Bento Gonçalves RS, Brasil, 5 a 7 de Abril de Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix

Documentos relacionados
Ana Paula de Godoy Lopes, Daniel Augusto Miranda

Dimensionamento Preliminar de Reservatório de Águas Pluviais para o Prédio do Instituto de Recursos Naturais (Irn- Unifei) 1

MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO E SIMULAÇÃO PARA RESERVATÓRIOS DE ÁGUA PLUVIAL

Introdução. Mundo: Aumento populacional (77 milhões de pessoas por ano) 2050: 9 bilhões de pessoas. Brasil: recursos hídricos em abundância (!?

ESTUDO SOBRE O MÉTODO DOS DIAS SEM CHUVA PARA O DIMENSIONAMENTO DE RESERVATÓRIOS STUDY ON THE METHOD THE DAYS WITHOUT RAIN FOR THE SIZING RESERVOIRS

AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DO POTENCIAL DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA NA REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI CEARENSE

VI Congresso de Meio Ambiente da AUGM

Estudo sobre o método dos dias sem chuva para o dimensionamento de reservatórios

ESTUDO DE VIABILIDADE DA CAPTAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS NO IFPE CAMPUS CARUARU

ESTUDO DO POTENCIAL DE CAPTAÇÃO E APROVEITAMENTO DE ÁGUA DA CHUVA EM PRÉDIOS PÚBLICOS: UM PROJETO PILOTO PARA PRÉDIOS DO SEMIÁRIDO DA PARAÍBA

ESTUDO DAS METODOLOGIAS DE DIMENSIONAMENTO DE RESERVATÓRIOS DE ÁGUA DE CHUVA

TÍTULO: COMPARAÇÃO METODOLÓGICA PARA DIMENSIONAMENTO DE RESERVATÓRIOS DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA

DETERMINAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO COMO PARTE DO ESTUDO DE VIABILIDADE DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL EM ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL

ESTIMATIVA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL PARA FINS NÃO POTÁVEIS: ESTUDO DE CASO NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA LOCALIZADA EM ARARUNA - PB

ANALYSIS OF SIMULATION METHOD TO SIZING RAINWATER TANKS IN SINGLE-FAMILY HOUSES

Voluntário do projeto de pesquisa PIBIC e Acadêmico do curso de Engenharia Civil da Unijuí. 3

ESTIMATIVA DO POTENCIAL DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA NAS RESIDÊNCIAS MASCULINA E FEMININA NO CAMPUS DA UFCG EM POMBAL-PB

Métodos de Dimensionamento de Reservatórios rios de Água Pluvial em Edificações

Estudo da viabilidade econômica da captação de água de chuva em residências da cidade de João Pessoa

ESTIMATIVA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA EM UMA ESCOLA DA ZONA RURAL DE CATOLÉ DO ROCHA

Avaliação de medidas de racionalização do consumo de água em um edifício para fins educacionais

CALHA PET CONSTRUÇÃO DE CALHAS DE GARRAFA PET PARA APROVEITAMENTO DA ÁGUA DA CHUVA E REDUÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

CONFIABILIDADE VOLUMÉTRICA DE RESERVATÓRIOS PARA ARMAZENAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA EM MUNICÍPIOS BRASILEIROS

ANÁLISE COMPARATIVA DE MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO DE RESERVATÓRIO DE APROVEITAMENTO DA ÁGUA DE CHUVA

Programa computacional Netuno para o dimensionamento de reservatórios rios visando o aproveitamento de água pluvial em edificações

PROJETO DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL EM UMA ESCOLA MUNICIPAL EM JUIZ DE FORA - MG

PERFIL DO CONSUMO RESIDENCIAL E USOS FINAIS DA ÁGUA EM BELÉM DO PARÁ

POTENCIAL ASSESSMENT AND FACILITIES SIZING TO RAINWATER HARVESTING FOR NON-POTABLE PURPOSES IN CURITIBA CAMPUS UTFPR ECOVILLE

Reservatório de água pluvial em escola para fins não-potáveis Ronaldo Kanopf de Araújo 1, Lidiane Bittencourt Barroso 2, Delmira Beatriz Wolff 3

UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA EM TERMINAL RODOVIÁRIO DE POMBAL - PB

ESTUDO DA VIABILIDADE DA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE CAPTAÇÃO E APROVEITAMENTO DA ÁGUA DA CHUVA NO IFC CÂMPUS VIDEIRA

CONSERVAÇÃO DA ÁGUA EM UMA EDIFICAÇÃO PÚBLICA DA REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI CEARENSE

Comparação de métodos para dimensionamento de reservatórios de água pluvial

XIII SIMPÓSIO DE RECURSOS HIDRÍCOS DO NORDESTE INTERFERÊNCIA DO REGIME PLUVIAL NA EFICIÊNCIA DOS SISTEMAS DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA

EFICIÊNCIA EM APROVEITAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS PARA FINS NÃO POTÁVEIS EM ROLIM DE MOURA

SEGURANÇA JURÍDICA E REGULAMENTAÇÕES AMBIENTAIS

CERTIFICAÇÃO LEED. Prof. Fernando Simon Westphal Sala

INFLUÊNCIA DA SÉRIE DE PRECIPITAÇÃO E DEMANDAS NA EFICIÊNCIA DE RESERVATÓRIO DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DA CHUVA

DETERMINAÇÃO DO VOLUME MÍNIMO DO RESERVATÓRIO DE ÁGUA DA CHUVA UTILIZANDO UMA FORMULAÇÃO INCREMENTAL

DIAGNÓSTICO DA UTILIZAÇÃO DE CISTERNAS PARA ARMAZENAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS NO SERTÃO PARAIBANO

ESTUDOS DE CASO. Análise de Consumo de Água: Condomínio nio Residencial em Florianópolis. Marina Vasconcelos Santana Orientação: Enedir Ghisi

PHD 313 HIDRÁULICA E EQUIPAMENTOS HIDRÁULICOS

TH 030- Sistemas Prediais Hidráulico Sanitários

CONCEPÇÃO DE UM SISTEMA PARA APOIO A PROJETOS DE USO RACIONAL DE ÁGUA EM EDIFÍCIOS

Proposta de implantação de sistema de reuso de água pluvial para uso em um lava rodas Claudia Azevedo Karine de Andrade Almeida Virginia Guerra Valle

Capítulo 12. Precipitações nas capitais

DEVELOPMENT OF COMPUTER PROGRAM FOR SCALING SYSTEMS OF PARTIAL UTILIZATION OF RAIN WATER FOR POTABLE PURPOSES IN RESIDENTIAL BUILDINGS

IX COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO DE RESERVATÓRIOS PARA APROVEITAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE PÃO DE AÇÚCAR DURANTE 1977 A 2012

Sistemas de Aproveitamento de Água da Chuva. Daniel Costa dos Santos Professor do DHS/UFPR

XIII SIMPÓSIO DE RECURSOS HIDRÍCOS DO NORDESTE

VARIABILIDADE ESPACIAL DE PRECIPITAÇÕES NO MUNICÍPIO DE CARUARU PE, BRASIL.

PROPOSTA DE UTILIZAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL PARA FINS NÃO POTÁVEIS NA UEPA, CAMPUS VIII MARABÁ, PARÁ

Aproveitamento de água de chuva Cristelle Meneghel Nanúbia Barreto Orides Golyjeswski Rafael Bueno

Dr. Joel Avruch Goldenfum Professor Adjunto IPH/UFRGS

ESTUDO DO ENCHIMENTO DE UM RESERVATÓRIO NO ALTO SERTÃO PARAIBANO

COMUNICAÇÃO TÉCNICA Nº Aproveitamento de água de chuva no meio urbano: aspectos técnicos e legais

ANÁLISE ESTATÍSTICA DO REGIME PLUVIOMÉTRICO E DE SUA TENDÊNCIA PARA OS MUNICÍPIOS DE PORTO DE PEDRAS, PALMEIRA DOS ÍNDIOS E ÁGUA BRANCA

RECURSOS HÍDRICOS ANÁLISE DE VIABILIDADE DE SISTEMAS DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL EM CONDOMÍNIO HORIZONTAL NO DISTRITO FEDERAL

Climatologia das chuvas no Estado do Rio Grande do Sul

COMPORTAMENTO DO REGIME PLUVIOMÉTRICO MENSAL PARA CAPITAL ALAGOANA MACEIÓ

Aproveitamento de água da chuva na indústria: estudo e dimensionamento para uma indústria de laticínios

O MÉTODO DE RIPPL PARA DIMENSIONAMENTO DE RESERVATÓRIOS DE SISTEMAS DE APROVEITAMENTO DA ÁGUA DE CHUVA

Aproveitamento de Águas Pluviais (Dimensionamento do Reservatório)

CISTERNA tecnologia social: atendimento população difusa

Diretrizes de projeto para o uso racional da água em edificações

Aproveitamento de água de chuva Prof. Ana Cristina Rodovalho Reis- IH 2 PUC Goiás. 1

ESTIMATIVA DA PRECIPITAÇÃO EFETIVA PARA A REGIÃO DO MUNICÍPIO DE IBOTIRAMA, BA Apresentação: Pôster

Eixo Temático ET Recursos Hídricos

ESTUDOS DE CASO AVALIAÇÃO DOS USOS FINAIS DE ÁGUA EM RESIDÊNCIAS UNIFAMILIARES LOCALIZADAS EM BLUMENAU - SC

PLUVIOSIDADE HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE-PB PARA PLANEJAMENTO AGRÍCOLA E CAPTAÇÃO DE ÁGUA

ESTUDO DE METODOLOGIAS DE DIMENSIONAMENTO DE RESERVATÓRIOS DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA

IV Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental

Use of rainwater as an alternative source of water supply for drinking not in hotel in the city of Aracaju

ELABORAÇÃO DO MODELO SUSTENTÁVEL DE UM PRÉDIO EDUCACIONAL DO PONTO DE VISTA HÍDRICO

ANÁLISE DO VOLUME DE ÁGUA CAPTADA NUM TELHADO DE UMA RESIDÊNCIA EM SÃO BENTINHO-PB

Variabilidade Climática e Recursos Hídrico

(1) 0% 0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00. Volume do Reservatório (m³)

4º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente. Bento Gonçalves RS, Brasil, 23 a 25 de Abril de 2014

APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA E REÚSO DE ÁGUA CINZA EM UMA EDIFICAÇÃO COMERCIAL

"REAPROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL NA INDÚSTRIA TUDOR MG DE BATERIAS LTDA"

Jade Botelho Paixão. Graduado em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. (CEUNIH),

IMPORTÂNCIA DO REÚSO DE ÁGUAS E DO APROVEITAMENTO DA ÁGUA DE CHUVA ÁGUA = RECURSO VITAL E FINITO!!! Má distribuição; Poluição; Desperdícios; Vazamento

ESTUDO DO BALANÇO HIDRICO PARA APLICAÇÃO EM PROJETOS DE APROVEITAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS: ESTUDO DE CASO CIDADE DE APUCARANA

ANÁLISE DE DADOS PLUVIOMÉTRICOS PARA FINS DE ZONEAMENTO AGRÍCOLA DE RISCO CLIMÁTICO

Aproveitamento de Águas Pluviais (Dimensionamento do Reservatório)

Sustentabilidade e uso de água: a Paraíba no contexto da discussão

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CAPTAÇÃO DE ÁGUA DA CHUVA EM ZONA RURAL ESTUDO DE CASO

DOI:

BALANÇO HÍDRICO DO RIO JACARECICA, SE. L. dos S. Batista 2 ; A. A. Gonçalves 1

Study for Implementation of a Rainwater Harvesting System at Escola Politécnica in Universidade de Pernambuco

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CRUZ DAS ALMAS ATRAVÉS DA TÉCNICA DE QUANTIS M. J. M. GUIMARÃES 1 ; I. LOPES 2

TÍTULO: CAPTAÇÃO, MANEJO E USO DA ÁGUA DA CHUVA EM PRAÇAS ADAPTADAS AO CLIMA TROPICAL DE ALTITUDE NO ESTADO DE SÃO PAULO.

Estudo da concentração/diversificação pluviométrica durante a estação chuvosa , em Minas Gerais, utilizando o índice de Gibbs-Martin.

AVALIAÇÃO DO POTÊNCIAL NO USO DE ÁGUA DE CHUVA PARA RESIDÊNCIAS DE APENA UM PAVIMENTO NA REGIÃO DA CIDADE DE FEIRA DE SANTANA-BA.

Aproveitamento de água de chuva de cobertura em edificações: dimensionamento do reservatório pelos métodos descritos na NBR 15527

RESERVATÓRIO DE ÁGUA DE CHUVA: DIMENSIONAMENTO E ECONOMIA DE ÁGUA POTÁVEL RAINWATER RESERVOIR: DIMENSIONING AND DRINKING WATER ECONOMY

cada vez mais difícil satisfazer as necessidades de todos os setores.

ESTUDO DA DISPONIBILIDADE HÍDRICA NA BACIA DO RIO PARACATU COM O SOFTWARE SIAPHI 1.0

Transcrição:

Análise crítica de métodos para dimensionamento de reservatórios de água pluvial Estudo comparativo dos municípios de Belo Horizonte (MG), Recife (PE) e Rio Branco (AC) Ana Paula de Godoy Lopes 1 ; Daniel Augusto de Miranda 2 1 Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix (anapauladegodoy@hotmail.com) 2 Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix (daniel.miranda1@izabelahendrix.edu.br) Resumo O objetivo deste artigo consiste em comparar os resultados de dois métodos para o dimensionamento do reservatório de água pluvial sugeridos na norma brasileira NBR 15527/2007 e o programa computacional Netuno. Foram calculados os volumes de reservatório para residências em três capitais brasileiras, Belo Horizonte, Recife e Rio Branco, escolhidas por apresentarem características distintas de precipitação. Utilizaram-se, para tanto, dados de três estações pluviométricas com base temporal comum de 44 anos, entre janeiro de 1970 e dezembro de 2014. Observou-se haver maior ou menor dispersão dos resultados entre os métodos de dimensionamento, conforme o regime pluviométrico de cada município. Para o caso do município de Recife (PE), constatou-se não haver tanta discrepância entre os resultados para baixas demandas de água para fins não potáveis, tal como aquele que foi avaliada no presente trabalho. Os métodos que consideram as características de demanda, média de precipitação e área de coleta, como é o caso do Método da Simulação, aparentemente são mais robustos e confiáveis no dimensionamento do volume do reservatório de água pluvial. Palavras-Chave: Aproveitamento de água pluvial; dimensionamento de reservatório de água pluvial; comparação entre métodos de dimensionamento de água pluvial. Área Temática: Recursos Hídricos Critical analysis of methods for rainwater reservoir sizing Comparative study of the municipalities of Belo Horizonte (MG), Recife (PE) and Rio Branco (AC) Abstract The purpose of this article is to compare the results of two methods for the design of the rainwater tank suggested by the Brazilian NBR 15527/2007 and the software Netuno. The reservoir volumes were calculated for households in three cities in Brazil, Belo Horizonte (Capital of Minas Gerais State, Brazil), Recife (Capital of Pernambuco State, Brazil) and Rio Branco (Capital of Acre State, Brazil), chosen because they have distinct characteristics of precipitation. It was considered data from three rain gauge stations with 44-year-common time base, between January 1970 and December 2014. There was greater or lesser dispersion of results between design methods, according to the rainfall of each municipality. In the case of the city of Recife (PE), there was no such discrepancy between the results for low water demand for non-potable purposes, such as one that was evaluated in this study. The methods

that consider the demand characteristics, average precipitation and collection area, such as the Simulation Method apparently are more robust and reliable in design of the rainwater reservoir volume. Key words: Rainwater Harvesting, rainwater reservoir sizing, comparing rainwater design methods. Theme Area: Water Resources. 1 Introdução Atualmente, a escassez da água é um problema enfrentado em diversos locais do mundo Segundo a Organização das Nações Unidas do Brasil, 780 milhões de pessoas não têm acesso à água limpa e quase 2,5 bilhões não têm acesso a saneamento adequado. Embora a água seja um recurso renovável, ela tende a se deteriorar em função do seu uso indiscriminado, o que compromete a quantidade de água com qualidade disponível para consumo em diversas localidades (FIORI; FERNANDES, PIZZO, 2005). O Brasil possui 12% dos recursos hídricos mundial, porém a região Norte, com apenas 7,4% da população brasileira, reúne 68,5% da água doce do país. O Nordeste, com 29% da população, tem apenas 3,3% da água doce. No Sudeste, a situação é ainda pior: 42,61% da população e menos de 6% da água doce de superfície. O Sul possui 14,91% da população e 6,5% da água doce. Já a região Centro-Oeste possui 6,85% da população e 15,7% de água doce (PORTAL BRASIL, 2010). Há, portanto, um desequilíbrio entre a oferta e a demanda. Observa-se, também que a região Sudeste possui maior população e o problema é acentuado pela poluição dos rios, em consequência da atividade industrial, utilização dos insumos agrícolas, poluentes, despejos urbanos e baixos índices pluviométricos. Por isso, racionalizar o uso da água torna-se um dos elementos essenciais diante deste cenário de escassez de recursos hídricos (SILVA, 2012). A água é utilizada em todo o mundo para diversas finalidades, como o abastecimento de cidades e usos domésticos, a geração de energia, a irrigação, a navegação e a aquicultura. Na medida em que os países se desenvolvem, crescem principalmente as indústrias e a agricultura, atividades que mais consomem água, se comparadas aos outros usos (DE OLHO NOS MANACIAIS, 2011). No Brasil, a maior demanda por água, como acontece em grande parte dos países, é a agricultura, sobretudo a irrigação, com aproximadamente 70% do total. O uso doméstico responde por 18% da água. Em seguida, está a indústria e, por último, a pecuária. O consumo de água residencial inclui tanto o uso interno quanto o uso externo a residências. Os usos de água internos distribuem-se em atividade de limpeza e higiene, enquanto que os usos externos ocorrem principalmente devido à irrigação, lavagem de veículos, piscinas e jardim, entre outros (PROSAB, 2006). O crescimento populacional acompanhado pelas mudanças climáticas globais vem contribuindo intensamente para o aumento na demanda pelos recursos hídricos. Embora a água seja um recurso renovável, ela tende a se deteriorar em função de seu uso indiscriminado, o que compromete a quantidade de água com qualidade disponível para consumo em diversas localidades (FIORI, 2005). É em razão deste panorama que cresce a necessidade de encontrar meios e formas de preservar a água potável, buscando novas tecnologias e reavaliando os modos de uso da água

pela população. A utilização de novas técnicas para o uso racional da água é uma alternativa que pode suprir a demanda da população em relação ao uso de água para fins não potáveis. Pesquisas feitas no Japão mostram que, com o uso da água reciclada para fins não potáveis, conseguiu-se reduzir o consumo de 30% da água potável (TOMAZ, 2003). De maneira geral, a água destinada ao abastecimento humano pode ter dois fins distintos: usos potáveis e usos não potáveis. Parte da água que abastece uma residência é utilizada para higiene pessoal, consumo e preparação de alimentos, sendo estes usos designados como potáveis. A outra parcela da mesma água que chega às residências é destinada aos usos não potáveis (GONÇALVES, 2009) Nesse sentido, por meio de um sistema de captação da água da chuva, é possível reduzir o consumo da água potável. A água pluvial coletada pode ser utilizada em torneiras de jardins, lavagem de roupas, de automóveis e de calçadas, e vasos sanitários dentre outros (CONSUMO SUSTENTÁVEL, 2005). De acordo com Deca (2007) citado por Marinoski (2007), pode-se ressaltar que um dos grandes vilões do consumo de água residencial são os aparelhos de vasos sanitários. Em torno de 44% da utilização da água são para fins de uso não potável. As águas pluviais ainda podem ser usadas em sistemas preventivos contra incêndios em qualquer tipo de edificação. Nas indústrias, a água da chuva pode ser utilizada para lavanderia industrial, lavagem de maquinários, resfriamento evaporativo, climatização interna, abastecimento de caldeiras, lava jatos de veículos e limpeza industrial, entre outros. Por sua vez, na agricultura, pode ser empregada principalmente na irrigação de plantações (MAY, 2004). Este trabalho baseia-se na comparação de métodos de dimensionamento de reservatório de água pluvial domiciliar não potável sugeridos na norma NBR 15527 (ABNT, 2007) com o programa computacional Netuno, com intuito de avaliar dentre esses qual o sistema mais eficiente, dadas às condições de utilização. Adicionalmente, pretende-se avaliar a influência do padrão de precipitação em três municípios brasileiros (Belo Horizonte, Recife e Rio Branco) na escolha do método que melhor se ajusta a essas condições para dimensionamento de reservatório de água pluvial. 2 Metodologia Utilizando dois dos métodos sugeridos na NBR 15527 (ABNT, 2007), os métodos da Simulação e Prático Inglês, bem como o programa Netuno, foram calculados os volumes de reservatório para residências em três capitais brasileiras: Belo Horizonte (MG), Recife (PE) e Rio Branco (AC) Essas cidades foram escolhidas por pertencerem a estados diferentes e por possuírem características distintas em termos de distribuição pluviométrica ao longo do ano. Baseados nas informações disponibilizadas pela Agência Nacional de Águas (ANA), em seu portal Hidroweb, coletaram-se dados hidrológicos de postos pluviométricos naquelas localidades, de acordo com a Tabela 1. Utilizou-se uma série histórica de precipitação de 44 anos para as três cidades. O período considerado foi janeiro de 1970 a dezembro de 2014, constituindo este a base comum de dados entre as estações pluviométricas dos três municípios. Cabe salientar que não foram observadas falhas no período de referência em questão para as séries históricas adotadas.

Tabela 1 - Lista dos postos pluviométricos selecionados Código Nome Sub-bacia Estado Município Responsável Operadora 1943055 834007 Belo Horizonte (Horto) Recife (Curado) 41 Minas Gerais Belo Horizonte INMET INMET 39 Pernambuco Recife INMET INMET 967000 Rio Branco 13 Acre Rio Branco INMET INMET Fonte: Hidroweb, 2015 (Adaptado) A Figura 1 representa a distribuição pluviométrica média mensal de cada município, obtida por meio da utilização dos dados das três estações pluviométricas tratadas nesse estudo. Figura 1 Distribuição pluviométrica média mensal nos municípios de Belo Horizonte (MG), Recife (PE) e Rio Branco (AC) no período entre janeiro de 1970 e dezembro de 2014 Fonte: Adaptado de Hidroweb (2015) Por cada método e para cada município, dimensionaram-se os reservatórios de água pluvial considerando-se como premissas: I. Área de captação de 150 m²; II. Demanda de água potável per capita de 180 litros/pessoa/dia. Considerando-se uma residência com 4 moradores, o consumo estimado de água seria de 22 m³ mensais. III. Porcentagem de substituição de água potável por pluvial de 40%. Método da Simulação Para um determinado mês, aplica-se a equação da continuidade a um reservatório finito: S (t) = Q (t) + S (t-1) D (t) (1) Q (t) = C x precipitação da chuva (t) x área de captação (2) Sendo que: 0 S (t) V

Onde: S (t) é o volume de água no reservatório no tempo t; S (t-1) é o volume de água no reservatório no tempo t 1; Q (t) é o volume de chuva no tempo t; D (t) é o consumo ou demanda no tempo t; V é o volume do reservatório fixado; C é o coeficiente de escoamento superficial. Método Prático Inglês Para o dimensionamento do reservatório de água pluvial pelo método Prático Inglês, segundo a NBR 15527 (ABNT, 2007), deve-se utilizar a Equação 3. V = 0,05 x P x A (3) Onde: V é o volume de água pluvial, ou o volume do reservatório de água pluvial (L); P é a precipitação média anual (mm); e A é a área de captação em projeção no terreno (m²). Dimensionamento do reservatório de água pluvial utilizando-se o programa Netuno O Netuno, versão 4.0, é um programa computacional desenvolvido no LabEEE/UFSC (GHISI; CORDOVA; ROCHA, 2009), validado por Rocha (2009), que tem por objetivo determinar o potencial de economia de água potável em função da capacidade do reservatório, através do aproveitamento de água pluvial para usos em que a água não precisa ser potável. De acordo com Ghisi e Cordova (2014), a metodologia do programa baseia-se no histórico comportamental já conhecido. Os dados de precipitação devem ser fornecidos em uma base diária e as simulações são calculadas de acordo com esses dados. 3 Resultados São apresentados a seguir (Tabela 2) os resultados do dimensionamento dos reservatórios de água pluvial, calculados a partir dos métodos de Simulação e Prático Inglês, conforme preconizado pela norma NBR 15527 (ABNT, 2007) e com o emprego do programa computacional Netuno. Tabela 2 - Volume do reservatório calculado pelos diferentes métodos para o município de Belo Horizonte (MG), Recife (PE) e Rio Branco (AC) Métodos Volume do reservatório (L) Belo Horizonte (MG) Recife (PE) Rio Branco (AC) Simulação 31.000,00 7.000,00 12.000,00 Prático Inglês 1.200,00 1.700,00 1.500,00 Netuno 8.000,00 4.500,00 5.500,00 Fonte: Autores (2015).

Tendo em vista a análise da Figura 2, deduz-se que há grande dispersão de resultados entre os métodos de dimensionamento, sobretudo no que tange ao município de Belo Horizonte. Essa dispersão é mais evidente para aquele município quando se emprega o Método da Simulação em relação aos demais. Quanto ao município de Recife (PE), os resultados são mais congruentes, possivelmente pelo fato de os meses mais secos na região (outubro a dezembro) não serem tão desprovidos de precipitação, como ocorre para os dois outros municípios. Sendo relativamente baixa a demanda simulada, a escolha do método de dimensionamento para o referido município parece pouco interferir no cálculo do reservatório de acumulação de água pluvial. Figura 2 Volume do reservatório calculado pelos diferentes métodos para o município de Belo Horizonte (MG), Recife (PE) e Rio Branco (AC) Fonte: Autores (2015). O método da Simulação resulta em um valor do reservatório de água pluvial baseado no fator pluviométrico, observando-se os meses que em que houve déficit de chuva e resultando em tamanhos ideais para armazenamento da água de chuvas para os meses em que há pouca chuva. Observa-se que, em Belo Horizonte, onde há um maior período de estiagem de chuva, o volume do reservatório é maior, para compensar esses meses. E em Recife, onde o volume de precipitação mensal é, de certa forma, regular durante todo o ano, o tamanho reservatório é menor. O método Prático Inglês é um dos mais simples a serem aplicados, sendo necessários apenas os valores de precipitação anual e área de captação. Portanto, observou-se que quanto maior for a precipitação no município, maior será o volume do reservatório, desconsiderandose a demanda da residência. Foi o método que resultou os menores volumes para o reservatório. Por outro lado, este método, apesar de sua simplicidade quanto aos cálculos, aparenta não ser adequado para as variações pluviométricas apresentadas nos três municípios avaliados no presente trabalho. Recomenda-se que este seja mais bem avaliado para utilização no prédimensionamento de reservatórios de água pluvial em regiões que apresentem condições pluviométricas similares àquelas a partir das quais o mesmo foi concebido, ou seja, em regiões de clima temperado, como é o caso da Inglaterra.

O programa computacional Netuno, por sua vez, leva em consideração o potencial de economia de água potável. Os volumes de reservatório aumentam com a demanda de água pluvial até ser definido o volume ideal. Deste modo, seus resultados para as três cidades foram regulares. No caso do Netuno, o usuário pode escolher a capacidade de reservatório de água pluvial em função do respectivo potencial de economia de água potável, já que esse é um dado de saída do programa. 4 Conclusão Com base nos resultados observados para três diferentes métodos de dimensionamento de reservatório preconizados pela norma brasileira NBR 15527 (ABNT, 2007), percebeu-se que há variabilidade significativa entre eles, sobretudo em função dos dados pluviométricos utilizados nos cálculos. A robustez do modelo a ser adotado depende, incondicionalmente, do rigor e respeito aos critérios de utilização do mesmo em relação às condições para as quais foi estabelecido, conforme destacado anteriormente. Por fim, ressalta-se que cabe ao projetista decidir sobre a melhor opção, frente às particularidades de cada caso no que tange à existência de fontes alternativas, tipo de consumo, características pluviométricas, entre outras. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15527: água de chuvaaproveitamento de áreas urbanas para fins não potáveis. Rio de Janeiro, out. 2007. BRASIL, 2011. PORTARIA Nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt29 14_12_12_2011.html>. Acesso em: 10 abr. 2015. CONSUMO SUSTENTÁVEL. Manual de educação. Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/ IDEC, 2005. 160 p. DECA. Uso racional de água. Disponível em: www.deca.com.br acessado em jan. 2007 e citado por MARINOSKI, A. K., 2007. Aproveitamento de água pluvial para fins não potáveis em instituição de ensino: estudo de caso em Florianópolis SC. Disponível em < http://www.labeee.ufsc.br/sites/defa ult/files/publicacoes/ tccs/tcc_ana_kelly_marinoski.pdf>. acessado em 25 nov. 2015 FIORI, S.; FERNANDES, V. M. C.; PIZZO, H. Avaliação qualitativa e quantitativa do reúso de águas cinzas em edificações, 2005. Disponível em http://www.seer.uf rgs.br/index.php/ambiente construido/ article/view/3676/2042. Acesso em: 20 nov. 2015. GHISI, E.; CORDOVA, M. M. Netuno 4. Programa computacional. Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia Civil. Disponível em: <http://www.labeee.ufsc.br>acesso em: 03 out. 2014. GONÇALVES, R. F. (Coord.) Conservação de água e energia em sistemas prediais e públicos de abastecimento de água. Rio de Janeiro: ABES, 2009. v. 1. 290 p.

MARINOSKI, A. K., 2007. Aproveitamento de água pluvial para fins não potáveis em instituição de ensino: estudo de caso em Florianópolis SC. Disponível em <http://www.labeee.ufsc.br/sites/default/files/publicacoes/tccs/tcc_ana_kelly_marinoski.p df>. acessado em 25 nov. 2015 MAY, S. Estudo da Viabilidade do Aproveitamento de Água de Chuva para Consumo Não Potável em Edificações, 2004. Disponível em: < http://www.teses.usp.b r/teses/disponiveis/3/3146/tde-02082004-122332/pt-br.php>. Acesso em: Acesso em: 20 nov. 2015. MOLINARI, Caio. Campanha economiza água! Produtos simples que geram alta economia de água! EcoChemist. 3 dez. 2010. Disponível em: <https://ecochemist.wordpress.com/category/consumo-responsavel/campanha-economizeagua/>. Acesso em: 10 abr. 2015. PORTAL BRASIL. Saiba mais sobre água, consumo consciente e recursos hídricos no Brasil 2010. Disponível em <http://www.brasil.gov.br/ciencia-e-tecnologia/2010/10/agua-econsumo-consciente> Acesso em 23 de nov 2015 PROSAB, Programa de Pesquisa em Saneamento Básico. Uso racional da água em edificações. Rio de Janeiro. ABES, 2006. RUPP, Ricardo Forgiarini; MUNARIM, Ulisses; GHISI, Enedir. Comparação de métodos para dimensionamento de reservatórios de água pluvial. Revista Ambiente Construído: Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 4, n. 11, p.47-64, 06 set. 2011. Trimestral. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ac/v11n4/a05v11n4>. Acesso em: 20 ago. 2014. SILVA, Carlos Henrique R. Tomé. Recursos hídricos e desenvolvimento sustentável no Brasil. 2012. Senado Federal. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/gbruck53/26-recursoshidricosedesenvolvimentosustentavelnobrasil>. Acesso em: 10 abr. 2015. TOMAZ, Plínio. Aproveitamento de água de chuva para áreas urbanas e fins não potáveis, São Paulo: Navegar, 2003. TOMAZ, Plínio. Dimensionamento de reservatórios de água de chuva, São Paulo: Navegar, 2012. Cap. 109. p. 109-22. Disponível em: <http://www.pliniotomaz.com.br/downloads/livros/livro_aprov._aguadechuva/capitulo109.p df>. Acesso em: 18 ago. 2014. NAÇÕES UNIDAS. 2,5 bilhões de pessoas não têm acesso a saneamento básico em todo o mundo, alerta ONU 2014. Disponível em <http://nacoesunidas.org/25-bilhoes-de-pessoasnao-tem-acesso-a-saneamento-basico-em-todo-o-mundo-alerta-onu/ >. Acesso em: 23 nov. 2015.