Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 20

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ISSN 2358-6273 Outubro, 2017 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Pesca e Aquicultura Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 20 Produção e sazonalidade das principais espécies capturadas pela pesca artesanal no rio Araguaia/TO Adriano Prysthon da Silva Marta Eichemberger Ummus Thiago Fontolan Tardivo Embrapa Pesca e Aquicultura Palmas, TO 2017

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Pesca e Aquicultura Avenida NS 10, Loteamento Água Fria, Palmas, TO Caixa Postal nº 90, CEP 77008-900 Fone: (63) 3229-7800/ 3229-7850 www.embrapa.br www.embrapa.br/fale-conosco/sac/ Unidade responsável pelo conteúdo Embrapa Pesca e Aquicultura Comitê de Publicações Presidente Eric Arthur Bastos Routledge Secretária-Executiva Marta Eichemberger Ummus Membros Andrea Elena Pizarro Muñoz, Ernandes Barboza Belchior, Hellen Christina G. de Almeida, Jefferson Christofoletti, Luciana Cristine Vasques Villela, Luciana Nakaghi Ganeco, Rodrido Estevam Munhoz de Almeida e Rodrigo Veras da Costa. Unidade responsável pela edição Embrapa Pesca e Aquicultura Coordenação editorial Embrapa Pesca e Aquicultura Supervisão editorial Embrapa Pesca e Aquicultura Normalização bibliográfica Embrapa Pesca e Aquicultura Editoração eletrônica e tratamento das ilustrações Jefferson Christofoletti Daniel Arrais de Carvalho Foto da capa Adriano Prysthon da Silva 1ª edição Versão eletrônica (2017) Todos os direitos reservados A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa Informação Tecnológica Produção e sazonalidade das principais espécies capturadas pela pesca artesanal no rio Araguaia/TO / autores, Adriano Prysthon da Silva, Marta Eichemberger Ummus, Thiago Fontolan Tardivo. Palmas, TO: Embrapa Pesca e Aquicultura, 2017. 32p. (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento / Embrapa Pesca e Aquicultura, ISSN 2358-6273; 20). 1. Peixe. 2. Pescador. 3. Captura. 4. Monitoramento. I. Silva, Adriano Prysthon da. II. Ummus, Marta Eichemberger. III. Tardivo, Thiago Fontolan. IV. Embrapa Pesca e Aquicultura. V. Série. CDD 664.942 Embrapa 2017

Sumário Resumo...5 Abstract...7 Introdução...9 Metodologia...11 Resultados e discussão...13 Considerações finais...27 Agradecimento...29 Referências...29

Produção e sazonalidade das principais espécies capturadas pela pesca artesanal no rio Araguaia/TO Adriano Prysthon da Silva 1 Marta Eichemberger Ummus 2 Thiago Fontolan Tardivo 3 Resumo O rio Araguaia compõe, junto com o Rio Tocantins, a segunda maior bacia hidrográfica do Brasil e é de grande importância para os biomas Cerrado e Amazônico. Uma das principais atividades ocorrentes na sua calha é a pesca artesanal, a qual provê trabalho, renda, segurança alimentar e identidade cultural para milhares de famílias ribeirinhas. Um dos principais desafios enfrentados pela pesca artesanal é a falta de informação básica a respeito da produção e sazonalidade das espécies capturadas. A estatística oficial não detalha a produção por município, por espécies, tampouco avalia a sazonalidade e valor de comercialização da produção. Este artigo visa descrever a produção e a sazonalidade das principais espécies capturadas no médio rio Araguaia, visando principalmente subsidiar novas propostas de gestão. Foram utilizados dados de produção mensal (entre março e outubro) cedidos pela então Superintendência Federal do Ministério da Pesca e Aquicultura-TO (SFPA), dos anos de 2013 e 2014, contemplando 1 Engenheiro de Pesca, mestre em recursos Pesqueiros e Aquicultura, Pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura, Palmas, TO. 2 Geógrafa, mestre em Sensoriamento Remoto, analista da Embrapa Pesca e Aquicultura, Palmas, TO. 3 Zootecnista, mestre em Produção Animal, Gerente de Pesca na Secretaria de Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária, Palmas, TO.

11 municípios tocantinenses às margens do Araguaia. As principais espécies capturadas neste período, por ordem de produção, foram Pacu (Myleus spp.), Curimatá (Prochilodus spp.), Piau (Leporinus spp.), Tucunaré (Cichla spp.), Corvina (Plagioscion spp.), Branquinha (Curimata spp.), Cachorra (Hydrolycus spp.), Piranha (Serrasalmus spp.), Acará (Cichlasoma spp.), Fidalgo (Ageneiosus brevifilis) e Avoador (Hemiodus sp). Juntas, estas espécies representaram mais de 84% da produção no período analisado. A fragilidade dos dados em não refletir as informações de desembarque, e sim de ato declaratório da produção, resulta em poucas assertivas sobre a sazonalidade das capturas. No entanto, a série histórica indica um padrão de para algumas espécies como o Piau, Pacu e Avoador. Outra observação foi a sinonímia entre nomes populares dados a um mesmo peixe, na qual sugere-se mais capacitação científica em taxonomia e ajustes de vocabulário nas comunidades ribeirinhas. Como ação mais importante, recomenda-se a criação e manutenção de um plano de monitoramento de desembarque como política de estado, que contemple a calha do rio Araguaia em toda sua extensão, acompanhando principalmente a produção e o esforço das principais pescarias ocorrentes nesta bacia hidrográfica. Palavras chave: peixe, pescador, captura, monitoramento.

Production and seasonality of the main species caught by artisanal fisheries in Araguaia/ TO river Abstract The Araguaia River, combined with the Tocantins River, is the second largest river basin in Brazil and represents such importance for the Cerrado and Amazonian biomes. One of the main activities is artisanal fishing, which provides work, income, food security and cultural identity for thousands of riverine families. One of the main challenges faced by artisanal fishing is the lack of basic information regarding the production and seasonality of the species caught. The official figures does not detail the production by municipality, by species, nor does it evaluate the seasonality and commercialization value of the production. This article aims to describe the seasonality and production of the main fish species caught in the middle Araguaia river, aiming mainly to subsidize new management proposals. Was evaluated the monthly production database (March to October) provided by then Superintendency of the Ministry of Fisheries and Aquaculture-TO, between the years 2013 and 2014 and included 11 municipalities of Tocantins on Araguaia river. The main species captured in this period, in order of production, Pacu (Myleus spp.), Curimatá (Prochilodus spp.), Piau (Leporinus spp.), Tucunaré (Cichla spp.), Corvina (Plagioscion spp.), Branquinha (Curimata spp.), Cachorra (Hydrolycus spp.), Piranha (Serrasalmus spp.), Acará (Cichlasoma spp.), Fidalgo (Ageneiosus brevifilis) and Avoador (Hemiodus sp). Together, these species accounted 84% of production

in the analyzed period. The fragility of the database does not reflect the yield landings, but for production declaration, results in poor assertions about catches seasonality.however, the historic figures suggests a pattern for some species such Piau, Pacu and Avoador. Furthermore, the synonymy between popular names given to the same fish, which suggests more scientific taxonomy qualification and vocabulary adjustments in the communities fisherfolks. The highlight of this paper is to recommend create and maintain a land monitoring plan as a state policy, which contemplates an entire Araguaia river, accompanying mainly the catch and effort of the main fisheries occurring in this watershed. Key words: fish, fisherfolk, catch, monitoring.

Produção e sazonalidade das principais 9 Introdução A pesca continental ou de água doce provê segurança alimentar, renda, recreação e identidade cultural para milhões de pessoas no mundo (WELCOMME et al., 2010). No Brasil também se evidencia, principalmente se considerarmos as grandes bacias existentes da região Norte como a Amazônica e Tocantins-Araguaia. O rio Araguaia possui uma bacia hidrográfica de 382.000km 2 e 2.115 km de extensão desde sua nascente até sua foz, sendo 900 km percorridos no estado do Tocantins. É um rio de planície com baixa densidade de drenagem (RIBEIRO et al., 1995) e vegetação bem distribuída (LATRUBESSE e STEVAUX, 2006). Sua paisagem é dominada por praias de areia e pedra, incluindo ainda a Ilha do Bananal (maior ilha fluvial do mundo) e o Parque Estadual do Cantão que, com sua alta diversidade de peixes, é uma importante zona de transição entre o cerrado e a floresta amazônica (FERREIRA et al., 2011). A pesca é predominantemente artesanal e as populações ribeirinhas que a praticam tem nesta uma das principais atividades econômicas e de segurança alimentar. Desde os primeiros registros oficiais (início dos anos 1990), o estado do Tocantins apresenta pouco conhecimento publicado sobre pesca artesanal (PETRERE, 1989) e que ainda perdura nos tempos atuais. Os estudos são mais frequentes quando os recursos pesqueiros sofrem modificações antrópicas drásticas como as hidrelétricas, por exemplo (AGOSTINHO, 2007). Tais alterações promovem profundas mudanças socioeconômicas e ambientais nas quais a pesca está inserida. As demandas oriundas das hidrelétricas, irrigação e indústria, predominam diante das demandas das comunidades pesqueiras principalmente nos países em desenvolvimento (FAO, 2016). Por outro lado, a produção pesqueira continental oriunda de reservatórios e áreas de várzeas na América do Sul é a maior do mundo, com rendimentos entre 100 e 200 kg/ha (LYMER et al.,2016). O rio Araguaia está situado numa região que agrega cerca de 40% dos pescadores artesanais do Brasil (SANTOS, 2005; MPA, 2012),

10 Produção e sazonalidade das principais porém a produção pesqueira do estado do Tocantins não é expressiva nacionalmente. Em 2011 a pesca produziu 1.927 toneladas, um aumento de 10% em relação ao ano anterior. Apesar do aumento, Tocantins é o 24º produtor nacional por pesca extrativa, a frente apenas de Goiás, Roraima e Distrito Federal, com 1.496; 386 e 375 toneladas, respectivamente (MPA, 2013). Na pesca continental, o Tocantins ocupa a 18º posição entre os estados produtores. A pesca continental é carente de informação básica (BEARD-Jr et al.,2016) e possui uma base de dados estatísticos frágil e descontínua. Esta constatação é típica da pesca artesanal, cujas características dificultam a estimativa dos rendimentos, além do alto custo associado às metodologias de monitoramento de desembarque (FAO, 2016). Muitos estudos sugerem que a estatística da pesca continental está subestimada em pelo menos 50% (FAO, 2014). Um exemplo é a bacia do rio Mekong, na Ásia, em que o somatório da produção da pesca dos países que compartilham esta bacia é menor do que os dados oficiais do rio Mekong sozinho (WELCOMME et al., 2014). No rio Araguaia, Zacarkim et al (2015) registraram rendimentos da pesca 305% maior do que a estimativa oficial para a mesma região, indicando haver uma subestimação das estatísticas oficiais. Ainda, a estatística oficial brasileira não publica informações referentes à sazonalidade da produção por município, estado e/ou espécie capturada, o que dificulta um planejamento adequado para o ordenamento da atividade e dos estoques continentais a longo prazo. Ainda, não há registros da relação entre a sazonalidade com o pulso de inundação do rio, podendo ser uma importante variável para o entendimento da dinâmica dos estoques de peixes no Araguaia. Esta lacuna de informações prejudica significativamente a construção de políticas públicas mais ajustadas ao setor. A necessidade de monitorar a pesca é prioritária para o desenvolvimento do setor não apenas no Tocantins, mas para Brasil (PRYSTHON et al, 2012). Neste sentido, este artigo visa descrever a produção e sazonalidade das principais espécies capturadas no médio rio Araguaia, visando ainda subsidiar novas propostas de gestão.

Produção e sazonalidade das principais 11 Metodologia A área de estudo compreendeu a 11 municípios do estado do Tocantins, situado às margens do rio Araguaia (Figura 1). A unidade de registro para as análises de ocorrência, produção e sazonalidade das capturas foi o somatório mensal da produção (em kg) por espécie, por município e por ano. A análise foi realizada a partir da base de dados cedida pelo então Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) em 2015, cujas atribuições hoje estão sob a coordenação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Os registros cedidos pelo MPA correspondem aos mapas mensais de produção das Colônias de pesca dos respectivos municípios. Foram analisados os registros do período entre 2013 e 2014, entre os meses de março a outubro. Cada registro é o somatório mensal da declaração do pescador na colônia, podendo não significar a quantia exata capturada em cada expedição de pesca. Ou seja, a quantia declarada à Colônia pelo pescador não necessariamente reflete o total capturado. Para a relação da vazão do rio Araguaia (em m 3 /s) com a produção foi utilizada a base de dados da Agência Nacional de Águas - ANA de toda a sua extensão e considerada a média de valores das estações ao longo do rio em 11 municípios de quatro estados (GO, MT, PA e TO) entre os anos de 2011 e 2014. A estatística utilizada para as análise dos dados foi descritiva, com análise exploratória utilizando-se figuras tipo treemap, histogramas e bloxsplot com software de plataforma aberta (R ). O gráfico bloxplot representou a medida de localização e de dispersão, se baseando na mediana e nos quartis. Como tais medidas são robustas ou resistentes ao impacto de valores muito elevados ou muito pequenos, resulta que o boxplot resiste a influências provenientes de valores extremos. Uma vantagem deste método é a de permitir visualizar informações importantes sobre a forma dos dados. Para análise das principais espécies capturadas considerou-se as 11 espécies de maior produção declarada no período.

12 Produção e sazonalidade das principais Figura 1. Mapa de localização dos municípios estudados.

Produção e sazonalidade das principais 13 Resultados e discussão Ocorrência e sazonalidade das principais espécies Foram analisados 2.471 registros mensais de produção no período estudado, sendo 2013 com 1.276 e 2014 com 1.195 registros, respectivamente, mostrando um volume de dados equivalente entre os anos. No que diz respeito à produção, os municípios de Araguatins e Esperantina se destacaram volumes acima de 150 toneladas em 2013 (Figura 2) enquanto que os de menor produção total foram Caseara e Araguanã, com 13 e 2 toneladas, respectivamente. Já em 2014, o município de Esperantina apontou como sendo o de maior produção, mesmo tendo declinado em mais de 50% com relação ao ano anterior. Caseara quase quadruplicou sua produção entre 2013 e 2014. Araguaína também aumentou sua produção significativamente e Araguanã cresceu mais de 20 vezes sua produção entre estes anos. Vale lembrar que a produção foi declarada na colônia e não necessariamente reflete o volume total capturado, não havendo o registro do desembarque. A falta de um monitoramento de desembarque não é peculiar apenas do Tocantins, e sim uma lacuna crônica da gestão pesqueira artesanal brasileira. Tal cenário impede de traçar medidas de ordenamento mais eficazes, pois não se sabe o quanto é explorado (PRYSTHON, 2014). Monitorar desembarques pode elucidar questões sobre qual esforço de pesca é o mais adequado aos estoques de peixes, considerando ainda os tipos de embarcações, tipos de pescarias, número de pescadores e espécies capturadas. Na região amazônica, a avaliação de desembarques de dois anos não foi conclusiva, porém mostrou como é importante conhecer a realidade local e evitar generalizações (GONÇALVES e BATISTA, 2008) e ainda contribui para a melhoria de políticas públicas de ordenamento pesqueiro (ALCANTARA et al., 2015)

14 Produção e sazonalidade das principais Araguatins Esperantina Pau Darco Araguaína Esperantina Araguacema 2013 2014 Araguacema Pau Darco Xambioa Aragominas Araguatins Caseara Couto Magalhaes Araguaína Santa Fé Aragominas Caseara Araguanã Couto Magalhaes Xambioa Santa Fé 0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000 Total de peixe(kg) Figura 2. Distribuição proporcional treemap da produção (em kg) dos municípios em 2013 e 2014. Avaliando a produção mensal percebe-se que não há um padrão definido entre os municípios. Araguatins por exemplo, apresentou produções entre 20 e 30 toneladas mensais, decrescendo até o final da temporada enquanto que Xambioá, município vizinho, manteve sua produção mensal abaixo de 10 toneladas com tendência de aumento ao final da temporada (Figura 3). De forma geral houve oscilações na produção mensal com aumento, declínio e estabilização da produção a depender do município. A diferença de comportamento da produção mensal entre município pode ser influenciada por: (i) da possível fragilidade na declaração do pescador ao não reportar toda a produção capturada, (ii) da intensificação do turismo nos meses de junho e julho nas praias de alguns município (ex. Araguacema e Araguaína), que pode justificar o aumento na produção, pois há uma maior

Produção e sazonalidade das principais 15 comercialização de peixe aos turistas e (iii) à configuração da cadeia produtiva e governança e logística no mercado de peixe. Locais de difícil acesso como Aragominas, dificulta o escoamento da produção. A maioria das medianas dos municípios estudados ficou entre 400 e 800 kg/mês, e com característica assimétrica (Figura 4). A mediana determina a localização do centro da distribuição de dados, isto é divide 50% da amostra. A assimetria indica que a mediana não coincide com a média das capturas. Tal fato é comum em pescarias de pequena escala, quando não há regularidade no volume capturado. Araguacema se destaca por apresentar uma maior amplitude de dados, indicando que houve capturas acima do previsto, porém as medianas continuam nos mesmos patamares das demais. Figura 3. Somatório da produção por mês/município entre 2013 e 2014.

16 Produção e sazonalidade das principais Figura 4. Distribuição da produção em bloxplot com as respectivas medianas (em kg) por mês/município entre 2013 e 2014. Entre 2013 e 2014, os municípios que registraram maiores produções médias mensais foram Araguatins, Esperantina, Pau Darco, Araguacema e Araguanã, com valores acima de 500 kg/mês (Figura 5). No entanto, a maior relação kg/pescador se deu em Araguaína, Araguacema e Santa Fé do Araguaia. O município de Araguatins se destaca por ter a maior produção média mensal dos municípios estudados. Porém, sua a relação kg/pescador foi a menor de todas (0,6kg), pois o número de pescadores neste município é maior que os demais (1126 segundo RGP 1 ). O inverso ocorreu em Araguaína, em que a relação é 13kg/ pescador. Tal fato se deve ao número reduzido de pescadores nesta comunidade (29 cadastrados no RGP). 1 *fonte:www.sinpesq.mpa.gov.br/rgp_cms.

Produção e sazonalidade das principais 17 Figura 5. Média da produção (kg/mês) e relação da produção total em função do número de pescadores inscritos no RGP, por município, entre 2013 e 2014. Foram registrados 44 nomes populares de peixes no período estudado. Porém foram consideradas apenas as 11 espécies mais capturadas. Ou seja, 25% das espécies representaram mais de 80% do total das capturas (Tabela 1). Esta proporção é semelhante à encontrada região Amazônia em que as 12 espécies mais capturadas representam 66% do total (BATISTA, et al., 2012). Houve casos de uma espécie ter mais de um nome popular, o que não foi analisado por este estudo, assim como agrupamentos de diferentes espécies de mesmo gênero considerado apenas um nome popular como, por exemplo, tucunaré, piranha e pacu. A diversidade de nomes populares dado aos peixes tem origem principalmente no latim ou línguas nativas e consideram variáveis como morfologia, nomes de planta, pessoas, padrão de cor, comportamento, sabor/cheiro, habitat, tamanho e localidade (FREIRE e FILHO, 2009). Por outro lado, esta diversidade de nomes fragiliza a compilação de dados para a estatística pesqueira (FREIRE e PAULY, 2005) e dificulta uma avaliação mais precisa dos estoques, pois a estatística generaliza ao registrar apenas um nome popular (VASCONCELLOS et al, 2007). Um exemplo neste estudo é o Ageneiosus sp, chamado de fidalgo ou boca larga, 10º espécie mais capturada no período. Neste estudo, os dois nomes foram identificados, sendo o fidalgo com 41,4 toneladas

18 Produção e sazonalidade das principais (tabela 1), enquanto o boca larga com 27,3 toneladas. No entanto, seu somatório (68,7 T) faria com que esta espécie ficasse na 7ª posição no ranking de produção dos anos estudados. Tabela 1. Principais espécies capturadas no rio Araguaia (TO), suas respectivas produções acumuladas (2013 e 2014) e total relativo entre todas as espécies capturadas. Espécies Nome popular Somatório (Ton.) 1 Myleus spp Pacu 194,36 2 Prochilodus spp. Curimatá 162,56 3 Leporinus spp Piau 150,00 4 Cichla spp. Tucunaré 109,47 5 Curimata spp. Branquinha 71,06 6 Plagioscion spp Corvina 65,30 7 Hydrolycus spp. Cachorra 55,55 8 Serrasalmus spp Piranha 53,28 9 Cichlasoma spp Acará 49,67 10 Ageneiosus brevifilis Fidalgo 38,83 11 Hemiodus sp Avoador 31,41 Total (T) 981,6 Total Geral (T) 1.166,00 Total relativo (%) 84,15 As três principais espécies capturadas (Pacu, Curimatá e Piau) são de base de cadeia trófica e de hábito forrageiro, pertencentes à ordem Characiformes. Por estar na base da cadeia alimentar, esta ordem é a de maior abundancia no rio Araguaia (PEREIRA, 2010). Juntas, elas representaram um montante de 277,74 toneladas em 2013 (53,9% do volume capturado nesse ano) e 229,23 toneladas em 2014 (47,9% do total capturado). O Pacu, espécie mais captura, apresentou queda de 13% (Figura 6). Vale salientar que o nome popular Pacu contempla diversas espécies tais como a pacu manteiga, dente-seco, branca, ferrada, pacu CD e Kurupeté, o que, como supracitado, impacta negativamente na construção planos de planos de manejo voltado a estas espécies.

Produção e sazonalidade das principais 19 A segunda espécie mais capturada em 2013 foi a Curimatá, caindo sua produção em 27,4% entre 2013 (94,3 T) e 2014 (68,1 T) (Figura 6). Em 2014, a produção de piau (70,6 T) ultrapassou a de Curimatá, mesmo havendo redução de 11% nas suas capturas. Zacarkim et. al (2015) relataram a Ordem dos Characiformes como a mais abundante na pesca artesanal do Araguaia, tendo como principais espécies o Leporinus fridericis, Myleus sp. e Prochilodus nigrans. Outro ponto que deve ser observado é o aumento de espécies de hábitos piscívoros neste período. O tucunaré, por exemplo, espécie de grande valor comercial para a pesca artesanal e esportivo para a pesca amadora, teve um acréscimo de produção de 36,1%, entre 2013 e 2014. Outras espécies piscívoras que também apresentaram acréscimo na produção entre 2013 e 2014 foram a cachorra e piranha, com 31,8 e 45,3% respectivamente. Como não há registros anteriores de informações de desembarque, não é possível indicar tendência de aumento ou diminuição de esforço de pesca nesta espécie, com apenas dois anos de informações de produção. De forma geral, o cenário de declínio de algumas espécies e aumento de outras, nos alerta que o ordenamento pesqueiro deve considerar as nuances produtivas de cada espécie e o esforço exercido em cada uma delas para o manejo correto dos estoques. Nesse sentido, é clara a necessidade de que para alcançar o uso sustentável dos recursos naturais deve haver um compromisso coletivo e explícito entre usuários e gestores da pesca (ISAAC-NAHUM, 2006).

20 Produção e sazonalidade das principais Figura 6. Oscilação da produção das principais espécies entre 2013 e 2014. Quanto a sazonalidade das espécies, não há um padrão das medianas entre os meses, assim como não há um padrão de variabilidade dos quartis (Figura 7). As medianas variaram entre 300 e 900 kg/mês. Duas espécies apresentaram indícios de terem suas safras no segundo semestre, o pacu de forma gradativa entre julho e outubro e o Avoador, de julho a setembro. No primeiro semestre, o piau tem indícios de safra logo após a liberação da pesca em março. O tucunaré apresentou muitas produções altas, porém de forma isolada nos meses, pois as medianas estão no mesmo patamar das demais espécies.

Produção e sazonalidade das principais 21 Figura 7. Distribuição mensal das medianas (kg) das principais espécies capturadas no rio Araguaia-TO. Vazão (m 3 /s) e produção Ao correlacionar dados de vazão do rio Araguaia (m3/s) com a produção pesqueira (kg) observa-se dois períodos distintos. O Período 1 destaca os ciclos anuais de cheia e vazante de 2011 a 2013, apresentando picos menores de cheia ao longo dos anos (Figura 8). O Período 2 considera o ciclo de vazão em 2013 (com lacunas) e 2014 e a produção pesqueira total por mês (com lacunas devido ao período de defeso). Nota-se uma continuidade na redução do ciclo hidrológico, apresentando o menor pico de cheia da série histórica. Ainda, 2014 foi um ano atípico de vazão, pois além do menor ciclo hidrológico da série, ocorreram dois pequenos picos de cheia (em janeiro e março). Mesmo com esta vazão peculiar, as produções mensais de 2013 e 2014 se mantiveram no mesmo patamar.

22 Produção e sazonalidade das principais Não se pode afirmar que a vazão tenha influenciado no volume de pescado capturado em 2013 e 2014. Entretanto, alguns fatores precisam ser observados diante deste cenário dentre eles: a (i) defasagem da produção pesqueira mensal com relação à informação de vazão de um determinado mês, (ii) a qualidade das informações declaradas de produção, uma vez que não são dados de desembarque e sim, produção informada; (iii) a falta de informações da produção pesqueira de anos anteriores e; (iv) desmatamento, que já provocou uma perda de 55% da vegetação nativa e alterou as características hidrológicas e morfológicas de 82 mil km2 na bacia do rio Araguaia (COE et al., 2011). Normalmente, o regime hidrológico anual influencia diretamente na produção e na diversidade de espécies (ZARCARKIM et al., 2015). Segundo a FAO (2016), compilando dados de 40 bacias em vários países, comprovou uma relação direta entre os rendimentos da pesca e a vazão (m 3 /s). Devido à fragilidade dos dados, não foi possível tecer sobre esta relação. Neste sentido, se reforça a importância de monitorar os desembarques como instrumento de manejo da pesca, correlacionando ao pulso de inundação do rio Araguaia. Figura 8. oscilação mensal da vazão (m 3 /s) entre 2011 e 2014 e produção pesqueira (kg/mês) em 2013 e 2014.

Produção e sazonalidade das principais 23 Correlacionando-se a vazão com as 11 espécies mais capturadas separadamente, verifica-se que algumas espécies ocorrem em maior volume próximas ao pico de inundação do rio e que também coincide com o final do período de defeso a exemplo do piau (Figura 9). A maioria das espécies apresenta mais de um pico de produção por ano. Algumas espécies tiveram suas produções máximas próximas ao período de vazante o que pode indicar suas safras. É o caso do pacu, acará e avoador. O pacu, espécie mais capturada, teve seu pico de produção tardio (julho e agosto ) em relação ao pulso máximo de inundação. O Acará também teve suas produções mensais máximas tardias, em agosto de 2013 e setembro de 2014. O Avoador teve sua captura máxima nos meses de agosto e setembro, onde sua pesca ocorre com mais intensidade e com uma legislação específica para este recuso pesqueiro (IN 12/2011 2 ). 2 INSTRUÇÃO NORMATIVA INTERMINISTERIAL No- 12, DE 25 DE OUTUBRO DE 2011. Par.1, inciso II: permite a captura com: rede de emalhar apenas pelo método de cerco em praia, com malha igual ou superior a 50 mm de julho a setembro e para a pescado voador (Hemiodontidae), instaladas a uma distância mínima de 150m umas das outras e identificadas com plaquetas, contendo nome e o número de registro no RGP.

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Produção e sazonalidade das principais 27 Figura 9. Vazão do rio Araguaia (m 3 /s) e sazonalidade das principais espécies capturadas entre 2013 e 2014. Considerações finais Considerando a análise da série histórica de 2013 e 2014 disponibilizada pelo Ministério da Pesca e Aquicultura, pode-se concluir que: - - Há pouca consistência nos dados para definir um padrão de sazonalidade das capturas devido à fragilidade qualitativa e quantitativa dos dados de produção. Neste sentido, é urgente e prioritária a criação e manutenção de um plano de

28 Produção e sazonalidade das principais monitoramento de desembarques que contemple não apenas o estado do Tocantins, mas a bacia hidrográfica do Araguaia, acompanhando principalmente a produção e o esforço exercido pelas principais pescarias; -- A implantação de um plano de monitoramento de desembarque deve vir acompanhada de um processo descentralizado de planejamento e execução junto às comunidades pesqueiras. Envolver os usuários de forma ampla e participativa aumentará as chances de sucesso no manejo adequado dos estoques pesqueiros e promoverá uma maior interação entre gestores públicos; -- Entre os municípios, não há um padrão de produção mensal definido, havendo casos de crescimento, decréscimo e estabilização da produção, ocorrendo ainda picos isolados ao longo da temporada; -- Entre as espécies capturadas, há indícios de safra do Piau, Pacu e Avoador, porém a análise necessita de uma série temporal mais extensa e que contemple informações de esforço e captura; -- A tentativa de correlacionar dados de vazão com a produção se mostrou pouco eficaz. Mesmo sendo uma variável importante e reconhecida pela literatura, a produção de apenas dois anos, aliado a dados incompletos de vazão do rio Araguaia em 2013, não permitiu correlacionar destas variáveis. Tal fato reforça a importância de um monitoramento de desembarques; - - Visando minimizar erros na consolidação de espécies com mais de um nome popular na mesma bacia, recomenda-se: (i) o treinamento de técnicos/pesquisadores quanto a identificação taxonômica e ocorrência das espécies em Bacias brasileiras; (ii) capacitações nas comunidades pesqueiras com o intuito de minimizar a diferença entre o vocabulário utilizado em diversas regiões e; (iii) melhorar a divulgação das publicações acerca do tema.

Produção e sazonalidade das principais 29 Agradecimento À Dra. Rosiana Rodrigues Alves, da Embrapa Pesca e Aquicultura, pela paciência e apoio nas análises e correções da estatística descritiva. Referências ALCANTARA, N. C. A.; GONÇALVES, G.S.; BRAGA, T.M.P.; SANTOS, S.M; ARAÚJO, R.L.; PANTOJA-LIMA, J.; ARIDE, P. H.R.; OLIVEIRA, A.T. Avaliação do desembarque pesqueiro (2009-2010) no município de Juruá, Amazonas, Brasil. Biota Amazônia. Macapá, v. 5, n. 1, p. 37-42, 2015 AGOSTINHO, A. A. Ecologia e manejo de recursos pesqueiros em reservatórios do Brasil. Maringá: Eduem, 2007. 501 p.:il. BATISTA, V.S.; ISAAC, V.J.; FABRÉ, N.N. 2012. A Produção desembarcada por espécie e sua variação por macrorregião Amazônica. In BATISTA, VS. Peixes e pesca no Solimões-Amazonas: uma avaliação integrada. Brasília: Ibama/ProVárzea. 276 p. BEARD, T. D.et al. Inland Fish and Fisheries: A Call to Action. In W.W. Taylor, D.M. Bartley, C.I. Goddard, N.J. Leonard & R. Welcomme, eds. FRESHWATER, FISH AND THE FUTURE: PROCEEDINGS OF THE GLOBAL CROSS-SECTORAL CONFERENCE.Rome, FAO, and Bethesda, USA, American Fisheries Society. COE, M.T.; LATRUBESSE, E.M.; FERREIRA, M.E.; AMSLER, M.L. The effects of deforestation and climate variability on the streamflow of the Araguaia River, Brazil. Biogeochemistry (2011) v. 105, n.119. FAO. 2016. The State of World Fisheries and Aquaculture 2016. Contributing to food security and nutrition for all. Rome. 200 p. FAO. 2014. Report of the 41st Session of the Committee on World Food Security (Rome, 13-18 outubro 2014) [online]. Acesso: 16 outubro

30 Produção e sazonalidade das principais 2015. Disponível em: <www.fao.org/fileadmin/templates/cfs/docs1314/ CFS41/CFS41_Final_Report_EN.pdf>. FERREIRA, E., et al.. The fish fauna of the Parque Estadual do Cantão, Araguaia River, State of Tocantins, Brazil. 2011. Biota Neotropica. v. 11. n. 2. Disponível em : <http://www.biotaneotropica.org.br/v11n2/en/inve ntory?article+bn01711022011>. FREIRE, K. M. F. & CARVALHO FILHO, A. Richness of common names of Brazilian reef fishes. 2009. Pan-American Journal of Aquatic Sciences, v. 4. n. 2. p. 96-145. FREIRE, K. M. F. PAULY, D. Richness of common names of Brazilian marine fishes and its effect on catch statistics. Journal of Ethnobiology. v. 25. n. 2. p. 279-296. 2005. GONCALVES, C.; BATISTA, V. S. Avaliação do desembarque pesqueiro efetuado em Manacapuru, Amazonas, Brasil. Acta Amazonica. [online]. 2008, v. 38, n. 1. p.135-144. Acessado em: 2017 de maio 10, Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0044-59672008000100015&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0044-5967. http://dx.doi. org/10.1590/s0044-59672008000100015>. ISAAC-NAHUM, Victoria Judith. Explotação e manejo dos recursos pesqueiros do litoral amazônico: um desafio para o futuro. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 58, n. 3, 2006. Acessado em: 02 Maio 2017. Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=s0009-67252006000300015&lng=en&nrm=iso>. LATRUBESSE, E.M.; STEVAUX, J.C. 2006. Características físico-bióticas e problemas ambientais associados à planície aluvial do rio Araguaia, Brasil Central. Revista UnG Geociências. V.5, N.1, 2006, 65-73. LYMER, D.; MARTTIN, F.; MARMULLA, G.; BARTLEY, D. (forthcoming). 2016. A global estimate of theoretical annual inland capture fisheries harvest. In W.W. Taylor, D.M. Bartley, C.I. Goddard, N.J. Leonard & R. Welcomme, eds. Freshwater, Fish and the Future: proceedings of

Produção e sazonalidade das principais 31 the global cross-sectoral conference. Rome, FAO, and Bethesda, USA, American Fisheries Society. MPA, 2013. Boletim estatístico da pesca e aquicultura - Brasil 2011. Disponível em: <http://www.mpa.gov.br/images/docs/informacoes_e_ Estatisticas/Boletim%20MPA%202011FINAL3.pdf>. Acessado em: 01/11/2013. MPA. Boletim estatístico da pesca e aquicultura 2010. Brasília, Ministério da Pesca e Aquicultura, p 129. 2012. Disponível em: <http://www. mpa.gov.br/images/docs/informacoes_e_estatisticas/boletim%20 Estat%C3%ADstico%20MPA%202010.pdf>. PEREIRA, Poliana Ribeiro. Estrutura trófica de assembléia de peixes em praias do trecho médio dos rios Araguaia e Tocantins, estado do Tocantins, Brasil. 2010. 67 f. Dissertação (Mestrado em Ecofisiologia, Ictiologia, Mamíferos aquáticos, Recursos pesqueiros, Aquacultura, Sistemática e Biol) - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, 2010. PETRERE M (1989). River fisheries in Brazil: a review. Regulated Rivers Research and Management v. 4. p. 1 16. PRYSTHON, A.Pet al. Relatório técnico do Seminário Nacional de Prospecção de Demandas da Cadeia Produtiva da Pesca - PROSPESQUE. Brasília, DF : Embrapa, 2012. 88 p. RIBEIRO, M. C. L. D. B., PETRERE, M. AND JURAS, A. A. (1995), Ecological integrity and fisheries ecology of the Araguaia. Tocantins River Basin, Brazil. Regulated Rivers Research and Management, v.; 11. p. 325-350. SANTOS, M.A.S. A cadeia produtiva da pesca artesanal no Estado do Pará: estudo de caso no Nordeste Paraense (the production chain of artisanal fisheries in the state of Pará: a case study from Northeast Pará). Amazônia: Ciência e Desenvolvimento, Belém, v. 1, n. 1, p. 61 81, jul/dez. 2005.

32 Produção e sazonalidade das principais VASCONCELLOS, M.; DIEGUES A. C.; SALES, R. R. 2007. Limites e possibilidades na gestão da pesca artesanal costeira. p. 15-63. In: A. L. Costa. Nas redes da pesca artesanal. Brasília, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD. WELCOMME, R.L.; VALBO-JORGENSEN, J.; HALLS, A.S. eds. 2014. Inland fisheries evolution and management - case studies from four continents. FAO Fisheries and Aquaculture Technical Paper. n. 579. Rome, FAO. 77 p. Disponível em: <www.fao.org/3/a-i3572e.pdf>. WELCOMME, R. L. et al. 2010. Inland capture fisheries. Philosophical Transactions of the Royal Society of London. ZACARKIM, C.E. et al. The panorama of artisanal fisheries of the Araguaia River, Brazil. Fisheries Science. v. 81. p. 409-416. 2015.