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Transcrição:

Article on website Research gate Religião: semelhança na crença, diferenças nas interpretações. Como alguns justificam os bombistas suicidas Independent Researcher «O ser humano não pode suportar muita realidade» T.S. Eliot Resumo Neste artigo divulgo alguns dos resultados do estudo da organização Pew Research Centre inserido na linha de investigação mais abrangente do Projeto Pew Templeton Global sobre o futuro das religiões que procura analisar a mudança religiosa e o seu impacto nas sociedades em todo o mundo. Extraí os resultados relativos à «justificação dos ataques suicidas bombistas». Introdução Um estudo da organização Pew Research Centre (PRC), conduzido entre 2008 e 2012 em 39 países muçulmanos examinou a perspetiva social, religiosa e política do mundo por parte dos muçulmanos com resultados, no mínimo, curiosos e surpreendentes. Este meu artigo é uma reprodução e uma forma de divulgação de alguns resultados dessa mesma investigação pela importância que na minha opinião a mesma tem e que provavelmente «passa ao lado» de muitos cidadãos no Ocidente.

Conclusões A primeira de várias conclusões que se retiram deste grande estudo é a de que quando se analisam as crenças e as práticas religiosas entre as centenas de milhões de muçulmanos no mundo, embora haja claramente muitas semelhanças ao nível da crença religiosa no que se refere a alguns princípios-chave da sua Fé, já ao nível da observância e da sua interpretação verificam-se diferenças substanciais. Entre os múltiplos temas abordados nesta investigação que percorre assuntos que vão desde a Lei Islâmica (Sharia 1 ) até à ciência, ao papel das mulheres na sociedade e à perspetiva acerca do extremismo e conflito religioso, encontramos também a visão e atitude dos muçulmanos nos países investigados 2 face aos suicídios bombistas. É sobre este último tema que quero aqui fazer eco porque nos deve alertar e consciencializar para aquilo com que estamos a lidar. 1 A Sharia (ou Charia) é o código moral e jurídico do Islão. Deriva de uma palavra árabe que significa "caminho". Na sua definição mais ortodoxa refere-se ao conjunto de leis e princípios divinos instituídos explicitamente no Alcorão. Para alguns muçulmanos, a Sharia também pode incluir de forma mais ampla a jurisprudência islâmica e a sua interpretação. Oferece orientação moral e jurídica para quase todos os aspetos da vida, públicos ou privados, incluindo contratos e transações, política e criminalidade, relações familiares e civis; adoração e mesmo conduta pessoal, tais como dieta, vestuário e higiene. Em todos os países investigados a percentagem de indivíduos que considera que esta Lei é a expressão revelada diretamente por Deus é esmagadoramente superior (nalguns casos chega a 89%) em relação àqueles que consideram que a Lei foi desenvolvida pelo homem baseado na «palavra de Deus». 2 O estudo realizou-se em 39 países e territórios em 3 continentes (África, Europa e Ásia) através de 38 000 entrevistas face a face em mais de 80 línguas e dialetos e em países que tivessem mais de 10 milhões de muçulmanos. Excetuaram-se alguns países como a China, Índia, Arábia Saudita e Síria onde por questões de sensibilidades políticas ou preocupações de segurança não foi possível realizar a investigação entre os muçulmanos. As pesquisas globais do PRC sobre os Muçulmanos fazem parte de uma linha de investigação mais abrangente do Projeto Pew Templeton Global sobre o futuro das religiões que procura analisar a mudança religiosa e o seu impacto nas sociedades em todo o mundo. Estudos recentes produzidos no âmbito desta iniciativa incluem a «Panorâmica Global da Religião», dimensão e distribuição das categorias religiosas no mundo a partir de 2010, e ainda o «O futuro global da população muçulmana: projeções para 2010-2030» (publicado em 2011), entre outros. Enquanto o projeto de investigação e o consequente relatório são da responsabilidade do PRC, eventuais interpretações e análises neste artigo são, naturalmente, da minha responsabilidade. O site, para quem quiser consultar estes trabalhos e outros bem como o relatório original aqui resumido é http://www.pewresearch.org/

Perante a pergunta: justificam-se os ataques bombistas suicidas?, as respostas variam, mas em todos os países investigados existe sempre alguma percentagem da população que considera que frequentemente ou pelo menos algumas vezes se justificam. Embora na maioria dos 20 países com mais de 10 milhões de muçulmanos onde a pergunta foi colocada poucos defendam os ataques bombistas suicidas como forma de violência contra alvos civis para defender o Islão «contra os seus inimigos», não deixa de ser preocupante o facto de que ainda assim, em alguns desses países, substanciais «minorias» (que nalguns casos chegam aos 29 e 40%) defendam que os atentados bombistas suicidas podem ser frequentemente ou pelo menos às vezes, justificados. Segundo os resultados do estudo do PRC, alguns dos países muçulmanos investigados no Sul da Ásia e na região do Médio Oriente e Norte de África são mais propensos a defender e a justificar que se efetuem ataques bombistas suicidas. De facto, cerca de metade dos palestinianos muçulmanos (49%) considera os suicídios bombistas como frequentemente, ou algumas vezes, justificáveis e a outra metade tem a posição oposta. No Egipto são cerca de 30% (mais concretamente 29%) as pessoas que consideram o suicídio bombista, pelo menos frequentemente ou algumas vezes justificável e noutros lugares nessa região, são bastante menos os muçulmanos que acreditam que tal violência muitas vezes ou às vezes se justifica, como é o caso da Jordânia (15%), Tunísia (12%), Marrocos (9%) e Iraque (7%).

% Muçulmanos que considera frequentemente ou algumas vezes justificáveis ataques bombistas contra civis em defesa do Islão Egipto Tunísia Iraque Jordânia; 15% Tunísia; 12% Marrocos; 9% Iraque; 7% Egipto; 29% Território Palestina; 40% Afeganistão Paquistão Paquistão; 13% Bangladeshe; 26% Afeganistão; 39% Malásia Sudeste Asiático Quirgistão Cazaquistão Ásia Central Albânia Bosnia Indonésia; 7% Turquia; 15% Quirgistão; 10% Tajiquistão; 3% Cazaquistão; 2% Azerbeijão; 1% Kosovo; 11% Albânia; 6% Rússia; 4% Bosnia; 3% Malásia; 18% 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% FONTE PEW RESEARCH CENTRE 2013 Fonte: PRC 2013 No Afeganistão, quase 40% dos Muçulmanos (39%) afirmam que esta forma de violência contra alvos civis em defesa do Islão é frequentemente justificável ou pelo menos por vezes, e no Bangladesh, mais de 25% dos Muçulmanos (26%) concordam com esta visão sendo este apoio ao suicídio bombista menor no Paquistão (13%). Nos países do Sul e Centro da Ásia e nos países da Europa Oriental investigados, consideramse os atentados suicidas justificáveis com Turquia 15%; Kosovo 11%; e Quirguistão 10%. Já no Sudeste da Ásia, os Malaios muçulmanos são mais propensos a considerar como justificáveis os atentados suicidas (com 18%) do que os Indonésios muçulmanos (7%).

É verdade que estas percentagens enquanto números são apenas isso, mas não deixam também de ser o reflexo de pessoas concretas que defendem táticas de suicídios bombistas como forma de resolução de um suposto «inimigo» ou suposta «ameaça ao Islão». Sabemos que o autoengano é um potente trunfo que distorce a nossa cognição e baseia-se no facto de muitas vezes querermos que a realidade seja como a desejamos e não como ela é. Nunca pensei, porém, que fosse tão assustador do ponto de vista coletivo. Confirma-se mais uma vez a hipótese do desfasamento, ou seja, o ambiente mudou mais depressa do que o nosso cérebro. Se já entrámos na idade da informação não é menos verdade que muitos dos seres humanos continuam com o seu hardware «entalado» na idade da pedra. A não ser claro, que se considere adequado que as mulheres em caso de adultério devem ser punidas por apedrejamento. No Egipto 81% acha que sim, no território Palestiniano são 84% a concordar, no Afeganistão são 85% e no Paquistão chega mesmo a 89% o número dos que concordam com esta «regra divina». Apetece perguntar: será que «Deus» sabe?