Revista ALPHA Revista do Centro Universitário de Patos de Minas
UNIPAM Centro Universitário de Patos de Minas Reitor do UNIPAM Milton Roberto de Castro Teixeira Pró-reitor de Ensino, Pesquisa e Extensão Fagner Oliveira de Deus Pró-reitor de Planejamento, Administração e Finanças Renato Borges Fernandes Coordenadora de Extensão Adriana de Lanna Malta Tredezini Coordenadora do Núcleo de Editoria e Publicações Elizene Sebastiana de Oliveira Nunes A Revista ALPHA é uma publicação semestral dos cursos de História, Pedagogia e Letras, do Centro Universitário de Patos de Minas. Coordenador dos cursos de Pedagogia e História: Marcos Antônio Caixeta Rassi. Coordenadora do curso de Letras: Mônica Soares de Araújo Guimarães. Capa Mulher lendo, Gabriel Joseph Ferrier (1847-1914) Catalogação na Fonte Biblioteca Central do UNIPAM R454 Revista ALPHA / Centro Universitário de Patos de Minas. v. 1, n. 1 (dez. 2000) Patos de Minas : UNIPAM, 2016. Anual: 2000-2015. Semestral: 2016-. Disponível em: <http://alpha.unipam.edu.br>. ISSN 1518-6792 (2000-2015) ISSN 2448-1548 (2016) 1. Cultura Periódicos. I. Centro Universitário de Patos de Minas. CDD 056.9 Bibliotecária responsável: Carolina Simões Barbosa CRB6-2110 Centro Universitário de Patos de Minas Rua Major Gote, 808 Caiçaras 38702-054 Patos de Minas-MG Brasil Telefax: (34) 3823-0300 web: www.unipam.edu.br NEP Núcleo de Editoria e Publicações Telefone: (34) 3823-0341 consulte a página do NEP: http://nep.unipam.edu.br
Revista ALPHA Revista do Centro Universitário de Patos de Minas ISSN 2448-1548 ano 17 vol. 17, n. 2, ago./dez. de 2016 Patos de Minas: Revista Alpha, UNIPAM, 17(2):1-306 Centro Universitário de Patos de Minas
Revista ALPHA Revista do Centro Universitário de Patos de Minas http//:alpha.unipam.edu.br. e-mail: revistaalpha@unipam.edu.br Editor Luís André Nepomuceno Conselho Editorial Interno Agenor Gonzaga dos Santos Carlos Roberto da Silva Elizene Sebastiana de Oliveira Nunes Geovane Fernandes Caixeta Gisele Carvalho de Araújo Caixeta Helânia Cunha de Sousa Cardoso Luís André Nepomuceno Mônica Soares de Araújo Guimarães Conselho Consultivo Alckmar Luiz dos Santos (UFSC) Ana Margarida Dias Martins (University of Cambridge) Betina Ribeiro Rodrigues da Cunha (UFU) Carlos Henrique de Carvalho (UFU) Dermeval Saviani (UNICAMP) Divino José da Silva (UNESP/ Presidente Prudente) Elza Kioko Nakayama Nenoki do Couto (UFG) Esmeralda Blanco Bolsonaro de Moura (USP) Frederico de Sousa Silva (UFU) Helena Maria Ferreira (UFLA) Hugo Mari (PUC Minas) Jorge Megid Neto (UNICAMP) Justino Pereira de Magalhães (Universidade de Lisboa/ Portugal) Jorge Ruedas de la Serna (Universidad Nacional Autónoma de México) Lorenzo Teixeira Vitral (UFMG) Luciano Marcos Curi (IFRR) Manuel Cadafaz de Matos (CEHLE, Portugal) Maria Beatriz Nascimento Decat (UFMG) Maria Violante C. F. C. P. Magalhães (Escola Superior de Educação João de Deus/ Portugal) Perciliana Pena (FUNDEC) Raquel de Almeida Moraes (UNB) Rita Marnoto (Universidade de Coimbra) Roberta Guimarães Franco Faria de Assis (UFLA) Rodrigo Garcia Barbosa (UFLA) Rosa Maria Ferreira (Escrita Criativa) Selva Fonseca Guimarães (UFU) Sueli Maria Coelho (UFMG) Walquiria Wey (Universidad Nacional Autónoma de México) Wenceslau Gonçalves Neto (UFU) Avaliação ad hoc para este número Jonathan Henriques do Amaral (PUC-RS) Telma Pantano (Instituto EDUCATIE/ EDUC e USP) Bibliotecária responsável Carolina Simões Barbosa (UNIPAM)
Sumário 07 Apresentação Luís André Nepomuceno Dossiê temático: Literatura e mulher 11 Coração de mulher e seu destino maior: amor e expressão feminina em Uma Aprendizagem ou O livro dos prazeres, de Clarice Lispector Alexandre Manoel Fonseca 21 Objetificação e subjetificação: a representação feminina nos contos de Luci Collin Andiara Maximiano de Moura 32 Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves: redarguir a história oficial Cristian Sales 45 CLB: O perfil da mulher velada em A casa do budas ditosos de João Ubaldo Ribeiro Ingrid Marinho e Elcio Lucas 58 Representações do feminino em Esses Lopes, de Guimarães Rosa, e Uma Rosa Para Emily, de William Faulkner José Vilian Mangueira e Francisco Ronaldo da Silva Santos 72 Um ritual às avessas na ficção de Clarice Lispector Mariângela Alonso 82 Um eu artificial na poesia de Yêda Schmaltz Paulo Antônio Vieira Júnior 92 Devir-mulher da escritora: Clarice Lispector, feminismo e pós-estruturalismo Shelton De Cicco 103 Antifeminismo no Auto da Sibila Cassandra, de Gil Vicente Vanessa Giuliani Barbosa Tavares Estudos literários 112 Referencialidade poética: não um problema, mas soluções Aline Duque Erthal 124 Interioridade, aparência e silêncio em Macbeth Carlos Roberto Ludwig 135 O fado do jaguar ou vida e morte na Jaguaretama José Quintão de Oliveira
144 Ironia e jogo em Montanha, de Cyro dos Anjos Jouberth Maia Oliveira e Edson Santos de Oliveira 152 Minha terra tem palmeiras... a brasilidade em dois momentos da literatura brasileira Júnia Cleize Gomes Pereira e Telma Borges 167 Alguns reflexos dos Triunfos de Francesco Petrarca, na Hypnerotomachia Poliphili, de Francesco Colonna, de 1499 Manuel Cadafaz de Matos Estudos linguísticos 193 Near-synonyms in Learner Essays: An Analysis Based on Corpora Mateus Emerson de Souza Miranda 212 Análise do site BBC Learning para o ensino de Língua Inglesa Suellen Flauzina Martins e Juliana Vilela Alves Estudos pedagógicos e filosóficos 222 A ausência da História da Matemática nos livros didáticos das séries iniciais do Ensino Fundamental Anderson Oramisio Santos, Guilherme Saramago de Oliveira e Camila Rezende Oliveira 240 Repensando o modus operandi: a importância do PIBID da escola à universidade Carlos Jordan Lapa Alves, Kêmeron Chagas dos Reis Almeida, Daniela Bissoli Fiorini e Fernanda Silva Ronchetti 254 O ENEM e o Colégio Tiradentes da Polícia Militar de Patos de Minas Celina Maria Barbosa Palhares e Cláudio Márcio Magalhães 275 Estética, arte e fantasia em Eros e Civilização, de Herbert Marcuse Daniel Amorim Gomes Estudos históricos 287 Projetos hidrelétricos na Amazônia no limiar do século XXI: o caso da UHE de Estreito - MA/TO Cícero Pereira da Silva Júnior
Apresentação Luís André Nepomuceno Editor da Revista Alpha. e-mail: luis.andre@unipam.edu.br Chegamos, com a publicação dos artigos presentes, ao segundo número do vol. 17 da Revista Alpha, apresentando o dossiê temático Literatura e mulher. O propósito, desde que o tema fora disseminado entre pesquisadores, não era exatamente sugerir um mapa de escritoras antigas ou contemporâneas, seja na literatura brasileira, seja no estrangeiro, a partir de referências do cânone já revisto nas academias, nem buscar nomes inéditos em nossas letras, como forma de promover elementos novos para também novos referenciais históricos. Mais que isso, o tema da presente edição refere-se a qualquer diálogo possível entre o binômio literatura e mulher, a partir de abordagens linguísticas, históricas, sociais e/ou antropológicas, seja na análise de escritoras que incorporaram o viés feminino em seus textos, seja na investigação de personagens ou circunstâncias históricas que envolvam a questão da identidade feminina ao longo da história. A discussão não é nova e tem chamado a atenção de pesquisadores em colóquios e congressos pelo país, inclusive por iniciativa de grupos de pesquisa envolvidos diretamente com a matéria dos gêneros e da inserção de vozes das minorias que ainda hoje se veem excluídas e pouco representadas no mundo literário, ou mesmo no mundo social e político. As mulheres, desde Safo, a despeito de sua exclusão ao longo da nossa história, têm feito registros significativos para os rumos da consciência masculina e para a conscientização de seus próprios limites sociais. Mas pensar a sua história, e a história de sua inserção na vida literária das culturas, não significa necessariamente pensar a escritura da voz feminina. Mais que isso, significa pensar os elementos díspares e contraditórios das múltiplas vozes que engendraram essa mesma história, seja por meio da exclusão ou da inserção, seja pela denúncia, seja pelo preconceito. De toda forma, vozes femininas fizeram-se representar de maneira expressiva no conjunto de artigos deste número da Alpha. Clarice Lispector, quase sempre liderando o corpo de escritoras brasileiras mais lidas e respeitadas, vem aqui estudada em pelo menos três trabalhos que lhe investigam a obra narrativa. No primeiro deles, Alexandre Manoel Fonseca analisa o romance Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, tendo como ponto de partida uma resenha fervorosamente negativa desencadeada pelo crítico Heitor Martins no Suplemento Literário do Estado de S. Paulo em 1970. Numa tardia resposta ao crítico, o articulista defende o romance de Clarice, analisando a personagem central, Lori, como uma mulher que luta pela afirmação do seu próprio corpo, além do espaço para a afirmação da sensibilidade feminina. Ainda no campo dos estudos clariceanos, Mariângela Alonso discute o pouco comentado conto Onde estivestes de noite, que dá título ao livro de narrativas curtas de mesmo nome, publicado em 1974. Diferente da perspectiva realista e introspectiva de Clarice, o conto apresenta elementos característicos da literatura fantástica, buscando o retrato do estranho personagem andrógino Ele-ela, bem como a multidão de seres chamados malditos numa noite de lua cheia, na véspera
do apocalipse. Mariângela Alonso observa que a inusitada história de Clarice traz aspectos surrealistas, pautando-se pela mescla de sexualidade e profanação, numa atmosfera altamente onírica. Fechando os estudos sobre Clarice, Shelton De Cicco apresenta uma análise de Água viva, romance de 1974, a partir da sugestão de que seja possível rastrear no romance elementos que dialogam com o seu tempo histórico, como as teses pósestruturalistas de Gilles Deleuze e Félix Guattari, bem como os eventos de maio de 1968 e as questões sobre feminismo e discussões de gênero. Outras escritoras contemporâneas acorrem às interpretações críticas deste número: Andiara Maximiano de Moura busca um conceito de feminino nos contos de Luci Collin, escritora paranaense, a partir de uma coletânea publicada em 2004; Cristian Souza e Ramon Ribeiro analisam as vivências de Kehinde, a personagem ex-escrava do premiado romance Um defeito de cor (2006), de Ana Maria Gonçalves, considerando as memórias silenciadas e as fraturas produzidas por um discurso na diáspora; e por fim, Paulo Antônio Vieira Júnior analisa, na poesia de Yêda Schmaltz, as estratégias discursivas da autora para construir máscaras e fábulas eróticas a partir de personagens históricas, lendárias e mitológicas. Esta coletânea de ensaios também compreende a investigação de vozes históricas e literárias masculinas que se manifestaram sobre a condição feminina. Ingrid Marinho e Elcio Lucas, por exemplo, analisam o comportamento curiosamente conservador da ousada personagem CLB, narradora autodiegética que conta suas aventuras eróticas no romance A casa dos budas ditosos, de João Ubaldo Ribeiro; José Vilian Mangueira e Francisco Ronaldo da Silva Santos interpretam o comportamento de personagens femininas em contos de William Faulkner e Guimarães Rosa, a partir de um conceito de ruptura com o sistema patriarcal vigente na atmosfera social e histórica dos dois escritores; Vanessa Giuliani Barbosa Tavares busca no Auto da sibila Cassandra, de Gil Vicente, elementos que contribuem para a consolidação da misoginia e do antifemininismo como heranças de uma Península Ibérica medieval, numa espécie de fortalecimento dos padrões e estereótipos femininos de Portugal nos princípios do Renascimento; e Márcia Moreira Pereira busca em dois contos de Mia Couto, publicados em O fio das missangas, o registro de condutas femininas, por meio de uma análise sob a perspectiva teórica dos estudos póscoloniais. Mas este número da revista, para além dos estudos envolvendo literatura e mulher, buscou ampliar ainda outras matérias que dialogam com as propostas do periódico. Na seção Estudos literários, os interesses foram diversos: Aline Duque Erthal abre a seção com análises de versos de poetas portugueses do séc. XX, como Carlos de Oliveira, Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner Andresen, para considerar que a poesia não é um código fechado e inacessível, sem referencialidade, como o consideram os alunos dos cursos de Letras, mas um espaço aberto e compreensível entre o mundo e a escrita. Carlos Roberto Ludwig parte da tragédia Macbeth, de Shakespeare, para analisar concepções de interioridade, exterioridade e silêncio, buscando ressaltar como a ordem política de controle social configurava-se um mecanismo que definia o indivíduo numa Inglaterra tomada pela monarquia absolutista. Ainda considerando estudos de literatura estrangeira, Manuel Cadafaz de Matos interpreta elementos literários e iconográficos de um dos mais enigmáticos e curiosos livros incunabulares do séc. XV, a Hypteromachia Poliphili, supostamente de Francesco Colonna, a partir de suas duas primeiras edições, a princeps veneziana de 1499, e a parisiense de 1546, sob a influência dos Triunfos de Petrarca.
Nos estudos de Literatura Brasileira, José Quintão de Oliveira pergunta-se o que teria ocorrido com o estranho personagem-narrador do conto Meu tio o Iauaretê, de Guimarães Rosa (incluído na coletânea Estas estórias), considerando que a crítica tem unanimemente atribuído ao personagem um desfecho trágico, supostamente assassinado pelo seu interlocutor. Jouberth Maia Oliveira e Edson Santos de Oliveira, por sua vez, analisam o menos lembrado romance de Cyro dos Anjos, Montanha (1956), envolvendo temas como política e jogos de interesses, partindo do pressuposto de que participar da política pressupõe representar, encenar, jogar, articular alianças, o que serve como ponto de partida para os autores analisarem as ironias do livro. Júnia Cleize Gomes Pereira e Telma Borges fecham a seção de estudos de Literatura Brasileira, com um curioso artigo sobre a presença da palmeira como símbolo de brasilidade em nossas letras, considerando poetas do romantismo, como José de Alencar e Gonçalves Dias, e a prosa moderna de Guimarães Rosa. Na série de estudos linguísticos, Mateus Emerson de Souza Miranda investiga o uso de palavras quase sinônimas, considerando inicialmente que a escolha da palavra errada pode transmitir conotações indesejadas, implicações e/ou posturas inadequadas, e que a escolha entre termos quase sinônimos, palavras que compartilham o mesmo significado central, porém que diferem em suas nuances, só pode ser uma alternativa se tivermos conhecimento sobre suas diferenças. Suellen Flauzina Martins e Juliana Vilela Alves fazem uma análise do site BBC Learning, especialmente a partir de dois de seus programas para estudos gratuitos de língua inglesa (The English We Speak e Shakespeare Speaks), para evidenciar estratégias e ensino de língua estrangeira. Esta edição da Alpha também apresenta estudos de natureza pedagógica e filosófica. Em análises de questões sobre a educação no Brasil, Anderson Oramisio Santos, Guilherme Saramago de Oliveira e Camila Rezende Oliveira analisam livros didáticos de Matemática adotados em escolas de Uberlândia-MG, para concluir o quanto o ensino de História da Matemática, que poderia ser relevante para o entendimento da disciplina, acaba por se mostrar insuficiente, pelo menos nos livros didáticos consultados. Em seguida, pesquisadores do Centro Universitário São Camilo, no Espírito Santo, em parceria com Carlos Jordan Lapa Alves, propõem uma reflexão sobre o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID/Capes) na formação dos jovens professores, a partir de uma pesquisa de campo em escolas conveniadas de Cachoeiro de Itapemirim-ES. Celina Maria Barbosa Palhares e Cláudio Márcio Magalhães buscam compreender o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e suas mudanças nos métodos de avaliação da aprendizagem, bem como sua própria influência no Ensino Médio, a partir de uma pesquisa de campo realizada no Colégio Tiradentes da Polícia Militar de Patos de Minas-MG. Num estudo de natureza filosófica, Daniel Amorim Gomes propõe uma análise de Eros e Civilização (1955), de Herbert Marcuse, entendendo o livro como um momento privilegiado na trajetória intelectual do autor para se pensar na relação entre teoria crítica e psicanálise, a partir de uma complexa interlocução tecida por Marcuse com Freud, Kant e Schiller. Compondo um trabalho de investigação histórica, Cícero Pereira da Silva Júnior propõe uma discussão acerca dos impactos das usinas hidrelétricas na Amazônia Oriental, tomando como estudo de caso a hidrelétrica de Estreito MA/TO (2007-2012). Sua investigação compreende entrevistas com a população local, ex-moradores da Ilha de São José, numa discussão iluminada pelo conceito benjaminiano de memória, em diálogo com o conceito de memória dividida, proposto por Alessandro Portelli.
Com esses artigos, a Revista Alpha conclui os trabalhos do segundo número de seu vol. 17, cumprindo a missão de levar a seus leitores as mais recentes pesquisas sobre estudos de humanidades, conforme os temas propostos e as sugestões dos próprios autores que a nós confiaram a editoria de seus trabalhos. Sentimo-nos felizes pela possibilidade de retribuir os autores com a presente edição. A todos uma ótima leitura.