Decrto-lei n.º Aprova o Regime do Fundo de Garantia Automóvel DECRETO-LEI QUE APROVA O REGIME DO FUNDO DE GARANTIA AUTOMÓVEL E MARÍTIMO

Documentos relacionados
DIPLOMA/ACTO : Decreto-Lei n.º 122-A/86

Não dispensa a consulta do diploma publicado em Diário da República

Regulamento do Programa Manutenção de Postos de Trabalho. a) Colaborar na manutenção do nível de emprego das empresas com sede na Região;

Regulamento da CMVM n.º 4/2016. Taxas

Lei n.º 4/2009 de 29 de Janeiro. Define a protecção social dos trabalhadores que exercem funções públicas

N.º de julho de 2019 Pág. 52 FINANÇAS. Portaria n.º 238/2019. de 30 de julho

1. OBJETIVOS VISADOS E TIPOLOGIA DAS AÇÕES O APOIAR

Fundo de Garantia Automóvel Relatório Anual de Actividades 2012

CONDIÇÕES ESPECIAIS DE ASSISTÊNCIA EM VIAGEM AMBULÂNCIAS SEGURO AUTOMÓVEL

Realização de Acampamentos Ocasionais

SEGURO DE ACIDENTES PESSOAIS PROTEÇÃO VITAL DAS PESSOAS UM SEGURO QUE COMEÇA ONDE OS OUTROS ACABAM GUIA DE CLIENTE GUIA DE CLIENTES I 1

REGULAMENTO DE PROPINAS DE LICENCIATURA

FUNDO DE ACIDENTES DE TRABALHO RECEITAS E REEMBOLSOS ÀS EMPRESAS DE SEGUROS

DECRETO-LEI QUE APROVA O REGULAMENTO DA TARIFA DO SEGURO OBRIGATÓRIO DE RESPONSABILIDADE CIVIL MARÍTIMA

Regulamento n.º /2018

ORDEM DOS ENGENHEIROS REGULAMENTO DE ISENÇÃO DE QUOTAS

DESTACAMENTO DE TRABALHADORES NO ÂMBITO DE UMA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. Lei n.º 29/2017

PRESIDÊNCIA DO GOVERNO Resolução do Conselho do Governo n.º 100/2013 de 8 de Outubro de 2013

Page 1. SEGURO Sobre Rodas. Sede: Av. Bernabe Thawe no. 333/659, Bairro Sommershield. Assinatura:...

O Fundo de Acidentes de Trabalho na proteção das vítimas de acidentes de trabalho

art.º 78º do CIVA: 7 -

DECRETO N.º 202/XII. A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte: Artigo 1.

PROJECTO DE REGULAMENTAÇÃO FUNDO DE ACIDENTES DE TRABALHO RECEITAS E REEMBOLSOS ÀS EMPRESAS DE SEGUROS. CAPÍTULO I Disposições gerais

MEDIDA ESTIMULO 2012 Regulamento do Instituto do Emprego e Formação Profissional

COMISSÃO DE TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL. Texto Final

Fundo de Garantia Automóvel. Relatório Anual de Actividades Banco de Cabo Verde

CONTRATOS DE APOIO À FAMÍLIA CONTRATOS SIMPLES E DE DESENVOLVIMENTO PROCEDIMENTO PARA O ANO LETIVO DE 2018/2019

Associação de Futebol de Viana do Castelo

MUNICÍPIO DE GRÂNDOLA PROJETO DE REGULAMENTO DO CARTÃO MUNICIPAL DO IDOSO

REGULAMENTO DE PAGAMENTO DE PROPINAS DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE TOMAR

Regulamento de Apoio a Iniciativas Regulares ou Pontuais, de Natureza Educativa, Desportiva, Recreativa, Cultural, Social e Outras

Proposta de Lei n.º 119/XII/2.ª (GOV)

Anexo 1 à Informação Técnica 31/2014

Emitente: CONSELHO DIRECTIVO. Norma Regulamentar N.º 13/2006-R. Data: Assunto: REGULAMENTAÇÃO DO DECRETO-LEI N.º 83/2006, DE 3 DE MAIO

Consulta pública n.º 1/2014

Procedimentos de Gestão de Sinistros Automóvel

Condições Gerais

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS. Proposta de Lei n.º 43/XI. Exposição de Motivos

Regulamento de Exercício da Atividade de Arrumador de Automóveis

99966f2676ee44c98a05b2e246be3006

REGULAMENTO DE AQUISIÇÃO, RENOVAÇÃO, SUSPENSÃO E CASSAÇÃO DA CARTEIRA PROFISSIONAL DE JORNALISTA

SUMÁRIO: Estabelece o regime jurídico do trabalho no domicílio TEXTO INTEGRAL

Responsabilidade Civil Exploração Unidades de Saúde Ficha de Produto

Associação de Futebol do Porto

PROJETO DE LEI N.º 407/XIII/2.ª

Licenciamento da Atividade de Arrumador de Automóveis

CONDIÇÕES PARTICULARES DA

CÂMARA MUNICIPAL DE SANTA CRUZ DAS FLORES. Caderno de Encargos. Empreitada de Adaptação da Poça das Salemas a Zona Balnear

GUIA PRÁTICO DOENÇA PROFISSIONAL - CERTIFICAÇÃO

CONTRATO DE CRÉDITO PESSOAL UNICRE CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO CRÉDITO PESSOAL

Associação de Futebol do Porto

(Atos não legislativos) REGULAMENTOS

PRESIDÊNCIA DO GOVERNO Resolução do Conselho do Governo n.º 47/2015 de 27 de Março de 2015

DECRETO N.º 42/XIII. A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

1/6. Link para o texto original no Jornal Oficial. JusNet 108/1999

ANEXO I Ficha Técnica Informativa de produto financeiro (FTI) Contrato de crédito geral - Conta Corrente Caucionada

REGULAMENTO DE QUOTAS E TAXAS DA ORDEM DOS FARMACÊUTICOS

Diploma DRE. Artigo 1.º. Âmbito

BEST Banco Electrónico de Serviço Total, S.A. Praça Marquês de Pombal, 3 3º, Lisboa. Telefone: (dias úteis, das 8h às 22h)

ALTERA A REGULAMENTAÇÃO DO REGISTO CENTRAL DE CONTRATOS DE SEGURO DE VIDA, DE ACIDENTES PESSOAIS E DE OPERAÇÕES DE CAPITALIZAÇÃO

CONTRATOS DE APOIO À FAMÍLIA CONTRATOS SIMPLES PROCEDIMENTO PARA O ANO LETIVO 2017/2018

Decreto-Lei n.º 51/2007 de 7 de Março

REGULAMENTO RELATIVO ÀS DESPESAS ELEGÍVEIS E À PRESTAÇÃO DE CONTAS. Artigo 1.º Objeto

LICENÇA N.º ICP-ANACOM-7/2013-SP

PROPOSTA DE ALTERAÇÃO DO REGULAMENTO DE TAXAS E PROPINAS APLICÁVEIS AOS ESTUDOS E CURSOS DA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

Lei n.º 83-C/2013, de 31 de dezembro

CÓDIGO DE PROCESSO DO TRABALHO. Actualização N.º 2

ANEXO B DECLARAÇÃO MODELO 22

REGULAMENTO PARA ATRIBUIÇÃO DE BOLSAS DE ESTUDO PARA ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR RESIDENTES NO CONCELHO DE S. JOÃO DA MADEIRA

Regulamento de Bolsas de Mérito a Estudantes do 3.º Ciclo do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa CAPÍTULO I. Artigo 1.º.

FUNDO FLORESTAL PERMANENTE - DEFESA DA FLORESTA CONTRA INCÊNDIOS E AGENTES BIÓTICOS ANÚNCIO DE ABERTURA DE PROCEDIMENTO CONCURSAL N.

MINUTA DO CONTRATO-PROGRAMA ENTRE A FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA E. (designação da entidade) No âmbito do Programa Investigador FCT

PROJETO DE LEI N.º 347/XII/2.ª FUNDO DE GARANTIA SALARIAL

DECRETO N.º 156/XIII

REGIME DE REPARAÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA. Lei n.º 3/2009 de 13 de Janeiro

Regulamento dos Centros de Lazer

Regulamento dos Centros de Lazer

AUTORIZAÇÃO N.º ICP ANACOM - 2/ SP

O SEGURO NA VIDA DO CIDADÃO

Referência: AEN2ABT N.º 08/2014 CADERNO DE ENCARGOS

Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol

Manual de utilização de viatura. Grupo Lena Africa Austral

REGULAMENTO DE TAXAS, LICENÇAS E SERVIÇOS DA JUNTA DE FREGUESIA DE SANTA MARIA DOS OLIVAIS. Preâmbulo

Fundo de Garantia Automóvel. Relatório Anual de Actividades Banco de Cabo Verde

SEGURO DESPORTIVO ACIDENTES PESSOAIS MANUAL DE PROCEDIMENTOS

LOCAÇÃO FINANCEIRA (LEASING) PARA AQUISIÇÃO DE VEICULO PESADO DE PASSAGEIROS - 36/16_L

Regulamento Seguro Escolar

BEST Banco Electrónico de Serviço Total, S.A. Praça Marquês de Pombal, 3 3º, Lisboa. Telefone: (dias úteis, das 8h às 22h)

REPÚBLICA DE ANGOLA CONSELHO DE MINISTROS. Decreto n.º 42/08. de 3 de Julho

REGULAMENTO DE PROPINAS DE LICENCIATURA ANO LECTIVO 2012/2013

Participação Sinistros Acidentes Pessoais

PRESIDÊNCIA DO GOVERNO Resolução do Conselho do Governo n.º 98/2013 de 3 de Outubro de 2013

>> CRITÉRIOS DE PROVA E DE APRECIAÇÃO DA INSUFICIÊNCIA ECONÓMICA PARA A CONCESSÃO DA PROTECÇÃO JURÍDICA. Última actualização em 17/06/2008

Legislação. Resumo: Aprova o programa especial de redução do endividamento ao Estado.

Transcrição:

Decrto-lei n.º Aprova o Regime do Fundo de Garantia Automóvel DECRETO-LEI QUE APROVA O REGIME DO FUNDO DE GARANTIA AUTOMÓVEL E MARÍTIMO Com a instituição do seguro obrigatório de responsabilidade civil marítimo previsto no Código Marítimo aprovado pelo Decreto Legislativo n.º 14/2010 de 15 de Novembro e pelo Decreto-Lei 70/2015 de 31 de Dezembro, constatou-se a necessidade de conferir uma maior proteção aos lesados por sinistros marítimos, assim como de promover um aumento na eficácia do controlo do cumprimento da obrigação de segurar. No sentido de se evitar uma duplicação de instrumentos de garantia aos lesados, optou-se por criar de um corpo único de normas gerais para o ramo automóvel e marítimo, com capítulos específicos para cada sector, criando assim um verdadeiro regime de Fundo de Garantia Automóvel e Marítimo (FGAM), aproveitando grande parte do regime do Fundo de Garantia Automóvel que constava dos artigos 36.º e seguintes Decreto-Lei n 17/2003 de 19 de Maio e do Aviso 2/2015 de 20 de Março. O FGAM constitui-se como o último recurso de ressarcimento das vítimas de sinistros automóvel e marítimo. Como tal, foi dada especial atenção ao regime da extensão de cobertura dos danos de morte, lesões corporais e danos materiais pelo FGAM quando o responsável seja desconhecido, ou não beneficie de seguro válido, bem como para situações de lesões corporais ditas significativas. Merece igual destaque a inclusão da previsão relativa ao abandono do veículo ou navio causador do sinistro no local do acidente, sem seguro e em determinadas circunstâncias. No que toca às exclusões, optou-se por remeter, em cada um dos ramos, para o disposto no regime geral aplicável, concretamente, Decreto-lei n 17/2003, de 19 Maio (ramo automóvel) e Decreto-lei n.º 70/2015, de 31 de Dezembro e Código Marítimo de Cabo Verde (ramo marítimo). Em relação ao regime financeiro estabeleceram-se as percentagens a aplicar sobre os prémios simples para cada ramo e a serem pagas pelas seguradoras e incluiu-se a percentagem das coimas aplicadas no ramo marítimo. Por outro lado, em função dos valores de indemnização envolvidos nos sinistros do ramo marítimo, procedeu-se à adaptação da percentagem do limite de financiamento de recurso do FGAM para 2% da carteira de prémios de seguros automóvel e marítimo.

O presente diploma contempla os principais aspetos organizacionais e de funcionamento do FGAM, estando dividido em 4 grandes capítulos dedicados às disposições gerais, funcionamento, sinistros e contencioso. Assim, no uso da faculdade conferida pela alínea a) do n.º 2 do artigo 204º da Constituição, o Governo decreta o seguinte: Artigo 1º Aprovação É aprovado o regime jurídico do Fundo de Garantia Automóvel e Marítimo, que se publica em anexo ao presente diploma e de que faz parte integrante. Artigo 2.º Disposição Transitória O procedimento constante do presente diploma é imediatamente aplicável aos processos que se encontrem pendentes. Artigo 3.º Norma revogatória 1. São revogados os artigos 36.º a 44.º, 47.º e 53.º do Decreto-lei n 17/2003 de 19 de Maio e o Aviso n.º 2/2015, de 20 de Março do Banco de Cabo Verde, e toda a legislação e regulamentação com regime diverso do disposto no presente diploma. 2. As referências constantes de qualquer diploma ao Fundo de Garantia Automóvel consideram-se feitas ao Fundo de Garantia Automóvel e Marítimo. Artigo 4º Entrada em vigor O presente diploma entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação. Aprovado em Conselho de Ministros de de de 201_. Promulgado em de de 201_. Publique-se O Presidente da República,

REGIME JURÍDICO DO FUNDO DE GARANTIA AUTOMÓVEL E MARÍTIMO Capitulo I Disposições Gerais Artigo 1.º Fundo de Garantia Automóvel e Marítimo 1. O FGAM é um património autónomo que funciona junto do Banco de Cabo Verde e sob sua gestão. 2. O Banco de Cabo Verde poderá adaptar o plano de contas do FGAM, em função da natureza e atribuições deste, devendo o ramo automóvel e o ramo marítimo ser segregados contabilisticamente. 3. O FGAM pode efetuar o resseguro das suas responsabilidades. Artigo 2.º Âmbito 1. Compete ao FGAM satisfazer, nos termos do presente diploma, as indemnizações decorrentes de acidentes originados por veículos e navios sujeitos ao seguro obrigatório e que estejam matriculados em Cabo Verde, ou estejam isentos de matrícula. 2. O FGAM garante o pagamento das indemnizações, até ao montante obrigatoriamente seguro, para cada ramo de seguro previsto no presente diploma, por: a) Morte ou lesões corporais, quando o responsável seja desconhecido, ou não beneficie de seguro válido, ou tenha sido declarada a insolvência da seguradora; b) Danos materiais, quando o responsável, sendo conhecido, não beneficie de seguro válido, ou tenha sido declarada a insolvência da seguradora. c) Danos materiais, quando, sendo o responsável desconhecido, deva o FGAM satisfazer uma indemnização por lesões corporais significativas, ou tenha o veículo ou o navio causador do acidente sido abandonado no local do acidente, não beneficiando de seguro válido, e a autoridade policial haja efetuado o respetivo auto de notícia, confirmando a presença do veículo ou navio no local do acidente. d) Danos por poluição.

3. Para os efeitos previstos na alínea c) do número anterior, consideram-se lesões corporais significativas a lesão corporal que determine morte ou internamento hospitalar igual ou superior a sete dias, ou incapacidade temporária absoluta por período igual ou superior a 60 dias, ou incapacidade parcial permanente igual ou superior a 15 %. 4. Para o ramo marítimo, o Conselho de Administração do BCV poderá, ocorrendo lesões corporais, deliberar a concessão de indemnização de valor superior ao montante obrigatoriamente seguro. 5. Ocorrendo um fundado conflito entre o FGAM e uma seguradora sobre qual deles recai o dever de indemnizar, caberá ao FGAM reparar os danos sofridos pelos lesados, sem prejuízo de vir a ser reembolsado pela seguradora, nos termos previstos no n.º 1 do artigo 5.º, se sobre esta vier, a final, a impender essa responsabilidade. Artigo 3.º Âmbito territorial Só aproveitam do benefício do FGAM os lesados por acidentes ocorridos no território da República de Cabo Verde. Artigo 4.º Exclusões São aplicáveis ao FGAM as exclusões previstas no artigo 8º e no n.º 3 do artigo 9º do Decretolei n 17/2003, de 19 Maio, no que respeita ao ramo automóvel e as previstas nos artigos 16.º e 25.º do Decreto-lei n.º 70/2015, de 31 de Dezembro e no art.º 669º, n.º 3 do Código Marítimo de Cabo Verde, relativamente ao ramo marítimo. Artigo 5.º Sub-rogação 1. Satisfeita a indemnização, o FGAM fica sub-rogado nos direitos do lesado, tendo ainda direito ao juro de mora legal e ao reembolso das despesas que houver feito com a liquidação e cobrança. 2. No caso de falência, o FGAM fica sub-rogado apenas contra a seguradora insolvente. 3. No caso do seguro obrigatório automóvel, são solidariamente responsáveis pelo pagamento ao FGAM, nos termos do n.º 1, o detentor, o proprietário e o condutor do veículo cuja utilização causou o acidente, independentemente de sobre qual deles recaia a obrigação de seguro. 4. As pessoas que, estando sujeitas à obrigação de segurar, não tenham efetuado seguro poderão ser demandadas pelo FGAM, nos termos do n.º 1, beneficiando do direito de regresso contra outros responsáveis pelo acidente, se os houver, relativamente às quantias que tiverem pago.

Artigo 6.º Limites especiais à responsabilidade do FGAM 1. Caso o acidente abrangido pelas disposições do presente diploma seja também de trabalho, o FGAM só responde por danos materiais e, relativamente à morte ou lesões corporais, pelos danos não patrimoniais e danos patrimoniais não abrangidos pela lei da reparação daqueles acidentes, incumbindo, conforme os casos, às empresas de seguros, ao empregador as demais prestações devidas aos lesados nos termos da lei específica de acidentes de trabalho, salvo inexistência do seguro de acidentes de trabalho. 2. Se o lesado por acidente abrangido pelas disposições do presente diploma beneficiar da cobertura de um contrato de seguro automóvel ou marítimo de danos próprios, a reparação dos danos do acidente que sejam subsumíveis nos respectivos contratos incumbe às empresas de seguros, ficando a responsabilidade do FGAM limitada ao pagamento do valor excedente. 3. Quando, por virtude de acidente abrangido pelas disposições do presente diploma, o lesado tenha direito a prestações ao abrigo do sistema de proteção da segurança social, o FGAM só garante a reparação dos danos na parte em que estes ultrapassem aquelas prestações. 4. As entidades que satisfaçam os pagamentos previstos nos números anteriores têm direito de regresso contra o responsável civil do acidente e sobre quem impenda a obrigação de segurar, os quais respondem solidariamente. 5. O lesado não pode cumular as indemnizações a que tenha direito a título de responsabilidade civil automóvel e marítimo e de beneficiário de prestações indemnizatórias ao abrigo de seguro de pessoas transportadas. 6. O pagamento pela empresa de seguros da indemnização prevista no n.º 2 não dá, em si, lugar a alteração de prémio do respetivo seguro quando o dano reparado for da exclusiva responsabilidade do interveniente sem seguro. Capitulo II Financiamento da FGAM Artigo 7.º Receitas do Fundo de Garantia Automóvel 1. Constituem receitas do FGAM: a) O montante a entregar, por cada seguradora, resultante da aplicação de percentagem fixada no Anexo ao presente diploma para cada ramo do FGAM sobre os prémios simples do seguro obrigatório automóvel e marítimo processados no ano anterior, líquidos de estornos e anulações;

b) O resultado dos reembolsos efetuados pelo FGAM, ao abrigo do disposto no artigo 5.º do presente diploma; c) A remuneração de aplicações financeiras; d) O produto das coimas referidas no Decreto-lei n 17/2003, de 19 Maio, Decreto-lei n.º 70/2015, de 31 de Dezembro e no Código Marítimo aprovado pelo Decreto- Legislativo n.º 14/2010, de 15 de Novembro. e) As doações, heranças ou legados; f) Os valores recebidos decorrentes de contratos de resseguro celebrados ao abrigo do n.º 4 do artigo 1.º; g) Quaisquer outras receitas que lhe venham a ser atribuídas. 2. As percentagens referida na alínea a) do número anterior podem ser alteradas por Portaria do membro do Governo responsável pela área das Finanças, sob proposta do Banco de Cabo Verde. 3. O montante devido pelas seguradoras ao FGAM será fraccionado em duas prestações iguais, pagas um mês após o início de cada semestre para a conta bancária indicada pelo Banco de Cabo Verde. 4. As seguradoras deverão enviar ao Banco de Cabo Verde o comprovativo de pagamento nos 5 dias o vencimento do prazo de pagamento previsto no número anterior. 5. Em situações excecionais, devidamente comprovadas, o Estado poderá assegurar uma dotação correspondente ao montante dos encargos que excedam as receitas previstas do FGAM. Artigo 8.º Despesas do FGAM Constituem despesa do FGAM: a) Os encargos decorrentes de sinistros verificados e os custos inerentes à instrução e gestão dos processos de sinistros e de reembolso; b) Os valores despendidos por força dos contratos de resseguro celebrados nos termos do n.º 4 do artigo 1.º; c) Outros encargos relacionados com a gestão do FGAM, nomeadamente avisos e publicidade; d) Comparticipações em ações de prevenção. Artigo 9.º Financiamento de recurso do FGAM 1. A fim de habilitar o FGAM a solver eventuais compromissos superiores às suas disponibilidades de tesouraria, poderá aquele recorrer às seguradoras até ao limite de 2% da

carteira de prémios de seguros obrigatório automóvel e marítimo, processados no ano anterior, líquidos de estornos e anulações. 2. As importâncias arrecadadas nos termos do número anterior são reembolsadas no exercício seguinte. Capitulo III Dos Sinistros Secção I Da Instrução Artigo 10.º Finalidades e âmbito da instrução A instrução compreende o conjunto de diligências que têm por finalidade confirmar os pressupostos dos quais a lei faz depender a obrigação de satisfazer as indemnizações referidas no artigo 2º. Artigo 11.º Início da instrução 1. O início da instrução dá-se com a receção do processo de sinistro completo por parte do FGAM. 2. Para efeitos do número anterior, considera-se processo completo aquele que reúna os documentos, disponibilizados pelo lesado e pelo culpado, constantes dos números 3 e 4, respetivamente, do presente artigo. 3. Será da responsabilidade do lesado a disponibilização da seguinte documentação, quando aplicável: a) Formulário de pedido de indemnização devidamente preenchido; b) Documentos de Identificação e Número de Identificação Bancária (NIB) do proprietário do(s) veículo(s) lesado(s); c) Documentos de Identificação e Número de Identificação Bancária (NIB) do lesado, quando não abrangido pela alínea anterior; d) Informação atualizada dos contactos do(s) lesado(s); e) Declaração de acidente ou participação preliminar do sinistro; f) Carta da seguradora declinando a responsabilidade em ressarcir os danos causados pelo veículo ou navio culpado e informação sobre o seguro do veículo ou navio na data de acidente;

g) Recibo do seguro ou certificado de seguro de responsabilidade civil válido na data do acidente; h) Fotografias do(s) bens lesado(s); i) Tratando-se de danos em veículos, pró-formas dos orçamentos de dois fornecedores ou prestadores de serviços e/ou recibos de pagamento das peças danificadas no acidente; j) Tratando-se de outro tipo de danos, documentação objectiva e clara de suporte aos danos reclamados; k) Título de propriedade em nome do proprietário do veículo; l) Título de propriedade em nome do proprietário/armador ou contrato celebrado com o armador não proprietário do navio, consoante o caso; m) Relatório de peritagem do(s) veículo(s) lesado(s) no acidente, aceite pelo culpado mediante a aposição da respetiva assinatura; n) Relatório de reconstituição e definição de culpabilidade no acidente, quando necessário; o) Relatório de peritagem relativo aos danos por poluição; 4. Será da responsabilidade do responsável pelo acidente a disponibilização da seguinte documentação: a) Documentos de identificação do proprietário do veículo culpado (s) ou do proprietário armador ou contrato celebrado com o armador não proprietário do navio, do navio culpado, consoante o caso; b) Documentos de identificação do condutor do veículo causador do dano (s), caso não seja o respetivo proprietário, ou do comandante do navio causador do dano, consoante aplicável; c) Comprovativo do seguro anterior e posterior ao acidente; d) Cópia do título de propriedade em nome do proprietário do veículo culpado no acidente; e) Cópia do título de propriedade em nome do proprietário/armador ou contrato celebrado com o armador não proprietário do navio, consoante o caso; f) Informação atualizada da morada e de contactos do responsável pelo acidente; g) Termo de aceitação de culpabilidade no acidente; Artigo 12.º Reclamação de sinistro 1. Os processos considerados completos nos termos do artigo 11.º nº. 2 dão lugar à abertura de processos de reclamações de sinistro, sendo numerados sequencialmente.

2. Não serão consideradas reclamações de sinistro as apresentadas por via telefónica. Artigo 13.º Apresentação das reclamações de sinistro e dever de colaboração 1. As reclamações de sinistro podem ser apresentadas numa das seguintes formas: a) Pessoalmente, por via postal ou via eletrónica pelos lesados ou seus representantes; b) Por intermédio das seguradoras e das autoridades policiais. 2. As seguradoras e autoridades policiais são obrigadas a comunicar ao FGAM a ocorrência de acidentes que envolvam viaturas ou navios sem seguro obrigatório, no prazo de 5 dias úteis após essa constatação. 3. No caso, previsto no número anterior, juntamente com a comunicação, a seguradora deverá juntar a documentação e informação de suporte à conclusão pela inexistência de seguro válido. 4. No caso de inexistir participação policial, as comunicações efetuadas pelas seguradoras deverão ainda ser encaminhadas juntamente com o termo de aceitação de culpabilidade devidamente preenchido e assinado pelo interveniente sem seguro e considerado culpado no acidente. 5. As seguradoras estão obrigadas a um dever especial de colaboração com o FGAM, facultando no prazo máximo de 5 dias úteis toda a documentação e informação que lhes venha a ser solicitada pelo Fundo. Artigo 14.º Tramitação da instrução A tramitação da instrução será objeto de regulamentação através de Aviso do Banco de Cabo Verde. Secção II Da indemnização Subsecção I Da Indemnização por danos patrimoniais Artigo 15.º Indemnização em caso de reparação 1. O pagamento da indemnização por dano material é precedido da avaliação dos danos do veículo lesado e/ou dos outros danos materiais, de forma a confirmar ou contestar os montantes constantes das faturas pró-forma ou da restante documentação de suporte aos danos reclamados.

2. O FGAM satisfaz a indemnização correspondente ao custo da reparação, mediante a apresentação de fatura pró-forma ou documento equivalente até ao valor de seguro obrigatório estipulado por lei. 3. Havendo mais de um lesado, o montante correspondente ao capital seguro deverá ser distribuído de forma proporcional aos danos sofridos pelos lesados, até ao valor obrigatoriamente seguro por acidente. Artigo 16.º Prestadores de serviços de reparação e fornecedores 1. Sem prejuízo do disposto no n.º 3, os prestadores de serviços de reparação e os fornecedores são escolhidas pelos lesados, de entre os mais cotados no país. 2. Dos prestadores e fornecedores da preferência dos lesados, o FGAM selecionará o que oferecer melhor orçamento, de acordo com critério custo/qualidade. 3. Caso o FGAM obtenha melhor orçamento de outro prestador ou fornecedor que garanta os mesmos níveis de serviço e qualidade, poderá optar por ordenar que a reparação seja efetuada nesse prestador fornecedor. Artigo 17.º Insusceptibilidade de reparação Verificando-se que os danos sofridos não são indemnizáveis por reparação dos bens, aplicar-seão as regras gerais de indemnização previstas no Código Civil. Artigo 18. Bens apreendidos 1. O veículo ou navio culpado no acidente deverá manter-se apreendido até que o FGAM declare que se encontra ressarcido das quantias e despesas efetuadas a título de indemnização ao lesado ou que os mesmos prestaram caução dos inerentes valores, não podendo a referida apreensão exceder o prazo de dezoito meses. 2. Decorrido um ano sobre a data do sinistro, se o FGAM não se encontrar ressarcido das quantias e despesas efetuadas a título de indemnização ao lesado, assiste-lhe o direito a ser ressarcido, até ao montante despendido, através da receita resultante da venda do veículo ou navio apreendido, quando este for propriedade do responsável civil e tal não prejudique o andamento do processo penal. Subsecção II Da indemnização por danos corporais

Artigo 19.º Dever de indemnizar 1. Para efeitos de cálculo do valor a indemnizar, o FGAM solicitará à instituição de saúde onde o sinistrado fez o tratamento o relatório médico, que deverá conter a descrição da evolução do quadro clínico do sinistrado, do tipo de lesão, para além de indicar o período de convalescença concedido ao sinistrado. 2. No caso referido no número precedente, os relatórios médicos apresentados para quantificação da lesão corporal deverão ser validados pelos serviços de verificação de incapacidade do Instituto Nacional de Previdência Social. 3. Confirmada a obrigação indemnizatória do FGAM, será prestada ao sinistrado toda a assistência médica indispensável ao impedimento do agravamento do seu estado de saúde. Artigo 20.º Lesões corporais 1. O FGAM colocará ao dispor dos sinistrados os meios clínicos que se mostrem comprovadamente necessários para o seu tratamento ou reabilitação, dentro ou fora do país, nos termos dos nºs 1 e 2 do artigo 21º. 2. O FGAM suporta, ainda, os custos inerentes ao tratamento médico e à assistência medicamentosa, a favor do sinistrado, prestado, preferencialmente, por instituições de saúde estatal. 3. O recurso aos serviços de saúde privados far-se-á de acordo com protocolos celebrados para o efeito com clínicas privadas. Artigo 21.º Assistência médica 1. As propostas de evacuações de sinistrados para o exterior para tratamento médico especializado indisponível em Cabo Verde deverão ser validadas pelos serviços de verificação de incapacidade do Instituto Nacional de Previdência Social. 2. Nas evacuações entre ilhas ou para fora do país, todo o apoio logístico é prestado pelas seguradoras nacionais, por conta do FGAM, mediante a assinatura prévia de um protocolo para o efeito. 3. Sob proposta médica de colocação de próteses de membros, o sinistrado poderá beneficiar dos serviços prestados por entidades especializadas e com competência reconhecida nesta área. 4. No fim do tratamento médico do sinistrado, o dano corporal é avaliado pelos serviços de verificação de incapacidade do Instituto Nacional de Previdência Social, que indicará a percentagem da invalidade, para efeitos de fixação da pensão vitalícia.

Subsecção III Da indemnização por danos por poluição Artigo 22.º Âmbito do dever de indemnizar 1. O dever de indemnizar abrange as perdas ou danos causados por poluição fora do navio, a perda dos benefícios sofridos por aqueles que utilizam ou aproveitam as águas ou costas afetadas, o custo das medidas de restauração efetivamente tomadas no caso de deterioração do meio ambiente e o custo das medidas razoavelmente tomadas, depois de ocorrer o sinistro, com o objetivo de prevenir ou minimizar os danos por poluição. 2. O pagamento de indemnização está dependente da prova dos danos sofridos, nomeadamente, mediante a entrega de documentação de suporte, incluindo contabilística e, ou financeira. Capitulo IV Do Contencioso Artigo 23.º Jurisdição Dos atos e decisões praticados pelo Governador ou pelo Conselho de Administração do Banco de Cabo Verde, no âmbito do FGAM, cabe recurso para os tribunais comuns. Artigo 24.º Legitimidade 1. As ações destinadas à efetivação da responsabilidade civil decorrente de acidente abrangido pelas disposições do presente diploma, quando o responsável seja conhecido e não beneficie de seguro válido, são propostas contra o FGAM e o responsável civil, sob pena de ilegitimidade. 2. Quando o responsável civil por acidentes abrangidos pelas disposições do presente diploma for desconhecido, o lesado demanda diretamente o FGAM. 3. Se nos casos previstos nos números anteriores estiver em causa acidente de viação que seja, nos termos do n.º 2 do artigo 5.º, subsumível em contrato de seguro de danos próprios, a ação deve ser proposta também contra a respetiva empresas de seguros. 4. O FGAM está isento de custas nos processos em que for parte e da tributação emolumentar nos atos de registo de apreensão de veículos e de navios por si promovidos.

Artigo 25.º Cobrança judicial 1. Liquidada a indemnização, recai sobre o culpado a obrigação de reembolsar o FGAM pela totalidade das despesas tidas em virtude do acidente. 2. A falta de pagamento consecutivo de duas prestações imputável ao culpado implicará o vencimento das restantes e a imediata remessa do processo para execução judicial. 3. Constatado o incumprimento de alguma prestação da dívida, o FGAM procederá à interpelação para o respetivo cumprimento através de uma intimação formal ao devedor moroso, para que cumpra a obrigação dentro de prazo determinado, com a expressa advertência de se considerar a obrigação como definitivamente incumprida. 4. Decorrido o prazo fixado na interpelação para cumprimento, o FGAM procederá às diligências necessárias para a instauração do competente processo de execução judicial. 5. Todas as entidades públicas ou privadas de cuja colaboração o FGAM careça para efetuar, nos termos do presente diploma, a cobrança dos reembolsos, devem prestar, de forma célere e eficaz, as informações e o demais solicitado, sem prejuízo do sigilo a que estejam obrigadas por lei. 6. As informações e os dados conhecidos nos termos do número anterior não podem ser transmitidos a terceiros. Artigo 26.º Representação do FGAM Sem prejuízo da tentativa prévia de resolução extrajudicial de conflitos, em quaisquer ações judiciais intentadas contra o FGAM, este será representado por mandatário constituído para o efeito. ANEXO Nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 7.º do presente diploma e tendo em conta cada ramo do seguro obrigatório, são fixadas as seguintes percentagens sobre os prémios: RAMO PERCENTAGEM SOBRE OS PRÉMIOS Automóvel 2%

Marítimo 5%