EFEITO DA ADIÇÃO DE MICROLIGAS NA LAMINAÇÃO DE BOBINAS A QUENTE*

Documentos relacionados
EFEITO DAS TEMPERATURAS DE BOBINAMENTO E ENCHARQUE NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE UM AÇO LAMINADO A FRIO MICROLIGADO AO NIÓBIO*

INFLUÊNCIAS DE PROCESSO NO LIMITE DE ESCOAMENTO DE CANTONEIRA NA ESPECIFICAÇÃO NBR 7007 AR 415*

LAMINAÇÃO TERMOMECÂNICA DE UM AÇO MICROLIGADO AO NIÓBIO EM UM LAMINADOR DE TIRAS A QUENTE, COM CADEIRA STECKEL*

Engenheiro Metalurgista, Mestrando em Engenharia Metalúrgica, Assistência Técnica, Usiminas, Ipatinga, MG, Brasil. 2

PRECIPITAÇÃO DE CARBONITRETOS EM AÇO MICROLIGADO COM ELEVADO TEOR DE TITÂNIO. Sandro da Silva Campos e Hans-Jürgen Kestenbach

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E MECÂNICA DO AÇO API 5L X80 COM DISTINTOS PROJETOS DE LIGA*

Abstract. Meire Guimarães Lage 1 Carlos Salaroli de Araújo 2

Universidade Estadual de Ponta Grossa/Departamento de Engenharia de Materiais/Ponta Grossa, PR. Engenharias, Engenharia de Materiais e Metalúrgica

DESENVOLVIMENTO DO AÇO LAMINADO A QUENTE PARA ATENDER AOS REQUISITOS GRAU S700 DA NORMA EN10149 NA ARCELORMITTAL TUBARÃO*

MODELO MATEMÁTICO DE PREVISÃO DE PROPRIEDADES MECÂNICAS NA ARCELORMITTAL CARIACICA*

EFEITO DA TÊMPERA E REVENIMENTO EM AÇOS MICROLIGADOS CONTENDO BORO E TITANIO

LAMINAÇÃO TMCP DE CHAPAS GROSSAS PARA AÇOS ARBL MICROLIGADOS COM NIÓBIO, VANÁDIO E TITÂNIO LAMINADOS NA GERDAU OURO BRANCO*

EFEITO DA TEMPERATURA DE RECOZIMENTO SOBRE A MICROESTRUTURA E AS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO AÇO ARBL MICROLIGADO NBR 6656 LNE 380

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO MECÂNICO A ALTAS TEMPERATURAS DOS AÇOS SAE 1518 E MICROLIGADO AO NIOBIO POR ENSAIOS DE TORÇÃO A QUENTE*

INFLUENCE OF THE PRESENCE OF MICROALLOYING ELEMENTS AND THERMOMECHANICAL ROLLING PROCESS ON THE MECHANICAL PROPERTIES OBTAINED IN A SBQ STEEL

RELAÇÃO DE HALL-PETCH EM AÇOS MICROLIGADOS PRODUZIDOS COMO TIRAS A QUENTE

EFEITOS DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA SOBRE A RESISTÊNCIA MECÂNICA DE AÇOS MICROLIGADOS COMERCIAIS PROCESSA...

Eng. Materiais, Mestrando, Instituto de Pesquisas Tecnológicas, São Paulo-SP, Brasil 3

TRANSFORMAÇÃO DA AUSTENITA EM AÇOS MICROLIGADOS COM MICROESTRUTURA FERRÍTICA-BAINÍTICA 1 Antonio Augusto Gorni 2

Natal, 7 a 11 de agosto de 2000

EFEITO DOS TEORES DE Nb E Mn NA PRECIPITAÇÃO DE CARBONETOS E NITRETOS EM AÇO MICROLIGADO AO Nb E Ti.

3 Material e Procedimento Experimental

INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DE SOLUBILIZAÇÃO TEMPERATURA E TEMPO DE ENCHARQUE NA T NR DE UM AÇO MICROLIGADO AO NB, V, E TI

EFEITO DOS PARÂMETROS DA LAMINAÇÃO CONTROLADA SOBRE A PRECIPITAÇÃO DO COBRE EM AÇO HSLA-80 1 Antonio Augusto Gorni 2

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE RECOZIMENTO NA MICROESTRUTURA DO AÇO INOXIDÁVEL FERRÍTICO DURANTE A RECRISTALIZAÇÃO*

Gilmar Zacca Batista. Curvamento por Indução de Tubo da Classe API 5L X80. Dissertação de Mestrado

PRODUÇÃO DE AÇOS DAS CLASSES DE RESISTÊNCIA DE 80 E 90 KSI VIA TMCP NO LAMINADOR DE CHAPAS GROSSAS DA GERDAU OURO BRANCO *

Título do projeto Área de Concentração/Linha de Pesquisa Possíveis orientadores Justificativa/motivação para realização do projeto Objetivos

ENSAIOS ISOTERMICOS COM DUPLA DEFORMAÇAO DO AÇO IF POR TORÇAO A QUENTE*

DESENVOLVIMENTO DE VERGALHÃO EM ROLO MICROLIGADO DE ALTA RESISTÊNCIA*

ESTUDO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO AÇO API X70 PRODUZIDO POR LAMINAÇÃO CONTROLADA

Caracterização microestrutural do aço ASTM-A soldado por GMAW.

Dissertação de Mestrado

INFLUÊNCIA DO CAMINHO DE AQUECIMENTO NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE UM AÇO 1020 TEMPERADO A PARTIR DE TEMPERATURAS INTERCRÍTICAS

Metalurgia & Materiais

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE AQUECIMENTO NA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE UM AÇO MICROLIGADO *

MECANISMOS DE ENDURECIMENTO EM AÇO MICROLIGADO Nb-Ti-V

CORRELAÇÃO LIMITE DE ESCOAMENTO: MICROESTRUTURA EM AÇO MICROLIGADO Nb-Ti-V 1

AVALIAÇÃO DA MICROESTRUTURA DOS AÇOS SAE J , SAE J E DIN100CrV2 APÓS TRATAMENTOS TÉRMICOS*

4 Resultados (Parte 01)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Curso de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica, Materiais e de Minas. Dissertação de mestrado

Benefícios do uso de aços microligados ao Nióbio em edifícios industriais. Roberval José Pimenta Leonardo Magalhães Silvestre

ESTUDO DO EFEITO DO MOLIBDÊNIO EM AÇO DUAL PHASE TRATADO TERMICAMENTE NO CAMPO BIFÁSICO*

Metalurgia & Materiais

4 Resultados e Discussão

EFEITO DO TEOR DE FERRO RESIDUAL NO TAMANHO DE GRÃO E NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO LATÃO 70/30*

Tabela 4. Composição química dos aços API5LX80 (% em peso).

SIMULAÇÃO NUMÉRICA DO PROCESSO DE FORJAMENTO A QUENTE DE BARRAS DE UM AÇO MICROLIGADO PARA UTILIZAÇÃO NA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA RESUMO

INFLUENCE OF THE NORMALIZING ROLLING PARAMETERS ON THE TOUGHNESS OF ANB, V AND TIMICROALLOYED STEEL PROCESSED IN THE GERDAU PLATE MILL

8º CONGRESSO IBEROAMERICANO DE ENGENHARIA MECANICA Cusco, 23 a 25 de Outubro de 2007

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA E PARÂMETROS DE TRATAMENTO TÉRMICO NA TENACIDADE E NA RESISTÊNCIA DE AÇOS APLICADOS EM BAIXAS TEMPERATURAS*

EFEITO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA SOBRE A CINÉTICA DE TRANSFORMAÇÃO DE FASES DE AÇOS BAIXO CARBONO MICROLIGADOS LAMINADOS PELO PROCESSO STECKEL *

INTERAÇÃO ENTRE OS MECANISMOS DE ENDURECIMENTO NOS AÇOS MICROLIGADOS *

Doutor, Professor, Propemm, Instituto Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil. 3

Efeito dos Parâmetros de Resfriamento Acelerado na Microestrutura e nas Propriedades Mecânicas em Aços para Tubos de Grande Diâmetro

DETERMINAÇÃO DO DIAGRAMA CCT POR ANÁLISE TÉRMICA ATRAVÉS DE E...

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

EFEITO DA TEMPERATURA INTERCRÍTICA NA MICROESTRUTURA E NA DUREZA DE UM AÇO DUAL PHASE

23º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2018, Foz do Iguaçu, PR, Brasil

EFEITOS DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA E DA TEMPERATURA DE TRANSFORMAÇÃO SOBRE O ENDURECIMENTO POR PRECIPITAÇÃO INTERFÁSICA EM AÇOS MICROLIGADOS (1)

COM GRÃO ULTRA-FINO NA ÁREA AUTOMOTIVA

EFEITO DO TRATAMENTO TÉRMICO NA TRANSFORMAÇÃO DE FASES DE UM AÇO MICROLIGADO FORJADO

PRODUÇÃO DE CHAPAS GROSSAS LEVES ATRAVÉS DE LAMINAÇÃO DE NORMALIZAÇÃO NA GERDAU OURO BRANCO*

AVALIAÇÃO DA RECRISTALIZAÇÃO DINÂMICA DO AÇO ESTRUTURAL SAE 4140 ATRAVÉS DE ENSAIOS DE TORÇÃO A QUENTE

AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS DO PROCESSO TERMOMECÂNICO DA LAMINAÇÃO DE TIRAS A QUENTE DE AÇOS MICROLIGADOS AO NIÓBIO*

Profa. Dra. Lauralice Canale

5RGROIRÃ/LEDUGL Universidade Metodista de Piracicaba. Faculdade de Engenharia Mecânica e Produção. Santa Bárbara D Oeste, SP, Brasil.

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE REAQUECIMENTO E DO TEMPO ENTRE PASSES NA EVOLUÇÃO MICRO- ESTRUTURAL DE AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS*

INFLUÊNCIA DOS PARAMÊTROS DE PROCESSAMENTO DO RECOZIMENTO CONTÍNUO SOBRE O LIMITE DE ESCOAMENTO DE UM AÇO DE ALTA RESISTÊNCIA.

Campus Caxias do Sul. Caxias do Sul, RS, Brasil. *Orientador

Mecanismos de endurecimento em aços [16]

CÁLCULO DA TEMPERATURA DE NÃO-RECRISTALIZAÇÃO PARA AÇOS MICROLIGADOS, EM FUNÇÃO DA INTERAÇÃO ENTRE A PRECIPITAÇÃO E RECRISTALIZAÇÃO DA AUSTENITA 1

PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE AÇOS PLANOS COM GRÃO ULTRA-FINO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA. Carlos Wagner Silva de Souza

INFLUÊNCIA DA MICROESTRUTURA NAS PROPRIEDADES ELÉTRICAS DE LIGAS Al-Mg-Th E Al-Mg-Nb

INFLUÊNCIA DE DISTINTAS TEMPERATURAS DE BOBINAMENTO DE UM AÇO BAIXO CARBONO COM MICROADIÇÃO DE MOLIBDÊNIO E NIÓBIO*

61º Congresso Anual da ABM

A composição química das amostras de metal solda, soldadas a 10 m de profundidade, está listada na Tabela 2.

5.1. Morfologia da Microestrutura Austenítica durante a Laminação a Quente

Leonardo Miranda Nunes. Desenvolvimento de Aço Microligado para a Produção de Vergalhões Nervurados. Dissertação de Mestrado

ESTUDO DA DISSOLUÇÃO DE PRECIPITADOS DURANTE O REAQUECIMENTO DE PLACAS DE AÇOS MICROLIGADOS: UMA AVALIAÇÃO QUANTITATIVA*

Metalurgia & Materiais

D.Sc. em Ciências dos Materiais, Eng. Metalurgista, Professora Adjunta, IME, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; e PPGEM/UFF, Volta Redonda, RJ, Brasil.

Avaliação do revenimento na dureza e microestrutura do aço AISI 4340

Engenheira Metalurgista, Mestranda em Engenharia de Materiais, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Ouro Preto, MG, Brasil.

Estudo Quantitativo dos Mecanismos de Endurecimento em Aços Comerciais Microligados com Vanádio

EVOLUÇÂO MICROESTRUTURAL DE UM AÇO BAIXO CARBONO (C-Mn) E UM AÇO MICROLIGADO SUBMETIDOS A UM TRATAMENTO TERMOMECANICO A MORNO

Transformações de fase em aços [15]

ESTUDO AVALIATIVO DA TENACIDADE AO IMPACTO DE UM AÇO SAE 1644 SUBMETIDO A TRATAMENTO TERMOQUÍMICO DE CEMENTAÇÃO.

FATORES QUE AFETAM A RAZÃO ELÁSTICA DE CHAPAS GROSSAS DE AÇO MICROLIGADO 1

Determinação experimental da temperatura ideal de laminação a quente para aço baixo carbono, microligado ao vanádio e manganês 1

ESTUDO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO AÇO API X70 PRODUZIDOS ATRAVÉS DE LAMINAÇÃO CONTROLADA 1

EFEITO DA TEMPERATURA DE REVENIMENTO NO AÇO ASTM A 522 UTILIZADO NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS *

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Curso de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica e de Minas. Dissertação de mestrado

INVESTIGAÇÃO COMPUTACIONAL DO IMPACTO DOS PARÂMETROS TERMOMECÂNICOS NA MICROESTRUTURA DE UM AÇO MICROLIGADO AO NIÓBIO DURANTE A LTQ *

SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DO PROCESSO DE LAMINAÇÃO DE TIRAS A QUENTE

O EFEITO DO BORO NA RESISTÊNCIA À DEFORMAÇÃO A QUENTE DE AÇOS COM BAIXO CARBONO 1

Aços de alta liga resistentes a corrosão II

5 Resultados (Parte 02)

PROCESSAMENTO TERMOMECÂNICO DE LAMINAÇÃO A MORNO PARA REFINO DE GRÃO EM UM AÇO 0,16%C1

Transcrição:

EFEITO DA ADIÇÃO DE MICROLIGAS NA LAMINAÇÃO DE BOBINAS A QUENTE* Felipe Farage David 1 Alisson Paulo de Oliveira 2 Ricardo José Faria 3 Romeu Thomaz Viana Junior 4 Edson Hugo Rossi 5 Carlos Alberto Soares 6 José Herbert Dolabela da Silveira 7 Resumo A laminação de tiras a quente de bobinas de aço apresenta alta relevância devido a possibilidade de obtenção de diversos produtos para diferentes aplicações, tais como: construção civil, industria automotiva e implementos agrícolas. O controle das variáveis de processo, tais como temperatura de reaquecimento de placa, velocidade de resfriamento e temperatura de bobinamento, é determinante para obtenção da microestrutura e, por conseguinte, das propriedades mecânicas do material. O propósito desse trabalho é estudar o comportamento da microestrutura e das propriedades mecânicas com a variação da composição química (adição de microligas de nióbio e titânio), mantendo uma rota de laminação termomecânica similar na laminação de bobinas a quente. Os aços aplicados neste estudo foram o aço microligado ao nióbio e titânio equivalente ao ASTM A1018 HSLAS 50 Classe 1 e o aço carbono comum equivalente ao ASTM A1018 SS36 Tipo 2. Apesar do aço carbono comum apresentar carbono equivalente superior ao aço microligado, foi verificado maior limite de escoamento (σ e) no aço microligado ao nióbio e titânio. Dessa forma, aplicando tratamento termomecânico adequado no aço microligado é possível conseguir propriedades mecânicas melhoradas principalmente devido ao refino de grão e ao endurecimento da ferrita. Palavras-chave: Laminação a quente; Tratamento termomecânico; Aço microligado; Steckel. EFFECT OF ADDING MICROALLOYS IN HOT-ROLLED COILS Abstract The Hot-Rolled Coils from have a high relevance due to the possibility of obtaining various products for different applications, such as: structural steels, automotive industry and agricultural implements. The control of process variables, such as reheating temperature of the plate, cooling rate and coiling temperature is essential to obtain the microstructures and therefore the mechanical properties of the material. The purpose of this work is to study the behavior of the microstructure and mechanical properties by varying the chemical composition (adding the microalloys of Niobium and Titanium) and the similar thermomechanical rolling route in Hot- Rolled Coils. The steels used in this study were the Niobium and Titanium microalloyed steels equivalent to ASTM A1018 HSLAS 50 Class 1 and carbon steel equivalent to ASTM A1018 SS36 Type 2. Despite the carbon steel has a high amount of carbon them the microalloyed steel, we observed higher Yield Strength in the microalloyed steel with Niobium and Titanium. Thus, applying the appropriate thermomechanical treatment in the microalloyed steel, is possible to improve the mechanical properties mainly due to grain refining and hardening of ferrite. Keywords: Hot-Rolled Coils; Thermomechanical treatment; Microalloyed Steel; Steckel. 1 Engenheiro Metalurgista pelo IFES, Mestre em Engenharia Mecânica pela UFPE, Pesquisador do setor 2 Engenheiro Metalurgista pela UFMG, Mestre em Engenharia Metalúrgica pela UFMG, Pesquisador do setor 3 Engenheiro Metalurgista pela UFOP, Mestre em Engenharia Metalúrgica pela UFMG, Pesquisador do setor 4 Engenheiro Metalurgista pela UFOP, Pesquisador do setor Pesquisa e Desenvolvimento de aços planos da Gerdau S.A, Ouro Branco, Minas Gerais, Brasil. 5 Engenheiro Metalurgista pela UFOP, Mestre em Engenharia Metalúrgica pela UFMG, Pesquisador do setor 6 Engenheiro Metalurgista pela UFSJ, Pesquisador do setor Pesquisa e Desenvolvimento de aços planos da Gerdau S.A, Ouro Branco, Minas Gerais, Brasil. 7 Engenheiro Metalurgista pela UFMG, M.Sc. COPPE/UFRJ, Gerente da Laminação de Chapas Grossas da Gerdau S.A, Ouro Branco, Minas Gerais, Brasil. 536

1 INTRODUÇÃO Os aços microligados tem sido cada vez mais utilizados devido a combinação entre resistência mecânica, tenacidade e boa soldabilidade [1]. A aplicação de microligas como nióbio e titânio aumenta as propriedades mecânicas e possibilita melhor desempenho em produtos que exigem boa soldabilidade (por exemplo, aço para aplicação naval). A boa soldabilidade está atrelada principalmente à redução da quantidade de carbono na composição química do aço. Alternativamente, a elevada resistência é conseguida através de uma combinação de adição de microligas e de uma adequada rota de tratamento termomecânico seguido geralmente por resfriamento acelerado [2]. A adição de nióbio em aços microligados está relacionado ao efeito da precipitação dos carbonitretos de nióbio no contorno de grão da austenita [3]. Os cálculos de solubilidade mostram que o nióbio irá precipitar como NbC e NbN a temperaturas usuais de laminação, geralmente entre 800 e 1000 C, que está dentro do regime de temperatura de deformação total para laminação a quente. O nióbio, tanto em solução sólida como finamente precipitado em Nb(C,N), contribuem para o aumento da propriedade mecânica do aço [4]. Os precipitados de baixa temperatura são muito finos (menores que 3 nm), contribuindo mais efetivamente para o aumento do limite de escoamento [5]. Já o nióbio em solução sólida é eficaz em retardar a recristalização estática durante a laminação [4]. Já o titânio forma o precipitado TiN, sendo uns dos nitretos mais estáveis, formado durante a solidificação do aço, permanecendo estável durante a operação de reaquecimento da placa, evitando o crescimento do grão. Neste trabalho, foi estudado o comportamento das propriedades mecânicas do aço microligado ao nióbio e titânio e aço carbono com tratamento termomecânico similar. A variação das propriedades mecânicas, especialmente o aumento no limite de escoamento e microdureza foi mensurado via, respectivamente, ensaio de tração e microdureza Vickers. Dessa forma, foi possível avaliar o efeito da adição dos microligantes sobre o refino de grão e o aumento da resistência do grão da ferrita, aumentando assim o limite de escoamento do material. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Duas classes de aços, um equivalente ao ASTM A1018 SS36 Tipo 2 e outro microligado ao nióbio e titânio equivalente ao ASTM A1018 HSLAS Grau 50 Classe 1, foram escolhidas para estudar as propriedades das bobinas a quente em função da composição química e do tratamento termomecânico na laminação a quente. O fluxograma do procedimento experimental está de acordo com a Figura 1. 537

Figura 1. Fluxograma do procedimento experimental. A faixa da composição química dos aços está de acordo com a Tabela 1. Tabela 1. Faixa da composição química do aço aço microligado e do carbono comum Composição Química (% peso) Aço ASTM A1018 C Mn Si Nb Ti N (ppm) C equivalente, máximo SS36T2 <0,25 <1,35... <0,008 <0,025 <0,014 <0,40 HSLAS 50CL1 <0,23 <1,50... >0,005 >0,005... <0,30 A laminação a quente do aço microligado e do aço carbono foi realizado no laminador tiras a quente com resfriamento via laminar cooling. As rotas de produção estão descritas em detalhes na Tabela 2. Tabela 2. Rotas termomecânicas utilizadas no laminador Stelmor Rota 1 2 Descrição Aquecimento da placa do aço microligado acima de 1200 C, laminação na temperatura de austenitização, seguido de resfriamento no laminar cooling objetivando uma temperatura de bobinamento de 600 a 620 C. Aquecimento da placa do aço carbono comum acima de 1150 C, laminação na temperatura de austenitização, seguido de resfriamento no laminar cooling objetivando uma temperatura de bobinamento de 600 a 620 C. Como mostra a Tabela 2, o tratamento térmico no laminar cooling foi equivalente nos dois aços testados. A diferênça básica foi a temperatura final de reaquecimento da placa. No aço microligado, objetivou-se temperatura superior a 1200 C para garantir a solubilização do nióbio. Segundo a equação de Siciliano [6], a temperatura de solubilização do nióbio é de 1172 C para composição química do aço microligado mostrada na Tabela 1. As bobinas foram devidamente identificados e caracterizados em relação à metalografia e as propriedades mecânicas. Os corpos de prova utilizados foram preparados e ensaiados de acordo com a norma ASTM A370 (Standard Test Methods and Definitions for Mechanical Testing of Steel Products) [7]. Para análise de microdureza foi utilizado o microdurômetro Shmadzu HMV-2 e o ensaio foi realizado com uma carga 10g. A impressão foi realizada exclusivamente na região ferrítica. Para análise metalográfica, foi utilizado o microscópio Leica DMLM com uso de luz polarizada. 538

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO As microestruturas produzidas para cada aço (ASTM A1018 HSLAS 50 classe 1, ASTM A1018 SS36 tipo 2), foram analisadas via microscopia óptica, sendo utilizado um aumento de 500 vezes. A metalografia da seção transversal (perpendicular ao sentido da laminação a quente) é exposta na Figura 2. Todas as metalografias apresentaram predominância da fase ferrita pró-eutetóide poligonal (grãos brancos) em relação ao microcostituinte perlita (grãos acinzentados). Figura 2. Microestrutura do aço (a) microligado e (b) aço carbono comum. A Tabela 3 mostra a porcentagem dos microconstituintes presentes nos aços. De acordo com Yalamanchili et al. [8], a quantidade de ferrita pró-eutetóide é reduzida quanto maior for o teor de carbono e manganês. Logo, a bobina de aço ASTM 1018 SS36 possui o menor potencial para formação da ferrita pró-eutetóide. Estas tendências são confirmadas na quantificação dos microcostituintes, como mostra a Tabela 3. Tabela 3. Porcentagem dos microconstituintes e tamanho de grão médio Aço Ferrita (%) Perlita (%) Tamanho de Grão (µm) Nb Ti 91 9 5,6 C Mn 82 18 6,6 O aço microligado, após a laminação a quente, possui tamanho de grão inferior ao aço carbono comum SS36 (Tabela 3) apesar de ambos sofrerem o mesmo tratamento térmico no laminar cooling. Logo, há evidencias de precipitação de carbetos e nitretos de nióbio nos contornos de grão da austenita de maneira a promover um maior refino de grão. De acordo com Gunduz [9], a presença de partículas de segunda fase acarreta no bloqueio do crescimento do grão austenítico. Portanto, o menor tamanho de grão austenítico conduziu ao menor tamanho de grão ferrítico quando o material foi resfriado [10]. 539

Delta, Mpa LE Mínimo, Mpa 380-400MPa 310-330MPa 250MPa CEQ < 0,40 340MPa CEQ < 0,30 SS36 HSLAS Figura 3. Relação entre o limite de escoamento e o carbono equivalente do aço microligado HSLAS e do aço carbono comum SS36. Faixa de valores de LE obtidos. A relação entre o limite de escoamento (σe) e o carbono equivalente está de acordo com a Figura 3. O aço microligado obteve o maior limite de escoamento após a laminação a quente, mesmo apresentando o menor carbono equivalente dos aços testados. Isso evidencia que o aço microligado apresentou o efeito do endurecimento via precipitados de segunda fase, sendo estes os carbetos e nitretos de nióbio. De acordo com Glodowisk [11], o NbC(N) precipita de maneira a restringir o crescimento dos grãos durante a austenitização e o grão mais fino conduz a um aumento no limite de escoamento na liga que contém nióbio. Deve-se considerar que a redução do tamanho de grão aumenta a área de contorno de grão por volume de material, que por sua vez, é uma eficiente barreira para movimentação das discordâncias. Ainda segundo Vervynckt et. al. [5], o nióbio precipita em finos carbonitretos na matriz (podendo estar abaixo de 3 nm), sendo que estes precipitados também atuam como mecanismo de embarreiramento das discordâncias. Isso eleva o limite de escoamento do material. De fato o aço HSLAS possui o menor tamanho de grão (Tabela 3) e o maior σe após o tratamento térmico no laminar cooling, mesmo exibindo menor carbono equivalente, inferior ao aço carbono comum. Figura 4. Impressão realizada pelo ensaio de microdureza Vickers no grão da ferrita do (a) aço microligado e (b) aço carbono comum. 540

A Figura 4 exibe a impressão do ensaio de microdureza Vickers no grão da ferrita do aço microligado ASTM 1018 HSLAS 50-CL1 e do aço carbono ASTM 1018 SS36 T2. Foram realizados nas amostras dos aços estudados um total de 46 ensaios de microdureza. Os resultados estão apresentados na Figura 5. 100% ISSN 1983-4764 Figura 5. Dureza Vickers da ferrita no aço microligado HSLAS e do aço carbono SS36. O aço microligado apresentou grãos ferríticos com maior dureza, sendo em média 21 Vickers superior ao aço carbono comum (Figura 5), mesmo exibindo menor teor de carbono e manganês (elementos endurecedores da ferrita). Segundo Campos et al. [12], a precipitação de finos carbonitretos de nióbio ocorrem durante a transformação da austenita para ferrita na laminação a quente de aços microligados, contribuindo significativamente para o aumento da resistência do grão ferrítico. 4 CONCLUSÃO A bobina de aço microligado ASTM 1018 HSLAS Grau 50 CL1 apresentou em média maior limite de escoamento apesar de possuir o menor carbono equivalente em relação ao aço carbono comum ASTM 1018 SS36 T2. Este comportamento é justificado devido ao menor tamanho de grão exibido pelo aço microligado. Portanto, com a aplicação do tratamento termomecânico apropriado é possível promover endurecimento via precipitação de carbetos e nitretos de nióbio, de maneira a reduzir o tamanho de grão austenítico durante a laminação a quente. Análise de microdureza Vickers nos grãos individuais da ferrita se mostrou hábil para revelar a influencia dos precipitados em aços microligados, aumentando siginificativamente a dureza desta fase microestrutural em relação ao aço carbono comum. Agradecimentos 0% Os autores agradecem a Gerdau S.A pelo apoio ao projeto. 541

REFERÊNCIAS 1 Fan L, Wang T, Fu Z, Zhang S, Wang Q. Effect of Heat-Tratment on-line temperature on the microstructure and tensile properties of a low carbon Nb-microalloyed steel. Materials Science & Engineering A. 2014;1(607): 559-568. 2 Anijdana SHM, Rezaeianb A, Yuea S. The effect of chemical composition and austenite conditioning on the transformation behavior of microalloyed steels. Materials Characterization. 2012;1(63): 27-38. 3 Jansto SG. Applied metallurgy of the microniobium alloy approach in long and plate products. Metal. 2012;5(23): 1-7. 4 Homsher CN. Determination of the non-recrystallization temperature (tnr) in multiple microalloyed steels. 2013. 106 f. Degree of Master of Science (Metallurgical and Materials Engineering ) Colorado School of Mines, Colorado. 2013. 5 Vervynckt S, Verbekena K, Thibauxc P, Houbaert Y. Recrystallization precipitation interaction during austenite hot deformation of a Nb microalloyed steel. Materials Science & Engineering A. 2011;1(528): 5519-5528. 6 SICILIANO JR. Mathematical Modeling of the Hot Strip Rolling of Nb Microalloyed Steels. Ph.D. Thesis, McGill University, February 1999, 165 p. 7 AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. A370: Standard Test Methods and Definitions for Mechanical Testing of Steel Products. West Conshohocken, 2014. 50 p. 8 Yalamanchili B, Power PM, Lanham D. A Technical Review of Industrial Practices for Decreasing the Strain Hardening Rate of Low Carbon Steel Wire. Wire & Cable Technical Symposium at wai s74th annual convention, Texas, Junho, 2004. 11p. 9 Gunduz S. Static strain ageing behaviour of dual phase steels. Materials Science and Engineering A. 2008:1(486): 63-71. 10 Jahazi M, Eghbali B. The influence of hot forging conditions on the microstructure and mechanical properties of two microalloyed steels. Materials Processing Technology. 2001:1(113): 594-598. 11 Glodowski RJ. A review of vanadium microalloying in hot rolled steel sheet products. International Seminar on Application Technologies of Vanadium in Flat Rolled Steels, Suzhou, 2005. 9p. 12 Campos SS, Morales EV, Kestenbach J. Detection of interphase precipitation in microalloyed steels by microhardness measurements. Materials Characterization Materials. 2004:1(52): 379-384. 542