O RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA

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Transcrição:

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO O RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA MARIA SALETTE SOARES PRADO INOCENCIO CAMARGO DA SILVA ITAJAÍ (SC), maio de 2006.

I UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO O RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA MARIA SALETTE SOARES PRADO INOCENCIO CAMARGO DA SILVA Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Doutor Zenildo Bodnar ITAJAÍ(SC),MAIO DE 2006.

II AGRADECIMENTOS A todos que, direta e indiretamente, contribuíram com a minha formação acadêmica e, em particular, na elaboração deste Trabalho, em especial: A Deus, por amparar-me dando forças pra continuar, onde me mostrou que a fé se concretiza em atos e ideais de justiça e fraternidade; A minha mãe que me educou com tanto amor e sacrifício, me ensinando o caminho da justiça e da exatidão. A ela que não mediu esforços, abrindo mão dos seus sonhos par que os meus se realizassem, lutando e sofrendo junto comigo, ou na maioria das vezes por mim. Ela que me amparou emocional e financeiramente, me mostrando a todo momento que eu não estava sozinha, com isso me ajudou e incentivou a ir atrás do meu sonho, pois ela agia a todos os instantes para que eles se viabilizassem. Obrigada mãe por tudo, eu te amo incondicionalmente! Aos meus sobrinhos Pedro Frederico e Isabella Victória, que após o nascimento deles tive um novo sentido para a vida, em especial ao Pedro Frederico, pois é um ser tão frágil e dócil e já carrega consigo as injustiças cometidas pela sociedade. Aos dois quero agradecer apenas por existirem, vocês me trouxeram novas energias e metas. A minha irmã Maria Goretti e meu cunhado Terje que contribuíram com a viabilização da disponibilidade da minha mãe em meu favor. A vocês eu agradeço de todo o coração, por esses anos de sacrifícios e renuncias. A minha irmã Pôpô que da maneira dela me incentiva a continuar, me fazendo enxergar que depois das lutas vêm as vitórias. Ao meu pai, que de um jeito ou de outro esteve presente na minha formação, contribuindo em sua parcela. As pessoas especiais que passaram na minha vida, deixando uma grande contribuição na minha formação e desenvolvimento pessoal. Em especial a algumas pessoas queridas, que eu não poderia deixar de expressar a minha eterna gratidão: à Marilda Angioni, Clarice, Leonice, à Professora Henriete, à Professora Rosiléia Clara Werner, ao Mestre Jaime Hillesheim e ao Doutor Valmor Schiochet. Aos meus amigos e colegas que me ajudaram muito, principalmente nessa etapa final, em especial: à Aninha, Jacson Cruz, Ernandes, Allan, Valério e Tiago.

Aos ótimos Professores que tive durante a minha vida acadêmica, não tendo como citar todos aqui, mas muito obrigada a todos, em especial ao meu orientador Zenildo Bodnar, pelo profissionalismo, paciência e dedicação. III

IV DEDICATÓRIA A minha mãe pelo apoio, estímulo, compreensão e confiança; Ao meu sobrinho e afilhado Pedro Frederico e a minha sobrinha Isabella Victória que me dão forças para prosseguir.

V TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. ITAJAÍ (SC), maio de 2006 Maria Salette Soares Prado Inocêncio Camargo da Silva Graduanda

VI ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS Ap. Civ. Apelação Cível CC/1916 Código Civil Brasileiro de 1916 CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002 Constituição Federal DNA Constituição da República Federativa do Brasil Ácido desoxirribonucléico Estatuto da Criança e do Adolescente Lei n. 8.069/90 n. Número Regula a Investigação de Paternidade dos filhos havidos fora do casamento STJ TJ Lei n. 8.560/92 Superior Tribunal de Justiça Tribunal de Justiça

VII ROL DE CATEGORIAS Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais. Ação negatória de paternidade: Ação judicial proposta pelo pai, com a finalidade de obterá declaração de inexistência do vinculo paterno-filial entre ele e o filho nascido de sua esposa na constância do casamento. Ação de anulação de registro civil de nascimento: Ação judicial cujo pedido é o desfazimento, total ou parcial, do ato de registro de nascimento com fundamento na falsidade ou no erro. Adoção: Ato jurídico que se caracteriza pela aceitação de uma criança ou adolescente como filho por pessoas maiores de dezoito anos independentemente de estado civil. A adoção estabelece uma relação paterna filial, através de sentença judicial. Adolescente: É o que está na adolescência, que compreende a idade entre doze e dezoito anos 1. Criança: Pessoas até dezoito anos de idade, que tem assegurados todos os direitos fundamentais ao homem, que deverão ser respeitados prioritariamente pela família, pela sociedade e pelo Estado, sob pena de responderem pelos danos causados. 2 Direito ao pai: 1 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. V. 1. São Paulo, 1998. p.115 2 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. V.1. São Paulo, 1998.p. 925

VIII È o direito de todo filho de ter um pai, pessoa responsável por sua criação, sua educação, sua gurda e seu sustento, alguém com quem possa se identificar social e culturalmente. Dignidade da pessoa humana: (...) É um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem (...). 3 Exame de DNA: Utilizado na identificação de indivíduos, possibilitando a aplicação de teste conclusivo para o estabelecimento da paternidade biológica, através da visualização e comparação do material genético doa indivíduos. Filiação: Vínculo existente entre pais e filhos. Relação de parentesco consangüíneo em linha reta de primeiro grau entre uma pessoa e aqueles que lhe deram a vida. 4 Filiação Extramatrimonial: Indica a prole gerada por pessoas não ligadas pelo casamento, isto é, advinda de relação não matrimonial(...). 5 Filiação Matrimonial: A que se origina na constância do casamento dos pais, ainda que anulado ou nulo. 6 Investigação de paternidade: Ação ordinária promovida pelo filho, ou seu representante legal, se incapaz, contra o genitor os seus herdeiros ou legatários, podendo ser cumulada com a de 3 SILVA, José Afonso da. Curso de direito Constitucional positivo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1992, p.96. 4 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo, 1998. p.549. 5 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo, 1998. p.550. 6 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo, 1998. p.550

IX petição de herança, para obter a declaração judicial de seu respectivo status familiae e de sua condição de filho. 7 Melhor interesse da criança e do adolescente: É o principio constitucional de proteção integral as crianças 8, regulamentado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, segundo o qual o Estado, a Sociedade, a Família e, principalmente os pais, têm o dever de proteger e respeitar os interesses e direitos da criança e do adolescente. Paternidade afetiva ou socioafetiva: É a paternidade que não se revela pelo vinculo biológico entre pai e filho, mas pela atitude dessas pessoas ema em relação à outra, como amor, carinho e cuidado com a saúde, a educação e o sustento. É algo que se constrói no dia-adia, no convívio freqüente 9. Paternidade biológica: Vinculo geraram. de parentesco consangüíneo entre uma pessoa e aquelas que a Paternidade registral ou jurídica: Paternidade que consta do termo de registro de nascimento do filho. Por meio espontâneo ou judicial. 7 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo, 1998. p.904. 8 Considera-se criança a criança e adolescente compreendida até os dezoito anos de idade. 9 FACHIN, Rosana. Da filiação. In: DIAS, Maria Berenice: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Direito de família e novo Código Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.p.59

X SUMÁRIO RESUMO...XI INTRODUÇÃO... 1 Capítulo 1 INSTITUTO DE FILIAÇÃO E SEUS ASPECTOS DESTACADOS...3 1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FILIAÇÃO... 3 1.1FILIAÇÃO...6 1.2 FILIAÇÃO MATRIMONIAL...10 1.2.1 Presunção de Paternidade...11 1.2.2A Paternidade presumida e sua negação...16 1.3 FILIAÇÃO DECORRENTE DA ADOÇÃO...19 1.4 FILIAÇÃO NÃO MATRIMONIAL...25 1.4.1 Reconhecimento dos filhos não matrimoniais...26 Capítulo 2 OS MEIOS DE RECONHECIMENTO DOS FILHOS NÃO MATRIMONIAIS E SEUS EFEITOS JURÍDICOS...31 2. OS MEIOS DE RECONHECIMENTO DOS FILHOS NÃO MATRIMONIAIS... 31 2.1 O Reconhecimento voluntário...31 2.1.2 Reconhecimento por escritura pública...35 2.1.3 Reconhecimento por testamento... 36 2.1.4 Reconhecimento por manifestação direta de vontade...37 2.2 RECONHECIMENTO JUDICIAL...38 2.2.1 Ação de investigação de paternidade...40

11 2.2.2 A prova na ação de investigatória de paternidade...43 2.2.3 Efeitos e conseqüências do reconhecimento...47 Capítulo 3 A PATERNIDADE SOCIOAFETIVA E AS DIVERGÊNCIAS COM A PATERNIDADE BIOLÓGICAS...51 3. OS MEIOS DE RECONHECIMENTO DOS FILHOS NÃO MATRIMONIAIS...51 3.1 Caracterização da paternidade socioafetiva...51 3.2 O DIREITO AO PAI: Paternidade socioafetiva como suprimento da paternidade biológica...55 3.3. O MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NAS SOLUÇÕES DOS CONFLITOS DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA...61 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 68 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS... 72

XII 1. RESUMO A presente monografia trata dos aspectos da paternidade e da filiação no Direito Civil Brasileiro, com enfoque na paternidade socioafetiva e os conflitos com a paternidade biológica, tartando desde a sua evolução histórica, social e legislativa, chegando ao objeto principal da pesquisa, qual seja, as complexidades atuais relativas ao tema.

XIII INTRODUÇÃO O presente trabalho é parte dos requisitos exigidos pelo Curso de Direito para obtenção do título de Bacharel em Direito, concedido pela Universidade do Vale do Itajaí- UNIVALI /SC. A temática que será abordada neste trabalho versa sobre a paternidade socioafetiva. O interesse em abordar esse tema surgiu em razão de vivenciar cotidianamente os problemas enfrentados por crianças que provieram de relações não matrimoniais e em decorrência desse fato sofreram as discriminações impostas pela sociedade. Não sabendo as suas mãe na maioria das vezes adolescentes, como agir perante a constituição da nova família, tendo consigo a figura de um novo pai, o pai socioafetivo. O método 10 a ser utilizado será o indutivo. Serão acionadas as técnicas do referente 11, da categoria 12, dos conceitos operacionais 13, da pesquisa bibliográfica 14 e do fichamento 15. 10 Método é a forma lógico- comportamental na qual se baseia o pesquisador para investigar, tratar dados colhidos e relatar os resultados. PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica- Idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. & ed. Rev. atual. amp. Florianópolis: OAB/SC, 2202, p.104. 11 explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.pasold, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica- Idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. & ed. Rev. atual. amp. Florianópolis: OAB/SC, 2202, p.241. 12 palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéias. PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica- Idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. & ed. Rev. atual. amp. Florianópolis: OAB/SC, 2202, p.229 13 definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas.pasold, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica- Idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. & ed. Rev. atual. amp. Florianópolis: OAB/SC, 2202, p.229. 14 Técnica de investigação em livros, repertórios, jurisprudencias e coletâneas legais.pasold, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica- Idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. & ed. Rev. atual. amp. Florianópolis: OAB/SC, 2202, p.229. 15 técnica que tem como principal utilidade otimizar a leitura na pesquisa Científica, mediante a reunião de elementos selecionados pelo pesquisador que registra e/ou resume e/ou analisa de maneira sucinta, uma Obra, um ensaio, uma Tese ou dissertação, um artigo ou uma aula, segundo Referente previamente estabelecido.pasold, César Luiz. Prática da Pesquisa

XIV Esta pesquisa foi desenvolvida tendo como base as seguintes hipóteses: a) Quais os meios de filiação hoje em vigor, a filiação ainda diverge entre si, havendo discriminação entre filhos advindos ou não de relação matrimonial. b)quais os meios de reconhecimento do filhos não matrimoniais, a quem cabe a legitimidade da ação investigatória de paternidade. c) a paternidade socioafetiva vem sendo reconhecida, como solucionar esse conflito entre paternidade afetiva e paternidade biológica? Para fins de apresentação, o presente estudo foi dividido em 3 capítulos. No primeiro capítulo intitulado INSTITUTO DE FILIAÇÃO E SEUS ASPECTOS DESTACADOS, será apresentado uma reflexão da filiação desde os tempos antigos, com a sua evolução histórica até os dias atuais com a vigência da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, englobando as suas formas e subdivisões. O segundo Capítulo, trata OS MEIOS DE RECONHECIMENTO DOS FILHOS NÃO MATRIMÔNIAIS E SEUS EFEITOS JURÍDICOS, nessa capítulo foi abordado os meios de reconhecimento voluntário e o meio de reconhecimento judicial, bem como os seus efeitos e conseqüências. O terceiro e último capítulo trata, A PATERNIDADE SOCIOAFETIVA E AS DIVERGÊNCIAS COM A PATERNIDADE BIOLÓGICA, neste capítulo buscou caracterizar a paternidade socioafetiva, assim como buscar soluções para os conflitos que versam sobre essa forma de paternidade, observando as correntes doutrinárias e os posicionamentos jurisprudenciais. Nas considerações finais apresentam-se sínteses de cada capítulo e demonstra também se as hipóteses da pesquisa foram ou não confirmadas. Jurídica- Idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. & ed. Rev. atual. amp. Florianópolis: OAB/SC, 2202, p.229.

XV Capítulo 1 INSTITUTO DE FILIAÇÃO E SEUS ASPECTOS DESTACADOS 1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FILIAÇÃO Nos primeiros períodos da civilização, os modelos de família eram diferentes do que se vê atualmente, pois a descendência da espécie humana é anterior a o Direito. Porém desde que a sociedade passou a ser regulamentada pelo direito, este passou a demarcar e recriar as situações, atribuindo-lhes relevância jurídica. Nesse contexto, a família passou a ocupar uma posição central. De acordo com Venosa 16 Em Roma, o poder do pater exercido sobre a mulher, os filhos e os escravos é quase absoluto. A família como grupo é essencial para a perpetuação do culto familiar. No Direito Romano, assim como no grego, o afeto natural, embora pudesse existir, não era o elo de ligação entre os membros da família. Nem o nascimento nem a afeição foram fundamento da família romana. No mesmo sentido, Silva Pereira 17 aduz que, a filiação não assentava na consangüinidade, uma vez que a generatio era insuficiente, desacompanhada do cerimonial religioso, para fazer do recém nascido um agnado. 16 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito de Família. Estudo comparado com Código Civil de 1916. 3. ed. Atualizada de acordo com o Novo Código Civil, São Paulo: atlas,2003, p.18. 17 SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Reconhecimento de Paternidade e seus Efeitos. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p.8.

XVI Assim sendo, a religião, com seus rituais, foi o primeiro elemento agregador da família, tornando os laços da consangüinidade, em principio, secundários, porém com a grande influência da religião a Igreja Católica influenciou de tal maneira que a partir da idade média, a família passou a ser reconhecida somente sendo fruto do matrimônio. Com a grande influência da Igreja Católica, a família romana era baseada no culto e na religião, desta maneira, o poder paterno era superior a qualquer outro existente. Nesse sentido Coulanges 18 observa: (...) Sem dúvida, não foi a religião que criou a família, mas, seguramente foi a religião lhe deu as regras, daí resultando receber a família antiga uma constituição muito diferente da que teria tido se os sentimentos naturais dos homens tivessem sido os seus únicos causadores. Nesse período não existia a relação de afeto nas relações familiares existentes em Roma Antiga, uma vez que a religião foi a norma constitutiva da família. Com isso observa-se, que em Roma Antiga, a família foi unida pela religião, a qual deveria ser respeitadas e mantida com o passar dos anos pelos filhos gerados através dos casamentos religiosos, bem como, respeitado o poder paterno ou marital. No Brasil, mesmo sob forte influência da Igreja, nem sempre o domicilio familiar foi composto por pessoas unidas pelo vínculo matrimonial. Desde o período colonial, têm-se notícias tanto de relacionamentos sexuais fortuitos, quanto de entidades familiares sem casamento, consubstanciadas em 18 COULANGES, Fustel de. A cidade antiga- estudo sobre o culto, o direito as instituições da Grécia e de Roma. Tradução de Jonas Camargo Leite e Eduardo Fonseca. São Paulo: Hemus, 2002, p. 34.apud. SILVA, Elza Desidério. Paternidade Biológica e Paternidade Socioafetiva: Complexidades atuais frente ao Direito Civil Brasileiro.Itajaí, 2004. (Grau de Especialista).

XVII uniões estáveis e duradouras, entre portugueses e índias, constituindo-se destas uniões vastíssimas proles. O Cristianismo e o patriarcalismo privilegiavam o casamento, muito embora a realidade vivenciada fosse em sentido contrário, ou seja as grandes proles eram originárias de relações advindas de relacionamentos constituídos sem as chamadas formalidades essenciais. Nesse período, os filhos gerados na constância do matrimônio eram considerados legalmente legítimos, e filhos frutos de relacionamentos não oriundos da celebração do matrimônio, designados como filhos ilegítimos. O privilégio a família oriunda do matrimônio era acentuada, até a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, pois a concepção do legislador era a de que a celebração do casamento é componente essencial da família matrimonializada, concebida esta como comunidade de sangue calcada no matrimônio, estatuindo a ' família legítima' e fazendo ponte para a legitimidade dos filhos. 19 A Justificativa desta prevalência da família originária do casamento decorria de um respeito arraigado a falsos pretensos caracteres morais constantes no Código Civil de 1916, em que a estabilidade familiar seria alcançada apenas através do vínculo matrimonial, responsável pelo preenchimento de seu papel na Sociedade. entende: Sobre está matéria do Código Civil de 1916, Venosa 20 19 ALMEIDA, 2001,p.29. Apud. SILVEIRA, Adriana Bina. Conflitos de Interesses na Investigação da paternidade biológica: Uma abordagem teórica à luz dos princípios Constitucionais. Itajaí. 2002 20 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito de Família. Estudo comparado com Código Civil de 1916. 3. ed. Atualizada de acordo com o Novo Código Civil, São Paulo: atlas,2003, p. 266.Dissertação.

XVIII O Código Civil de 1916 centrava suas normas e dava proeminência á família legítima, isto é, aquela derivada do casamento, de justas núpcias. Elaborado em época histórica de valores essencialmente patriarcais e individualistas, o legislador do inicio do século passado marginalizou a família não provinda do casamento e simplesmente ignorou direitos dos filhos que proviessem de relações não matrimôniais, fechando os olhos a uma situação social que sempre existiu. Assim, o Código Civil de 1916, continuou seguindo os modelos anteriores e se contrapôs a realidade existente no país, preferindo ignorar o dado social, que orientava para a proteção de direitos de terceiros que não deram causa a situação. Parafraseando Bevilaqua 21, com o evoluir da sociedade, as barreiras para o reconhecimento de filhos provenientes de relações não matrimoniais, torna-se moralmente inadmissível a proibição, sendo que não deram causa à sua situação pessoal, pois a falta foi cometida pelos pais e a desonra recai sobre os filhos, sem nada terem concorrido para este ato. A situação dos filhos passou a ter outra forma de ser vista com o evolução das legislações, sendo que as antigas foram editadas até chegar à Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, seguida do Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 e da Lei de Averiguação e Investigação de Paternidade Extramatrimonial Lei nº 8.560, de 29 de dezembro de 1992. Segui-se, por fim, o Novo Código Civil, Lei nº 10.406, publicada em 11/01/200, com vigência a partir de 11/01/2003. 1.1 FILIAÇÃO A grande obra do homem e da mulher são os filhos, os quais darão seguimento a sua espécie e crenças, para as gerações futuras. 21 Bevilaqua, 1977, p. 805.

XIX Juridicamente, Diniz 22 conceitua filiação como sendo, (...) o vínculo existente entre pais e filhos: vem a ser a relação de parentesco consangüíneo em linha reta de primeiro grau entre uma pessoa e aqueles que lhe deram a vida. No mesmo sentido Silva 23 aduz que: FILIAÇÃO. Derivado do latim filiatio ( filiação), na terminologia jurídica é empregado para distinguir a relação de parentesco que se estabelece entre as pessoas que deram vida a um ente humano e este.a filiação pois é fundada no fato da procriação, pelo qual se evidencia o estado de filho, indicativo do vinculo natural ou consangüíneo, firmado entre gerado e seus progenitores. Já em outro sentido, Rodrigues 24 aduz que Filiação é a relação de parentesco consangüíneo, em primeiro grau e em linha reta, que liga uma pessoa àquelas que a geraram, ou receberam como tivessem gerado. Seguindo esse ensinamento verifica-se que com a evolução da legislação não se pode mais acreditar que a relação de filiação advém apenas daqueles que conceberam determinado indivíduo, admitindo, também os filhos adotivos e os filhos sócio-afetivos. A partir deste momento passamos analisar que atualmente a única distinção que existe quanto a filiação é meramente didática. Pois com a vigência da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a discriminação entre filhos matrimoniais e filhos não - matrimoniais foi extinta das relações jurídico - familiares. Dispõe o artigo 227, 6º da Constituição da República Federativa do Brasil, Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por 22 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Brasileiro- Direito de Familia. V.5. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2002,p. 378. 23 SILVA, De Plácido e. Vocabulário.11. ed. Rio de Janeiro: Forense,1991. p. 297. 24 RODRIGUEZ, Silvio. Direito civil- Direito de família. V.6. 27. ed. Atul. São Paulo: Saraiva, p. 321.

XX adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. A preocupação dos legisladores após a Constituição Federal de 1988, era a de que as leis tratassem a mesma matéria de forma uniforme para que as mesmas não se confrontassem, evitando assim o prejuízo para os filhos. Desta maneira posicionou-se o Estatuto da Criança e do Adolescente, lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que trouxe em seus artigos 25,26 e 27 considerável contribuição. Destaca-se, assim, o conteúdo legal. Art. 25 Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou por qualquer deles e seus descendentes. Art. 26 Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento por testamento, mediante escritura pública ou outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação. 25 Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar descendentes. Art. 27 O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercido contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de justiça. De nada adiantaria que se garantisse o direito a filiação se não fossem disponibilizados meios para que fossem efetivados esses direitos, seguindo esse pensamento o legislativo editou a lei nº 8.560 de dezembro de 1992. Lei esta que regulamenta o reconhecimento voluntário e compulsório da paternidade extramatrimonial, conferindo ao representante do Ministério Público a possibilidade de ajuizar a ação investigatória 26 25 Quando o Estatuto da Criança e do Adolescente entrou em vigor em 13 de julho de 1990, revogou o disposto no artigo 357 do Código Civil de 1916. 26 Artigo 2º, 4º, da Lei nº 8.560/92.

XXI Dispõe o artigo 1º da Lei nº 8.560/92: Art. 1º O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: I- no registro de nascimento; II- por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório; III- por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; IV- por manifestação expressa e direta perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. Neste sentido, se mantiveram os legisladores na elaboração do Novo Código Civil, ou seja o Civil Vigente, pois no que tange a relação de filiação garantiu os princípio de igualdade 27 discriminatórias. e da proibição das designações Assim dispõe o artigo 1.596 do Código Civil Brasileiro: Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Como se observa, o casamento deixou de ser a fonte exclusiva da família, e não mais existem desigualdades entre os filhos havidos do casamento ou não, possuindo eles os mesmo direitos e qualificações. Neste sentido entende Venosa 28 : 27 O principio da igualdade fez cessar a distinção discriminatória entre filhos bem nascidos e mal nascidos, e desapossou o casamento de um de seus efeitos tradicionais no que aos filhos dizia respeito:o estatuto privilegiado da legitimidade. ( MUNIZ, Francisco José Ferreira. A família na evolução do direito brasileiro. IN: TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. Direitos da família e do menor. Belo Horizonte: Del rey, 1993, p.78. 28 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito de Família. Estudo comparado com Código Civil de 1916. 3. ed. Atualizada de acordo com o Novo Código Civil, São Paulo: atlas,2003, p. 266.

XXII A partir de meados do século XX, porém, nossa legislação, em tendência universal, foi sendo alterada para, timidamente a princípio, serem introduzidos direitos familiares e sucessórios aos filhos provindos das relações extramatrimoniais. A Constituição de 1988 culminou por vedar qualquer qualificação relativa à filiação. Desse modo, a terminologia do Código, filiação legítima, ilegítima e adotiva, de vital importância para o conhecimento do fenômeno, passa a ter conotação e compreensão didática e textual e não mais essencialmente jurídica. Em sentido meramente didático para estudarmos a questão da filiação aponta Diniz 29 que, sustentando a teoria de que temos que dividir a filiação como matrimonial e extramatrimonial. Juridicamente, não há o que se fazer tal distinção, ante o disposto na Constituição Federal de 1988, art. 227, 6º,e nas leis 8.069/90 e 8.560/92, pois os filhos havidos ou não do matrimônio tem os mesmos direitos e qualificações. Assim sendo, sob a égide do preceito constitucional, para Silva Pereira 30, há uma equiparação perfeita de situação jurídica, onde não mais se cogita a disparidade de tratamento, ao contrário todos são indiscutivelmente iguais. Mas ao falar em filiação, não se pode esquecer que muitos direitos foram garantidos aos filhos, porém muitas deficiências ainda existem quanto a essa matéria. Pois, mesmo tendo passado por uma série de reformas e revisões, o Código Civil de 2002, deixou de abordar aspectos importantíssimo, como o estabelecimento da maternidade e da paternidade face a possibilidade de utilização da análise do DNA 31, a paternidade sócio-afetiva 32 e as técnicas de reprodução medicamente assistidas 33. 29 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Brasileiro- Direito de Familia. V.5. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 381. 30 SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Reconhecimento de Paternidade e seus Efeitos. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p.27. 31 DNA é a sigla utilizada para designar o ácido desoxirribonucléico, componente das genes, presente em todas as células do corpo de uma pessoa. O DNA é responsável pela individualização da pessoa em relação das demais.

XXIII Tem-se, então, um raciocínio lógico de que com a vigência da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a família pode ter origem matrimonial ou não, sendo que os filhos havidos destas famílias terão plena igualdade de tratamento. 1.2 FILIAÇÃO MATRIMONIAL Sendo a filiação matrimônial, há advinda do matrimônio, o Código Civil de 2002 manteve o sistema de presunção de paternidade do filho da mulher casada, e reproduz com pequenas alterações os dispositivos referentes a essa matéria no Código Civil de 1916. Neste sentido posiciona-se Maria Helena Diniz 34, a filiação matrimonial é aquela a que se origina na constância do casamento dos pais, ainda que anulado ou nulo. Civil: Assim dispõe a legislação em seu artigo 1.561 do Código Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boafé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória. 1º Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão. 32 Paternidade afetiva ou socioafetiva é a paternidade que não se revela pelo vínculo biológico entre pai e filho, mas pela atitude dessas pessoas uma em relação à outra, como amor, carinho e cuidado com a saúde, a educação e o sustento. É algo que se constrói no dia-a dia, no convívio freqüente (FACHIN, L.1996, p.59. 33 Reprodução medicamente assistida, também conhecida como reprodução assistida ou artificial ou procriação artificial, é o (...) conjunto de técnicas que favorecem a fecundação humana, a partir da manipulação de gametas e embriões, objetivando principalmente combater a infertilidade e propiciando o nascimento de uma nova vida humana. (RIBEIRO, 2002. p.286). 34 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Brasileiro- Direito de Familia. V.5. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 381

XXIV 2º Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão. Ainda sobre este assunto, dispõe a legislação em seu artigo 1.617 do Código Civil, filiação materna ou paterna pode resultar do casamento declarado nulo, ainda mesmo sem as condições do putativo. Parafraseando Diniz 35, a filiação matrimônial, tem origem com o casamento, válido, nulo ou anulável, ou em alguns casos e dá antes da vigência do casamento, porém o nascimento ocorre durante a sua vigência e sendo reconhecido pelos pais. Contudo não se fala mais de presunção de legitimidade, uma vez que o princípio constitucional da igualdade entre os filhos aboliu essa classificação. Ao tratar desse assunto a legislação, trocou o termo legitimidade por paternidade, ou seja, não se presumem mais legítimos os filhos nascidos de mulher casada, mas presume-se que a paternidade desses caiba ao marido daquela. 1.2.1 Presunção de Paternidade A presunção de que o marido da mãe é o pai, para Fachin 36, (...) liga-se a outra presunção: a de que o filho foi concebido na constância do casamento. Por isso, a presunção pater is est está ligada à presunção de concepção. Firma o Código Civil, que a presunção é de que, é o pai aquele que o casamento demonstra, assim presume a lei que o filho da mulher casada foi gerado por seu marido. Assim até a prova em contrário produzida pelo mesmo, pai é o marido da mãe. 35 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Brasileiro- Direito de Familia. V.5. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 382. 36 FACHIN, Rosana. FACHIN, Rosana. Da filiação. In: DIAS, Maria Berenice: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Direito de família e novo Código Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.p.3

XXV Em virtude desta situação anteriormente mencionada, o Código Civil dispôs sobre este assunto, caracterizando em seu artigo 1.597 as situações em que se presumem os filhos concebidos na constância do casamento. Assim o artigo 1.597 do Código Civil Brasileiro, dispõe: Artigo 1.597- Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; II - nascidos nos trezentos dias subseqüentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido. Para presumir a paternidade o legislador estudou os prazos previstos nos incisos I e II do artigo anteriormente citado, buscando a ciência médica para estabelecer os períodos mínimo e máximo de gestação para que o filho nascesse com vida, considerando a data do inicio da sociedade conjugal no primeiro caso e a do último dia dessa convivência no segundo. Neste sentido aponta Silvio Rodrigues 37, se a criança nasceu 6 meses após o casamento, presume-se ser filha do casal, se veio à luz antes desse prazo, não há qualquer presunção da sua filiação. 37 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Brasileiro- Direito de Familia. V.5. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p.383. Op. Cit. Silvio Rodrigues,p. 285

XXVI No tocante aos filhos nascidos nos 300 (trezentos) dias subseqüentes à dissolução da sociedade conjugal, Rodrigues 38, assim leciona: Por outro lado, se o filho nasceu nos dez meses posteriores à dissolução da sociedade conjugal, devia ser tido como legítimo, pois o legislador colheu na ciência a informação de que a gestação humana pode se prolongar por tão dilatado período. De modo que o infante, nascido trezentos dias após a dissolução da sociedade conjugal, poderia ter sido concebido no último dia de vigência do casamento. Quanto ao artigo 1.597 em seu inciso III, esse traz dois problemas; um quanto a terminologia e o outro ético-jurídico. Ou seja, o primeiro consiste no fato de ter o legislador usado o termo fecundação artificial, que não deixa claro se o legislador quis referir-se a qualquer técnica de reprodução medicamente assistida (gênero) ou a somente uma dessas técnicas, qual seja, a fecundação artificial (espécie) 39, pois o termo fecundação artificial é específico da técnica em que ocorre a fecundação do material genético feminino pelo masculino in vitro, artificialmente. Por isso teria sido melhor usar o termo genérico para referir-se também às demais formas, principalmente à inseminação artificial que é muito mais simples do que a fecundação in vitro. 40 E a segunda problemática é a que se refere à possibilidade da procriação artificial post mortem, pois além de haver o problema do filho ter 38 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: direito de família.27.ed. Atualizado por Francisco josé Cahali. São Paulo; Saraiva, 2002.v.6.p.324. 39 São várias as técnicas de reprodução medicamente assistida. As mais usuais são a inseminação artificial,a fecundação in vitro e a transferência intratubária de gametas. Na inseminação artificial, introduz- se artificialmente o esperma no útero da mulher e a fecundação acontece naturalmente (RIBEIRO, 2002, p.287). A fecundação in vitro consiste na retirada do sêmem do corpo do homem e do óvulo do corpo da mulher, que será fecundado por aquele material em tubo de ensaio, que recria artificialmente o ambiente do útero, formando o zigoto que, em seguida, será introduzido no útero da mulher (RIBEIRO, 2002, p. 288). Na transferência intratubária de gametas, os materiais genéticos retirados do corpo do homem e da mulher são colocados diretamente nas trompas de de Falópio, onde deverá ocorrer naturalmente a fecundação (LEITE, 1995, p.48-9). 40 DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito de Família.v.5. São Paulo: Saraiva, 2002. p.384-386.

XXVII cerceado o direito de conhecer seu pai, há também o problema quanto a sucessão no caso desse filho ser concebido muito tempo após a morte do seu pai, pois no caso em que não houvesse a concessão dos direitos sucessórios, como herdeiros legítimos necessários iria se ferir o principio constitucional da igualdade entre os filhos. 41 Nesse sentido o artigo 1.597 em seu inciso III, não deixou clara a forma de resolução de determinados assuntos, deixando com que a doutrina, expresse o posicionamento do legislador em determinadas situações. No mesmo sentido trata o artigo supra citado, no seu inciso IV, o qual estabelece a presunção da paternidade em favor dos filhos havidos a qualquer tempo, com embriões excedentários, decorrentes de concepção homóloga. Esse dispositivo permite o aproveitamento dos embriões que não foram utilizados em tentativas anteirores e que estejam congelados, porém não abrange a matéria de discussão, no que diz respeito a se é licito ou não o descarte desses embriões, ou se eles poderiam ser doados a casais que não possuem material genético próprio. Assim como também não trata da possibilidade da mulher implantar, material genético de seu ex-marido, após o divórcio. No inciso V do artigo 1.597, estabelece-se a presunção da paternidade dos filhos havidos por inseminação artificial heteróloga 42, desde que haja prévia autorização do marido. Esse inciso assim como o inciso III do mesmo artigo apresentam alguns problemas. O primeiro deles, de ordem terminológica, assim como o inciso mencionado acima, refere-se ao termo técnico utilizado, pois a inseminação artificial é uma das técnicas de reprodução artificial, ou seja, é 41 DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito de Família.v.5. São Paulo: Saraiva, 2002. p.384-386. 42 Técnicas de reprodução assistida na forma heteróloga são as técnicas de reprodução assistida em que é necessária a utilização de material genético (espermatozóide e/ou óvulo) de doador, em razão de uma das pessoas que buscaram a assistência médica para ter filhos não possuir material genético capaz de gerar vida, ou porque seu material genético não pode ser usado por razões médicas (estar em tratamento médico ou sofrer de doença que afeta sua fertilidade ou põe em risco a vida ou a saúde do descendente genético) ( LEITE, 1995, p.32).

XXVIII espécie, cujo gênero é a reprodução artificial. Dessa maneira fica o questionamento se o legislador usou o termo para limitar a possibilidade de utilização das técnicas sob a forma heteróloga, ou se usou como termo sinônimo genérico, de reprodução assistida. 43 Com base nesses no artigo 1.597 do Código Civil, não se pode dizer que houve uma regulamentação de fato das técnicas de reprodução assistida no novo diploma legal, mas que houve apenas a previsão legal de que, nesses casos, a presunção da paternidade ao marido da mãe. Ainda se tratando dessa problemática em relação a presunção de paternidade, o artigo 1.598 aduz: Art. 1.598. Salvo prova em contrário, se antes, de transcorrido o prazo previsto no inciso II, do artigo 1.523, a mulher contrair novas núpcias e lhe nascer algum filho, este se presume do primeiro marido, se nascido dentro dos trezentos dias, a contar da data de falecimento deste e, do segundo, se o nascimento ocorrer após esse período e já decorrido o prazo a que se refere o inciso I do art. 1.597. Nesse caso a legislação não trata a problemaática do conflito quando, os filhos nascem dentro do período dos trezentos dias após a dissolução do primeiro casamento, caso este que ainda vigora a presunção de paternidade em relação ao primeiro marido da mãe, mas que também já tenham transcorrido cento e oitenta dias do inicio da convivência da mãe com o segundo marido, fato que também já começou a vigorar a presunção de paternidade do segundo marido. Diante do exposto, e das problemáticas ao redor desta temática, ficará mencionado que as formas de presunção de paternidade são as previstas no artigo 1.597 do Código Civil, todavia essa presunção poderá ser elidida em casos previstos em lei. Sendo que este será o tema do item que segue. 43 DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito de Família.v.5. São Paulo: Saraiva, 2002. p.386-387.

XXIX 1.2.2 A Paternidade presumida e sua negação Assim como é garantida a presunção da paternidade pelo marido da mãe, foi garantida também ao homem a oportunidade de poder negar a paternidade presumida anteriormente. Posiciona-se Diniz 44 sobre está matéria, aludindo: A presunção de paternidade não é juris et de jure ou absoluta, mas juris tantum ou relativa, no que concerne ao pai, que pode elidi-la provando o contrário. Essa ação de negatória de paternidade é de ordem pessoal, sendo privativa do marido, pois só ele tem legitimatio ad causam para propô-lá ( CC, art. 1.601, caput) a qualquer tempo; mas se, porventura, falecer na pendência da lide, a seus herdeiros será lícito continua-lá. Contudo, o marido não pode contestar a paternidade ao seu alvedrio; terá de mover ação judicial, provando uma das circunstâncias taxativamente enumeradas em lei (CC, arts. 1.599, 1.600, 1.602 e 1.597, V). Desta forma, entende-se que para se provar a negativa de paternidade é necessário provar que houve adultério, e que não houve possibilidade de inseminação artificial, homóloga ou heteróloga, ou que o marido se encontre acometido de doença grave, que impede as relações sexuais, por ter ocasionado impotência coeundi absoluta ou que acarretou impotência generandi absoluta. Neste entendimento analisar-se -à todas as formas elencadas acima, uma vez que ações desta natureza 45, causam alarde e tumultos no seio da família. Quando se trata da possibilidade de adultério, argumenta Clóvis Beviláqua 46, Nem mesmo a confissão materna de seu adultério constitui prova contra a paternidade de seu filho, porque pode ser fruto de alguma 44 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Brasileiro- Direito de Familia. V.5. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 387/388. 45 Entenda-se que ao referir-se o termo ações desta natureza, está se tratando da ação negatória de paternidade. 46 Clóvis Beviláqua, Código Civil Comentado, v.2, p.313.

XXX vingança, desespero ou ódio. Porém complementa Venosa 47, (...) mas não deixam de ser fortes indícios para permitir a prova científica que apontará com quase absoluta certeza a paternidade. Tendo o marido duvidas, quanto a paternidade será necessário, que se proponha ação de contestação de paternidade, sendo esta ação imprescritível. Assim aduz o art 1.601 do Código Civil, Cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua mulher, sendo tal ação imprescritível. Porém esse posicionamento do legislador vêm acarretando desconforto ao filhos, pois muitos vínculos sócio-afetivos, vem sendo interrompidos pelo direito imprescritível da ação negatória de paternidade. Renan Lotufo 48, ao comentar a previsão legal de imprescritibilidade da ação negatória de paternidade prevista no artigo 1.601, afirma, com razão, que: (...) houve grande confusão e extensão indevida do que vem sendo posto pela doutrina quanto à imprescritibilidade do direito da personalidade na busca da plena identidade, com o direito à negatória de paternidade. Pois segundo LOTUFO 49, o direito imprescritível e irrenunciável de buscar o estabelecimento de sua filiação pertencente ao filhos, sendo que o direito do pai não pode ser igual, pois este, deveria estar sujeito a decadência. Se o pai registral a qualquer momento puder negar a paternidade, restará prejudicada a relação jurídica entre pai e filho, sendo que desta decorrem importantes direitos e deveres pessoais e patrimoniais ambos. Entende-se que diante da imprescritibilidade do direito do pai negar a paternidade, o artigo 1.601 necessita ser revisto, já que não é correta a 47 Venosa, Silvio de Salvo. Direito de Família. Estudo comparado com o Código Civil de 1916. 3. ed. Atualizada de acordo com o Novo Código Civil, São Paulo; Atlas, 2003.p. 275. 48 LOTUFO, Renan. Quetões pertinentes à investigação e à negação de paternidade. Revista Brasileira de Direito de Família, Porto Alegre: Ibdfam:Síntese, v.3,n.11, p.46-58, out-dez.2001 49 Ibidem.

XXXI possibilidade de o pai presumido, a qualquer tempo e sem qualquer restrição, impugnar a paternidade de um filho seu atinge diretamente os direitos do filho, que seriam privados acima de tudo de sua identidade pessoal. Sendo que tal fato seria prejudicial, já que depois de anos passados, dificultaria a possibilidade do mesmo encontrar seu pai biológico, desestabilizando à necessidade social e a proteção ao direito à filiação. Neste mesmo sentido entende Rocha 50, em seu artigo prazo para impugnar a paternidade, onde propõe que o prazo para a propositura da ação de impugnação da paternidade pelo pai presumido deveria ser de quatro anos, consolidando a relação jurídica paterno- filial, que não poderia ser mais impugnada, e unificando os prazos relativos ao desfazimento desse vinculo, (...) no Brasil, o prazo para a anulação de atos jurídicos é de 4 anos. Este, a meu ver, seria um prazo razoável, a ser fixado em lei, para a impugnação da paternidade dos filhos matrimoniais, com a vantagem da uniformização. Conceituando a paternidade, é um vinculo que se constitui uma relação entre pai e filho, não sendo apenas uma relação jurídica da qual decorrem efeitos, mas é também uma relação vivida fundada na convivência, no amor, no cuidado, na solidariedade. Diante do exposto, entende-se que a ação negatória de paternidade é direito personalíssimo do pai, sendo que diante de seu falecimento seus herdeiros poderão continuá-la no pólo ativo da demanda judicial, porém para que a mesma seja proposta é necessário a prova de uma das circunstâncias taxativamente enumeradas em lei, CC, artigos. 1.599, 1.600, 1.602 e 1.597, V. Assim a ação negatória de paternidade só reproduz efeitos quando se trata da negativa de paternidade do pai presumido, ou seja do marido da mãe. Não podendo ser confundida a revogação com anulação, pois a anulação poderá ser invocada sempre que o pai presumido fizer prova das circunstâncias 50 ROCHA, Marco Túlio Carvalho. Prazo para impugnar a paternidade. Revista Brasileira de Direito de Família, Porto alegre: Ibdfam: Síntese,v.4,n.13, p.24-41.

XXXII necessárias que presumem, ter ele sido induzido a erro no momento do registro. E no reconhecimento, se a declaração for falsa ou contiver vício de vontade ou defeito formal, em tese poderia ser anulada ou declarada nula, por ser o reconhecimento um negócio jurídico, e como tal sujeito à nulidade relativa ou absoluta, entretanto os tribunais de justiça, não estão julgando procedente, tais ações se tratando do reconhecimento voluntário,caso que estudaremos posteriormente. 1.3 FILIAÇÂO DECORRENTE DA ADOÇÂO A adoção, vêm no ordenamento jurídico brasileiro, com o intuito de suprir, a falta familiar das crianças e adolescentes que foram abandonadas por suas famílias biológicas, ou tiveram suas guardas destituídas. adoção como: Conforme os ensinamentos de Diniz 51, podemos conceituar Um vinculo de parentesco civil, em linha reta, estabelecendo entre adotante, ou adotantes, e o adotado um liame legal de paternidade e filiação civil. Tal posição de filho será definitiva ou irrevogável, para todos os efeitos legais, uma vez que desliga o adotado de qualquer vinculo com os pais de sangue, salvo os impedimentos para o casamento(cf, art.227, 5º e 6º), criando verdadeiros laços de parentesco entre adotado e a família adotante (CC, art.1626). Por criar a adoção um laço parental entre adotado e a família adotante, ela reger-se-á pela legislação em vigor, disposta na lei n 8.069, de 13/07/1990, em seus artigos 39 a 52. Como a adoção é matéria estritamente delicada por tratar da vida de menores, a mesma matéria está disposta no Código Civil, porém em alguns pontos tem posicionamento diferente da lei supracitada, o que não acarretou há revogação da lei especial. Neste sentido quando os 51 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Brasileiro- Direito de Familia. V.5. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 423/424

XXXIII posicionamentos divergirem, se dará enfoque para o ECA, por se tratar de Lei Especial, que regula, está matéria estando de conformidade com todos os povos da atualidade e com o Direito Internacional. A adoção obedecerá sempre o processo judicial, observando os requisitos legais previstos no Código Civil e na lei nº 8.069/90, sendo que a adoção reger-se-á sempre pela lei supra citada, não podendo ser feita por procuração. O adotando deve contar com no máximo dezoito anos, na data do pedido, salvo se já estiver sob guarda ou tutela dos adotantes anteriormente, e nesse caso, mesmo quando o adotando for maior de 18 anos, sua adoção será assistida pelo Poder Público e dependerá de sentença constitutiva, uma vez que as ações relativas a adoção são de competência exclusiva das Varas da Infância e da Juventude. Sabendo que a adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmo direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-se o adotado de qualquer vinculo com pais e parentes sanguíneos, salvo os impedimentos matrimoniais. Outra ressalva que pode-se apontar é, quanto a quebra do vínculo do adotado com os parentes consangüíneos, pois se um dos cônjuges adotar o filho do outro não se desligará o adotado da familia consangüíneo daquele que continuou sendo seu pai ou mãe., ou seja é a chamada adoção unilateral, pois se dá apenas na linha paterna ou materna. Assim ensina Tavares, 52 O adotado permanece com os vínculos da família do pai ou da mãe consangüíneos e demais parentes. Por outro lado, vincula-se ao pia ou mãe adotante e seus parentes, nessa outra linha, por força da adoção, constituindo-se assim o outro ramo de sua família, que desse modo se completa. 52 TAVARES, José de Farias. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p.43.