GERMINAÇÃO E CRESCIMENTO INICIAL IN VITRO DE Encyclia flava (LINDL.) PORTO & BRADE (ORCHIDACEAE) Jaderson Roney Gomes de Oliveira 1 ; Wagner de Melo Ferreira 2 1 Aluno do Curso de Ciências Biológicas; Campus de Porto Nacional-TO; e-mail: jaderson.roney@gmail.com PIBIC/CNPq 2 Orientador(a) do Curso de Ciências Biológicas; Campus de Porto Nacional; e-mail: wmelouft@yahoo.com RESUMO A família Orchidaceae é considerada a maior e mais diversificada entre as angiospermas A germinação de sementes bem como o crescimento inicial in vitro têm sido amplamente utilizados para a obtenção de plantas dessa família. Assim, o objetivo do presente trabalho foi estudar a germinação e o crescimento inicial in vitro de Encyclia flava, espécie de orquídea ocorrente no Cerrado tocantinense. Foi testada a influência de quatro meios de cultura no processo de germinação e crescimento inicial: o meio de Murashige e Skoog (1962) nas concentrações de 50% e 100% de seus macronutrientes, o meio de Knudson (1946) e o meio de Vacin e Went (1949). Foram testados também, os efeitos da adição de diferentes concentrações de benziladenina [BA] e de ácido naftalenoacético [ANA] (em combinações de 0; 0,57 e 2,28 μm) como também de sacarose (0%, 1%, 2%, 3%, 4%, 5% e 6%) na multiplicação e crescimento in vitro da espécie. Não foram encontradas diferenças significativas entre os meios estudados no que diz respeito à germinabilidade das sementes de E. flava, embora os meios de Murashige e Skoog 50% e de Knudson tenham proporcionado resultados ligeiramente mais elevados que os demais. O meio de Knudson foi o que mais estimulou o crescimento dessa espécie ao longo dos 90 dias após a germinação. Os resultados obtidos mostraram que 1% de sacarose e 0,57μM de ANA em conjunto com 2,28 μm de BA, adicionados ao meio de Knudson são indicados para a multiplicação de brotos de E. flava. Palavras-chave: Propagação in vitro; sacarose; reguladores de crescimento Página 1
INTRODUÇÃO 25 a 28 de novembro de 2014 Câmpus de Palmas Essa família Orchidaceae é considerada a maior e mais diversificada entre as angiospermas (VENTURA, 2007). Em ambiente natural, as sementes de orquídeas necessitam de associações simbióticas com fungos micorrízicos para que ocorra a germinação, pois suas sementes são extremamente pequenas e possuem pouca reserva, não sendo suficiente para dar início ao processo de germinação. Mesmo com essa associação e com a grande quantidade de sementes por fruto (podendo haver milhares de sementes em um único fruto), a germinação destas plantas na natureza não passa de 5% (MOREIRA; TOMBA; ZONETTI, 2007; SANTOS et al., 2007). Devido à dificuldade de germinação apresentada pelas orquídeas, várias estratégias de propagação in vitro vêm sendo propostas, já que cada gênero, ou mesmo cada espécie, apresenta especificidades quanto às condições favoráveis e nutrientes requeridos (RUÍZ et al., 2008; SUZUKI et al., 2012). O cultivo de sementes e o desenvolvimento inicial de orquídeas in vitro foram iniciados a partir de 1922 com os trabalhos de Lewis Knudson, propondo um meio de cultura composto por sais minerais. Com isso foi possível o cultivo in vitro de orquídeas assimbioticamente, ou seja, sem a associação com fungos (MOREIRA; TOMBA; ZONETTI, 2007; HOSSAIN et al., 2009; SUZUKI et al., 2010). A propagação in vitro a partir de sementes é um dos métodos mais conhecidos e utilizados na multiplicação de espécies da família Orchidaceae (VENTURA, 2007). O presente estudo teve como objetivo estudar a germinação e o crescimento inicial in vitro de Encyclia flava (Orchidaceae). MATERIAL E MÉTODOS As sementes utilizadas no presente estudo foram oriundas de frutos coletados de plantas-matrizes adultas crescendo em ambiente natural e/ou viveiro de plantas. Após a embebição por trinta minutos em água deionizada e esterilizada em autoclave, as sementes foram tratadas com solução de hipoclorito de sódio comercial (teor de cloro ativo de 2-2,5%), na concentração de 15% (v/v) durante dez minutos, sendo em seguida submetidas a duas lavagens de 15 minutos com água deionizada e esterilizada Página 2
em autoclave. Após a desinfestação, as sementes foram inoculadas sobre os meios de cultura previamente preparados e esterilizados em autoclave. Foi testada a influência de quatro meios de cultura no processo de germinação: o meio de Murashige e Skoog (1962) [MS] nas concentrações de 50% e 100% de seus macronutrientes, o meio de Knudson (1946) [KN] e o meio de Vacin e Went (1949) [VW]. O ph dos meios de cultura foi ajustado para 5,8 ± 0,1 antes da adição de 0,2% de phytagel. Para cada meio de cultura foram realizadas cinco repetições que consistiram em frascos de vidros com capacidade para 100 ml fechados com tampas plásticas. As culturas foram mantidas em sala de crescimento com temperatura de 26 C ± 2 C e um fotoperíodo de 16 horas por meio do uso de lâmpadas fluorescentes com radiação fotossinteticamente ativa de 35-40 µmol. m -2. s -1. A análise da germinação foi feita com base no método proposto por Milaneze (1997). Noventa dias após o início da germinação das sementes, os indivíduos contidos nas cinco repetições foram avaliados de acordo com a quantidade de órgãos formados, de acordo com o proposto por Suzuki et al. (2009), para que se pudesse calcular o índice de crescimento. O índice de crescimento de cada repetição foi a somatória de todos os estágios de indivíduos nelas presentes. Com base nesses resultados foi possível escolher o meio de cultura mais favorável para o crescimento inicial das plântulas. Uma vez selecionado o meio de cultura que proporcionou a melhor taxa de crescimento, foram testados os efeitos da adição de diferentes concentrações de benziladenina [BA] e de ácido naftalenoacético [ANA] (em combinações de 0; 0,57 e 2,28 μm) como também de sacarose (0%, 1%, 2%, 3%, 4%, 5% e 6%) na multiplicação e crescimento in vitro da espécie, em experimentos separados. As condições experimentais são as mesmas descritas para o experimento de germinação. Os resultados foram avaliados após 90 dias de cultivo a partir da análise dos seguintes parâmetros: número de brotos e raízes formados por explante inoculado, comprimento do maior broto e da maior raiz, bem como a massa seca da parte aérea e das raízes após 90 dias de cultivo. Página 3
RESULTADOS E DISCUSSÃO 25 a 28 de novembro de 2014 Câmpus de Palmas O início da germinação das sementes de E. flava foi verificado 15 dias após a inoculação das sementes. Os resultados mostraram que as sementes germinaram em todos os meio de cultura utilizados com germinabilidade de 97,94% no meio MS 50%, 97,27% no KN, 96,09 no meio MS 100% e 95,68% no VW. Em relação ao crescimento inicial da referida espécie, baseando-se nos dados obtidos para o índice de crescimento, foi possível observar que o meio KN proporcionou o melhor desenvolvimento dos indivíduos (IC = 371,50), porém, estatisticamente, não houve diferença entre este meio e os meios VW (IC = 340,63) e MS 50% (IC = 336,61). O meio MS 100% apresentou um IC (190,69) significativamente inferior aos demais meios de cultura. Os resultados referentes à influência das concentrações de sacarose no crescimento in vitro de E. flava após 90 dias de cultivo não revelaram diferenças significativas entre os tratamentos. Entretanto, sob o ponto de vista das observações realizadas e considerando os valores numéricos obtidos, verificou-se que a formação de brotos foi maior no meio com 1% de sacarose, enquanto que a formação de raízes foi mais expressiva em meio contendo 6% desse dissacarídeo. Em relação aos efeitos das diferentes concentrações de ANA e BA na multiplicação e crescimento inicial de E. flava, também não foram detectadas diferenças significativas entre os vários tratamentos para nenhuma das variáveis avaliadas. Entretanto, 0,57μM de ANA em conjunto com 2,28 μm de BA, adicionados ao meio de Knudson suplementado com 1% de sacarose, são indicados para a multiplicação de brotos de E. flava. LITERATURA CITADA HOSSAIN, M. M.; SHARMA, M.; SILVA, J. A. T. da; PATHAK, P. Seed germination and tissue culture of Cymbidium giganteum Wall. ex Lindl. Scientia Horticulturae, v. 123, p. 479-487, 2010. KNUDSON, L. A new nutrient Solution for germination of orchid seeds. American Orchid Society Bulletin, v. 15, p. 214-217, 1946. Página 4
MILANEZE, A. M. Estudos em orquídeas nativas do Brasil: morfologia de sementes e culturas assimbiótico. 1997. 234 f. Tese (Doutorado em Biologia Vegetal) Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1997. MURASHIGE, T.; SKOOG, F. A revised medium for rapid growth and bioassays with tobacco tissue cultures Physiologia Plantarum, v. 15, p. 473-497, 1962. RUÍZ, B. C.; LAGUNA, C. A.; IGLESIAS, A. L. G.; DAMON, A.; MARÍN, H. T. N. J.; AZPÍROZ, R. H. S.; MORENO, M. J. L. Germinación in vitro de semillas de Encyclia adenocaula (La Llave & Lex.) Schltr (Orchidaceae). Phyton: International Journal of Experimental Botany, v. 77, p. 203-215, 2008. SANTOS, G. A.; SAITO, B. C.; MONTEIRO, D. P.; GUTIERRE, M. A. M.; ZONETTI, P. C. Utilização de reguladores hormonais na germinação e formação de plântulas in vitro de orquídeas. Iniciação científica CESUMAR, v. 9, n. 1, p. 7-12, 2007. SUZUKI, R. M.; MOREIRA, V. C.; NAKABASHI, M.; FERREIRA, W. M. Estudo da germinação e crescimento in vitro de Hadrolaelia tenebrosa (Rolfe) Chiron & V.P. Castro (Orchidaceae), uma espécie da flora brasileira ameaçada de extinção. Hoehnea, v. 36, n. 4, p. 657-666, 2009. SUZUKI, R. M.; ALMEIDA, V.; PESCADOR, R.; FERREIRA, W. M. Germinação e crescimento in vitro de Cattleya bicolor Lindley (Orchidaceae). Hoehnea, v. 37, n. 4, p. 731-742, 2010. SUZUKI, R. M.; MOREIRA, V. C.; PESCADOR, R.; FERREIRA, W. M. Asymbiotic seed germination and in vitro seedling development of the threatened orchid Hoffmannseggella cinnabarina. In Vitro Cellular & Developmental Biology Plant, v. 48, n. 5, p. 500-511, 2012. VACIN, E. F.; WENT, F. W. Some ph Changes in nutrient solutions. Botanical Gazette, v. 110, p. 605-617, 1949. VENTURA, G. M. Cultivo in vitro de orquídeas do grupo Cattleya, em diferentes meios de cultura e irradiâncias. 2007. 122f. Tese (Doutorado em Fitotecnia) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. 2007. AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil. Página 5