1 Coríntios 1:4-17 Introdução: Uma das coisas que temos dificuldades de lembrar sobre os outros é a gratidão no momento que alguém nos fere. Lembra aquela pessoa que está chateada com você, está descendo a lenha em você para os outros e você pensa: gente, mas nós já vivemos tanta coisa juntos! É impressionante a nossa capacidade de esquecer os começos ou quem somos de verdade quando estamos imersos em alguma crise. E provavelmente teremos crise de relacionamento quando nos esquecermos do real motivo que nos uniu. Precisamos lembrar que a Igreja é uma congregação de pecadores antes de ser uma congregação de santos. Essa nova realidade em Cristo, de santos, é uma realidade onde somos separados para que Deus nos molde para sua glória. São as duas realidades da santificação: a separação imediata e a transformação contínua. Esse processo de santificação acontece dentro da igreja, por meio dos irmãos, em entrega e amor mútuo, pela ação do Espírito. Então, o chamado para salvação desemboca no chamado para o serviço. Sendo assim, o que nos mantém neste processo em todos os momentos? Paulo irá dizer isso antes de tratar qualquer problema: Parte 1: Olha o que Ele fez com a gente! Sempre dou graças a meu Deus por vocês, por causa da graça que lhes foi dada por ele em Cristo Jesus. Pois nele vocês foram enriquecidos em tudo, em toda palavra e em todo conhecimento, porque o testemunho de Cristo foi confirmado entre vocês, de modo que não lhes falta nenhum dom espiritual, enquanto vocês aguardam que o nosso Senhor Jesus Cristo seja revelado. Ele os manterá firmes até o fim, de modo que vocês serão irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, o qual os chamou à comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor. 1 Coríntios 1:4-9 Esse início da carta nos ensina algo extremamente prático. Quando for tratar de um problema, comece pelas qualidades! Ressalte as coisas boas primeiro! Se você tirar os nove primeiros versículos da carta, certamente, a reação dos leitores pode ser totalmente diferente! Quando fazemos isso, estamos demonstrando que as questões que precisamos resolver não são pessoais, ou seja, não é pela pessoa em si, mas simplesmente
porque se não resolvermos tais questões, não haverá crescimento, amadurecimento da relação. Sendo assim, nunca esqueça de ressaltar os motivos das coisas boas para tratar os coisas ruins. Mas então, Paulo começa trazendo a memória dos irmãos a realidade daquilo que Deus fez em forma de agradecimento. 1. Por causa da graça de Deus, em Jesus, que eles são enriquecidos em tudo. A igreja de Corinto era grande e diversa, composta de pessoas livres, ricas, pobres, escravas e, todas, com passados distintos. Ainda, Corinto era uma igreja com o carisma completo. Não lhes faltava nenhum dom espiritual para que o processo de santificação, operado pelo Espírito, na comunidade fosse pleno. Paulo lembra a eles que isso foi pela GRAÇA. Você já notou que quando os frutos começam a aparecer, muitas vezes, nos sentimos responsáveis únicos pelo nosso sucesso? Paulo, com muita sabedoria, relata as qualidades daquela igreja para lembra-los que elas são dádiva de Deus, devidas apenas à Sua graça e não por merecimento deles! 2. Paulo assegura que assim como Deus os concedeu, Ele os manterá firmes até o fim. Portanto, Paulo está dizendo, aquilo que Deus lhes concedeu tem um proposito maior que os problemas e que Deus irá cuidar deles do início ao fim! 3. Paulo faz uma afirmação para lembra-los o motivo da graça de Deus: a comunhão. Fiel é Deus, ou seja, ele não muda sua promessa. Ele os chamou para a comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor. E no Filho nós temos comunhão uns com os outros. Portanto, Paulo está dizendo que os coríntios são ricos em dons pela graça, em Cristo, para a obra de Deus até o fim, com o propósito da comunhão desde agora e para sempre. É a partir disso que Paulo irá tratar todos os problemas que estão acontecendo. Ele traz a memória aquilo que nunca podemos perder. A realidade da graça e o propósito da comunhão restaurado. Parte 2: Personalidades cismadas Irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo suplico a todos vocês que concordem uns com os outros no que falam, para que não haja divisões entre vocês, e, sim, que todos estejam unidos num só pensamento e num só parecer. Meus irmãos, fui informado por alguns da casa de Cloe de que há divisões entre vocês.
Com isso quero dizer que cada um de vocês afirma: "Eu sou de Paulo"; "eu de Apolo"; "eu de Pedro"; e "eu de Cristo". 1 Coríntios 1:10-12 Paulo começa chamando as pessoas daquilo que a graça fez para a comunhão: irmãos. Lembremos o contexto da igreja: Os valores da ostentação intelectual, material e do status era aquilo que a sociedade de Corinto valorizava. Cada um defendia sua ideia dando nome aos seus filósofos, dando nome as suas posições e etc. Era uma sociedade totalmente valorizada pelo currículo das pessoas e pela sua capacidade de sustentar aquilo diante dos outros. Os coríntios tinham inúmeros dons espirituais, mas não usavam estes dons como pessoas espiritualmente maduras. É válido lembrar que, como eles se reuniam em casas, quase todo o tempo, as divisões ficavam ainda mais acentuadas. O irmão que era escravo não era bemvindo na casa do irmão rico que reunia o grupo que se dizia do partido de Apolo. 1. Paulo está chamando os irmãos para concordarem no discurso para que não haja cismas entre eles, mas que estejam unidos. Não seria somente uma harmonia doutrinária, mas uma harmonia na disposição e esforços para que, a despeito de suas preferências, eles andassem em união. União naquilo que Paulo acabara de ressaltar e que eles esqueceram e, por isso, estavam desse jeito. A questão não são os pensamentos diferentes em questões secundárias, mas em questões primárias. Eles estão dando um parecer diferente para a sociedade sobre quem é o povo de Jesus Cristo. Calvino transcreve esses versos dessa maneira: A razão por que digo que há controvérsias entre vós, é porque cada um de vós se põe a gloriar-se no nome de um homem. Era uma construção de grupos centrados em personalidades que estava tomando um viés separatista, cismático e faccioso. Isso é verdadeiramente o mundo entrando na igreja. A maneira que eles viviam anteriormente estava se tornando o meio para determinar quem era de quem e elevando líderes a personalidades. O que faziam antes, estavam fazendo agora na versão gospel! 2. O culto à personalidade Então ele apresenta as facções: PCC, Comando vermelho... (Brincadeira!) Muitos comentaristas conjecturam sobre as características de cada partido mencionado por Paulo como sendo um culto a celebridade de Apolo, Pedro, Paulo e até de Cristo.
Talvez aqueles que se denominaram de Apolo, eram os intelectuais que estavam colocando a retórica e o conhecimento como elementos necessários para a comunhão. Os de Pedro poderiam muito bem ser aqueles que estavam discutindo sobre a comida consagrada a ídolos, aos ritos e os aspectos judaicos que deveriam, na visão destes, serem preservados. Os de Paulo poderiam ser aqueles que tinham uma ligação afetiva com a história, pois ele foi o plantador da igreja e trazia um conhecimento objetivo do evangelho sem floreios retóricos segundo ele mesmo E, consequentemente, os que se denominavam de Cristo, poderiam ser os radicais que não se colocavam debaixo da liderança e buscavam uma fé mais sobrenatural, mística e autônoma. Isso pode nos ajudar a entender um pouco dos possíveis grupos, mas, como ressalta Calvino, o texto não se prende a isso, porque o objetivo de Paulo é dizer que na Igreja, a autoridade pertence unicamente a Cristo, de modo que todos nós somos dependentes dele, que unicamente ele é chamado Senhor e Mestre entre nós, de modo que o nome de quem quer que seja se exibe como rival de Cristo. Aqui nos deparamos como uma questão muito presente nos nossos dias: o culto à personalidade. Hoje em dia, as pessoas se reúnem muito mais para ouvir quem vai pregar do que se reúnem para ouvir a Palavra de Deus, não importando o pregador. As pessoas escolhem a igreja, não centralidade de Cristo daquela congregação, mais pelo conforto e, também, status do líder. Assim como os Coríntios, somos uma sociedade que valoriza o status e nos prendemos aos vínculos com personalidades eclesiásticas porque nossos parâmetros de sucesso estão equivocados. A fama que um pregador ou pastor recebe, na maioria das vezes, não é construída por ele, mas pelo público, A maneira com que ele responde a isso é que irá determinar a sequência e a construção do seu gueto. Pode não ser uma pessoa em questão, mas uma igreja. Precisamos lembrar que corremos os mesmos riscos. Nos tornamos um partido dentro do movimento de plantação de nossas igrejas. Devemos buscar sempre que nossa comunidade seja aberta, acolhedora e abençoadora. Sendo assim, Paulo vai levantar três perguntas para enfatizar aquilo que de fato é o motivo principal da união dos coríntios e o motivo maior do porquê eles devem lutar para permanecer unidos, pensando a mesma coisa e tendo o mesmo parecer. Parte 3: Jesus é o centro de tudo o que há
Acaso Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vocês? Foram vocês batizados em nome de Paulo? Dou graças a Deus por não ter batizado nenhum de vocês, exceto Crispo e Gaio; de modo que ninguém pode dizer que foi batizado em meu nome. (Batizei também os da casa de Estéfanas; além destes, não me lembro se batizei alguém mais.) Pois Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho, não com palavras de sabedoria humana, para que a cruz de Cristo não seja esvaziada. Cristo, Sabedoria e Poder de Deus 1 Coríntios 1:13-17 Como ressalta David Prior, todos argumentos de Paulo contra a desunião estão centralizados em Jesus Cristo, e é preciso dizer sem concessões que, de um modo geral, as divisões e desuniões surgem, tanto em Corinto como hoje, porque os olhos dos cristãos estão fixados em algum outro ponto que não Jesus Cristo. 1. A integridade de Cristo: Está Cristo dividido? Diante daquilo que recebemos em Cristo, pode Cristo se dividir em várias facções? Podemos aceitar somente parte dos seus ensinos e da sua pessoa? A religião facciosa pergunta o quanto temos de Cristo, mas o propósito da graça para a comunhão é que Cristo tenha cada vez mais de nós. A integridade de Cristo é a certeza de que estamos Nele por inteiro e nos entregamos a Ele completamente dentro do processo de santificação. Nós que estamos despedaçados e somos capazes de despedaçar tudo quando assumimos o papel de protagonistas. Cristo está nos refazendo dia após dia, para sermos mais semelhantes a Ele. A integralidade de Cristo é uma condição que nos devolve o valor da vida coletiva e sem crachás deste mundo. 2. A cruz de Cristo: foi Paulo crucificado em favor de vocês? Essa questão aborda duas realidades necessárias: a lembrança de que não somos nós os responsáveis pela nova realidade e, também, que nos éramos incapacitados para restaurar essa comunhão. Foi Ele que nos tirou das misérias do paganismo, depravação e fobias. A cruz de Cristo é o ponto central da reconciliação e a ceia do Senhor, é justamente um momento pedagógico de Deus para nos lembrar que foi isso que nos uniu e nos manterá unidos. É a partir da cruz que temos comunhão com o Pai e uns com os outros. É na cruz que Cristo nos compra para si, nos separa para si.
Paulo assevera que os coríntios estão reduzindo as personalidades o Senhorio de Cristo. O culto à personalidade, as facções dentro da igreja, ferem o Senhorio de Cristo. Ele é o único Senhor entre nós. Ele é o cabeça que coordena e ordena. 3. O Senhorio de Cristo: foram vocês batizados em nome de Paulo? Nas discussões filosóficas em praça pública, era comum cada um se identificar com um filósofo e defender sua posição. Eles estavam ali em nome de alguém e carregavam o nome de alguém. A questão do batismo passa muito por essa questão de propriedade: em nome de quem ou de quem você está tirando os pensamentos que baseiam a sua prática de vida? Na antiguidade, o nome significava muito mais do que significa para nós. Equivalia a toda personalidade. Ser batizado em nome de alguém, no sentido de estar dentro de, significa conceder-lhe a posse sobre sua própria vida, sujeitar-se à sua autoridade e estar a sua disposição. O texto mostra que a questão do batismo estava se tornando uma questão de ostentação, perdendo o significado e se tornando um rito partidário. Parte final: O evangelho não é para ser ostentado, mas pregado. Pois Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho, não com palavras de sabedoria humana, para que a cruz de Cristo não seja esvaziada. Cristo, Sabedoria e Poder de Deus Na sequência Paulo irá apresentar argumentos reais da comunhão e do chamado de Deus para sua Igreja em Cristo. Ele conclui esse primeiro momento, fazendo a transição para a distinção entre sabedoria humana e sabedoria de Deus, declarando que o chamado de Cristo não é para chamar as pessoas para um mero rito ou dar um certificado, mas para anunciar o evangelho, sem a ostentação retórica valorizado por eles, para que a mensagem continue sendo a mensagem plena em sabedoria e poder de Deus e não o mensageiro. Leon Morris destaca que a fiel pregação da cruz resulta em pararem os homens de pôr a sua confiança em algum expediente humano, fiando-se, em vez disso, na ação de Deus em Cristo. Contar com a retórica levaria os homens a confiarem nos homens a antítese mesma daquilo que a pregação da cruz tenciona efetuar. Temos os mesmos problemas da igreja de Corinto, quando queremos voltar a confiar em nós mesmos e viver a partir dessa sabedoria. O resultado sempre será divisões, facções e idolatria. Precisamos fazer o que importa, importa mais. Consolidar nossas bases em Cristo, não medir esforços e vontade para nos unirmos Nele, servindo aos irmãos e vivendo a verdadeira comunhão.
É por que isso que devemos elevar o ensino no nosso meio, nos voltar para a Palavra e pedir a Deus que o Espirito Santo manifeste em nós os dons para servimos e sermos levados a um relacionamento público e crescente com Jesus Cristo! Perguntas para aplicação no GC O que você tem feito para a união da Igreja? Será que você tem ajudado a criar as facções e divisões dentro da igreja ou você está disposto a fazer a diferença para o propósito da comunhão? Estabeleçam ações práticas no dia a dia que promovam a união e a comunhão e conversem sobre a prática na vida de cada um no próximo GC. Por Luis Felipe (Pipe)