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Transcrição:

EDITA S.A. de Xestión do Plan Xacobeo. DIRECÇÃO Y COORDENAÇÃO Departamento de Promoción Turística y Cultural. S.A. de Xestión do Plan Xacobeo. Juan Pensado Barbeira. DISENHO E LAYOUT Equipo Publicidad. FOTOGRAFÍA Arquivo S.A. de Xestión do Plan Xacobeo. TEXTOS Quique Alvarellos. DOCUMENTAÇAO Fe Arca, Coroni Rubio, Pilar Cuiña, Purificación Fariña, Sandra Pazos, Juan Pensado. FONTES DE DOCUMENTAÇÃO Página web de: turismo de Aragón, turismo de Navarra, turismo de La Rioja, turismo de Castilla y León. Eroski Consumer. S.A. de Xestión do Plan Xacobeo. Turespaña y Ayuntamientos del Camino Francés en Galicia. Antón Pombo. DEP. LEGAL: C1926-2012

O CAMINHO DE SANTIAGO BREVE INTRODUÇÃO AO CAMINHO A descoberta do túmulo do apóstolo Santiago o Maior, por volta dos anos 820 e 830, num bosque chamado Libredón e onde hoje se ergue a magna catedral compostelana, constitui um dos acontecimentos mais importantes da Idade Média na Europa. A notícia do aparecimento dos restos de Santiago percorreria velozmente o continente e rapidamente surgiria, de forma espontânea, o fenómeno das peregrinações. O objectivo é prestar culto no seu sepulcro a um dos discípulos predilectos de Jesus, Santiago, primeiro mártir da cristandade, decapitado em Jerusalém no ano 44. Vários documentos datados a partir do século VI situam a peregrinação do Apóstolo na Hispania entre os anos 33 e 42. E para este território o quiseram trazer os seus discípulos após a sua morte. Decidiram enterrá-lo muito perto da magia e do mistério do Finis Terrae, o fim do mundo da sua época. O achado desse sepulcro romano, quase oito séculos depois, marcaria o início de um culto que converteu o Caminho numa verdadeira coluna vertebral da Europa e a cidade de Santiago de Compostela e a sua catedral num dos três grandes centros de peregrinação da cristandade, juntamente com Roma e Jerusalém. Pelo Caminho de Santiago não só transita todos os anos um fluxo de pessoas de diversas nacionalidades que aumenta em Anos Santos quando o dia 25 de Julho coincide com o domingo sendo possível ganhar o Jubileu, uma Indulgência Plenária ou perdão dos pecados, que a Igreja confere, mas também foi uma "auto-estrada do conhecimento": uma instituição difusora dos grandes movimentos culturais e artísticos que surgiram na Europa o românico, por exemplo, um estilo arquitectónico que nasceu no Caminho para Compostela e também foi uma demonstração incomparável da solidariedade humana. Mas o Caminho é ainda mais: caminhar para oeste por um trajecto com 1.200 anos de

história e deixar para trás hábitos e rotinas é hoje em dia, tal como nos alvores da peregrinação, uma conjunção de sacrifício e recompensa que transforma quem o experimenta pelo menos uma vez na vida. O itinerário começa em diferentes pontos da Europa. En França confluem os trajectos que procedem de Itália ou do leste do Continente (entre muitos outros lugares da Europa). Entra em Espanha pelos Pirinéus e a partir de Puente La Reina (Navarra) é já uma via única, o conhecido como Caminho Francês, que percorrerá todo o norte do país até Santiago de Compostela. Este caminho já descrito no século XII no Codex Calixtinus insere-se na Galiza pelo alto de O Cebreiro e é o itinerário de referência, mas não o único nem o mais antigo. Na realidade, são dez os trajectos de peregrinação que se foram fixando ao longo da história. O mais antigo - dizíamos - é o chamado Caminho Primitivo; juntamente com o Caminho do Norte ambos entram na Galiza pelas Astúrias, o Inglês com os portos da Corunha e Ferrol como referência, o Português e a sua variante de Português pela Costa, o Caminho do Sudeste-Via da Prata a partir do sudoeste da Espanha, o Caminho de Fisterra-Muxía que prolonga a peregrinação até ao Finis terrae, o Trajecto do Mar de Arousa e Ulla que relembra o itinerário pelo qual, de acordo com a tradição, os restos mortais do apóstolo chegaram de barco à Galiza. E, finalmente, o Caminho de Inverno trajecto alternativo aos frios cumes das montanhas luguesas de O Cebreiro. A meta é Santiago de Compostela. Capital da Comunidade Autónoma da Galiza. O seu centro histórico foi declarado pela UNESCO Património da Humanidade em 1985. Em 1987 o Conselho da Europa reconheceu o Caminho de Santiago como Primeiro Itinerário Cultural Europeu, e no Ano Santo de 1993 o próprio Caminho de Santiago foi declarado Património da Humanidade. Em 2011, a catedral celebrou o 800º aniversário da sua consagração. Diante da mesma, na plaza del Obradoiro, cada caminhante entende que "a meta é o caminho" e leva gravado a partir deste momento, perante o majestoso Pórtico da Glória, um grito de ânimo que desde os tempos medievais ajuda sempre a seguir em frente. Ultreia!

HISTÓRIA DOS CAMINHOS DE SANTIAGO E DA PEREGRINAÇÃO XACOBEA NA EUROPA, ESPANHA E GALIZA Para se entender a rápida consolidação de Santiago como centro de peregrinação internacional (do século IX ao XII) devemos citar a união de forças e interesses que, a favor de Compostela, os principais centros de poder ocidental levaram a cabo: a coroa (desde Alfonso II até Alfonso VII ou Sancho Ramírez), o papado (Calixto II ou Alexandre III) e as ordens monacais (as abadias de Cluny e de Cister). Assim escreverá o Caminho a sua história milenar: Quando os restos do Apóstolo foram descobertos (século IX) reinava no noroeste peninsular (denominado Reino das Astúrias) Alfonso II. Foi ele o primeiro grande valedor. Tinha sido criado no mosteiro de Samos e recebeu com entusiasmo a notícia do bispo de Iria, Teodomiro: um eremita de nome Paio localizou, num bosque, as ruínas de um enterro primitivo. Este aparecimento veio confirmar uma tradição popular enraizada que tinha sido inclusivamente documentado pelos monges Beda o Venerável e Beato de Liébana. Mas faltavam provas. Em seguida, o rei Alfonso II visitou o lugar e mandou edificar uma modesta igreja, que depois Alfonso III reconstruiria (ano 899). Estávamos no germe da actual catedral e da cidade de Santiago. O culto a Santiago foi iniciado com força no Reino asturiano-galaico e obteve, para além dos Pirinéus, uma rápida resposta popular. Mas a 10 de Agosto do ano 997 o caudilho árabe Almansor, primeiro-ministro do califado de Córdoba, arrasou a cidade, roubou os sinos da sua basílica e só respeitou o "lugar santo", os restos de Santiago. Sobre eles haveria de renascer Compostela. O símbolo de Santiago já era demasiado forte para sucumbir: representa uma unidade de identidade e uma força comum (espiritual e guerreira) para lutar contra a invasão islâmica: a Reconquista. A época de ouro das peregrinações situa-se entre os séculos XI e XIII: França, Itália, centro e leste da Europa, Inglaterra, Alemanha, e inclu-

sive a Islândia. E, claro está, toda a Hispania. Chegavam a pé, a cavalo, de barco e eram assistidos principalmente por uma rede de hospitais de Cluny e de Cister, tendo sido um verdadeiro suporte do espírito de Santiago. O primeiro Ano Jubilar ou Ano Santo (quando o dia de Santiago, 25 de Julho, coincide com o domingo) remonta, aproximadamente, ao ano de 1428 (celebra-se, desde então, conforme dita o calendário, cada 6, 5, 6 e 11 anos). Mas chegados ao século XVI, as coisas mudaram. Com Lutero terminou a unidade religiosa do Ocidente, o trajecto ficou ameaçado pela presença de delinquentes e as guerras que assolaram a Europa obrigaram a fechar as fronteiras, o pior dos obstáculos para esse rio humano que eram as peregrinações. França país de Santiago por excelência viveu a sua Revolução em 1789, e em Espanha a Igreja iria perdendo poder e influência. O mundo já era outro. No entanto, no século XIX dois factos reactivariam o espírito de Santiago. O Romantismo inglês descobriu na catedral e no seu Pórtico da Glória um mundo de beleza e mistério. Por outro lado, um facto fundamental: em 1879 verificou-se a redescoberta dos restos mortais do Apóstolo. Aconteceu que trezentos anos antes (1589) o arcebispo Sanclemente os tinha escondido face à ameaça do corsário inglês Francis Drake, tendo sido tal o seu zelo que mais ninguém os voltaria a encontrar até fins do século XIX. As escavações arqueológicas trouxeram-nos à luz e, depois delas, o retorno modesto no início das peregrinações. Mas seria necessário esperar mais um século para o ressurgimento do Caminho, após um primeiro terço do século XX marcado em Espanha por uma cruenta guerra civil e 40 anos de ditadura. No ano de 1982 João Paulo II visitou Santiago de Compostela ataviado como peregrino. Em 1993 (outro Ano Santo) o Governo da Galiza pôs em funcionamento o Plano Xacobeo, seguido de 1999, 2004 e 2010. Actualmente, tal como nos tempos medievais, milhões de peregrinos caminham novamente para Compostela. É uma forma diferente de peregrinação, mas não nega a tradicional, tendo somado à mesma as ânsias e motivações das sociedades contemporâneas.

A CIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA Santiago de Compostela nasceu de um bosque, o Libredón, local onde foram encontrados os restos mortais do Apóstolo. Hoje em dia a cidade é um centro de peregrinação internacional, capital da Comunidade Autónoma da Galiza e sede de uma prestigiosa universidade com cinco séculos de história. Compostela é igualmente, com os seus 93.000 habitantes recenseados, esse bosque de pedra granítica sobre o qual se foi traçando a urbe medieval, e um bosque verde, de centenárias carballeiras (carvalhais) como a de Santa Susana, que se ergue no centro da Alameda. Pela sua pedra lavrada, Santiago é Património da Humanidade desde 1985; pelas suas zonas verdes é uma das cidades da Espanha com mais metros quadrados de parques e jardins por habitante, rodeada pela poesia dos rios Sar e Sarela. O núcleo é a Praza do Obradoiro. Para aqui convergem todos os Caminhos. E a partir dela, frente à catedral, emana toda a força e beleza de mais de mil anos de história e tradição. O Obradoiro é uma harmonia de estilos, épocas e pedra sublimada: à frente, a fachada barroca da basílica e o paço românico de Xelmírez; à esquerda, o Hostal de los Reyes Católicos (antigo Hospital de Peregrinos), renascentista; à direita, o pórtico medieval do Colégio San Xeromé (hoje em dia Reitorado da USC) e, atrás, o neoclássico do Pazo

de Raxoi, actual sede da Câmara Municipal e da presidência da Xunta da Galiza. Uma paisagem construída ao longo de oito séculos, fechada a oeste pelo monte Pedroso, que é um grande compêndio da arte ocidental. A catedral foi exercendo a sua força centrífuga. À sua volta emerge a cidade. Em primeiro lugar, as outras três praças que rodeiam o monumento: Praterías (a preferida dos músicos e artistas), a Quintana (antigo cemitério) e a Inmaculada, com o espectacular mosteiro de San Martiño Pinario, também os paços que flanqueiam as ruas do Vilar e Ruanova, ou a porta de Mazarelos (a única da antiga muralha ainda em pé) completam uma primeira visão. Já extramuros, o convento de San Francisco (com a homenagem do escultor Asorey ao santo de Assis), o paço de San Lourenzo (junto a outro bosque de carvalhos), ou a românica Igreja Colegiata de Sar, com as suas incríveis colunas inclinadas e os restos do seu claustro do século XII. Junto a todos eles, as novas infraestruturas culturais que nasceram ao amparo do novo peregrinar e de Santiago como capital da Autonomia. Entre elas: o Centro Galego de Arte Contemporânea (obra de Siza), contíguo ao Museu do Pobo Gallego (onde Domingo de Andrade construiu a sua tripla escada de caracol); o magno Auditório da Galiza ou a Cidade da Cultura, impressionante arquitectura concepção de Peter Eisenman e erguida no cume do Monte Gaiás. Pedra, bosque, história, arte e, finalmente, gastronomia. A cidade inteira, sobretudo a rua do Franco e arredores, é templo do bom comer. Desde grandes restaurantes até tabernas genuínas, Santiago pode satisfazer também nesta área todas as nossas expectativas.

A CATEDRAL DE SANTIAGO A catedral de Santiago é resultado de mais de setecentos anos de construção, sucessão de estilos e ampliações, e reformas continuadas. Na proto-história do monumento devem-se citar as duas igrejas pré-românicas, erguidas no século IX. A basílica que deu origem à catedral que agora conhecemos seria iniciada no ano de 1075, em tempos de Diego Peláez, com uma equipa composta por cinquenta artistas de cantaria dirigidos pelo professor Bernaldo o Vello. No entanto, o grande impulso à obra chegaria pouco depois, já com Diego Xelmírez como arcebispo, pessoa culta, cosmopolita, destacado promotor cultural e espiritual de Compostela. Aquando da sua morte (1139-1140) a estrutura básica do monumento (terminal, altar-mor, braços do cruzeiro e capelas radiais românicas) já estava erguida. A catedral inspirar-se-ia nas grandes igrejas da França e nela seriam postas em prática, já desde as primeiras concepções, as técnicas mais avançadas de arquitectura e escultura do Ocidente. Foi a titulo de exemplo a primeira igreja românica europeia a ter escultura monumental

nas três fachadas: Obradoiro, Praterías e Paraíso (actualmente Acibechería). E seria depois o Pórtico da Glória a grande obra que posicionaria a Basílica compostelana no zénite da arte românica europeia: o encerramento do lado oeste do monumento. O seu autor foi o mestre Mateo (arquitecto provavelmente originário de Santiago) e a sua equipa. Trabalharam durante mais de quarenta anos, desde 1168 até 1211. E deixaram para a história o grande poema em pedra que resume, não só toda a arte medieval, mas também a concepção do homem e do universo do seu tempo, apresentada numa estrutura arquitectónica de três pisos sobrepostos. A última grande renovação da Catedral foi efectuada em meados do século XVIII. Tratavase de proteger o Pórtico de Mateo e, simultaneamente, dotar a basílica de um encerramento do lado Oeste em consonância com a magnitude do templo. Assim surgiu a fachada barroca. Concebida por Fernando de Casas Novoa, e concluída em 1750. O gosto barroco imperante dotou a catedral de uma espectacular sensação de verticalidade, de elevação, jogando com o vidro e a pedra como não havia sido feito até então. O Ano Santo de 1784 marcou o fim das obras, com a inauguração da capela da Comunhão. A basílica actual seduz-nos igualmente pela sua Torre do Relógio ou "Berenguela" e, claro está, é irrecusável a entrada (só em Ano Santo) pela Porta Santa. E, já no interior, o abraço ao Apóstolo, a descida à cripta que guarda os seus restos mortais, a visita ao Panteão Real, a missa do peregrino que culmina com o espectáculo do botafumeiro, e as suas capelas, desde a Maior (no terminal) até à Corticela (puro românico) ou a do Salvador (a mais antiga), até agradáveis surpresas como as escavações arqueológicas que foram abertas ao público no início de 2011, que permitem que se desça até ao subsolo da catedral, onde emergem os cemitérios tardorromano e medieval, e o assentamento que deu origem ao monumento e à própria cidade de Santiago.