PROJETO DE LEI Nº 172/2012 Dispõe sobre a responsabilidade no fornecimento de bebidas alcoólicas. A Assembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo D E C R E T A Art. 1º. O fornecedor de bebidas alcoólicas deve, sem prejuízo das demais obrigações previstas em lei: I- assegurar informações suficientes e adequadas sobre os produtos e os riscos que apresentam; II- respeitar o direito de segurança do consumidor quanto ao modo do fornecimento, tendo como objetivos: a) minimizar os riscos que razoavelmente se esperam da ingestão dos produtos; b) evitar, dentro das medidas do possível e do razoável, que o consumidor, por abuso ou redução das capacidades cognitivas decorrentes da ingestão do produto, coloque-se em situação de perigo iminente. Art. 2º. Em virtude do risco ao consumidor e à sociedade que envolve o consumo de bebidas alcoólicas, o fornecedor: a) pode advertir o consumidor quando verificar que o exagero no consumo está pondo em risco sua saúde ou a de terceiros; b) pode limitar o fornecimento, para consumo imediato, a determinada quantidades;
c) pode, dentro das condições de razoabilidade, restringir o fornecimento de bebidas para consumo imediato, servindo-as somente acompanhadas de alimentos. d) deve recusar-se a fornecê-las àqueles que, devido as circunstâncias em que se encontrem, for facilmente perceptível que a ingestão acarretará riscos elevados a si próprios ou a terceiros. Art. 3º. É proibido fornecer bebidas alcoólicas àqueles: I- Menores de dezoito anos; II- Afetados por enfermidade ou deficiência mental que, nos termos da lei civil, sejam considerados absolutamente incapazes. III- Acometidos de incapacidade absoluta de exprimir a vontade, ainda que por causa transitória. IV- Em estado perceptível de elevada embriaguez ou alteração de consciência, induzido por tóxicos ou drogas, que reduzam drasticamente a capacidade de discernimento. Art. 4º. É proibido fornecer bebidas alcoólicas para consumo imediato àqueles que: I- estiverem conduzindo veículos automotores; II- estiverem na iminência de conduzir veículos automotores. Art. 5º. O fornecedor de serviços responde pelos prejuízos que causar ao consumidor ou a terceiros, em virtude do descumprimento desta lei. 1º: Na hipótese do inciso II do art. 4º, somente haverá responsabilidade quando, em virtude do modo ou das
circunstâncias em que forem fornecidas, o fornecedor possua ciência inequívoca de que o consumidor irá conduzir veículos automotores imediatamente após a ingestão de bebidas alcoólicas. 2º. A responsabilização do fornecedor está restrita à causa, assim considerada a ação ou omissão sem a qual o dano não teria ocorrido. 3º. A superveniência de causa relativamente independente exclui a responsabilidade quando, por si só, produziu o resultando, sem prejuízo de eventual responsabilidade pelos fatos anteriores. 4º. O fornecimento de bebidas alcoólicas em respeito às prescrições legais não gera responsabilidade ao fornecedor, pelas consequências da ingestão, por parte do consumidor ou dos atos e fatos supervenientes ao consumo. Art. 6º. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Sala das Sessões, 7 de maio de 2012. DEPUTADO GILSINHO LOPES
J U S T I F I C A T I V A Seja responsável ao fornecer bebida, é o que se pode resumir do objetivo desta lei. O fornecedor de bebidas alcoólicas também é responsável por prevenir os acidentes de trânsito e alcoolismo. Ou seja, não se trata de uma responsabilidade apenas do consumidor e da sociedade. O fornecedor de bebidas possui um papel muito importante. A responsabilidade está NAS CONDIÇÕES COMO A BEBIDA FORNECIDA, e não no eventual mal uso que o consumidor fizer da bebida. Se a bebida é fornecida em condições legais e responsáveis, o mau uso que dela se fizer é responsabilidade apenas do consumidor. No entanto, se a bebida for fornecida em condições ilegais e irresponsáveis, o fornecedor também deve ter sua parcela de responsabilidade. O Código de Defesa ao Consumidor dispõe que o fornecedor possui responsabilidade por informar e dar segurança ao consumidor. O art. 17 do Código de Defesa do Consumidor equipara todas as vítimas do evento a consumidores. Ora, se todas as vítimas de um evento são equiparadas a consumidores, a venda de bebidas alcoólicas, sendo potencialmente causadora de muitos acidentes, implica na necessidade de regular a responsabilidade dos fornecedores. Não é admissível que, quando uma pessoa estiver completamente embriagada, lhe seja fornecida mais bebida. Também não é aceitável vender bebidas a quem estiver dirigindo, ou que estiver,
em circunstâncias evidentes e irrefutáveis do conhecimento do fornecedor, na iminência de dirigir. O Código Civil trata da incapacidade para os atos da vida civil. Assim como os menores de idade, há outras situações em que, mesmo por causa temporária, a pessoa não pode exprimir sua vontade e é considerada incapaz. Não se deve permitir a venda de bebidas a pessoas incapazes, ainda que essa incapacidade seja temporária. Ou quando a capacidade de discernimento da pessoa, pelo motivo de embriaguez ou outra causa, já estiver bastante comprometida. Ou seja, nas hipóteses em que a pessoa não possui mais condições de manifestar livremente sua vontade. No momento de qualquer contratação, ambas as partes devem manifestar livremente sua vontade e NÃO podem estabelecer uma relação jurídica que venha a contrariar o interesse público. Logo, o fornecimento de bebida precisa ser feito sempre com atenção: a) à capacidade do consumidor e seu exercício das faculdades mentais; b) ao interesse público, que não pode ser contrariado pelo interesse das partes. O presente Projeto procura a conscientização e responsabilização do fornecedor de bebidas alcoólica: - o fornecedor deve esclarecer o consumidor a respeito do produto e dos seus riscos. Por exemplo, se é fornecida uma batida, consistente da mistura de diversas bebidas, o que é muito comum, deverá esclarecer qual é o teor alcoólico. - o fornecedor deve se preocupar com a segurança do consumidor em relação à forma como a bebida está sendo fornecida. Essa preocupação deve ter sempre por objetivo diminuir o risco que o
consumidor terá por ingerir as bebidas, buscando evitar abusos que coloquem em risco o consumidor ou terceiros. - para possibilitar ao fornecedor cumprir a lei, ela lhe autoriza a advertir o consumidor e limitar o fornecimento de bebidas. - por outro lado, o fornecedor não apenas pode, como DEVE recusar-se a vender bebidas a quem já estiver em condições visíveis de elevada embriaguez, quando estiver perceptível que a pessoa já se encontra em situação de risco. - o fornecedor poderá ser responsabilizado se vender bebidas a menores, absolutamente incapazes ou pessoas em estado de incapacidade temporária ou discernimento drasticamente reduzido, mesmo que induzido pela própria e contínua ingestão de bebida. - o fornecedor não pode vender bebidas para consumo imediato, em hipótese alguma, para quem estiver dirigindo. Para quem não estiver dirigindo, mas for dirigir, o fornecedor poderá ser responsabilizado se vender bebidas tendo ciência disso. - se um acidente de trânsito for causado pelo motivo de que foi fornecida bebida em condições ilegais, aquele que forneceu poderá ser responsabilizado juntamente com o causador do acidente. - a responsabilidade, no entanto, estará sempre restrita à causa. Ou seja, precisa haver o nexo causal entre o fornecimento e o dano. Se houver alguma causa independente posterior, já não será de responsabilidade do fornecedor. As autoridades não podem assistir inertes à venda irresponsável de bebidas alcoólicas, como se o vendedor não tivesse qualquer responsabilidade pelo que acontece a partir do momento em que recebe o dinheiro e entrega a bebida.
Esta lei visa assegurar a responsabilização daqueles que venderem bebidas em situações inaceitáveis. Pois quando o fazem, colaboram para mortes no trânsito, seja por atropelamentos ou colisão de veículos. E, ainda, pelo agravamento do problema do alcoolismo, que gera enormes despesas ao SUS e destrói famílias. Infelizmente, não é incomum ver situações como as seguintes: a) a pessoa está completamente embriagada ou drogada, no entanto continuam a lhe servir bebida até que tropece e durma pelo chão, ou até que saia cambaleando com risco de ser atropelada. b) as bebidas alcoólicas são fornecidas para consumo a pessoas que chegam sozinhas, dirigindo o próprio carro, em bares ou restaurantes. E que às vezes chegam mesmo a dizer que estão ali para beber antes de ir para esse ou aquele outro lugar... c) são servidas bebidas alcoólicas a pessoas que estão fazendo recreação pilotando lanchas, jet ski, e até mesmo motocicletas. d) são realizados eventos etílicos (ex: festival do chopp, da cachaça, do vinho, etc...) ou eventos onde todos os participantes estão para ingerir bebidas alcoólicas, mesmo deixando no estacionamento do próprio local os veículos automotores que conduzirão posteriormente às residências. Enfim, a responsabilidade do fornecedor não se dá apenas quando da venda, mas em qualquer espécie de fornecimento. Se quisermos diminuir os acidentes de trânsito, precisamos exigir colaboração dos fornecedores para com o respeito à dignidade da pessoa humana e participação dos esforços da sociedade.
Afinal, aquele que vende, ou fornece a bebida mesmo que gratuitamente, não pode ser tratado como se vivesse em outro mundo. Como que não tivesse qualquer responsabilidade pelo modo como está fornecendo a bebida. Por outro lado, o Projeto não atribui ao fornecedor a responsabilidade de vigiar os consumidores. O fornecedor deve ter cautelas somente quanto ao modo como opera o fornecimento da bebida, momento em que deverá estar atento às condições estabelecidas nesta relação de consumo. Toda relação de consumo deve ser estabelecida entre duas partes no uso de suas faculdades e com respeito ao interesse público. Relevante ainda destacar que o Projeto não atribui ao fornecedor responsabilidade por situações das quais não possua ciência. O que o Projeto objetiva, é combater as situações graves, e, assim o fazendo, gerar a CONSCIENTIZAÇÃO do fornecedor de que pode ser responsabilizado se vender bebidas em condições que, além de ilegais, são absolutamente imorais e atentam contra a sociedade. Motivo pelo qual, invocando a necessidade de combater os acidentes de trânsito e o alcoolismo, em defesa das famílias, no respeito aos direitos individuais em equilíbrio com a necessidade de preservação da coletividade, ROGAMOS AOS PARES A APROVAÇÃO DESTA LEI.