PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS COMARCA DE RIBEIRãO DAS NEVES 2ª Vara Cível de Ribeirão das Neves Rua Ari Teixeira da Costa, 465, Tânia, RIBEIRãO DAS NEVES - MG - CEP: 33805-275 PROCESSO Nº 5000027-85.2016.8.13.0231 CLASSE: RECUPERAÇÃO JUDICIAL (129) ASSUNTO: [Autofalência] AUTOR: EMBRASIL-EMPRESA BRASILEIRA DISTRIBUIDORA LTDA, COBIMEX CONNECT BRASIL IMPORT EXPORT LTDA, NATALIA INDUSTRIA E COMERCIO LTDA Vistos. Cuida-se de pedido de RECUPERAÇÃO JUDICIAL formulado pelas empresas EMBRASIL EMPRESA BRASILEIRA DISTRIBUIDORA LTDA., COBIMEX CONNECT BRASIL IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO LTDA. e NATÁLIA INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA., todas qualificadas nos autos, ao argumento de que atravessam grave crise econômico-financeira, com comprometimento de sua situação patrimonial e capacidade imediata de honrar seus compromissos financeiros. Afirmaram, outrossim, que são empresas viáveis e buscam preservar os postos de trabalho, além de cumprirem suas obrigações com os credores. Num. 5360061 - Pág. 1
Ainda relataram que possuem sede no município e Comarca de Ribeirão das Neves e que a reunião no polo ativo das empresas requerentes se deve ao fato de possuírem administração em comum e centralizada, coincidência de credores e comunhão de interesses econômicos. Também informaram que cumprem os requisitos legais do art. 48 bem como os requisitos formais da Ação de Recuperação Judicial dispostos nos arts. 51 e 53 da Lei 11.101/2005. Ao final, requereram o processamento da presente recuperação judicial, a suspensão de todas as ações e execuções ajuizadas contra as requerentes, a dispensa da apresentação de certidões negativas para o exercício das atividades das requerentes, a nomeação de administrador judicial de confiança do Juízo, a expedição de edital com a divulgação da decisão de deferimento do processamento da recuperação judicial e a concessão de prazo de 60 (sessenta) dias para apresentação do plano de recuperação. Requereram, ainda, a concessão de antecipação de tutela para determinar: a) que a empresa Savoy Imobiliária Construtora Ltda. disponibilize imediatamente o restante do valor da alienação do imóvel, no importe de R$4.691.915,39 (quatro milhões, seiscentos e noventa e um mil, novecentos e quinze reais e trinta e nove centavos), corrigidos desde a data de sua retenção até o ajuizamento desta ação; b) que seja obstada à locadora a cobrança de cláusula penal e da multa prevista no contrato de locação; c) que as instituições financeiras, Banco do Brasil S.A. e Banco Itaú Unibanco S.A., devolvam e liberem imediatamente os valores já retidos até este momento nas contas correntes das requerentes, descritas na inicial, bem como se abstenham de bloquear ou reter qualquer valor nas contas garantidas das requerentes; d) que as instituições financeiras, Banco do Brasil S.A. e Banco Itaú Unibanco S.A., permitam o pleno acesso das requerentes às suas respectivas contas, não podendo vedar ainda a movimentação bancária ordinária; e) que as concessionárias de energia elétrica e de fornecimento de água se abstenham de suspender, interromper ou obstruir o fornecimento de seus serviços às requerentes; f) a decisão de processamento da recuperação judicial impeça a retirada de bens essenciais à atividade das empresas, notadamente de veículos utilizados para entrega de mercadorias; g) que a empresa Savoy Imobiliária Construtora Ltda., locadora do imóvel onde está sediada a empresa Embrasil Empresa Brasileira Distribuidora Ltda., se abstenha de promover qualquer medida restritiva de uso ou mesmo o despejo em desfavor da primeira requerente, pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias. DECIDO. O instituto da recuperação judicial foi introduzido no Brasil pela Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, cujo escopo central é evitar que a crise na empresa acarrete a sua falência, possibilitando a preservação da atividade econômica e de seus postos de trabalho. Podemos conceituar a recuperação judicial como medida judicial apta a evitar a falência da sociedade empresária na circunstância em que ela perde a capacidade de pagar suas dívidas. Esse instituto permite que os empresários reestruturem suas dívidas com credores, reorganizem seus negócios e efetivamente recuperem suas finanças, mantendo a produção, o emprego dos trabalhadores e o interesses dos credores. Num. 5360061 - Pág. 2
A Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, elenca, em seu art. 48, requisitos sobre a legitimação ativa e, em seu art. 51, uma série de requisitos para o processamento do pedido de recuperação judicial, a saber: Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: I não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; III não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; (Redação dada pela Lei Complementar nº 147, de 2014) IV não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei. ( ) Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: I a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira; II as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; III a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; IV a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento; Num. 5360061 - Pág. 3
V certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores; VI a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor; VII os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras; VIII certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial; IX a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados. Ao discorrer sobre o presente tema, Fábio Ulhoa Coelho afirma o seguinte: Além dos requisitos para a legitimação ativa (art. 48), exige-se do devedor interessado em obter o benefício da recuperação judicial o atendimento a diversas condições; algumas formais, outras, materiais. É necessário, por exemplo, que ela torne acessíveis aos credores certas demonstrações contábeis, indispensáveis à adequada verificação de sua situação econômica, financeira e patrimonial. De outro lado, ela deve ter um plano viável de recuperação da atividade em estado crítico. Em consequência, a lei determina que a petição inicial do pedido de recuperação judicial seja necessariamente instruída com certos elementos e documentos, sem os quais não se consideram atendidas as condições para obtenção do benefício. Trata-se de extensa lista, cujos itens não podem ser dispensados pelo juiz. Somente depois de se encontrar convenientemente instruída a petição inicial, poderá ele proferir o despacho autorizando o processamento do pedido de recuperação judicial. No caso dos autos, no pertinente à legitimidade ativa, constato que as requeridas preencheram os requisitos do art. 48 da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, porquanto apresentaram o comprovante de inscrição no CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, Declarações, Certidões de distribuição de falência, concordata e recuperação judicial e certidões de ações e execuções criminais, conforme Id 5052374. Quanto aos requisitos exigidos pelo art. 51 da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, para o processamento do pedido de recuperação judicial, verifico também que eles foram cumpridos. Vejamos. O inciso I (exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira) está demonstrado na petição inicial de forma detalhada, indicando a situação patrimonial das devedoras e as razões da crise econômico-financeira. Num. 5360061 - Pág. 4
Quanto ao inciso II do citado artigo (demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção), constato que a inicial veio acompanhada do Id 5052380 relativo a essas demonstrações contábeis. O inciso III (relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente) está comprovado pelo Id 5052388. O inciso IV (relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento) está demonstrado pelo Id 5052400. Já o inciso V (certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores) encontra comprovação no Id 5052408. O inciso VI (relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor) está demonstrado no Id 5052411. O inciso VII (extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras) está comprovado no Id 5052420. As requeridas comprovam o inciso VIII (certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial) por meio do Id 5052439. Por fim, o requisito do inciso IX (relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados) está provado no Id 5052446. Assim, concluo que estão preenchidos os requisitos legais para o processamento do presente pedido de recuperação judicial bem como que há indícios de viabilidade das empresas requerentes. Ante o exposto, DEFIRO O PROCESSAMENTO DA PRESENTE RECUPERAÇÃO JUDICIAL formulado por EMBRASIL EMPRESA BRASILEIRA DISTRIBUIDORA LTDA., COBIMEX CONNECT BRASIL IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO LTDA. e NATÁLIA INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. Num. 5360061 - Pág. 5
Determino, nos termos do art. 52 da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, as seguintes providências: 1. Nomeio administradora judicial a Dra. Juliana Ferreira Morais, OAB/MG 77.884, com escritório na Av. do Contorno n. 8.000, sala 1.005, bairro Lourdes, Belo Horizonte MG, CEP 30.110-056, devendo ser lavrado o respectivo termo (art. 33 da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005); 2. Determino a dispensa de apresentação de certidões negativas para que as requerentes exerçam suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios (art. 69 da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005); 3. Determino a suspensão de todas as ações judiciais ou execuções ajuizadas contra as requerentes, na forma do art. 6º. da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, permanecendo os respectivos autos nos Juízos onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos 1º., 2º. e 7º. do art. 6º da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, e as relativas a créditos executados na forma dos 3º. e 4º. do mesmo diploma legal; 4. Determino que as requerentes comuniquem aos Juízos competentes a suspensão das referidas ações e execuções (art. 52, 3º., da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005); 5. Determino às requerentes a apresentação de contas demonstrativas mensais enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seu administrador. Esses documentos deverão ser autuados em pasta própria com índice (art. 52, IV, da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005); 6. Determino a intimação do representante do Ministério Público e a comunicação, por carta, à União, Estados e Municípios onde as requerentes possuírem estabelecimento (art. 52, V, da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005); 7. Publique-se o edital, nos termos do 1º. do art. 52 da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005; 8. Oficie-se ao registro competente (Junta Comercial) para anotação da recuperação judicial (art. 69, parágrafo único, da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005); 9. Assino às requerentes o prazo de 60 (sessenta) dias para apresentação do plano de recuperação, sob pena de convolação em falência, nos termos do art. 53 da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Num. 5360061 - Pág. 6
Com relação aos pedidos deduzidos em antecipação de tutela, é cediço que o referido instituto exige a verossimilhança da alegação, ou seja, um início de prova contunde e suficiente para o seu deferimento, verdadeira prova robusta que deve ser mais evidente que o fumus boni juris, além da prova do periculum in mora. No presente caso, as requerentes formularam uma extensa relação de requerimentos, em antecipação de tutela, que demandam um aprofundamento da análise da documentação acostada aos autos, sobretudo para que, de fato, seja assegurada a preservação da empresa, com a consequente reestruturação de suas dívidas com os credores, reorganização de seus negócios e efetivamente recuperação de suas finanças, visando a proteger a manutenção da produção, o emprego dos trabalhadores e o interesses dos credores. É razoável, porém, colher a manifestação da administradora judicial ora nomeada para, em seguida, decidir o pedido de antecipação de tutela formulado pelas requerentes. Assim, após a lavratura do termo de nomeação da administradora judicial, Dra. Juliana Ferreira Morais, OAB/MG 77.884, nos termos do art. 33 da Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, determino que ela se manifeste sobre os requerimentos dispostos na antecipação de tutela, no prazo de 10 (dez) dias, visando à recuperação da empresa, à proteção da produção e do emprego bem assim de seus credores. Intime-se. Cumpra-se. Ribeirão das Neves, 22 de janeiro de 2016. SÉRGIO SANCHES AMBROGI Juiz de Direito Num. 5360061 - Pág. 7