Estabilização de encosta com talude reforçado de 60 m de altura em Lona-Lases, Itália

Documentos relacionados
Muro de Contenção em Solo Reforçado e Face Verde com Utilização de Resíduo Cerâmico

6. Análise de Estabilidade

Muro de Grande Altura Reforçado com Geogrelhas e Face Verde Envelopada.

Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações. Lista de Exercicios

4 Estabilidade estática do aterro reforçado

Tópicos Especiais de Mecânica dos Solos

Em função de suas características de fabricação e matéria-prima poliéster, o Bidim possui as propriedades:

APLICAÇÃO DO GEOTÊXTIL BIDIM COMO REFORÇO NA RECOMPOSIÇÃO DO TALUDE DAS INDÚSTRIAS LINHAS CORRENTES SP

Emprego de Lamelas com Função de Contrafortes em uma Escavação Urbana

MURO DE CONTENÇÃO REFORÇADO COM GEOGRELHAS E FACE VERDE

ESTACAS HELICOIDAIS. (21)

4 Descrição da obra. Figura 80 Seção transversal típica do dique do DRB#7.

3 Programa Experimental

Recuperação de Aterro Rodoviário Através de Solo Reforçado e Blocos Intertravados

7 Análise Método dos Elementos Finitos

Reforço de Aterro com Geogrelhas Reinforcement With Geogrids Embankment

Contenção em solo reforçado com paramento vegetado em Aeroporto executivo

BARRAGENS DE TERRA E DE ENROCAMENTO AULA 3. Prof. Romero César Gomes - Departamento de Engenharia Civil / UFOP

MEMORIAL DESCRITIVO E QUANTITATIVO DE MATERIAIS PROJETO DE TERRAPLENAGEM

UTILIZAÇÃO DE GEOTÊXTIL BIDIM E GEOWEB EM OBRA DE DRENAGEM DE PILHA DE REJEITO DA MINERAÇÃO MBR CANAL MUTUCA MG

Belgo Malha Talude Controle de Desprendimentos e Estabilização

CAPÍTULO 10 GRAMA ARMADA PROTEÇÃO, CONTROLE E PREVENÇÃO DE EROSÃO INTEGRADO AO MEIO AMBIENTE

4 Análise Probabilística de Ruptura da Barragem de Curuá- Una para Diversos Níveis do Reservatório.

1. Dados e-bidim #082

APLICAÇÃO DO GEOTÊXTIL BIDIM NO SISTEMA DE DRENAGEM SUBTERRÂNEA DA UNIDADE DE CALCINAÇÃO DA CALMIT INDUSTRIAL LTDA

INFRAESTRUTURA DE PONTES FUNDAÇÕES PROFUNDAS

UTILIZAÇÃO DE GEOTÊXTIL BIDIM EM SISTEMA DE DRENAGEM SUBSUPERFICIAL NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS AGRÍCOLAS CASTRO PR

Estabilização de taludes através de estacas anti-deslizantes

SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS. Ações estruturais e não-estruturais para prevenção de acidentes e controle de risco

(OHPHQWRV'UHQDQWHVHP6RORV

1. Dados e-bidim #047

UTILIZAÇÃO DE GEOTÊXTIL BIDIM PARA REFORÇO E DRENAGEM DE ATERRO SOBRE SOLO MOLE RODOVIA DO SOL ES

Muro em solo reforçado com geogrelhas e blocos segmentais um caso de obra com altura de 13,50 metros

PROGRAMA LAGOAS DO NORTE AVALIAÇÃO DO PROJETO GEOTÉCNICO BOARD DE 2006

MUROS DE CONTENÇÃO EM SOLO REFORÇADO EM ESTRUTURAS DE BRITAGEM EM MINERADORAS CASOS DE OBRAS

COMUNIDADE SÃO JOSÉ. Abril/ /08/2016 NITERÓI - RJ

Recuperação de talude erodido com aplicação de geomantas em Além Paraíba MG

MUROS DE ARRIMO. Tipos Drenagem Estabilidade Dimensionamento

Introdução à Engenharia Geotécnica

CORREÇÃO DE TRINCAS TRANSVERSAIS NA BARRAGEM PIAUS. Coordenador MSc EngeSoft Ltda

UTILIZAÇÃO DE GEOTÊXTIL BIDIM EM CANAL DE DRENAGEM DA FORD CAMAÇARI BA

6 Análise Método Clássico

Obras Geotécnicas TC 066

Aula 1 Taludes e Movimentos de Massa. CIV 247 OBRAS DE TERRA Prof. Romero César Gomes

Variáveis Consideradas no Programa Experimental

Muro em Solo Reforçado com Geogrelhas e Blocos Segmentais Um Caso de Obra com Altura de 13,50 metros

3 Análises de casos reais de muros de solo reforçados com geossintéticos

Análise do comportamento de estruturas de contenção reforçadas por geogrelha e blocos articulados de concreto

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO MECÂNICO DE ATERRO REFORÇADO EM SOLO MOLE: ESTUDO DE CASO

Análise de uma Estrutura de Solo Pregado a Partir de Protótipo Construído em Laboratório

Dique Reforçado com Geogrelha de PVA na Ampliação de Área de Deposição de Rejeitos Quimicamente Agressivos

APLICAÇÃO DO GEOTÊXTIL BIDIM EM ATERRO SOBRE SOLO MOLE NA DANA PRODUTOS MODULARES FÁBRICA DE CHASSIS - PROJETO DAKOTA CAMPO LARGO PR

Utilização de Colunas de Brita Envelopadas Com Geotêxtil Estudo de Caso

Obras Geotécnicas TC 066

Compactação Exercícios

Departamento de Engenharia Civil UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO. ESTABILIDADE DE TALUDES E ENCOSTAS Aula 4. Prof: Leonardo Guimarães

Caderno de questões. Processo seletivo de ingresso para o 1º. Semestre de 2018 CONHECIMENTOS ESPECIFICOS GEOTECNIA Mestrado e Doutorado

7. Resultados e Análises: Ensaios de Rampa 7.1. Considerações Iniciais

UTILIZAÇÃO DE GEOWEB E GEOTÊXTIL BIDIM EM REVESTIMENTO DE DESCIDAS D ÁGUAS EM ATERRO SANITÁRIO ESTRE AMBIENTAL S/A, PAULÍNIA SP

MUROS DE ARRIMO. Tipos Drenagem Estabilidade Dimensionamento

MUNICÍPIO DO FUNCHAL CONCURSO PÚBLICO

Antigo Empreendimento Imobiliário em Camboinhas, Niterói (RJ)

IMPERMEABILIZAÇÃO DE BASE E TALUDES DE ATERRO INDUSTRIAL COM GEOMEMBRANA DE PEAD NEOPLASTIC MAUÁ - SP

8. Resultados e Análises: Ensaios de Cisalhamento Direto Convencional

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS DE SINOP FACULDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGIAS CURSO DE ENGENHARIA CIVIL GEOTECNIA III

Ângulo da bancada. Ângulo inter-rampa. Largura da. Ângulo global do talude

MUROS DE ARRIMO. Tipos Drenagem Estabilidade Dimensionamento

APLICAÇÃO DO GEOTÊXTIL BIDIM COMO CAMADA DE PROTEÇÃO DE GEOMEMBRANA EM ATERRO SANITÁRIO PORTO ALEGRE

UTILIZAÇÃO DE GEOWEB EM REVESTIMENTO DE BACIA DE DISSIPAÇÃO LUANDA - ANGOLA

UTILIZAÇÃO DE GEOTÊXTIL BIDIM COMO ELEMENTO DE REFORÇO EM MURO DE CONTENÇÃO VERDE CACHAGUA V REGIÓN - CHILE

Estabilidade de Taludes

APLICAÇÃO DO GEOTÊXTIL BIDIM EM COLCHÃO DRENANTE SOBRE O ATERRO NA DUPLICAÇÃO DA RODOVIA FERNÃO DIAS BR-381

MOVIMENTOS DE MASSA. (Bacia do Quitite, Jacarepaguá- RJ, 02/1996)

Obras Geotécnicas TC 066

Especificações Técnicas Geogrelha. Principais Aplicações

UTILIZAÇÃO DE GEOTÊXTIL BIDIM EM MURO DE SOLO REFORÇADO NO PARQUE INDUSTRIAL ANHANGUERA OSASCO SP

BR Rodovia do Aço - Solo grampeado com Geossintéticos Reforçado

Obras Geotécnicas TC 066

Geossinteticos. Paulo Henrique Simon Ikeziri

EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Obras Geotécnicas TC 066

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE SANTA CATARINA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS DE SINOP FACULDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGIAS CURSO DE ENGENHARIA CIVIL GEOTECNIA I

Geossintéticos Normas Vigentes

RECUPERAÇÃO E ESTABILIZAÇÃO DE TALUDE NA UHE DE FUNIL

Aplicação de Geossintéticos em Ferrovia. Prof. Dr. Gilberto Fernandes

Aterros Sanitários 2

Avaliação do comportamento de estradas não pavimentadas: influência de propriedades mecânicas e físicas de geogrelhas.

UTILIZAÇÃO DE GEOTÊXTIL BIDIM COMO FILTRO EM GABIÃO COLCHÃO CALHA DO TIETÊ SP

UTILIZAÇÃO DE GEOWEB PARA REVESTIMENTO DE CANAL DO SESC BARRA DA TIJUCA RJ

ESTRUTURA DE CONTEÇÃO EM SOLO REFORÇADO COM GEOTÊXTIL BIDIM NA DUPLICAÇÃO DA RODOVIA BA-099

Ensaios de Rampa para a Obtenção de Parâmetros de Interface Solo-Geossintético.

ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS MOLES. Ação contínua de forças dinâmicas provocadas ou não pelo homem

Um breve histórico sobre contenções de solos reforçados nos últimos dez anos na cidade de Salvador

COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO EXERCÍCIOS PROPOSTOS

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

Projeto de Aterros de Resíduos

RELATÓRIO DE ESTÁGIO INSTITUTO TECNOLÓGICO DE AERONÁUTICA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL-AERONÁUTICA. Huesker Ltda. São Paulo SP, 20 de março de 2014

PROCEDIMENTOS DE INSTALAÇÃO DO GCL FORTLINER

Obras Geotécnicas TC 066

Transcrição:

Estabilização de encosta com talude reforçado de 60 m de altura em Lona-Lases, Itália Emília Mendonça Andrade Huesker Ltda., São José dos Campos, Brasil, emilia@huesker.com.br Pierpaolo Fantini Huesker Trieste, Italy, p.fantini@huesker.com.it RESUMO: O Monte Gorsa, localizado em Slavinac (Trento-Itália), foi acometido por uma grande ruptura em uma área de mineração sobre a estrada S.P.71 e o lago Lases, oferecendo sérios riscos às áreas próximas e seus habitantes. É feita referência, particularmente, a uma encosta com altura de 60m reforçada com geogrelhas em poliéster de alto módulo instaladas na base do talude, de forma a restaurar as condições de segurança pré-existentes à exploração mineral. Mais de 3,5 km de sistema de drenagem foram instalados, além de um sistema de monitoramento completo com uma rede de inclinômetros, piezômetros e medidores magnéticos de recalque. O conceito de se construir um talude reforçado com funções múltiplas resultou em um projeto extremamente eficiente, assim como a possibilidade de se ter uma face vegetada reduziu o impacto visual da estrutura localizada em uma área turística. PALAVRAS-CHAVE: reforço de taludes, geogrelhas, estabilização de deslizamentos de encostas 1 INTRODUÇÃO A região montanhosa próxima a Trento é historicamente marcada pela presença de atividades de pedreiras para a extração de pórfiro, um tipo de rocha utilizado nas atividades de construção (pavimentação, revestimento de edifícios, etc.). Devido a esta atividade, O Monte Gorsa, em sua face localizada sobre o Lago Lases, em Slavinac (Trento, Itália), foi acometido por um deslizamento sobre a área do lago e da rodovia S.P. Fersina-Avisio, oferecendo sérios riscos às áreas próximas e a seus habitantes. Após um episódio de movimentos de terra no local, no ano 2000, foi solicitada uma consultoria técnica pelo Departamento de Prevenção de Desastres da Província de Trento ao Prof G. Barla (Universidade Politécnica de Torino) e Prof A. Cancelli (Universidade de Milão), para estudo do processo de deslizamento a fim de determinar as diretrizes de um projeto de recuperação da área. Além disso, foi solicitada uma análise de possíveis cenários decorrentes da aceleração do processo de deslizamento, com particular referência à avaliação do efeito de onda produzida pela queda de porções de rocha sobre o lago. 2 CONTEXTO HISTÓRICO Figura 1. Área da antiga pedreira, próxima ao Lago Lases e da rodovia Fersina-Avisio. Os primeiros sinais de instabilidade foram observados durante o verão de 1976, quando as atividades da pedreira já haviam iniciado. Os deslizamentos foram atribuídos às seguintes condições: - Inclinação acentuada do talude (cerca de 80%), condição de fraturamento da subcamada e presença de uma camada espessa de solo 372

desagregado (1,0 5,0m). - Precipitação, escavações ao pé do talude e estresses ocasionados pela queda de rochas causada pelas atividades da pedreira. Novos deslizamentos foram notados durante os anos seguintes, e as causas foram atribuídas às atividades de extração, a qual acontecia sempre a partir da parte inferior da pedreira. Os primeiros monitoramentos realizados por meio de extensômetros aconteceram em 1996, e, durante 3 meses, foram registrados deslocamentos de 10,0 a 20,0 cm, principalmente no período de inverno, pela ocorrência frequente de chuvas. A caracterização geotécnica da área de deslizamento foi realizada indireta (investigação de atividade sísmica) e diretamente (perfuração mecânica para inserção de piezômetros e inclinômetros), por meio de dispositivos computadorizados, com registros automáticos. As análises de estabilidade do talude pelo método de equilíbrio limite confirmaram a importância dos padrões de poropressão nas condições de equilíbrio do talude. Para prevenir a infiltração excessiva de água no corpo da zona de deslizamento, foi instalado um completo sistema de drenagem em toda a área, com trincheiras drenantes e impermeabilização das rupturas recentes com geomembrana de PEAD. A presença de uma camada de solo de 1,50m de espessura constituída por elementos cataclásticos de pórfiro com partículas de areia fina e argila sobre camada de 2,0 a 3,0m de rochas fraturadas, além de resultados de novas sondagens, indicam claramente uma série de fraturas com grande profundidade. A profundidade do plano de deslizamento foi avaliada entre 19,0 e 15,0m. Entretanto, a causa principal da instabilidade da área foi atribuída à descontinuidade do pórfiro sobre a área fraturada, causada pelas atividades de escavação da pedreira. Figura 2. Seção do talude estudado, com indicação das falhas e planos de deslizamento. 3 SOLUÇÃO A estabilidade global do talude foi verificada pelo método de Janbu, com uso do software SLOPE/W, considerando mecanismo de ruptura translacional com plano principal de rompimento dentro da zona cataclástica. Para a definição da solução a ser adotada, três condições-limite foram examinadas, a fim de satisfazer um fator de segurança requerido FS 1,3, de acordo com as normas italianas: a) Situação atual: Análise para determinação de ângulos de atrito relativos do solo ( = 35 ) com poropressão variando de 0 a 0,10, o que resulta num fator de segurança próximo a 1, justificando os deslizamentos. Outros parâmetros considerados foram peso específico = 25kN/m³ e coesão c = 0. b) Preenchimento da porção inferior do talude sem a remoção do solo da parte superior, resultando fator de segurança FS 1,2. c) Preenchimento da porção inferior do talude com a remoção do solo da parte superior, resultando fator de segurança FS 1,3. Desta forma, apenas a terceira condição é aceitável em termos de estabilidade global, e foi adotada como a solução a ser empregada. Com base na análise apresentada e na investigação geotécnica previamente realizada entre 1999 e 2003, os consultores indicaram uma série de premissas a serem consideradas para o projeto de estabilização do talude: - recuperação das condições de contenção ao pé do talude para reestabelecer o estado de tensões existente antes das atividades de exploração do pórfiro. - instalação de um sistema de drenagem interna 373

e no entorno da área, visando a prevenção do aumento da poropressão ao longo do plano de deslizamento. De acordo com estas recomendações, o projeto executivo foi concebido em 2002, constituído das seguintes etapas: (1) Reconstrução morfológica por remoção do solo da parte superior e transporte para a parte inferior (Figura 3); (2) Execução de um talude íngreme reforçado com geogrelhas a partir da base do talude para permitir uma inclinação de 60. A altura da estrutura de 60m é dividida em taludes de 5m de altura e comprimento total de talude reforçado de 100 m; (3) Execução de uma trincheira drenante para coletar toda a água de superfície e instalação de 48 tubos horizontais para microdrenagem. 4 A ESTRUTURA EM SOLO REFORÇADO O talude reforçado foi construído com dois tipos de geogrelhas de reforço, ambas de poliéster com revestimento polimérico: - geogrelha para o reforço primário, com resistência nominal à tração de 110 kn/m, comprimentos de ancoragem entre 8,0 e 31,0m e sobreposição de 1,50m, para garantir a estabilidade global e interna do talude. - geogrelha para o reforço secundário, com resistência à tração nominal de 45 kn/m, comprimento de ancoragem de 4,0m e sobreposição de 0,5m, com a função de garantir a estabilidade local da face do talude. Figura 4. Micro-drenos instalados. Figura 3. Áreas de intervenção: remoção do solo e preenchimento. Foram executadas, além das descritas acima, as seguintes ações secundárias: - trabalhos de recuperação para estabelecimento de uma vegetação permanente na área. - construção de uma barreira sobre o talude reforçado para evitar a queda de rochas sobre a rodovia próxima. - sistema de monitoramento automático com 5 inclinômetros, 6 piezômetros, 3 extensômetros, 2 medidores magnéticos de recalque e 25 marcos de monitoramento. Moldes feitos com malha de aço galvanizado (15 x 15 cm, 8mm de diâmetro) foram utilizados para a obtenção de uma face uniforme, com ângulo de 60. Aplicou-se também uma biomanta de juta entre os moldes e a geogrelha, de modo a impedir a erosão da camada de 20cm de solo orgânico aplicado na face para facilitar o crescimento da vegetação. 374

executados no talude. Figura 5. Execução dos moldes metálicos. Como material de preenchimento, foi utilizado exclusivamente o pórfiro obtido da remoção feita na porção superior. Para que fosse realizada uma compactação adequada e evitar danos à geogrelha, foi determinado o tamanho máximo de 10cm para as partículas de pórfiro, sendo este triturado e peneirado para obtenção da granulometria apropriada. Ainda assim, o material apresentou-se demasiadamente afiado, e a adoção de um fator de redução para a resistência da geogrelha devido a danos mecânicos foi necessária. Um teste de danos mecânicos foi realizado em campo, resultando em um fator de redução necessário de 1,14 para geogrelhas de PET. Foi adotado então, para este caso, fmr=1,20. Figura 7. Seção do talude de 60m de altura, com indicação dos reforços empregados. A resistência à tração admissível para cálculos de projeto (Tadm) foi calculada a partir do método de fatores de redução parciais, indicado pelo British Standard BS 8006:1995, por meio da seguinte equação: Onde: fcr: fator de redução por creep; fm: fator de redução por incertezas na produção; fmr: fator de redução por danos mecânicos; fe: fator de redução por danos químicos e ambientais; Resistência admissível em longo prazo para o projeto. Resistência à tração do geossintético. As Geogrelhas de PET têm as características mostradas na Tabela 1. Figura 6. Teste de campo para determinação do fator de redução por danos mecânicos. A figura a seguir ilustra uma seção transversal típica do trecho mais alto, com indicação dos reforços primários e secundários 375

Tabela 1. Características das geogrelhas. Material Fortrac 45 Fortrac 110 Descrição Resistência à tração (longitudinal) Geogrelha de PET com revestimento polimérico 45 kn/m 110 kn/m Alongamento 12,50% 12,50% fcr: fator de redução por creep (120 anos) fm: fator de redução por incertezas na produção (120 anos) fmr: fator de redução por danos mecânicos (pórfiro) fe: fator de redução por danos químicos e ambientais (4<pH<9) Resistência admissível em longo prazo para o projeto (120 anos) 0,6 0,6 1,1 1,1 1,2 1,2 1,03 1,03 19,86 kn/m 48,54 kn/m As características e fatores de redução das geogrelhas foram acreditados em laboratórios certificados e em testes de campo. No mês de janeiro de 2005, as obras se iniciaram com a escavação do antigo material de preenchimento da pedreira, na porção inferior do talude, onde foi executada a primeira camada de geogrelhas do reforço primário, com 8,0m de comprimento de ancoragem. O material da porção superior do talude foi, ao mesmo tempo em que era removido, utilizado para preenchimento da estrutura reforçada da parte inferior. As geogrelhas foram instaladas usando o método wrap-around, com camadas de solo compacatado de 30 cm. Figura 9. Execução de uma camada de solo compactado. De acordo com testes realizados previamente pelas diretrizes da Swiss Standard (SNV 671307), a compactação foi realizada sempre visando atingir um módulo acima de 40N/mm² e densidade maior que 90% do Proctor Modificado, de acordo com a AASHO. Foram escavados, no total, 750.000m³ de solo e aterrados 300.000m³, resultando em 10.000m² de face da estrutura de solo reforçado e 3,5km de micro-drenos horizontais. Foi realizado também um processo de hidrossemeadura na face do solo reforçado, para minimização dos impactos visuais. Para auxiliar no desenvolvimento da vegetação durante o longo período de seca, foi instalado um sistema de irrigação automático. Figura 10. Face do talude, com crescimento da vegetação, durante o verão de 2005. Figura 8. Instalação de geogrelha do reforço primário. 376

5 CONCLUSÕES O projeto apresentado neste trabalho caracteriza-se como um complexo trabalho geotécnico para recuperação de uma área extremamente degradada e de alto risco para a população local e ao meio ambiente. A recuperação e estabilização do talude por meio de uma estrutura de solo reforçado com geogrelhas provou ser a alternativa mais segura do ponto de viste técnico e ambiental. Além disso, a solução também permitiu uma face vegetada, o que foi de grande importância na minimização do impacto visual de tamanha estrutura em uma área turística. REFERÊNCIAS BBA British Board of Agreement. Roads and Bridges Certificate No 01/R125. British Standard BS 8006:1995. Code of practice for Strengthened/reinforced soils and other fills. D.M. LL.PP. 11.03.1988. Technical Regulation on soil investigation and slope stability design and execution. Dalla Torre, A., Benigni, C. & Cesarini Sforza, G., Fantini, P.. Reinforced steep vegetated slope 60 m height for landslide stabilization in Lona-Lases (Trento-Italy). Geosynthetics, J. Kuwano & J. Koseki(eds). 2006 Milpress, Rotterdam, ISBN 905966044. Eurocode EC7 Geotechnical Design General Rules Figura 11. Vista da área recuperada. As obras foram concluídas em setembro de 2005 e o sistema de monitoramento mede continuamente o comportamento da estrutura. Este projeto caracteriza-se como um marco no conceito de se construir um talude reforçado com funções múltiplas contenção, recuperação e estabilização resultou em um projeto extremamente interessante e eficiente, considerando que algumas das ideias expostas podem ser usadas futuramente em casos semelhantes. 377