HORTAS COMUNITÁRIAS E A UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS

Documentos relacionados
INVESTIGAÇÃO DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS PELA POPULAÇÃO QUE HABITA NAS PROXIMIDADES DAS HORTAS COMUNITÁRIAS NA CIDADE DE PALMAS TO.

INVESTIGAÇÃO ETNOBOTÂNICA DAS PLANTAS MEDICINAIS CULTIVADAS NAS HORTAS COMUNITÁRIAS DE PALMAS - TO

PERFIL DE USO DAS PLANTAS MEDICINAIS PELOS USUÁRIOS DE UMA UNIDADE INTEGRADA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA-PB

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELO SERVIÇO DE INFORMAÇÃO EM PLANTAS MEDICINAIS E MEDICAMENTOS FITOTERÁPICOS - SIPLAM

A IMPORTÂNCIA DA LIGA ACADÊMICA PARA A FORMAÇÃO DO NUTRICIONISTA E ENFERMEIRO

LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO E ETNOFARMACOLÓGICO NA ZONA URBANA DO MUNICÍPIO DE QUIRINÓPOLIS GO

Anais do Seminário de Bolsistas de Pós-Graduação da Embrapa Amazônia Ocidental

Uso, formas de uso e indicação de plantas medicinais utilizadas no Assentamento Santo Antônio no município de Cajazeiras PB

AVALIAÇÃO PARASITOLÓGICA DE PLANTAS MEDICINAIS DE HORTAS COMUNITÁRIAS DE PALMAS-TO, BRASIL

de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

Estudo sobre a utilização de plantas medicinais no município de Cabaceiras PB

Saberes populares e uso de plantas medicinais pelos moradores do Bairro Jardim do Éden na cidade de Confresa-MT

O USO DE FITOTERÁPICOS NA ATENÇÃO BÁSICA 1

RELATO DE VIVÊNCIAS EM FITOTERAPIA DE UM GRUPO DE RESIDENTES DE SAÚDE COLETIVA EM UM MUNICÍPIO DE PERNAMBUCO

Indicação do uso de Fitoterápicos na Atenção Básica. Francilene Amaral da Silva Universidade Federal de Sergipe

O ESTUDO DAS PLANTAS MEDICINAIS COMO FERRAMENTA PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONHECIMENTO DE MORADORES DE UMA ZONA URBANA, DE CAMPINA GRANDE-PB

UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS POR MULHERES INTEGRANTES DE UM GRUPO DE IDOSOS NO BAIRRO DO JARDIM QUARENTA EM CAMPINA GRANDE/PB.

CONHECIMENTO POPULAR SOBRE QUINTAIS MEDICINAIS EM COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE QUEIMADAS E MONTADAS DO SEMIÁRIDO PARAIBANO.

UTILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO POPULAR COMO FERRAMENTA PARA A PRODUÇÃO DE FITOTERÁPICOS UMA EXPERIÊNCIA INTEGRADA AO ENSINO DE BIOLOGIA

Projeto Farmácia Natural Tenda da Saúde

USO DE PLANTAS MEDICINAIS NA PREVENÇÃO E NO COMBATE DE DOENÇAS NOS MUNICIPIOS DE CRATO E NOVA OLINDA- CE

Luan Matheus Cassimiro;Romildo Lima Souza; Raphael de Andrade Braga; José Adeildo de Lima Filho

Jaísia Lima de Medeiros (1)

ARAÚJO, Dyego Carlos Souza Anacleto 1 ; CARNEIRO, César Alves 2 ; DUARTE, Maira Ludna 3 ; SILVA, Daiane Farias 4 ; BATISTA, Leônia Maria 5 RESUMO

LEVANTAMENTO DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS NO ENSINO FUNDAMENTAL: POSSIBILIDADES PARA O ENSINO DE ETNOBOTÂNICA

IMPLANTAÇÃO DA FARMÁCIA VIVA EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE.

PLANTAS MEDICINAIS: UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS

Levantamento das Espécies de Plantas Medicinais Utilizadas no Município de Quixadá- Ceará

Diêgo Luan Gomes de Lima (1); José Diego de Melo; Ana Paula Freitas da Silva (4).

EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E ENSINO DE BOTÂNICA ATRAVÉS DE CURSOS SOBRE PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERAPIA

FITOTERAPIA NA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL

PLANTAS MEDICINAIS EM QUINTAIS PRODUTIVOS NO SEMIÁRIDO BAIANO

Diagnóstico do uso de plantas medicinais no Povoado Vila 16 no município de Augustinópolis TO

Chás: natural é atóxico? Palestrante: Liza Ghassan Riachi CICLO DE PALESTRAS ALIMENTAÇÃO E SAÚDE

NOTA TÉCNICA. Uso de plantas medicinais em assentamento no sertão Paraibano

RESGATANDO O CONHECIMENTO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS ENTRE OS ALUNOS DE EJA DO IFRN SANTA CRUZ

O USO DE PLANTAS MEDICINAIS NO CUIDADO EM SAÚDE EM UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

PLANTAS MEDICINAIS: O ENFOQUE POPULAR NO MERCADO PÚBLICO DAS MALVINAS NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE, PARAÍBA

As mulheres e o cuidado: as plantas medicinais na vida rural The womenandthecare: medicinal plants in rural life

Projeto escolar: resgatando saberes populares sobre plantas medicinais em aulas de química

DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DAS HORTAS COMUNITÁRIAS DA CIDADE DE PALMAS- TOCANTINS

PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO BÁSICA REFERENTE AO USO DA FITOTERAPIA

Uso de plantas medicinais: Crendice ou Ciência?

Levantamento das Plantas Medicinais Utilizadas Pela População de São José dos Cordeiros, Paraíba, Brasil

Plantas medicinais em quintais e suas utilidades no Sertão Paraibano. Medicinal plants in yards and its uses in the backlands of Paraiba

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DE ALUNOS DE UM CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA SOBRE O CULTIVO E USO DE PLANTAS MEDICINAIS

Farmácia Viva: Plantas com fins medicinais no município de Seropédica- RJ: Levantamento e utilização

O PLANTIO DE ALGUMAS ESPÉCIES DE PLANTAS MEDICINAIS NA EMEF STÉLIO MACHADO LOUREIRO, BEBEDOURO-SP.

EDUCAÇÃO EM SAÚDE ENTRE ESCOLARES: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

A HORTA DA UATI NA VIDA DOS IDOSOS

CONHECIMENTO E INTERESSE DOS PRESCRITORES DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE, EM RELAÇÃO AO USO DE PLANTAS MEDICINAIS

IMPLANTAÇÃO DE HORTA MEDICINAL NO AMBIENTE ESCOLAR VALORIZANDO O CONHECIMENTO POPULAR E O CIENTÍFICO

Núcleo de Farmácia Viva

HORTA AGROECOLÓGICA EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA: RESGATANDO SABERES, SENTIDOS E COSTUMES DAS PLANTAS MEDICINAIS.

USO DE PLANTAS MEDICINAIS NA PERCEPÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO NAS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE FLORESTA-PE

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS POR IDOSOS DA UNIVERSIDADE ABERTA À MATURIDADE EM LAGOA SECA PB

O uso de plantas medicinais no município de Quixadá-Ceará

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO NA LINHA 188, DA ZONA DA MATA RONDONIENSE

Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável ISSN

Estudo das plantas medicinais, utilizadas pelos pacientes atendidos no programa Estratégia saúde da família em Maringá/PR/Brasil

USO DE PLANTAS MEDICINAIS: CONHECIMENTO PARA PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE RESUMO

005 - IDENTIFICAÇÃO E USO DA ESPINHEIRA-SANTA

CONHECIMENTO POPULAR SOBRE FITOTERÁPICOS EM COMUNIDADE URBANA JOÃO PESSOA, PB, BRASIL

Fitoterápicos no SUS. Arthur Chioro DMP/EPM/Unifesp

OS BENEFÍCOS DA FITOTERAPIA NA SAÚDE DO HOMEM

Cultivo e uso de plantas medicinais pelos moradores de Alto Boa Vista MT

ESTUDO COMPARATIVO SOBRE O CONHECIMENTO DE PLANTAS MEDICINAIS COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO E EJA EM UMA ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE PATOS, PARAÍBA

O Uso de Plantas Medicinais na Comunidade do km 48 no Município de Curuça, Pará.

PERFIL DA POPULAÇÃO IDOSA QUE UTILIZA ERVA MEDICINAL

(1) Pós-Graduação- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão IFMA Campus Caxias.

PROGRAMA DE FITOTERAPICA E PLANTAS MEDICINAIS NO SUS

A IMPORTÂNCIA DA FITOTERAPIA NA SAÚDE DA COMUNIDADE

ESTUDO OBSERVACIONAL DO PERFIL DO USUÁRIO DE PLANTAS MEDICINAIS QUE UTILIZAM CENTROS DE SAÚDE DE CEILÂNDIA DISTRITO FEDERAL.

PLANTAS MEDICINAIS : Propriedades, uso e Cultura Popular.

PLANTAS MEDICINAIS EM COMUNIDADE TRADICIONAL RIBEIRINHA. CUIABÁ MT

NOÇÃO SOBRE FITOTERAPIA DE GRADUANDOS DA ÁREA DA SAÚDE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

Carla Degyane Andrade Nóbrega (1); Lucas Teixeira Dantas (1); Elaine Gonçalves Rech (2)

O USO DE PLANTAS MEDICINAIS NO CONTROLE DE HELMINTÍASES

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA UFSC CAMPUS UNIVERSITÁRIO CURITIBANOS CURSO DE CIÊNCIAS RURAIS MARINA GOETTEN

INDICAÇÕES DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS EM DUAS CIDADES DO SEMIÁRIDO PARAIBANO.

PRINCIPAIS ESPÉCIES MEDICINAIS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DE ENFERMIDADES, PELOS MORADORES DA AGROVILA PARAÍSO DO RIO PRETO, MUNICÍPIO DE VILA RICA MT

CONTRIBUIÇÃO DO SISTEMA AGROFLORESTAL NO CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS¹

PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS POR UMA COMUNIDADE DA ZONA RURAL NA REGIÃO DE MOGI MIRIM-SP

FARMACOTÉCNICA. Glauce Desmarais

Resumos do IX Congresso Brasileiro de Agroecologia Belém/PA a

Levantamento Etnofarmacológico em Comunidades Rurais do Recôncavo da Bahia/BA

ESTUDO DA ETNOBOTÂNICA DAS PLANTAS MEDICINAIS NO ENSINO BÁSICO, NO MUNICÍPIO DE SUMÉ, PARAÍBA, BRASIL

A FITOTERAPIA NO ESTADO DA PARAÍBA UM ESTUDO DE REVISÃO

ESTADO DE SANTA CATARINA SECR. DE DESENV. REGIONAL DE CONCÓRDIA MUNICÍPIO DE PRESIDENTE CASTELLO BRANCO

Estudo sociológico e bibliográfico de plantas medicinais encontradas no município de Lagarto-SE

UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS PARA O TRATAMENTO DE DESCONFORTOS GINECOLÓGICOS EM UMA COMUNIDADE DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Uso e Conservação de Recursos Genéticos de Plantas Medicinais por Comunidades Rurais

Secretaria de Saúde de São Lourenço-MG. Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS) Circuito das Águas. Farmácia Verde.

Plantas Medicinais: Uso e Conhecimento Popular no Município de Poço de José de Moura-PB

Utilização de plantas medicinais por agricultores familiares no assentamento Jundiá de Cima e assentamento Brejo, Zona da Mata Sul PE

USO DE PLANTAS MEDICINAIS POR IDOSOS DO GRUPO DE CONVIVÊNCIA DA UNIVERSIDADE ABERTA A MATURIDADE

LEVANTAMENTO DE PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS POR FAMILIARES E ALUNOS DA E. E. Dr. PAULO ARAÚJO NOVAES NO MUNICÍPIO DE AVARÉ SP

PERFIL DOS PRODUTORES E A FUNÇÃO SOCIOEDUCACIONAL DAS HORTAS COMUNITÁRIAS DE PALMAS, TOCANTINS.

1 Mestranda em Ciência Animal, Universidade Estadual do

Transcrição:

HORTAS COMUNITÁRIAS E A UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS GT25 Interdisciplinaridade em CTS Klismam Marques dos Santos Maria Laura Martins Paulo Vitor de Sousa Silva Lúcia Helena Almeida Gratão Giuliana Paola Hoeppner Rondelli Geshica Soares Souza Guilherme Nobre L. do Nascimento

INTRODUÇÃO O Tocantins e sua capital Palmas, foram criadas em 1989, e atualmente pertence à Amazônia Legal localizado em uma região de transição entre os biomas do cerrado, caatinga e a floresta amazônica (Câmara e Leite, 2005; Nascimento et al., 2009). Região de ampla biodiversidade (Silva et al., 2006) com perspectivas para busca de novas moléculas com interesse farmacológico de origem vegetal. A crescente procura por métodos terapêuticos alternativos, fez com que se desenvolvessem no país projetos de farmácia viva e hortas comunitárias (Monteiro & Monteiro, 2006), bem como a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterapia (Brasil, 2006) que incentivam o uso de plantas medicinais (PM). Por meio do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, e a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, o Ministério da Saúde busca ampliar as alternativas terapêuticas com o objetivo de melhorar a atenção à saúde dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e garantir à população acesso seguro e uso racional de plantas medicinais. Na capital do estado do Tocantins, desde o ano de 1992 o governo municipal criou áreas destinadas a hortas comunitárias em diferentes localidades do município, e que tem como finalidade promover a melhoria na qualidade da alimentação e fornecer fonte de renda extra para a população em vulnerabilidade socioeconômica (Freitas, 2012). Porém além das hortaliças comumente observadas nestas hortas tem-se verificado o cultivo e consumo de plantas medicinais (PM). Portanto o objetivo deste trabalho foi realizar o levantamento da presença de PM nas hortas comunitárias, e o consumo das mesmas pela população que vive em torno das mesmas. MATERIAL E MÉTODOS A cidade de Palmas, no estado do Tocantins, é a capital mais nova do país e que possui atualmente 228.332 habitantes e área total de 2.218,9 km2, com densidade demográfica de 102,90 habitantes por Km 2. Até a data da coleta dos dados deste trabalho a capital somava um total de 17 hortas comunitárias sendo que 15 estavam ativas. Elas estão dispostas nas diferentes regiões da cidade, como o Plano Diretor Norte (5 hortas) e Sul (3 hortas), bairros Aurenys (2 hortas), Taquari (1 horta), Bela Vista (1 horta), Sol Nascente (1 horta) (Figura 1) e Taquaruçu.(2 hortas). 2

FIGURA 1. Distribuição geográfica das hortas comunitárias na cidade de Palmas, nas regiões do Plano Diretor Norte (1) e Sul (2), Aureny IV (3), Aureny III (4), Taquari (5), Bela Vista (6) e Sol Nascente (7) (Gratão et al., 2015). Foram realizadas visitas a todas as hortas e entrevistas com a população adjacente de 8 hortas comunitárias a fim de verificar o uso de plantas medicinais, sua finalidade e características da população. Portanto foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os indivíduos nas hortas, e o roteiro de entrevista compreendeu 3 etapas: 1. questões socioeconômicas como idade, gênero, procedência (rural/urbana), nível de escolaridade, renda familiar; 2. questões referentes as hortas: tipo de adubo utilizado, suporte da prefeitura, uso de agrotóxicos, comercialização dos produtos das hortas; 3. questões sobre as principais PM utilizadas e sua finalidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO O uso de plantas para fins medicinais está intimamente ligado à história humana, por muito tempo este foi o principal meio terapêutico que o homem usufruiu (FRANÇA et al., 2008; VILA VERDE et al., 2003). Entretanto, o surgimento dos medicamentos alopáticos 3

alterou essa perspectiva, fazendo com que este fosse mais procurado e estudado que aquelas, assim o interesse por plantas de uso medicamentoso foi diminuído (VEIGA-JUNIOR, 2008). Atualmente a utilização de plantas medicinais é difundida principalmente entre a população que vive longe dos centros de saúde ou que não possuem recursos para adquirirem os medicamentos convencionais (VEIGA-JUNIOR, 2008). Os que residem em zona urbana ainda retém algum entendimento sobre a terapêutica com plantas, porém esta prática tem-se perdido e vem se tornando gradualmente mais escassa (AMOROZO e GÉLY, 1988; AMOROZO, 2002). O conhecimento popular é uma importante ferramenta para a descoberta de novos fármacos e tem crescido cada vez mais o interesse em se comprovar este saber (FRANÇA et al., 2008). Com o desenvolvimento da tecnologia e ciência um maior número de pesquisas nessa área está sendo realizada, e as propriedades terapêuticas das plantas medicinais têm sido proporcionalmente reafirmadas (ARNOUS et al., 2005). O consumo de plantas medicinais é interessante devido a sua eficácia, baixo custo e por ser menos agressivo que os medicamentos alopáticos. Todavia, o uso de plantas para tratamento e prevenção de enfermidades deve ser orientado para que a planta seja aproveitada de uma melhor forma, sem que seus princípios ativos sejam perdidos (ARNOUS et al., 2005; ALBURQUEQUE e HANAZAKI, 2006). Vale ressaltar, que como qualquer medicamento estas possuem efeitos colaterais e tóxicos e devem ser consumidas de forma consciente e moderadas (VEIGA-JUNIOR, 2005). Este estudo foi realizado nas proximidades de oito hortas comunitárias da cidade de Palmas TO, estas foram escolhidas devido ao tamanho, localização e relevância para a comunidade. Foram aplicados 120 questionários, onde 88,3% dos entrevistados afirmaram fazer uso de plantas medicinais e/ou fitoterápicos (Fig.1), destes, 65,3% têm preferência pelo uso da planta in natura, sendo estas preparadas na forma de chá, infusão, sumo, xarope, cocção para banho e uso tópico (Tab.1). 4

Sim Não 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0100,0 Frequência (%) Figura 1. Uso de plantas medicinais. Mais de 75% dos participantes afirmam que o conhecimento adquirido sobre este tratamento vem dos pais ou familiares, ou seja, grande parte destes não possuem um conhecimento substancial sobre o uso de plantas medicinais, ainda 78,3% acreditam que as plantas medicinais não trazem dano algum, outro dado alarmante, pois como qualquer outro medicamento estas possuem efeitos colaterais e podem ser perigosas se não manipuladas e preparadas da maneira correta. Contudo, apenas 2,8% dos participantes afirmam ter recebido alguma orientação profissional sobre o uso destas plantas. O que nos leva a questionar se a falta dessa informação por parte dos profissionais se dá devido ao pouco interesse ou se os mesmos estão despreparados para lidar com este assunto. Frequência (%) Sim Não 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 Figura 2. Acreditam que plantas medicinais são inofensivas 5

Algumas das plantas mais citadas foram: Hortelã (Mentha sp.), Capim Santo (Cymbopogon densiflorus Stapf.), Mastruz (Chenopodium ambrosioides L.), Erva-cidreira (Melissa officinalis) e Algodão (Gossypium herbaceum), apresentadas respectivamente de acordo com o número de citações (Tab.1). Vale ressaltar que foram mencionadas diferentes espécies de hortelã, porém estas foram agrupadas, já que este trabalho não fez o uso de exsicata. É importante destacar que menos de 30% dos entrevistados utilizam as hortas comunitárias para aquisição de plantas medicinais, dessa forma, observamos que para esse fim o retorno destes espaços são ainda muito pequenos para a sociedade. Tabela 1: Principais espécies de interesse medicinal da população que vive em torno das hortas comunitárias. Nome popular Hortelã Nome científico Mentha piperita L. Família Lamiaceae Indicação terapêutica Antiinflamatório, descongesti onante, antigripal e antipirético, apontado também para o tratamento de cólicas infantis. Partes utilizadas Folha, raiz e caule. Preparo Chá, sumo, suco, xarope e infusão. Capim santo Cymbopogo n densiflorus Stapf. Poaceae Antihipertensivo, calmante e antitérmico. Folha Chá, sumo e infusão. Mastruz Chenopodi um ambrosioid es L. Chenopodia ceae Antiinflamatório, antigripal, antiácido, cicatrizante, antivermífu go, antibiótico, indicado ainda para o tratamento Folha, raiz e caule. Chá, sumo, xarope e garrafada. 6

de anemias e traumas. Erva cidreira Melissa officinalis Lamiaceae Descongesti onante, antigripal, antipirético, antihipertensivo e calmante. Folha Chá, sumo e infusão. Algodão Gossypium herbaceum Malvaceae Antiinflamatório, cicatrizante, antibiótico, antisséptica e recomendad o também nos casos de gastrite, pósoperatório e traumas. Folha Sumo, chá, xarope e garrafada. Nome popular Nome científico Família Indicação terapêutica Partes utilizadas Preparo Malva do Reino Malva silvestris L. Malvaceae Antiinflamatório, descongesti onante, calmante, broncodilat ador, antitérmico, indicado também nos casos de má digestão, gastrite. Folha, raiz e caule. Chá, sumo, xarope, infusão e garrafada. Boldo Peumus boldus Monimiace ae Indicado para gastrite, disfunção hepática e má digestão. Folha Chá e sumo Alfavaca Ocimum Lamiaceae Descongesti Folha, caule Chá, cocção 7

basilicum L. onante recomendad o para os casos de gripe, sinusite, dor de cabeça, tosse e pneumonia. e flores. para banho e xarope Vick Mentha arvensis Lamiaceae Antigripal, descongesti onante, calmante e antipirético. Folha e Caule. Chá, xarope e infusão Durante as visitas as hortas foram verificadas que em todas havia a presença e comercio de plantas medicinas, incluindo a venda para gestantes e mães com crianças de colo a procura do uso destas PM. Logo é necessário a realização futura de trabalhos de orientação com esta população para que melhor utilizem tal forma de terapia, sem representar risco para a saúde. Portanto podemos concluir que apesar de em todas as hortas haver o plantio de PM, da maior parcela da população utilizar esta forma de terapia, as pessoas que vivem no entorno das hortas não têm utilizado as mesmas como local de consumo das mesmas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, U. P.; HANAZAKI, N. As pesquisas etnodirigidas na descoberta de novos fármacos de interesse médico e farmacêutico: fragilidades e perspectivas. Rev. Bras. Farmacogn. n.16, Supl, p. 678-689, 2006. AMOROZO, M. C. M. e GÉLY, A. L. Uso de plantas medicinais por caboclos do Baixo Amazonas. Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi, Série Botânica. v. 4, n.1, p.47-131, 1988. 8

AMOROZO, M. C. M. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antonio do Leverger, MT, Brasil. Acta Botanica Brasilica. v.16, n.2, p.189-203, 2002. ARNOUS, A. H.; SANTOS, A. S.; BEINNER, R. P. C. Plantas medicinais de uso caseiroconhecimento popular e interesse por cultivo comunitário. Revista espaço para a saúde, v. 6, n. 2, p. 1-6, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 971, de 3 de maio de 2006. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da União, 2006. CÂMARA, P. E. A. S.; LEITE, R. N. Bryophytes from Jalapão, state of Tocantins, northern Brazil. Tropical Bryology. v. 26, p. 23-29, 2005. FRANÇA, I. S. X.; SOUZA, J. A.; BAPTISTA, R. S.; BRITTO, V. R. S. Medicina popular: benefícios e malefícios das plantas medicinais. Revista Brasileira de Enfermagem. v.61, n.2, p.201-208, 2008. FREITAS, I. Prefeitura de Palmas. Prefeitura inaugura horta comunitária do setor Maria Rosa. 2012. Disponível em: <http://portal.palmas.to.gov.br/detalhar/prefeiturainaugura-horta-comunitaria-do-setor-mariarosa-8030/>. Acessoem 04 Mai. 2014. GRATÃO, L. H. A.; RONDELLI, G. P. H.; SILVA, P. V. S.; SOUZA, G. S.; SCHOTT, E.; MOREIRA, R. A. M.; NASCIMENTO, G. N. L. Análise situacional das hortas comunitárias do município de Palmas, Tocantins, Brasil: uma visão etnofarmacológica. Rev. Cereus. v. 7, n. 2, 2015. 9

MONTEIRO, J. P. R.; MONTEIRO, M. S. L. Hortas comunitárias de Teresina: agricultura urbana e perspectiva de desenvolvimento local. Revista Iberoamericana de Economía Ecológica. v. 5, p. 47-60, 2006. NASCIMENTO, A. R. T.; SANTOS, A. A; MARTINS, R.C.; DIAS, T. A. B. Comunidade de Palmeiras no território indígena Krahò, Tocantins, Brasil: biodiversidade e aspectos etnobotânicos. Interciência. v. 39, n. 3, p. 182-188, 2009. SILVA, J. F.; FARIÑAS, M. R.; FELFILI, J. M.; KLINK, C. A. Spatial heterogeneity, land use and conservation in the Cerrado region of Brazil. J. Biogeogr. v. 33, p. 536-548, 2006. VEIGA-JUNIOR, V. F.; PINTO, A. C.; MACIEL, M A. M. Plantas medicinais: cura segura. Química nova, v. 28, n. 3, p. 519-528, 2005. VEIGA-JUNIOR, V. F. Estudo do consumo de plantas medicinais na Região Centro-Norte do Estado do Rio de Janeiro: aceitação pelos profissionais de saúde e modo de uso pela população. Rev bras farmacogn, v. 18, n. 2, p. 308-13, 2008. VILA VERDE, G. M.; PAULA, J. R.; CANEIRO, D. M. Levantamento etnobotânico das plantas medicinais do cerrado utilizadas pela população de Mossâmedes (GO). Revista Brasileira de Farmacognosia. v. 13, supl., p. 64-66, 2003. 10