V JORNADAS LUSO-BRASILEIRAS DE PAVIMENTOS: POLÍTICAS E TECNOLOGIAS

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Transcrição:

COMPORTAMENTO EM FADIGA DO CONCRETO GEOPOLIMÉRICO SOB TENSÃO VARIÁVEL ALISSON CLAY RIOS DA SILVA Doutorando MSc. Instituto Militar de Engenharia (IME) RJ - Brasil FELIPE JOSÉ DA SILVA Prof. - Dr Instituto Militar de Engenharia (IME) RJ - Brasil CLELIO THAUMATURGO Prof. - Dr Instituto Militar de Engenharia (IME) RJ - Brasil Resumo Neste trabalho, através de uma dosagem adequada dos componentes que constituem o geopolímero, foi desenvolvido o concreto de cimento geopolimérico (CCG), que teve suas características comparadas com o concreto de cimento Portland (CCP), através da fixação de alguns parâmetros de dosagem, como consumo de aglomerantes, relação água/aglomerante e teor de argamassa. Foram realizados ensaios para avaliar as propriedades mecânicas dos concretos, com ênfase nos ensaios de fadiga. O estudo deste comportamento, foi realizado por meio de ensaios dinâmicos, nos dois tipos de concretos, avaliando os efeitos de diferentes tensões máximas (crescentes e decrescentes). Os resultados de fadiga nas diversas variações realizadas, mostram um melhor desempenho ao comportamento em fadiga do CCG. Sua resistência à fadiga, quanto a aplicação de tensões da ordem de 70%, da resistência estática do concreto, apresentou valores 15% mais elevadas em relação à mesma tensão aplicada no CCP. Já em tensões mais altas, em torno de 80%, esses resultados chegam a valores 96% mais elevados para o CCG. Na análise microestrutural foi observado a melhor aderência matriz/agregado desenvolvida no CCG, compara côa do CCP, provavelmente devido a natureza mais massiva da matriz geopolimérica. Palavra-Chave: Concreto geopolimérico, fadiga. 1

1 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, o avanço na tecnologia do concreto foi voltado principalmente ao desenvolvimento de novos materiais e componentes que resultaram no aumento da resistência e melhoria do desempenho dos concretos de cimento Portland para adequação aos novos requisitos de durabilidade das estruturas de concreto. Neste contexto, surgiram os concretos de alto desempenho (CAD) [7]. No concreto geopolimérico, o geopolímero é utilizado como aglomerante ao invés de cimento Portland. Os Concretos de Cimento Geopolimérico (CCG) apresentam propriedades físicas e mecânicas bem similares àquelas apresentadas pelos CAD Portland. Um estudo sobre o desempenho mecânico do CCG foi feito pela comparação das resistências à compressão de um traço fixado a partir de um estudo estatístico com mais de 200 traços diferentes de Concreto de Cimento Portland (CCP) existentes na literatura [7]. Os resultados de resistência à compressão variaram entre 45 MPa e 60 MPa, bem semelhantes aos resultados encontrados na literatura para CCP S de composição similar. Outro fator considerado foi a excelente trabalhabilidade apresentada pelo CCG, que atingiu um abatimento da ordem de 110 mm com uma relação água/aglomerante igual a 0,384. A durabilidade da matriz cimentícia é outro aspecto muito importante para os CAD. Os agentes agressivos podem exercer ação química ou física que deterioram o cimento Portland. Conforme resultados de Dias [4], os geopolímeros constituem uma nova classe de materiais cimentícios de elevada resistência aos agentes agressivos (sulfatos e ácidos). Um dos maiores desafios enfrentados pela indústria do concreto atualmente é o impacto da produção de cimento ao meio ambiente, dada a necessidade de redução de consumo de energia e de emissão de CO 2. Os cimentos geopoliméricos contribuem para a redução da emissão de CO 2, já que sua produção não implica na calcinação de carbonato de cálcio, nem requer o emprego de altas temperaturas, além de empregar resíduos industriais e agrícolas (6). 1.1 Fadiga 1.1.1 Fadiga no concreto As fissuras por fadiga nos concretos de cimento Portland são de natureza frágil, por apresentar pouca, ou nenhuma, deformação plástica associada à fissuração, ocorrendo a ruptura pela iniciação e propagação de microfissuras, sendo que em geral, a superfície de fratura é perpendicular à direção de tensão aplicada [2]. Um dos maiores problemas encontrados por profissionais no campo da pavimentação está associado à formação de fissuras nas placas de concreto em um determinado período de serviço, pois, tais fissuras são a causa de diversos processos de deterioração em fases posteriores na estrutura do pavimento, caracterizando um estado limite de utilização da estrutura [5]. Segundo [3], nos pavimentos de concreto simples, o principal esforço é a de tração na flexão, sendo a resistência à fadiga sob flexão representada pelo confronto entre as tensões solicitantes e o número de ciclos alcançados. A fadiga devido à aplicação de cargas repetidas, em pavimentos de concreto, é dependente do tipo de carga aplicada, da sua duração, bem como do número de ciclos de aplicações de cargas. As tensões atuantes em um pavimento estão intimamente relacionadas ao tráfego e ao clima a que o pavimento está sujeito. 1.1.2 Hipótese de Palmgren-Miner (Dano contínuo linear) Diversas pesquisas mostram que as propriedades de fadiga do concreto limitam-se à aplicação de cargas a uma tensão constante, entretanto, isto não ocorre no campo. O histórico de tensões irá determinar níveis de carregamento com tensão variada, números de ciclos, seqüências de carregamentos e tempos de relaxação diferentes. Na análise da influência da história de tensões na resistência à fadiga dos materiais, a hipótese clássica de MINER (1945) é amplamente utilizada. PALMGREN em 1924, foi quem primeiro sugeriu um modelo linear de dano por fadiga, no qual é possível considerar o efeito de carregamento, por meio do acúmulo do dano que cada intensidade de tensão provoca 2

no material. MINER em 1945, apresentou uma equação linear de dano por fadiga, hoje conhecida como modelo de PALMGREN-MINER. Este modelo assume que a resistência à fadiga não consumida pela repetição de uma dada carga fica disponível para a repetição de outras cargas, podendo ser determinado por: n' D' = = 1 N' (EQ.1) onde D é uma fração de dano, n é o número de ciclos aplicado num nível determinado de tensão e N é o número de ciclos que causará a ruptura por fadiga no mesmo nível de tensão. 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Concreto De Cimento Geopolimérico (CCG) Para a síntese do geopolímero foram utilizados os seguintes materiais: como fonte de Si e Al, um caulim e como fonte suplementar de SiO 2 e álcalis, silicato de sódio. Como fonte suplementar de álcalis, KOH comercial. A fonte de CaO foi a escória granulada de alto-forno (EGAF). 2.2 Concreto de Cimento Geopolimérico (CCP) O cimento Portland, utilizado como referência de comparação, foi o cimento de alta resistência inicial do tipo CP V - ARI RS, da Holcim. 2.3 Agregados A areia quartzosa foi lavada e seca em estufa, aproveitando-se todo o material passante na peneira de 4,8 mm. O agregado graúdo caracterizado como brita graduação 0 foi identificado como traquito por ensaio petrográfico. O mesmo foi lavado durante o peneiramento para eliminar o material passante na peneira #200. 2.4 Moldagem de corpos-de-prova Todos os corpos-de-prova de (100 x 100 x 400) mm foram moldados em uma única camada e vibrados em mesa vibratória por 15 segundos; posteriormente as amostras foram arrasadas. A figura 1, apresenta a moldagem destes corpos-de-prova. Após a moldagem, os corpos-de-prova foram cobertos por sacos plásticos e mantidos nos moldes por um período de 48 horas. Figura 1: Corpos-de-prova de (100 x 100 x 400) mm em mesa vibratória, (a) antes da vibração, (b) após vibração e rasamento. 3

2.5 Resistência à flexão Os ensaios de resistência à tração na flexão foram determinados segundo a Norma NBR 12142 (1991). A distância entre o apoio extremo do corpo-de-prova de (100 x 100 x 400) mm e sua seção transversal externa, foi tomada proporcionalmente ao corpo-de-prova padrão, resultando em 20 mm, o que definiu a distância entre os apoios de 360 mm (com distâncias de 120 mm entre os terços médios do vão de 400 mm). A figura 2 mostra os pontos de aplicação de carga e pontos de apoio. Já na figura 3 é mostrada a configuração do ensaio. P P 20 mm 120 mm 120 mm 120 mm 20 mm Figura 2: Posição dos apoios e da carga aplicada para os ensaios em corpos-de-prova de 400 mm de comprimento. Figura 3: Tração na flexão estática Corpos-de-prova (100 x 100 x 400) mm, (a) Prensa equipada com LVDT, (b) Ruptura à tração do CP. 2.6 Fadiga Os ensaios de fadiga foram realizados em uma máquina servo-hidráulica da marca MTS (Material Test System) com capacidade máxima de 10.000 kgf e equipado com osciloscópio, existente no Laboratório de Ensaios Mecânicos do IME-SE4, onde todos os ensaios dinâmicos foram realizados. 4

2.6.1 Metodologia dos ensaios de fadiga Nos ensaios de fadiga para ambos os concretos, CCG e CCP, buscou-se determinar o comportamento destes materiais quando submetidos aos seguintes casos: 1. para a freqüência de 10 Hz, foi determinado o número de ciclos (N) necessário para a ruptura da amostra quando submetida a variações na relação entre tensões (RT); 2. para a freqüência de 10 Hz, foi determinado o número de ciclos (N) necessários para a ruptura da amostra quando submetida a variações na relação entre tensões (RT) de uma forma crescente (ensaio à tensão variável); 3. para a freqüência de 10 Hz, foi determinado o número de ciclos (N) necessários para a ruptura da amostra quando submetida a variações na relação entre tensões (RT) de uma forma decrescente (ensaio à tensão variável); Os ensaios dinâmicos foram realizados com a finalidade de determinar a resistência à fadiga dos concretos em estudo. Para tanto, os corpos-de-prova foram submetidos à carregamento cíclico, com freqüência de 10Hz, sendo que o valor de tensão mínimo foi de 7% e o máximo assumindo valores entre 70% e 85% da resistência estática de cada concreto. Cada nível de tensão máxima aplicado foi mantido constante até a ruptura de cada corpo-de-prova. Quanto aos ensaios de fadiga com tensão variável, o modo de carregamento foi realizado da seguinte maneira: (a) variando a tensão de forma crescente; e (b) variando a tensão de forma decrescente. No primeiro caso, foram determinados três níveis de relação entre tensões que variaram de forma crescente, estes níveis de relação entre tensões empregados foram de RT1 = 0,70, RT2 = 0,75 e RT3 = 0,80, sendo que foram aplicados para cada um dos três níveis de tensões, os seguintes números de ciclos: RT1 = 50.000 ciclos, RT2 = 30.000 ciclos e RT3 = livre (até ruptura do corpode-prova). No segundo caso, em que a relação entre tensões variou de maneira decrescente, foram determinados dois níveis de relações entre tensões que foram, RT1 = 0,85 e RT2 = 0,80, sendo aplicado um número de 3.000 ciclos para RT1 e um número de ciclos livre (até a ruptura) para RT2. Estes níveis de variação de tensão máxima foram determinados em função de que seria possível comparar estes resultados com aqueles obtidos para relação entre tensões constante e igual a 0,80. A freqüência adotada nos ensaios de tensão variável foi de 10 Hz para ambos os concretos. O método utilizado nos ensaios foi PCA/66, que leva em consideração a curva tensão e o número de ciclos alcançado. Na figura 4 é apresentada a configuração do ensaio. (a) (b) Figura 4: Ensaio de fadiga: (a) Fadiga do CP, Vista lateral; (b) Ruptura do CP, vista geral. 5

3 RESULTADOS 3.1 Resistência à flexão Os resultados de resistência a flexão média encontrada para o CCP foi de 5,4 MPa e serviu de base para os ensaios de fadiga. No caso do CCG, o resultado médio encontrado foi de 5,9 MPa. Foram analisadas ainda, as deformações sofridas para ambos os concretos quando submetidos à aplicação de carga estática. Os resultados mostraram uma deformação final para o CCG 50% mais elevada que o CCP. Estes valores estão apresentados na figura 5.2.5 a seguir. P(KN) 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 Deformação(mm) Figura 5: Relação entre carga e deformação para os dois concretos 3.2 Fadiga 3.2.1 Ensaios com tensão constante Os resultados mostram que com o aumento da tensão máxima aplicada, menor a resistência à fadiga do material. Em contra partida, para níveis de tensão mais baixos, o número de ciclos suportado aumenta. A figura 6 mostra a curva Relação entre tensões versus Número de ciclos, para os dois concretos. É possível perceber que no caso de relações entre tensões de 0,70, a diferença média do CCG em relação ao CCP, para as mesmas condições, apresentou valores 15% superiores. Para relações entre tensões de 0,85, o CCG exibiu valores 96% mais elevados, quando comparado ao CCP. Isto indica um comportamento favorável sob fadiga do CCG, não só em tensões baixas, como também em tensões mais altas. 6

160000 140000 CCP CCG Número de ciclos 120000 100000 80000 60000 40000 20000 0 0,70 0,75 0,80 0,85 Relação entre tensões Figura 6: Variação do Número de ciclos de fadiga com a Relação entre as tensões aplicadas, para o CCG e CCP. 3.2.2 Ensaios com tensão variável Os resultados encontrados neste item tanto para o CCP, quanto para o CCG, indicam a concordância dos autores com relação aos níveis de aplicação das cargas, quanto a sua condição de tensão aplicada. Indicando também que quando a tensão varia de forma crescente, a hipótese de Palmgren-Miner é válida. Entretanto, quando a tensão é aplicada de forma decrescente, a hipótese para a determinação do dano acumulado pode não ser segura, como mostra a figura 7. Número de ciclos 100000 80000 60000 40000 20000 CCP CCG 1 Tensão constante (RT=0,80) 2 Tensão decrescente (RT=0,85, 0,80) 3 Tensão crescente (RT=0,70, 0,75, 0,80) 0 1 2 3 Condição de tensão aplicada Figura 7: Influência das condições de aplicações de tensão para os dois concretos estudados. 3.3 Análise microestrutural 7

Foram obtidas imagens por elétrons secundários da superfície de fratura dos concretos ensaiados à fadiga, visando observar a morfologia e as características da zona de transição na interface dos agregados com a matriz geopolimérica e com a matriz de cimento Portland. As amostras para a análise em MEV foram retiradas dos corpos-deprova após a ruptura por fadiga, onde a relação entre tensões para este caso foi de 0,80. (a) (b) Figura 8: Micrografias obtidas por MEV de ambos os concretos. (a) Zona de transição no CCP. (b) Interface matriz agregado no CCG. A boa aderência entre a matriz do CCG e a areia pode ser notada na figura 8b, a partir da menor degradação da zona de interface agregado/matriz do material após a aplicação do carregamento cíclico, devido à inexistência de gradientes de concentração de Portlandita nesta zona. Já na figura 8a, é possível observar que a fissura tende a contornar os agregados pela interface matriz agregado, assim como acontece no CCG, porém, no CCP observa-se uma maior degradação na zona de transição devido a mesma ser mais porosa e rica em cristais de Portlandita, o que limita consideravelmente as propriedades mecânicas do concreto. 4 CONCLUSÕES Nos ensaios de flexão é possível notar uma maior deformação sofrida pelo CCG para cargas mais elevadas. Este comportamento pode estar associado à boa aderência entre a matriz geopolimérica com os agregados, além boa resistência a flexão apresentada pela matriz. A resistência à fadiga quanto a variação de tensões em ambos os concretos, foi maior do que quando submetido a resistência à fadiga com tensão constante, somente, quando a tensão variou de baixa para alta (tensão crescente). Para a variação de tensão de um nível mais elevado para um mais reduzido, o número de ciclos obtido foi inferior àquele alcançado com tensão constante. As análises por microscopia eletrônica de varredura mostram que a interface entre os agregados e as fibras, no caso do CCG reforçado por fibras é densa e contínua, assim como a da matriz. A estrutura mais densa e compacta do CCG foi determinante no bom desempenho deste concreto, em relação aos ensaios do CCP. 5 AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a CAPES e ao CNPq pelo suporte financeiro, a Companhia Siderúrgica de Tubarão pela doação da EGAF e ao Laboratório de Materiais de Construção e Solos do IME. 8

6 REFERÊNCIAS 1 - ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 12142 (MB3483) Concreto Determinação da resistência à tração na flexão em corpos-de-prova prismáticos. Rio de Janeiro. Dezembro. 1991. 2 - CALLISTER Jr, W. D. Ciência e engenharia de materiais: Uma introdução. 5 ed. LTC Editora, 2002., 589 p. 3 - CERVO, T. C.; BALBO, J. T.; CURTI, R.; SILVA, C.; Estudo sobre medidas de resistência à tração na flexão de concretos para pavimentos com emprego de amostras reduzidas. IN: Anais do 46º Congresso brasileiro do Concreto IBRACON, Florianópolis, 2004. 4-DIAS, D. P. Cimentos Geopoliméricos: Estudo de Agentes químicos Agressivos, Aderência e Tenacidade à Fratura. Tese de Doutorado em Ciências dos Materiais, Instituto Militar de Engenharia, 2001, 216p. 5 - SILVA, A. C. R. Comportamento do concreto geopolimérico para pavimento sob carregamento cíclico. 2006.. Dissertação (Mestrado em Ciência dos Materiais) Instituto Militar de Engenharia, 2006, 184p. 6 - SILVA, F.J. Reforço e Fratura em Compósitos de Matriz Álcali-ativada. Tese de Doutorado em Ciências dos Materiais Instituto Militar de Engenharia (IME) Rio de Janeiro, 2000, 269p. 7-THOMAZ, E. C. S. Desempenho do concreto Geopolimérico. Dissertação de Mestrado em Ciência dos Materiais Instituto Militar de Engenharia, 2000, 108p. 9