghavan, 2004). Na lavagem da polpa é retirado o residual do licor negro contido na mesma, e este efluente apresenta os mesmos compostos químicos do efluente retirado do digestor (Pokhrel e Viraraghavan, 2004). O efluente que sai do digestor e da lavagem da polpa geralmente entra no ciclo de recuperação química, e não vai para o tratamento de efluentes (Cardoso, 2006). O branqueamento é uma das etapas da fabricação da celulose e papel mais poluidora (com maior carga de DQO), pois é nesta fase que as ligninas ainda presentes, os fenóis, as resinas ácidas e outros reagem com o cloro formando os compostos altamente tóxicos como os AOX (Catalkaya e Kargi, 2008; Pokhrel e Viraraghavan, 2004). Foram identificados mais de 300 compostos orgânicos em efluentes de branqueamento, alguns de reconhecido efeito tóxico e/ou genotóxico (Peralta-Zamoraet al.; 1997). Já o preparo do papel na máquina é a etapa gera mais quantidade de efluentes na fábrica, este efluente apresenta um alto teor de fibras e aditivos que são adicionados à massa do papel (Ali e Sreekrishnan, 2001) e contêm compostos orgânicos, corantes inorgânicos, fibras, acetona, etc (Pokhrel e Viraraghavan, 2004). Antes de seguir para a ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) os efluentes gerados nos diferentes processos são misturados, resultando em um efluente com alta DQO, DBO, turbidez, cor e baixo oxigênio dissolvido.os efluentes oriundos das indústrias do setor de celulose e papel geralmente apresentam elevada cor e turbidez residual, por isso estas indústrias buscam minimizar cada vez mais a carga de DQO e DBO, assim como a cor de seu efluente. Diversas técnicas têm sido aplicadas, algumas com baixa eficiência e outras com alta eficiência, mas com um alto custo. Dentre as técnicas sofisticadas e caras, destaca-se a ultrafiltração. Uma alternativa a este tipo de tratamento seria a fotocatálise heterogênea. A fotocatálise heterogênea é uma alternativa promissora para a remoção de poluentes orgânicos em água, podendo ser aplicada também para o polimento dos efluentes. Segundo Lasaet al. (2005) três componentes devem estar presentes para que ocorra a reação fotocatalítica heterogênea: a emissão de um fóton (com comprimento de

onda adequado ao catalisador), uma superfície catalítica (geralmente um semicondutor) e um material fortemente oxidante (usualmente o oxigênio). O processo fotocatalítico é iniciado com a emissão de um fóton com a energia igual ou superior à energia para promover um elétron da banda de valência para a banda de condução que o fotocatalisador necessita em sua superfície, resultando em uma excitação molecular (energia de band gap ). Essa energia tem ordem de grandeza de poucos elétrons volts. Essa excitação molecular leva a uma geração de elétrons se movimentando da banda de valência para a banda de condução, criando assim uma lacuna eletrônica positiva na banda de valência, esse processo pode ser representado na equação 1. Fotocalisador + fóton e - + h + 1 A formação do par lacuna-elétron está representada na Figura 1. Figura 1. Princípios eletrônicos de um processo fotoquímico (Fonte: PERALTA- ZAMORA et al. 1997). A reação fotocatalítica procede por uma série de etapas reacionais (LASA et al., 2005). Primeiramente ocorre a foto-excitação do catalisador, gerando a formação do par elétron-lacuna (equação 1). A segunda etapa pode ocorrer de três maneiras diferentes, pode ocorrer uma transferência eletrônica no substrato adsorvido (RX ads ) (equação 2), na água adsorvida (equação 3) ou no íon OH- adsorvido (equação 2.4) no catalisador com a lacuna gerada.

h + +RX ads RX + ad 2 h + +H 2 O ads OH ads +H + 3 h + +OH - ads OH ads 4 A terceira etapa é de grande importância, devido à geração de altas concentrações de OH -,pela dissociação da água em íons. H 2 O OH - ads+h + 5 eletrônica. Oxigênio molecular atua como aceptor de elétrons na reação de transferência e - +O 2 O 2-6 série: Anions superóxidos podem ser envolvidos subsequentemente em reações em O 2 - +H + HO 2 H + +O 2 - +HO 2 H 2 O 2 +O 2 8 7 E a foto-conversão do peróxido de hidrogênio produz radicais hidroxilas. H 2 O 2 +hv 2 OH 9 Finalmente, os radicais hidroxilas oxidam os poluentes orgânicos adsorvidos na superfície do catalisador. OH ads +RX ads intermediário 10 Os radicais OH produzidos são altamente reativos e atacam as moléculas do poluente levando à mineralização do mesmo.

Existem duas possíveis explicações para a reação fotocatalítica. Segundo Lasa et al. (2005) muitos autores sugerem uma oxidação indireta via radical hidroxila adsorvido na superfície do catalisador (reação 4 e 10) e outros autores argumentam em favor da oxidação direta do poluente via lacuna formada na excitação do catalisador (equação 2). O presente trabalho tem como objetivo estudar a fotodegradação de efluente de após o tratamento secundário de uma indústria de celulose e papel com processo integrado. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Como catalisadores foram utilizados dióxido de titânio comercial (Kronos), óxido de zinco (Biotec) e pentóxido de nióbio (CBMM). Os óxidos passaram por um processo de ativação para sua utilização como fotocatalisador. Os catalisadores foram lavados com água deionizada para a retirada de impurezas, e em seguida os materiais foram filtrados à vácuo e seco em estufa a 100ºC por 24 h. Após a limpeza dos catalisadores, os mesmos foram peletizados sob pressão de 3,0x10 3 kgf/cm 2, triturados e peneirados (0,150 e 0,300 mm). Os catalisadores então foram calcinados a 500ºCpor 5 horase armazenados. O catalisador P25 Aeroxide P25 Evonik (DEGUSSA) foi utilizado comparativamente na sua forma comercial, já que o mesmo tem conhecida atividade catalítica. Os catalisadores foram caracterizados através de análise textural e difratometria de raio-x. A caracterização de análise textural foi realizada utilizando o equipamento Quanta Chrome NOVA 1200e (DEQ/UEM), a partir das isotermas de equilíbrio de adsorção física de N 2. As análises de raio-x foram realizadas em Difratômetro de Raios-X Bruker D8 Advance com fonte de Cu, tensão de 40 kv, corrente de 30 ma e filtro de níquel. Os picos obtidos foram comparados com o banco de dados publicados por JCPDS (1995). O efluente foi cedido pela indústria Klabin S/A unidade Monte Alegre. A coleta do efluente ocorreu após o tratamento secundário de lodo ativado, sendo utilizado até 24h após a coleta.

A unidade reacional consistiu em um béquer de vidro de 1000 ml, com sistema de agitação magnética, com lâmpada de 250 W da General Eletric (GE) emitindo luz ultravioleta, localizada a15cm da superfície do efluente. A atividade fotocatalítica do catalisador foi avaliada através da reação de fotodegradação do efluente industrial. Os testes fotocatalíticos foram realizados na unidade reacional em batelada, por 6 h, à temperatura ambiente, com uma concentração de catalisador de 1 g/l, contendo 500 ml de efluente, sob agitação magnética e irradiação de luz, sem aeração. Uma alíquota de 5 ml foi retirada a cada hora e filtrada em filtro Millipore 0,45 me armazenada em congelador. No teste de fotólise foram utilizadas as mesmas condições do teste fotocatalítico, mas com ausência do catalisador. O acompanhamento da degradação fotocatalítica do efluente foi realizado através da redução DQO e compostos de cloro-ligninas (metodologia utilizada por Wang et al, 1992). 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 ANÁLISE TEXTURAL A figura 2 apresenta uma isoterma adsorção/dessorção para o TiO 2 Kronos. Podese observar que a isoterma apresentou formato próximo à do tipo IV, com histerese o que caracteriza sólidos mesoporosos. As histereses do tipo H2 correspondem a uma distribuição de tamanho de poros e forma definida; associado também a poros tipo tinteiro.o TiO 2 (Kronos) apresentou uma área superficial de 9,6 m²/g.

Figura 2- Isoterma do catalisador TiO 2 calcinado a 500ºC. A figura 3 apresenta a isoterma adsorção/dessorção para o TiO 2 Aeroxide P25. Pode-se observar que a isoterma apresentou-se semelhante à obtida do dióxido de titânio Kronos (Figura 2), com isoterma tipo IV e histerese tipo H2. O que pode ser observado é que o P25 mostrou-se mais poroso que o dióxido de titânio Kronos. Sua área específica total foi de 69,5m 2 /g. Figura 3 Isoterma do catalisador TiO 2 Aeroxide P25. Observa-se na Figura 4 que o pentóxido de nióbio apresenta uma isoterma característica do tipo IV com uma grande histerese que evidencia a mesoporosidade

do catalisador. A área superficial calculada pelo método BET foi de 79,5 m 2 /g. Figura 4 Isoterma do catalisador Nb 2 O 5. Na figura 5 observa-se a isoterma obtida para o óxido de zinco, onde esta foi muito semelhante a isoterma obtida pelo dióxido de titânio Kronos sendo do tipo IV, com uma área superficial de 6,0 m 2 /g. Figura 5 Isoterma do catalisador ZnO. 3.2 DIFRAÇÃO DE RAIO-X (DRX)

Para aidentificação das fases cristalinas dos óxidos semicondutores foiutilizado o banco de dados JCPDS, encontrado no programa PCPDFWIN. Observa-se na Figura 6 os difratogramas obtidos para o dióxido de titânio Kronos e P25. Ambos estão na forma tetragonal. Para o TiO 2 Kronos verifica-se a presença da 100% da fase anatase que é caracterizada pelo pico de maior intensidade no ângulo 2 =25,3. Já no difratograma do Aeroxide verifica a presença da fase anatase e da fase rutilo (caracterizada pela maior intensidade do pico em 2 =27,9), na proporção de 12% rutilo e 88% de anatase. A a A b R Figura 6 - Difratograma de raio-x do TiO 2 Kronos (a) e TiO2 Aeroxide P25 (b). Na Figura 7 é apresentado o difratograma do pentóxido de nióbio e óxido de zinco.o Nb 2 O 5 apresentou-se na forma ortorrômbica e o óxido de zinco, na fase cristalina zincite hexagonal. a b Figura 7 - Difratograma de raio-x do catalisador pentóxido de nióbio(a) e do óxido de zinco(b).

3.3 DEGRADAÇÃO FOTOCATALÍTICA DO EFLUENTE DE CELULOSE E PAPEL A DQO inicial do efluente era de 180mg/L, com uma concentração de 150ppm de cloro-ligninae com ph de 8,25. No efluente de indústrias de celulose e papel são encontrados compostos derivados da lignina que dão a forte coloração do mesmo e sua redução implica na redução da coloração do mesmo. Para a análise da eficiência da fotodegradação do efluente foram feitas análises de DQO e concentração de compostos de cloro-lignina. Os resultados da degradação de compostos cloro-lignina e de DQO são apresentados nas figuras 8 e 9, respectivamente. Figura 8 Redução dos compostos de cloro-lignina do efluente de celulose e papel. Na figura 8 observa-se que o catalisador que mais se aproximou da atividade do P25foi o óxido de zinco.ele teve uma eficiência de redução dos compostos de lignina de 63%.Seu desempenho melhor em relação aos demais catalisadores deve-se à sua melhor dispersão no efluente, observadadurante os testes. A redução de DQO (figura 9) seguiu o mesmo comportamento da redução de compostos cloro-lignina.

Figura 9 Redução da DQO do efluente de celulose e papel. A Figura 10 mostra a porcentagem final de redução de compostos de cloro-lignina e DQO do efluente com os catalisadores utilizados nos testes. Figura 10 Redução dos compostos de cloro-lignina do efluente de celulose e papel. Observando a figura 10 tem-se que o catalisador que apresenta maior atividade catalitica é o óxido de zinco, com uma redução de cloro-lignina e DQO de63 e 46%, respectivamente, estando próximo do P25 (72 e 52%). Na figura 11 é apresentado o espectro de absorção do efluente antes e após o

tratamento fotocatalítico com o catalisador ZnO. Observa-se uma redução total da área do espectro de mais de 40%. Figura 11 Redução dos compostos de cloro-lignina do efluente de celulose e papel. 4. CONCLUSÕES Nas análises de difratometria de raio-x verificou-se a fase cristalina dos três óxidos, o TiO 2 Kronos fase anatase, o óxido de zinco zincite-hexagonal e o pentóxido de nióbio ortorrômbica. Na caracterização da área superficial total, verificou-se que o catalisador que apresentou maior área superficial foi o pentóxido de nióbio, seguido pelo dióxido de titânio e óxido de zinco. O catalisador que apresentou uma maior atividade tanto para redução de clorolignina quanto para redução de DQI comparado com o P-25 foi o óxido de zinco, seguido pelo dióxido de titânio Kronos e o pentóxido de nióbio. REFERÊNCIAS ALI,M., SREEKRISHNAN, T.R.,, Aquatic toxicity from pulp and paper mill effluents: a review, Advances in Environmental Research, v. 5, pp 175 196, 2001. ANDRADE, A. S., Qualidade da madeira, celulose e papel em Pinus taeda L.: Influência da idade e classe de produtividade, Dissertação de mestrado, UFPR, 2006. CARDOSO, G., Fabricação de Celulose.Vol. 1,Ed: Senai. Curitiba PR. 2006.

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