O projeto visa analisar e estabelecer uma comparação entre os intelectuais e colabdores da revista Diretrizes, ao longo do seu período de circulação (1938-1944). Nessa primeira etapa da pesquisa pretende-se estudar o conteúdo das publicações Azevedo Amaral e Samuel Wainer e compara-los, buscando possíveis divergências ideológicas e também semelhanças, tendo como base seus respectivos artigos publicados na revista Diretrizes ao longo do ano de 1938, ano de fundação da revista. Os dois colaboradores foram selecionados para um primeiro estudo pois foram os dois colaboradores de maior destaque no primeiro ano de circulação de Diretrizes e tendo em vista que além de colaboradores do periódico, ambos foram seus proprietários. A Revista surge em 1938 sobre propriedade de Azevedo Amaral, com o nítido intuito de ser um expoente de defesa do regime político vigente no Brasil, o Estado Novo, comandado pelo então presidente Getúlio Vargas. Regime esse do qual Azevedo Amaral não era apenas um meto simpatizante, um simples apoiador, Azevedo Amaral era um dos ideólogos desse regime, um dos responsáveis pela disseminação desse ideal de regime totalitário no país. Azevedo Amaral já era bem reconhecido e com alto prestigio quando surge Diretrizes, há tempos suas obras defendiam um regime mais rígido, com alta dose de nacionalismo no Brasil, muitos dos apoiadores e formadores da política do Estado Novo foram influenciados por Azevedo Amaral, e este quando percebe essas características no regime de Getúlio Vargas, resolve apoiá-lo, através de um veiculo de imprensa aliado a linha de pensamento, de Vargas e conseguinte do Estado Novo. Nesse período de Estado Novo (1937-1945) o Brasil viveu sobre um regime totalitário, com fortes perseguições políticas, alto nível de repressão e censura. A censura direcionada aos órgãos de imprensa eram de responsabilidade de um órgão
criado pelo governo sob a alcunha de Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP); esse órgão tinha como função, fiscalizar tudo que era publicado ou exibido no Brasil: jornais, revistas, livros, programas de rádio, cinema. Caso o que fosse fiscalizado não estivesse de acordo com a linha de pensamento proposta, seria censurada e não seria transmitido a população. O DIP também tinha o direito de poder intervir, alterando alguma reportagem ou noticia, ou até mesmo plantando noticias nos meio de comunicação, obrigando-os a dar uma noticia que não era do seu interesse, de uma maneira parcial e tendenciosa, favorável ao regime. O responsável por essa maquina de repressão cultural se chamava Lourival Fontes, um ideólogo do Estado Novo, totalmente culto e grande defensor do regime. Segundo políticos italianos do período, era o teórico fora da Itália que mais entendia a respeito das raízes e estrutura do fascismo. Após explicitar sobre Azevedo Amaral e sobre o contexto histórico da imprensa brasileira no período, irei expor a respeito de Samuel Wainer. Wainer quando iniciou seus trabalhos em Diretrizes era um jovem jornalista, com pouca visibilidade, uma carreira ainda precoce. Porém já tinha consigo a responsabilidade de ser secretário de Azevedo Amaral. No começo de Diretrizes, Wainer já tem uma posição de destaque dentro da revista, pois escrevia em posições-chaves, em assuntos importantes e de total relevância. Escrevia muito bem, uma leitura fácil e agradável. Seus artigos se centravam em assuntos relacionados a política, sobretudo política exterior. Demonstrava um elevado conhecimento acerca das questões mundiais. A revista surge as vésperas da Segunda Grande Guerra e circula durante a mesma; o mundo se encontrava politicamente agitado,e no Brasil não era diferente. Getúlio permanecia neutro ao grande confronto, eixo contra aliados, ora pendendo a
um lado, ora pendendo ao outro. Apesar de seu regime ter fortes semelhanças junto aos governos autoritários europeus, Getulio não toma partido por nenhum deles. Mas os intelectuais brasileiros, sobretudo os mais ligados ao ramo cultural, defendiam publicamente sua opinião de apoio aos aliados, contra a rigidez ditatorial do nazifascismo. E isso é refletido em Diretrizes nesse primeiro momento de sua circulação. Diretrizes surge tendo Azevedo Amaral como proprietário, em abril de 1938, mas após um curto período de tempo, em um fato ainda obscuro dentro da historiografia, pouco estudado e nada compreendido, Samuel Wainer, então um simples jornalista se torna dono da revista. Há suspeitas, nunca provadas de que fora armada alguma situação pouco honesta para que isso acontecesse, visto que Wainer era secretário de Amaral, e este ultimo sofria de elevada deficiência visual. O fato é que após Azevedo Amaral se desligar de Diretrizes, e fundar uma nova revista, esta intitulada de Novas Diretrizes, Samuel Wainer adota uma linha editorial totalmente voltada a criticar o eixo e os governos totalitários europeus, o que muitas vezes criou incomodo ao governo, já que este tinha muitas semelhanças na linha ideológica com os modelos europeus, e acarretou em interferências do DIP. Esse período chega ao fim em 1942, quando Getulio enfim decidi-se por um dos lados, declarando apoio aos Aliados e declarando que guerra contra o Eixo. O Brasil estava em guerra. Era um prato cheio para a imprensa, sobretudo a Diretrizes, que se serviu desses assuntos para suas matérias, mas agora em uma maneira mais alinhada com Vargas e o Estado Novo, pois se não eram alinhados ideologicamente, estavam ao mesmo lado na guerra, defendiam o mesmo interesse. Retornando a linha de analise, compreensão e comparação entre Azevedo Amaral e Samuel Wainer enquanto ambos trabalharam juntos em Diretrizes. A
principal característica em comum entre ambos era um extremo nacionalismo, um ufanismo muito exacerbado, porém até mesmo nesse nacionalismo nota-se diferenças. Amaral tinha um nacionalismo apaixonado, era nacionalista pois seu modelo de governo ideal visava o nacionalismo, renegava o que vinha de fora e defendia a qualidade do povo brasileiro. Já Samuel Wainer possuía um nacionalismo peculiar, era extremamente ufanista e soa demasiadamente exagerado. A verdade é que Wainer sempre sonhou em ser proprietário de um jornal, não necessariamente de Diretrizes, de modo que naquela época não era permitido no Brasil, estrangeiros serem proprietários de jornal. E Wainer era da região da Bessarábia, atual Romênia. E não obstante era judeu, raça perseguida por Vargas durante o Estado novo. De modo que em minha opinião, usava desse nacionalismo como disfarce para evitar um xenofobismo contra si. Defendendo com tamanha energia o Brasil em seus artigos, defesa da pátria tão proposta e tão alinhada ideologicamente ao Estado Novo, em sua opinião ninguém iria desconfiar de sua origem estrangeira, lhe permitindo assim paz para exercer sua profissão de jornalista e sonhar com uma possível propriedade de um jornal. Tinham como características comuns também as criticas ferrenhas ao Integralismo, comandado por Plínio Salgado sobretudo após esses terem efetuado, uma tentativa de golpe contra Vargas, através de um atentado contra o mesmo. O integralismo era um Movimento de direita, ligado a setores do exercito e a alas mais conservadoras de outros segmentos. Exerceu forte influencia durante a era Vargas, inclusive o apoiando em seus primeiros anos e gozando de prestigio. Tiveram destacada participação contra a Intentona Comunista em 1935, mas descontentes com o rumo tomado pelo Estado Novo, rompem com Vargas e em maio de 1938 fracassam
em sua tentativa de golpe de Estado. Após esse episódio, os integralistas tornaram-se alvo de severas criticas de Amaral e Wainer, eram acusados de conspirar contra a pátria e tentar instaurar no Brasil um regime inspirado nos moldes dos governos ditatoriais europeus. Adotaram sempre postura parecida em relação ao nazi-fascismo. Eram expressamente contra os mesmos. Criticavam o povo europeu por assistirem passivamente e atônitos o que acontecia em seu continente. E Wainer, que era um imigrante, acrescentava a isso a questão racial, visto que esses governos autoritários defendiam uma linha supra nacionalista, com uma forte tendência xenófoba. Os dois colaboradores se valiam de uma linguagem histórica para se referir aos europeus, os chamavam de unos, numa clara alusão aos povos bárbaros, que remete a uma imagem de bagunça e derramamento de sangue, que era o que ocorria na Europa, segundo Amaral e Wainer. A principal diferença entre os dois se dá na questão ideológica, visto que Amaral era um claro defensor de um governo autoritário no Brasil, enquanto Wainer acreditava que o modelo político ideal a ser seguido era o norte-americano, visando a democracia, com alternância de poder e forte desenvolvimento econômico, visando a modernidade e o progresso. Dentro do contexto político mundial e brasileiro, um momento conturbado, aonde surgiam novas correntes de pensamentos, surgiam novos governos, que se valiam da força para garantir sua governabilidade, esses dois intelectuais se valeram de Diretrizes, para expressar suas opiniões, muitas vezes opostas, outras comunitárias, mas ambas extremamente importantes para se entender e compreender melhor a atuação da impressa e como essa se portou perante as imposições de governos diante a
sua liberdade, ou falta de, expressão nessa época. Referências Bibliográficas OLIVEIRA, Lúcia Lippi; VELLOSO, Monica Pimenta; GOMES, Ângela Maria de Castro. Estado Novo: Ideologia e Poder. Zahar Editores, 1982. CAPELATO, Maria Helena. Multidões em Cena: Propaganda Política no Varguismo e no Peronismo. FAPESP, 1998. WAINER, Samuel; NUNES, Augusto. Minha Razão de Viver. Editora Record, 1987. CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. O Anti-Semitismo na Era Vargas: Fantasmas de uma Geração, 1930-1945. Editora Perspectiva, 2001.