ANÁLISE DAS ANOMALIAS DA PRECIPITAÇÃO NO ESTADO DE GOIÁS PARA UM PERÍODO DE 31 ANOS BIANKA DARA SANTOS DOS REIS 1 MARIANA FONTES MAGALHÃES 2 DIEGO SIMÕES FERNANDES 3 RESUMO: Estudar a climatologia da precipitação no estado de Goiás é de suma importância para o planejamento das atividades agrícolas, tendo em vista que o Estado é considerado um grande produtor agrícola. Foram analisados dados dos últimos 31 anos, de 79 municípios do estado de Goiás. Os resultados permitiram concluir que as precipitações têm as maiores anomalias, tanto de excesso quanto de déficit, nos meses da estação seca. Palavras-chave: anomalias da precipitação, distribuição espacial, climatologia ABSTRACT: Studying the climatology of rainfall in the Goiás state is of paramount importance for the planning of agricultural activities, given that the state is considered a major agricultural producer. The last data were analyzed 31 years, 79 municipalities in the Goiás state. The results showed that the precipitations have the highest anomalies, both excess and deficit in the months of the dry season. Key Words: precipitation anomalies, spatial distribution, climatology 1 Introdução A precipitação, atualmente tem sido bastante estudada e discutida pela sua importância para a agricultura e para a preservação da humanidade, fauna e flora. Por ocorrências de excesso e déficit pluviométrico em variadas partes do globo, vem se prejudicando as colheitas, dando perdas parciais e até mesmo gerais em grande parte da produtividade. O estado de Goiás é o único estado brasileiro inserido totalmente no bioma Cerrado, dessa maneira todas as atividades econômicas desenvolvidas no mesmo, sejam estas pelas indústrias, criação extensiva e/ou intensiva de gado e de agricultura, influenciam diretamente na composição das plantas, alterando drasticamente a paisagem desse bioma (BONNET et al., 2006). 1 Aluna de graduação do curso de agronomia da UEG Câmpus Palmeiras de Goiás 2 Aluna de graduação do curso de agronomia da UEG Câmpus Palmeiras de Goiás 3 Professor do curso de agronomia da UEG Câmpus Palmeiras de Goiás diego.fernandes@ueg.br 1805
O conhecimento do comportamento e da distribuição das precipitações fornece subsidio para determinar períodos críticos predominantes numa determinada região e condições de fornecer informações que visem reduzir as consequências causadas pelas flutuações do regime pluviométrico, seja pelo emprego da irrigação ou implantação de culturas adaptadas à sazonalidade deste regime (ANDRADE et al., 1998; GOMIDE, 1998). O objetivo desse trabalho foi o de ilustrar as anomalias encontradas em um período de 30 anos de dados na distribuição espaço-temporal da precipitação pluviométrica. 2 Materiais e Métodos O estado de Goiás é um dos 26 estados brasileiros, está localizado no leste da região centro oeste, tendo seu território demarcado por 340.086 km² com Latitude sul 12º 00 entre 20º 00 e Longitude oeste 45º 30 entre 53º 30, sendo delimitado pelos estados do Mato Grosso do Sul a sudoeste, Mato Grosso a oeste, Tocantins a norte, Bahia a nordeste, Minas Gerais a leste, sudeste e sul e pelo Distrito Federal a leste. De acordo com o TER (2011) (Tribunal Regional Eleitoral) possui 6.523.222 habitantes. Com esse número é o estado mais populoso da região centro-oeste e o 9º mais rico do país. Possui um clima tropical semiúmido com duas estações bem definidas, a chuvosa e seca. Mesmo sendo registrado uma temperatura média de 25⁰C, sofre drásticas variações, chegando até a 9⁰C nas mínimas dos meses de maio e julho, e ultrapassando os 40⁰C em setembro e outubro, podendo variar as localidades. É no estado de Goiás que está boa parte de um dos maiores biomas brasileiros, o cerrado, sendo ele responsável pela diversidade da fauna e flora. Segundo Marcuzzo et al., (2012) a média anual de precipitação varia entre 1200 e 1800 mm. Para o trabalho, foram analisados dados dos últimos 31 anos, de 79 municípios do estado de Goiás disponibilizados pela rede de monitoramento de eventos extremos da Agência Nacional das Águas (ANA), espalhados conforme Figura 1. Os dados faltosos ou com períodos de falhas foram preenchidos utilizando a metodologia descrita em Heinemann et al., (2007). 1806
Figura 1 Localização espacial das estações pluviométricas no estado de Goiás Os dados diários preenchidos foram organizados em planilhas, onde foram reduzidos de 365 dias para médias mensais, reorganizados em 12 informações representado os meses de janeiro a dezembro dos 31 anos de dados de cada município. Posteriormente, estes dados mensais foram utilizados para realizar novas médias, agora anuais, sendo que, em cada município sua precipitação mensal foi definida pela média de precipitação dos últimos 31 anos para cada mês analisado. Os dados foram reorganizados para cada microrregião do estado de Goiás a qual o município pertencia. Os municípios foram reordenados nas 09 microrregiões, e posteriormente realizaram-se as médias anuais dos municípios em uma planilha. A quantidade de municípios pertencentes a cada uma das nove microrregiões está descrita na Tabela 1. As médias das normais climatológicas da precipitação de cada microrregião foram obtidas através do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia, Tabela 2. Após a organização dos dados, essas médias foram usadas para comparação com as médias anuais dos 31 anos de dados de cada um dos municípios estudados e também possibilitando a quantificação das anomalias dos valores mensais da precipitação. 1807
Tabela 1 Distribuição dos municípios nas microrregiões pertencentes Nº Microrregião Quantidade de Municípios 1 Aragarças 8 2 Catalão 18 3 Formosa 6 4 Goiânia 17 5 Goiás 3 6 Ipameri 3 7 Pirenópolis 1 8 Posse 14 9 Rio Verde 9 Tabela 2 Normais Climatológicas de municípios goianos, segundo INMET. Microrregiões Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Aragarças 287,9 220,8 216,6 74,1 29,1 5,8 7,5 20,9 62,3 141,7 233,8 274,7 Catalão 272,3 217,5 172,0 79,7 31,0 10,0 10,3 14,1 41,3 150,8 212,2 283,5 Formosa 273,7 213,6 183,8 107,6 28,8 3,7 5,8 9,3 35,2 143,2 186,7 293,9 Goiânia 270,3 213,3 209,6 120,6 36,4 9,5 6,2 12,7 47,6 170,9 220,0 258,8 Goiás 356,5 268,8 237,3 105,4 40,7 3,7 4,3 10,8 38,2 158,9 248,1 312,9 Ipameri 296,7 183,9 155,1 84,5 37,3 9,2 11,1 19,4 45,1 112,6 183,2 309,9 Pirenópolis 316,9 246,5 196,2 135,9 38,0 16,9 10,6 11,8 62,0 157,8 248,9 324,7 Posse 271,1 215,4 229,7 118,7 19,8 8,7 4,9 12,5 30,0 123,5 223,2 280,0 Rio Verde 272,2 198,3 212,0 117,0 45,3 12,5 13,9 26,7 56,5 162,9 287,7 303,5 As análises foram baseadas nos dados de um período de trinta e um anos, compreendidos entre 1975 a 2005, para 79 municípios do estado de Goiás, as quais elaborou-se mapas mensais das anomalias de precipitação por meio do software SURFER. 3 Resultados As análises foram baseadas nos dados de um período de trinta e um anos, compreendidos entre 1975 a 2005, para 79 municípios do estado de Goiás, as quais elaborou-se mapas mensais das anomalias de precipitação por meio do software SURFER. As variações espaciais mensais das anomalias de precipitação pluviométrica são ilustras nas figuras 2a a 2l. Para o mês de janeiro foram observados que nas regiões próximo aos municípios de Campinaçu e Cavalcante, região norte/nordeste, e Córrego do Ouro, região central, houve excesso de chuva (conforme Ilustra a Figura 2a), chegando 1808
próximo a 180% a mais do que o esperado pelas médias regionalizadas, sendo que houve diferença de 57% (186,23 mm), 36,98% (100,25 mm) e 23,16% (62,61 mm) da quantidade de chuva quando comparada com as normais, respectivamente. As localidades perto dos municípios de Cachoeira Alta, Bom Jesus de Goiás e Córrego do Ouro tiveram médias que variaram entre - 20%, -1,44% (-3,07 mm), -16,77% (- 36,47 mm) e -0,23% (-0,49 mm), do que era esperado para o mês de fevereiro, respectivamente. Enquanto Cavalcante, Caiapônia e Campinaçu tiveram médias de precipitação superior a 20%, 30,26% (65,19 mm), 20,04% (43,59 mm) e 86,46% (186,23 mm), respectivamente, conforme ilustra a figura 2b. Pode-se observar que nesse mês as precipitações têm grande variabilidade em sua distribuição mensal, isso pode ocorrer devido aos sistemas precipitantes que atuam sobre o Estado são distintos entre regiões. Ocorreram variações entre -60 a 100% no mês de março, figura 2c, sendo que regiões próximas a Caiapônia e Campinaçu, novamente obtiveram excessos pluviométricos de 35,54% (61,13 mm) e 48,92% (112,38 mm), respectivamente, enquanto que as cidades de Anicuns, Campos Belos e Britânia sofreram com déficits, com valores de -26,89% (-56,35mm), - 3,03% (-6,96 mm) e -12,78% (-27,67 mm), respectivamente. Em abril, na região norte de Goiás houve excessos apenas na região do município de Campinaçu, sendo a média de 0,10% (0,08 mm), enquanto Monte alegre de Goiás e Santa Teresinha de Goiás tiveram os maiores déficits por volta de 40%, sendo as médias dos respectivos municípios de -47,14% (-55,96 mm) e -58,75% (-69,73 mm). Corumbaíba, Jataí e Santa Rita do Araguaia tiveram os maiores excessos, sendo 73,26% (58,39 mm), 46,98% (37,45 mm) e 50,26% (58,80 mm), ilustrados na figura 2d. No mês de maio, figura 2e, as cidades de Nova Roma, Cristianópolis e Santa Rita do Araguaia chegaram a obter um valor superior a 200% de excesso de precipitação, sendo de 363,26% (71,93 mm), 329,57% (102,17 mm) e 231,93% (105,06 mm), respectivamente, lembrando que estas analises são de médias de 30 anos, ou seja, nesse período essas localidades obtiveram em média esses excessos. Já os municípios de Matrinchã e Cabeceiras obtiveram valores negativos em média de 40%. Ocorreram valores extremos de déficits e excessos dos valores de precipitação para o mês de junho, conforme figura 2f. Nas cidades de Nova Roma registrou valores de 352,84% (30,70 mm), Cristianópolis 1356,81% (135,68 mm) e Turvânia 549,61% (52,21 mm). Os municípios que tiveram os maiores déficits foram Trompas -95,25% (-8,29 mm) e Monte Alegre de Goiás -73,49% (-6,39 mm). O mês de julho foi semelhante a junho, pois este mês também teve altos valores de excessos, pois como é observado nas normais climatológicas, os meses finais da estação seca (junho, julho e agosto) não costumam ter um valor acumulado de chuva muito grande e 1809
VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: têm as médias climatológicas variando entre 0,1 a 26,7 mm no estado de Goiás. Assim, se no mês de julho obter-se uma precipitação de 1 mm em uma região que é normal chover em média 0,1 mm, registra-se um excesso de 900%. Os déficits dos municípios analisados para o mês de julho atingiram valores próximos a 60%. Os municípios de Anicuns, Corumbaíba e Cristianópolis são exemplos dos que obtiveram excessos das médias de precipitação quando comparados as normais climatológicas, sendo de 897,27% (55,63 mm), 294,58% (30,34 mm) e 1452,11% (149,57 mm), respectivamente. Os municípios de Iporá e Goiás foram os que tiveram os maiores registrados sendo de -53,72% (4,03 mm) e -45,01% (2,79 mm), respectivamente. (a) (b) (c) (d) 1810
VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: (e) (f) (g) (h) (i) (j) 1811
(k) Figura 2 Anomalias pluviométricas mensais para o estado de Goiás. (a) Janeiro; (b) Fevereiro; (c) Março; (d) Abril; (e) Maio; (f) Junho; (g) Julho; (h) Agosto; (i) Setembro; (j) Outubro; (k) Novembro e (l) Dezembro. (l) Em agosto também se observou elevações nos valores de precipitações nos municípios de Anicuns e Cristianópolis, sendo registrado valores médios positivos, ou seja, acima do esperado, de 380,07% (48,27 mm) e 1181,33% (166,57 mm). Cidades como Britânia e Monte alegre de Goiás foi onde se observou os maiores déficits médios chegando a 62,4% (-13,04 mm) e 69,21% (-8,65mm), respectivamente. Com exceção de regiões próximas à Cristianópolis, no mês de setembro, as análises espaciais indicam excessos hídricos na ordem de 273,95% (113,14 mm), e os demais municípios que registraram excessos mantiveram-se com variações entre 80% e 126%. Já os déficits do mês de setembro chegaram no máximo em 49,9% (-31,08 mm) registrado na região do município de Aruanã. As variações dos déficits/excessos das precipitações para o mês de outubro estiveram entre -48,9% e 40% para os municípios de Nova Roma e São João da Aliança. Este mês é considerado como de transição entre estações do ano para a região estudada, e pode-se inferir que apesar das anomalias ocorrerem, são de menores variações medias ao longo dos anos. No mês de novembro também ocorreram poucas variações nos valores, ou seja, na média dos 31 anos analisados não foram observados valores extremos de intensidade persistente, sendo os maiores registros de déficits médios de precipitação no município de Santa Terezinha de Goiás 52,1% (-116,30 mm) e Nova Roma 44,6% (-99,63 mm), o maior excesso médio de precipitação foi observada na região do município de Vianópolis, sendo de 44,3% (81,24 mm). Novembro a março são meses quem a precipitação ultrapassa os 200mm/mês, e tem dezembro como o mês que mais recebe chuvas, com média superior a 1812
250 mm/mês. Já abril e outubro são os meses em que a média da precipitação é em torno dos 100 mm/mês, sendo considerados os meses de transição de acordo com Pereira et al. (2010). Já no mês de dezembro, onde normalmente ocorrem as maiores precipitações, os déficits/excessos também não tiveram grandes variações, as variações foram na faixa entre -40% e 40%, o maior déficit foi na região do município de Santa Terezinha de Goiás e o maior excesso em Campinaçu. Salienta-se que de acordo com o estudo de Romero et al. (2014) para os anos de 1982 a 2006, os meses de março, abril, maio, junho, agosto, setembro, novembro e dezembro registraram anomalias positivas, indicando aumento de dias chuvosos no estado de Goiás. Enquanto que os meses de janeiro, fevereiro, julho e outubro foram marcados pela diminuição dos dias de chuva. 4 Conclusões Os resultados permitiram concluir que as precipitações têm as maiores anomalias, tanto de excesso quanto de déficit, nos meses da estação seca, o que é esperado devido a esses meses não terem um valor acumulado muito elevado, pois as variações entre esses meses não chegam a 30 mm. Já nos meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro as anomalias chegam a 180%, porém como nesses meses é onde estão concentrados os maiores valores acumulados de chuva, as variações são mais sentidas pelos agricultores, e baseado na média dos 31 anos, como se observa nos mapas desses meses, as regiões centro-norte são as que sofrem mais com os déficits, enquanto a metade sul do estado de Goiás são registrados maiores excessos. 5 Referências ANDRADE, C. L. T.; COELHO, E. F.; COUTO, L.; SILVA, E. L. Parâmetros de solo-água para engenharia de irrigação e ambiental. In: FARIA, M. A.; SILVA, E. L.; VILELA, L. A. A.; SILVA, A. M. Manejo de irrigação. Lavras: UFLA/SBEA, 1998. p. 1-132. BONNET, A., RODERJAN, C. V.; CURCIO, G. R.; BARDDAL, M. L.; LAVORANTI, O. J. Vegetação arbórea e bromeliáceas epifíticas em duas unidades geomórficas da planície do rio Iguaçu, Paraná, Brasil. Floresta, Curitiba, 2006. GOMIDE, R. L. Monitoramento para manejo da irrigação: instrumentação, automação e métodos. In: FARIA, M. A.; SILVA, E. L.; VILELA, L. A. A.; SILVA, A. M. Manejo de Irrigação. Lavras: UFLA/SBEA, 1998. p. 133-238. 1813
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