COMISSÃO EUROPEIA Bruxelas, 21.3.2018 C(2018) 1650 final RECOMENDAÇÃO DA COMISSÃO de 21.3.2018 relativa à tributação das sociedades com uma presença digital significativa PT PT
RECOMENDAÇÃO DA COMISSÃO de 21.3.2018 relativa à tributação das sociedades com uma presença digital significativa A COMISSÃO EUROPEIA, Tendo em conta o Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, nomeadamente o artigo 292.º, Considerando o seguinte: (1) Segundo a Comunicação da Comissão sobre «Um sistema fiscal equitativo e eficaz na União Europeia para o Mercado Único Digital» 1, adotada em 21 de setembro de 2017, são necessárias novas regras internacionais específicas para enfrentar os desafios suscitados pela economia digital, tendo em vista determinar o local onde é criado o valor das empresas digitais e o modo como deve ser imputado para efeitos fiscais. Para promover as abordagens consideradas no âmbito do Relatório da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económicos (OCDE) / G20 «Responder aos desafios fiscais da economia digital», Ação 1 do Projeto relativo à erosão da base tributável e à transferência de lucros 2 (BEPS-Base Erosion and Profit Shifting), publicado em outubro de 2015, e que foram examinadas de forma mais aprofundada no Relatório intercalar da OCDE «Tax Challenges Arising from Digitalisation (Desafios da digitalização) - Interim Report 2018» 3, é necessária uma reforma das regras fiscais internacionais relativas ao conceito de estabelecimento estável, aos preços de transferência e à imputação dos lucros aplicáveis às atividades relacionadas com o fornecimento de serviços digitais. (2) Nas suas conclusões de 19 de outubro de 2017, o Conselho Europeu sublinhou a necessidade de um sistema de tributação eficaz e justo adequado à era digital e afirmou aguardar com expectativa propostas adequadas da Comissão até ao início de 2018. Nas suas conclusões de 5 de dezembro de 2017, o Conselho ECOFIN sublinhou que uma definição de estabelecimento estável aceite a nível mundial e as regras correspondentes relativas aos preços de transferência e à imputação de lucros também devem continuar a ser fundamentais para enfrentar os desafios da tributação dos lucros da economia digital e incentivou uma colaboração estreita entre a União, a OCDE e outros parceiros internacionais para dar resposta aos desafios da tributação dos lucros da economia digital. (3) Nessas mesmas conclusões, o Conselho ECOFIN instou ainda a OCDE a encontrar soluções adequadas para melhorar a rede global de convenções para evitar a dupla tributação e modificar o seu Modelo de Convenção Fiscal e os respetivos comentários, bem como as suas Linhas Diretrizes relativas ao Custo de Transferência e as suas 1 2 3 COM(2017) 547 final. OCDE (2015), Addressing the Tax Challenges of the Digital Economy, Action 1-2015 Final Report, OECD/G20 Base Erosion and Profit Shifting Project, Publicações OCDE, Paris. http://dx.doi.org/10.1787/9789264241046-en OCDE (2018), Tax Challenges Arising from Digitalisation Interim Report 2018: Inclusive Framework on BEPS, OECD/G20 Base Erosion and Profit Shifting Project, Publicações OCDE, Paris. http://dx.doi.org/10.1787/9789264293083-en PT 1 PT
orientações sobre a imputação de lucros aos estabelecimentos estáveis, de modo a enfrentar estes desafios mundiais. (4) O conceito de estabelecimento estável, conforme estabelecido atualmente no artigo 5.º do Modelo de Convenção Fiscal da OCDE, deve ser revisto, a fim de ter em conta critérios como as receitas e outros critérios baseados nos utilizadores para determinar a «presença digital significativa» de uma empresa. As regras relativas à imputação de lucros atualmente constantes dos artigos 7.º e 9.º do Modelo de Convenção Fiscal da OCDE e os Princípios da OCDE em matéria de preços de transferência devem ser revistos para ter em conta, nomeadamente, a contribuição dos utilizadores e dos dados para a criação de valor. O trabalho realizado a nível internacional deverá incluir uma análise mais aprofundada da utilização do método do fracionamento do lucro, a fim de assegurar uma imputação equitativa dos lucros à presença digital significativa ou com ela relacionados. (5) As convenções em matéria de dupla tributação têm um papel importante de incentivo da eficiência do comércio transfronteiras, melhorando a segurança dos contribuintes no que respeita às suas transações internacionais. Ao celebrar uma convenção em matéria de dupla tributação, os Estados contratantes acordam em repartir os direitos de tributação entre si, com vista a eliminar a dupla tributação e, desse modo, promover a atividade económica e o crescimento. Devem, por conseguinte, ser promovidas as necessárias revisões e aditamentos às convenções em matéria de dupla tributação assinadas pelos Estados-Membros com os países terceiros seus parceiros, a fim de assegurar a coerência entre o Mercado Único Digital e a economia mundial. (6) Os Estados-Membros são convidados a utilizar como fonte de ilustração ou de interpretação com vista à alteração das suas convenções em matéria de dupla tributação com jurisdições fora da União as disposições da proposta de Diretiva do Conselho que estabelece regras relativas à tributação das sociedades com uma presença digital significativa [(COM(2018) 147 final]. ADOTOU A PRESENTE RECOMENDAÇÃO: 1. Considerações gerais A presente recomendação apresenta uma proposta de adaptações das convenções em matéria de dupla tributação, celebradas entre Estados-Membros e jurisdições fora da União, no sentido de, em primeiro lugar, alargar o conceito de estabelecimento estável, a fim de incluir uma presença digital significativa através da qual a atividade de uma empresa seja total ou parcialmente exercida noutra jurisdição, e, em segundo lugar, incluir regras de imputação de lucros a uma presença digital significativa ou com ela relacionados. 2. Recomendação Recomenda-se aos Estados-Membros que negoceiem as necessárias adaptações às suas convenções em matéria de dupla tributação celebradas com jurisdições fora da União a fim de pôr em prática os seguintes elementos: a) Uma definição de uma presença digital significativa, do seguinte modo: «1. Para efeitos da presente Convenção, a expressão «estabelecimento estável» deve também incluir uma «presença digital significativa» através da qual a atividade de uma empresa seja total ou parcialmente exercida. 2. Considera-se que existe uma «presença digital significativa» numa jurisdição num período de tributação se a atividade exercida através de uma empresa consistir, total ou parcialmente, na prestação de serviços digitais através de uma interface digital e se PT 2 PT
uma ou mais das seguintes condições estiver preenchida no que respeita à prestação dos referidos serviços pela empresa que exerce essa atividade, juntamente com a prestação de quaisquer desses serviços através de uma interface digital por cada uma das empresas associadas dessa empresa numa base agregada: a) A proporção das receitas totais obtidas nesse período de tributação e resultantes da prestação desses serviços digitais a utilizadores situados nessa jurisdição no mesmo período de tributação seja superior a [...] EUR *; b) O número de utilizadores de um ou mais desses serviços digitais que se situem nessa jurisdição nesse período fiscal seja superior a [...] *; c) O número de contratos comerciais de prestação desses serviços digitais que sejam celebrados nesse período fiscal por utilizadores situados nessa jurisdição seja superior a [...] *. * Os limiares para determinar quando uma presença digital significativa constitui um estabelecimento estável devem ser definidos nas convenções de dupla tributação em conformidade com os limiares estabelecidos pelas regras nacionais dos Estados- Membros, tendo em conta a proposta de Diretiva do Conselho que estabelece regras relativas à tributação das sociedades com uma presença digital significativa [(COM(2018) 147 final]. 3. No que diz respeito à utilização de serviços digitais, considera-se que um utilizador está situado numa jurisdição num período de tributação se o utilizador utilizar um dispositivo nessa jurisdição nesse período de tributação para aceder à interface digital através da qual são prestados os serviços digitais. 4. No que diz respeito à celebração de contratos de prestação de serviços digitais: a) Considera-se que um contrato é um contrato comercial se o utilizador celebrar o contrato no exercício da atividade comercial; b) Considera-se que um utilizador está situado numa jurisdição num período de tributação se o utilizador for residente para efeitos de imposto sobre as sociedades nessa jurisdição nesse período de tributação ou se possuir um estabelecimento estável nessa jurisdição nesse período de tributação. 5. A jurisdição em que é utilizado um dispositivo do utilizador deve ser determinada por referência ao endereço do Protocolo Internet (IP) do dispositivo ou, caso seja mais exato, qualquer outro método de geolocalização. 6. A proporção das receitas totais referida no n.º 2, alínea a), será determinada proporcionalmente ao número de vezes que os dispositivos são utilizados nesse período de tributação pelos utilizadores situados em qualquer parte do mundo para aceder à interface digital através da qual são prestados os serviços digitais.» b) Regras de imputação de lucros a uma presença digital significativa ou com ela relacionados, do seguinte modo: «1. Os lucros imputáveis à presença digital significativa ou com ela relacionados devem ser aqueles que a presença digital teria obtido se fosse uma empresa separada e independente a exercer as mesmas atividades ou atividades similares, nas mesmas condições ou em condições semelhantes, em especial nas suas relações com outras partes da empresa, tendo em conta as funções desempenhadas, os ativos utilizados e os riscos assumidos através de uma interface digital. PT 3 PT
2. Para efeitos do n.º 1, a determinação dos lucros imputáveis à presença digital significativa ou com ela relacionados deve basear-se numa análise funcional. A fim de determinar as funções da presença digital significativa, e imputar-lhe a propriedade económica dos ativos e os riscos, devem ter-se em conta as atividades economicamente significativas realizadas por essa presença através de uma interface digital. Para o efeito, as atividades realizadas pela empresa através de uma interface digital relacionadas com dados ou utilizadores devem ser consideradas funções economicamente significativas da presença digital significativa que imputam os riscos e a propriedade económica dos ativos a essa presença. 3. Para determinar o lucro imputável nos termos do n.º 2, devem ter-se em devida conta as atividades economicamente significativas realizadas pela presença digital significativa que sejam relevantes para o desenvolvimento, a melhoria, a manutenção, a proteção e a exploração dos ativos incorpóreos da empresa. 4. As atividades economicamente significativas realizadas pela presença digital significativa através de uma interface digital incluem as seguintes atividades: a) Recolha, armazenamento, processamento, análise, implementação e venda de dados ao nível do utilizador; b) Recolha, armazenamento, processamento e visualização de conteúdos gerados pelos utilizadores; c) Venda de espaços publicitários em linha; d) Disponibilização num mercado digital de conteúdos criados por terceiros; e) Prestação de qualquer serviço digital não enumerado nas alíneas a) a d). 5. Para determinar o lucro imputável nos termos dos n. os 1 a 4, os contribuintes devem utilizar o método do fracionamento do lucro, salvo se o contribuinte provar que, tendo em conta os resultados da análise funcional, é mais adequado um método alternativo baseado em princípios aceites a nível internacional. Os fatores de fracionamento podem incluir as despesas efetuadas para fins de investigação, desenvolvimento e comercialização, bem como o número de utilizadores e os dados recolhidos por jurisdição.» 3. Interação com outros atos da União Recomenda-se que as disposições das convenções em matéria de dupla tributação celebradas entre Estados-Membros e jurisdições fora da União tenham em conta as definições, os limiares e outras condições para uma presença digital significativa, bem como as regras de imputação dos lucros a uma presença digital significativa ou com ela relacionados estabelecidas nas disposições da proposta de Diretiva do Conselho que estabelece regras relativas à tributação das sociedades com uma presença digital significativa [(COM(2018) 147 final], a fim de garantir uma aplicação coerente a nível internacional. 4. Acompanhamento Os Estados-Membros devem informar a Comissão sobre as medidas tomadas para dar cumprimento à presente recomendação, bem como sobre quaisquer alterações relativas a essas medidas. 5. Destinatários PT 4 PT
Os destinatários da presente recomendação são os Estados-Membros. Feito em Bruxelas, em 21.3.2018 Pela Comissão Pierre MOSCOVICI Membro da Comissão PT 5 PT