810 O PERCURSO COMPETITIVO DE TENISTAS TOP50 DO RANKING PROFISSIONAL Gabriel Armondi Cavalin / UNISUAN Caio Corrêa Cortela / NP3 Esporte UFRGS Roberto Tierling Klering / NP3 Esporte UFRGS Gabriel Henrique Treter Gonçalves / NP3 Esporte UFRGS Carlos Adelar Abaide Balbinotti / NP3 Esporte UFRGS gabrielcavalin@yahoo.com.br RESUMO: A presente pesquisa aborda o percurso competitivo de tenistas bem sucedidos no ranking da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP). O objetivo do estudo é descrever o percurso competitivo percorrido pelos tenistas profissionais de sucesso enquanto participantes do Circuito Júnior Internacional de Tênis (ITFJC), apresentando um panorama de desempenho e das competições internacionais que precedem a entrada no circuito profissional de tênis. Para tanto, fizeram parte do estudo os 50 melhores tenistas classificados no ranking de simples da ATP, conforme visualizado em 16 de junho de 2014. A idade média observada para a amostra foi de 28,9±3,2 anos de idade, tendo a idade mínima e máxima, respectivamente, de 23 e 36,2 anos. Os resultados mostram que: a) 48 tenistas do Top50 disputaram as competições do ITFJC; b) estes tenistas atingem seu melhor ranking no ITFJC, em média, aos 17,4±0,7 anos; c) disputam, em média, 19±13,7 torneios ao longo de, aproximadamente, 3,2±1 temporadas; d) disputam, em média, 62,5±45 partidas de simples e 39,4±31,2 partidas de duplas; e) atingem como melhor colocação, em média, a 91,4ª±139,4ª posição no ranking do ITFJC. Por fim, o estudo permite concluir que o ITFJC possui grande relevância como opção competitiva para os tenistas Top50 do ranking da ATP no momento de transição do tênis juvenil ao profissional. Palavras-chave: Tênis, Tenistas, Competição. INTRODUÇÃO: A organização dos principais torneios mundiais de tênis está sob a chancela de três entidades: a Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), a Associação de Tênis Feminino (WTA) e a Federação Internacional de Tênis (ITF). Enquanto a ATP e a WTA gerenciam o ranking mundial do circuito masculino e feminino profissional, respectivamente, a ITF é a responsável pelo circuito júnior (ITFJC).
811 Para Vicario (2003) e Reid et al. (2007), as competições de tênis possuem um papel essencial na formação integral de tenistas de sucesso. Conforme McCraw (2011), o planejamento das competições deve adequar-se ao estágio de desenvolvimento dos tenistas. Neste caminho, observa-se que no período de transição entre o circuito juvenil e o profissional o planejamento do percurso competitivo deve levar em consideração o desenvolvimento técnico, tático, físico e mental destes jogadores, bem como fazer com que distribuam, conforme necessidade, as competições juvenis e profissionais. Com isso, este se torna um período bastante delicado e que requer muita atenção dos profissionais que auxiliam os jovens tenistas a tornarem-se tenistas de sucesso. Neste contexto, o objetivo do presente artigo é descrever o percurso competitivo percorrido por tenistas profissionais de sucesso enquanto participantes do ITFJC, apresentando um panorama de desempenho e das competições internacionais que precedem a entrada no circuito profissional de tênis. MÉTODO: O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva quantitativa. De acordo com Thomas, Nelson e Silverman (2012), esse tipo de pesquisa visa conhecer e interpretar a realidade sem nela interferir. Fizeram parte do estudo os 50 melhores tenistas classificados no ranking de simples da ATP, conforme visualizado em 16 de junho de 2014. A idade média observada para a amostra foi de 28,9±3,2 anos de idade, tendo a idade mínima e máxima, respectivamente, de 23 e 36,2 anos. Para a análise dos dados foi considerada como fase de transição o período de quatro temporadas. Esse critério de corte foi adotado tendo em vista que apenas cinco jogadores disputaram mais de quatro anos de competições no ITFJC. Assim, os sete torneios e os 12 jogos realizados por esses tenistas foram adicionados na primeira das quatro temporadas analisadas. Para a coleta das informações foi realizado o acesso ao site oficial da ITF (http://www.itftenniscom/juniors). O acesso ao perfil dos tenistas ocorreu por meio da inserção do sobrenome utilizado pelos mesmos no ranking da ATP. Após a extração dos dados, a análise descritiva foi realizada por meio do software SPSS versão 15.0.
812 Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul sob o número de protocolo 2007721. RESULTADOS: Analisados os dados encontrados, verifica-se que o ITFJC apresentou-se como uma opção competitiva importante na transição para o circuito profissional, haja vista que 48 dos 50 tenistas observados participaram desse circuito em algum momento da carreira. Devido a sua relevância, diversos estudos (REID et al., 2007; REID; CRESPO; SANTILLI, 2009; CORTELA et al. 2010; REID; MORRIS, 2011; CORTELA et al. 2012; BROWERS; DE BOSSCHER; SOTIRIADOU, 2012) têm buscado estabelecer uma relação entre o sucesso no ITFJC (Top20) e as classificações obtidas posteriormente no circuito profissional da ATP. No presente estudo verificou-se que 77% dos tenistas estiveram entre os 93 melhores classificados do ITFJC, 50% estiveram entre os 21 melhores classificados, 38% estiveram entre os 8 melhores classificados e 10% dos tenistas lideraram o ranking do ITFJC. No entanto, os dados publicados até o momento na literatura reforçam a necessidade de haver cautela na interpretação dessas classificações, especialmente quando visam o estabelecimento de prognósticos com relação aos resultados futuros. Reid et al. (2007), e Reid, Crespo e Santilli (2009), apontam que estar classificado no Top20 do ITFJC permite prognosticar, de forma significativa, a entrada no ranking profissional. Porém, essa predição explica apenas cinco por cento das variações observadas nos rankings obtidos no circuito profissional (REID et al., 2007). Brouwers, De Bosscher e Sotiriadou (2012) ao examinarem o desempenho de mais de 4000 tenistas, concluíram que os resultados nas categorias sub-14 e sub-18 não são bons indicadores para predição das classificações atingidas no circuito profissional, em ambos os sexos. Nessa mesma direção, Cortela et. al. (2012), ao investigar os marcos esportivos de tenistas Top100, observou que a correlação entre a melhor classificação no ranking ITFJC e a melhor classificação no ranking da ATP é tênue (+0,07). Analisando a Tabela 1, observa-se que a melhor classificação no ranking ITFJC e a idade de ocorrência apresentam-se em concordância com os resultados dos trabalhos que investigaram o percurso esportivo de tenistas profissionais de sucesso (CORTELA, et. al., 2010; REID; MORRIS, 2011; CORTELA et. al., 2012).
813 Tabela 1: Estatística descritiva das variáveis relacionadas ao percurso competitivo no ITFJC. Variáveis do percurso competitivo Tendência Central e Dispersão Amplitude X DP Mediana Moda Minimal Melhor ranking 91,4 139,4 22,5 1 1 525 Idade melhor ranking 17,4 0,74 17,4 17,5 15,1 18,6 Número total de torneios 19 13,7 19 1 1 47 Número total de jogos de simples 62,5 45 64 5 1 167 Número total de jogos de duplas 39,4 31,2 33 14 1 132 Número total de temporadas 3,2 1 3,5 4 1 4 Maximal A idade do melhor ranking ITFJC encontrada demonstra que essa classificação foi alcançada no penúltimo ano em que os tenistas poderiam participar do ITFJC. De acordo com Cortela et. al. (2010), isso ocorre porque no último ano do ITFJC muitos tenistas priorizam o calendário profissional, jogando apenas as grandes competições do ITFJC. Outro fator que corrobora para esse cenário é a qualidade dos jogadores pertencentes à amostra, que possibilitou a obtenção de resultados expressivos em idades relativamente mais baixas. De acordo com Cortela et. al. (2012), os tenistas que atingem a melhor classificação no ITFJC em idades mais baixas tendem a alcançar os demais marcos da carreira esportiva mais cedo do que os seus pares. Nessa mesma direção, Brouwers, De Bosscher e Sotiriadou (2012), relatam que os tenistas que alcançaram o Top20 do ITFJC até os 16 anos demonstraram maior propensão para atingir os Tops200, 100 e 20 do ranking profissional da ATP. No que diz respeito à participação em torneios no ITFJC, observa-se que 64% dos tenistas analisados participaram de 12 ou mais eventos. Nessa mesma direção, verifica-se que mais da metade dos jogadores, 52% e 51%, respectivamente, disputaram mais de 63 partidas em simples, e mais de 33 em duplas. Quanto ao âmbito de competição, observa-se a preferência pelos torneios com maiores pontuações no ITFJC (GA, G1 e G2). No momento de transição do juvenil para o profissional, verificou-se que muitos tenistas priorizam a disputa somente dos maiores eventos do ITFJC, dividindo, assim, essas competições com as de nível profissional. Por fim, verificou-se que os eventos em quadras de saibro ou duras, respectivamente, são os que recebem maior atenção por parte dos jogadores. Esses resultados reforçam a
814 importância da superfície de jogo no desenvolvimento dos tenistas. De acordo com Reid et. al. (2007), os tenistas que se desenvolvem em quadras de saibro ou em combinação entre saibro e quadras duras, apresentam melhores classificações no ranking profissional da ATP. CONCLUSÃO: O presente estudo investigou o percurso competitivo traçado por tenistas Top50 da ATP durante a etapa juvenil. Buscou abranger todo o período de transição competitiva realizado pelos tenistas no intuito de identificar a importância do ITFJC na trajetória de tenistas bem sucedidos. Os resultados encontrados apontam que o ITFJC apresenta-se como uma opção competitiva importante para os tenistas em fase de transição, verificando-se que 96% dos atletas Top50 da ATP participaram desse circuito. Os dados apresentados corroboram com os de outros estudos que investigaram o percurso competitivo de tenistas profissionais de sucesso internacional. Dessa forma, ressalta-se a importância do ITFJC como opção competitiva na fase de transição. No entanto, os resultados obtidos nesse circuito devem ser analisados com cautela quando se tem como objetivo prognosticar os resultados no ranking profissional da ATP. REFERÊNCIAS BROUWERS, J; DE BOSSCHER, V; SOTIRIADOU, P. An examination of the importance of performances in youth and junior competition as an indicator of later success in tennis. Sport Management Review, v. 15, n. 4, p. 461-475, 2012. CORTELA, C. C et al. Tenistas top 100- um estudo sobre as idades de passagens pelos diferentes marcos da carreira desportiva; Pensar prática, v. 13, n. 3, 2010. CORTELA, C. C et al. Resultados esportivos no escalão junior e desempenhos obtidos na etapa de rendimentos máximos. Uma análise sobre a carreira dos tenistas top 100. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 11, n. 1, 2012. MCCRAW, P. D. Making the Top 100: ITF Top 10 junior transition to Top 100 ATP tour (1996 2005). ITF Coaching and Sport Science Review. v. 19, n. 55, p. 11-13, 2011.
815 REID, M. et al. The importance of the International Tennis Federation s junior boys circuit in the development of professional tennis players. Journal of Sports Sciences, Londres, v. 25, n. 6, p. 667-672, 2007 REID, M., CRESPO, M., SANTILLI, L. (2009). Importance of the ITF Junior Girls' Circuit in the development of women professional tennis players. Journal of sports sciences, 27(13), 1443-1448. REID, M; MORRIS, C. Ranking benchmarks of top 100 players in men's professional tennis. European journal of sport science, v. 13, n. 4, p. 350-355, 2011. THOMAS, J R., NELSON J. K.; SILVERMAN S. J. Métodos de pesquisa em atividade física. Artmed, 2012. VICARIO, E. S. High level tennis in Spain: The Sanchez Casal Academy. In: CRESPO, M.; REID, M.; MILEY, D. Applied sport science for high performance tennis. Londres: ITF ltd, 2003. p. 79-92.