CULTIVO IN VITRO DE PLÂNTULAS DE ORQUÍDEA EM MEIO DE CULTURA ALTERNATIVO

Documentos relacionados
PROPAGAÇÃO IN VITRO DE CATTLEYA INTERMEDIA GRAHAM EX HOOK. (ORCHIDACEAE) EM DIFERENTES MEIOS DE CULTURA

CRESCIMENTO in vitro DE PLÂNTULAS DE ORQUÍDEAS SUBMETIDAS A DIFERENTES PROFUNDIDADES DE INOCULAÇÃO E CONSISTÊNCIA DO MEIO DE CULTURA

CONCENTRAÇÕES DOS SAIS DO MEIO MS E EXTRATO DE CHIA NO CULTIVO DE EMBRIÕES DE CAFEEIRO in vitro RESUMO

CULTIVO in vitro DE EMBRIÕES DE CAFEEIRO: concentrações de meio MS e polpa de banana RESUMO

GERMINAÇÃO E CRESCIMENTO INICIAL IN VITRO DE Encyclia flava (LINDL.) PORTO & BRADE (ORCHIDACEAE)

GERMINAÇÃO ASSIMBIÓTICA DE Cyrtopodium saintlegerianum RCHB.F (ORCHIDACEAE: CYRTOPODIINAE)

CRESCIMENTO DE ORQUÍDEAS EPÍFITAS IN VITRO: ADIÇÃO DE POLPA DE FRUTOS( 1 )

Micropropagação de Aechmea tocantina Baker (Bromeliaceae) Fernanda de Paula Ribeiro Fernandes 1, Sérgio Tadeu Sibov 2

Germinação in vitro de Sementes de Mandacaruzinho

Estabelecimento in vitro da pitanga vermelha (Eugenia uniflora L.)

ARTIGO. Germinação de sementes e desenvolvimento in vitro de plântulas de Cattleya loddigesii Lindl. (Orchidaceae)

AVALIAÇÃO DA GERMINAÇÃO DE Cattleya loddigesii Lindley SOB DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE ÁGUA SANITÁRIA COMERCIAL NA DESINFECÇÃO DE SEMENTES RESUMO

Ricardo Hideaki Assakawa 1 ; Stela Lopes de Faria 2, Patrícia da Costa Zonetti 3, Graciene de Souza Bido 3 1 INTRODUÇÃO

GERMINAÇÃO E DESENVOLVIMENTO IN VITRO DE ARAÇÁ (Psidium guineense Swart)

ESTABELECIMENTO IN VITRO

GERMINAÇÃO in vitro DE Catasetum juruenense HOEHNE (ORCHIDACEAE) COM VARIAÇOES DE ph

AVALIAÇÃO DIFERENTES SUBSTRATOS E BIOFERTILIZANTE NA ACLIMATIZAÇÃO DE Cattleya labiata L. Resumo

Micropropagação de Bletia catenulata Ruiz & Pav. (Orchidaceae) Juliana Mary Kluthcouski 1, Sérgio Tadeu Sibov 2

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

DESENVOLVIMENTO DE ORQUÍDEAS Cattleya guttata Lindl. EM MEIOS DE CULTURA DE MAMÃO E TOMATE

;Agutr) Energia e Sustentabilidade

AVALIAÇÃO DA GERMINAÇÃO IN VITRO DE Arundina bambusifolia Lindl. (ORCHIDACEAE)

Camila Soares Rosa Lemes I* José Carlos Sorgato I Jackeline Schultz Soares II Yara Brito Chaim Jardim Rosa I

IV Seminário de Iniciação Científica

Comportamento de plântulas de Laelia tenebrosa Rolfe (Orchidaceae), inoculadas in vitro sob diferentes substratos

Caue de Abreu Alvarez (PIBIC/CNPq), Sandremir de Carvalho (Orientador),

GERMINAÇÃO E CRESCIMENTO INICIAL IN VITRO DE Cyrtopodium paludicolum (ORCHIDACEAE)

Efeito do ph do meio de cultura na formação de calos de Dendróbio borboleta (semeio in vitro).

Germinação in vitro de gongora (Orchidaceae) em meios nutritivos simplificados

MÉTODOS DE ASSEPSIA E CONTROLE OXIDAÇÃO EM GEMAS APICAIS DE AZALEIA RESUMO

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

Revista Ceres ISSN: X Universidade Federal de Viçosa Brasil

GERMINAÇÃO IN VITRO DE Coffea arabica e Coffea canephora

INFLUÊNCIA DO MEIO DE CULTURA E DE UM FERTILIZANTE SOLÚVEL NA MICROPROPAGAÇÃO DA MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz)

Propagação in vitro de Cattleya trianaei (Linden & Reichenbach fil.) (Orchidaceae) em meios de culturas e com doses de fertilizante comercial

Produção de Mudas de Abacaxizeiro Pérola Utilizando a Técnica do Estiolamento In Vitro

Micropropagação de framboeseira em diferentes concentrações de ferro - NOTA -

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Micropropagação de Amoreira-preta 'Cherokee I 111.Efeito de Cinetina e Meios de Cultura

REGENERAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DO BANCO ATIVO DE GERMOPLASMA DE MAMONA

Fontes de nitrogênio, polpa de banana e ágar no desenvolvimento in vitro de plântulas de orquídea

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Desenvolvimento in vitro de Cattleya loddigesii Lindley (Orchidaceae) sob diferentes métodos de semeadura

PROPAGAÇÃO IN VITRO DE SETE CAPOTES (Campomanesia guazumifolia)

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Influência da caseína hidrolisada no cultivo in vitro de Oncidium baueri (Orchidaceae)

GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE Dendrobium nobile Lindl. EM DIFERENTES ESTÁGIOS DE MATURAÇÃO

INFLUENCIA DE FUNGOS MICORRÍZICOS NA ACLIMATAÇÃO E REINTRODUÇÃO DE PLÂNTULAS DE ORQUÍDEAS DO GÊNERO ENCYCLIA OBTIDAS POR PROPAGAÇÃO IN VITRO.

Estiolamento e Regeneração in vitro de Abacaxizeiro Pérola

GERMINAÇÃO in vitro DE Coffea canephora cv. Tropical EM DIFERENTES MEIOS DE CULTURA E AMBIENTES DE CULTIVO

Enriquecimento de substrato com adubação NPK para produção de mudas de alface

USO DO HIDROGEL EM CULTIVO DE PLANTAS IN VITRO DE BROMÉLIAS E ORQUÍDEAS.

EFEITO DA BENZILAMINOPURINA (BAP) NA MICROPROPAGAÇÃO DA VARIEDADE CURIMENZINHA (BGM 611) DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz)

USO DE SUBSTRATOS ALTERNATIVOS NA ACLIMATIZAÇÃO DE PLÂNTULAS DE Laelia purpurata Lindl (Orchidaceae)

EFEITO DE DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE NITROGÊNIO E DE SACAROSE SOBRE A PROPAGAÇÃO IN VITRO DA SAMAMBAIA-ESPADA [ Nephrolepis exaltata (L.

Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde ISSN: Universidade Anhanguera Brasil

Enriquecimento de substrato com adubação NPK para produção de mudas de tomate

Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 5918

Enraizamento in vitro de Aechmea setigera, bromélia endêmica da Amazônia, Acre, Brasil

Estabelecimento de Protocolos para cultura in vitro de Novas Cultivares de Coqueiro

Circular. Técnica. Otimização da Produção de Mudas de Cattleya labiata: Efeito da Sacarose no Crescimento In Vitro e na Aclimatização.

GERMINAÇÃO DE GRÃO DE PÓLEN DE TRÊS VARIEDADES DE CITROS EM DIFERENTES PERÍODOS DE TEMPO E EMISSÃO DO TUBO POLÍNICO RESUMO

GERMINAÇÃO IN VITRO E DESENVOLVIMENTO DE ESPÉCIES DE MELOCACTUS

Produção de mudas de quiabeiro (Abelmoschus esculentus L. Moench) em substratos à base de pó de casca de coco verde.

INDUÇÃO DE MÚLTIPLOS BROTOS DA CULTIVAR DE ALGODÃO BRS-VERDE. *

EFICIÊNCIA AGRÔNOMICA, DE ESTIRPES DE RIZOBIO NATIVO DO CERRADO DO TOCANTINS INOCULADOS EM FEIJÃO-CAUPI

PROTOCOLO DE PRODUÇÃO DE MUDAS IN VITRO DE Tabernaemontana catharinensis DC.

QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

Meios de cultura utilizados na micropropagação de híbridos de orquídeas. Culture media used in the micropropagation of orchids hybrids

Germinação in vitro de Candeia.

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 13

Propagação in vitro e aclimatização de um híbrido de Cattleya Lindl. (Orchidaceae) utilizando polpa de banana e água de coco

INFLUÊNCIA DA DESINFESTAÇÃO E MEIO DE CULTURA NA GERMINAÇÃO E DESENVOLVIMENTO IN VITRO DE Prosopis affinis Sprenger 1

INFLUÊNCIA DOS ÁCIDOS NAFTALENO ACÉTICO E ÁCIDO INDOL BUTÍRICO (AUXINAS) NO DESENVOLVIMENTO

Influência da Adubação Orgânica e com NPK, em Solo de Resíduo de Mineração, na Germinação de Sementes de Amendoim.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS CURSO DE AGRONOMIA

MICROPROPAGAÇÃO DE Eugenia dysenterica DC (MYRTACEAE) Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas - PGMP

Indução e crescimento de calos em explantes foliares de hortelã-docampo

MICROPROPAGAÇÃO E ACLIMATAÇÃO DE PLÂNTULAS DE MORANGUEIRO. Palavras chaves: Micropropagação. Isolamento de meristema. Explante. Mudas sadias.

Palavras-chave: Bromeliaceae, casa de vegetação, fertilização.

INFLUÊNCIA DA INTERAÇÃO DE ACESSOS E MEIOS DE CULTURA NA MICROPROPAGAÇÃO DA MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz)

GERMINAÇÃO IN VITRO E DESENVOLVIMENTO INICIAL DE COROA- DE-FRADE (Melocactus zehntneri)

Produção de Mudas de Pepino e Tomate Utilizando Diferentes Doses de Adubo Foliar Bioplus.

Analista da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Caixa Postal 007, , Cruz das Almas, BA. 2

Propagação in vitro de orquídea: iodeto de potássio e cloreto de cobalto em meio de cultura Knudson C

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 289

Efeito do BAP na Indução de Brotações Adventícias em Catingueira

EXTRATO PIROLENHOSO NO DESENVOLVIMENTO DE Catasetum osculatum Lacerda & P. Castro

Micropropagação de híbridos de orquídea em meio knudson com adição de vitaminas do meio ms, benzilaminopurina e carvão ativado

Desenvolvimento de mudas de cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum) submetidas a diferentes tipos de substrato

Seleção de genótipos de Dendrobium (Orchidaceae) na fase de propagação in vitro

ESTABELECIMENTO IN VITRO DE AROEIRA-VERMELHA EM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE BENZILAMINOPURINA E ACIDO NAFTALENO ACÉTICO 1

Controle da Contaminação in vitro de Explantes de Nim Indiano.

Aclimatação da bromélia Aechmea nudicaulis em diferentes substratos.

TRATAMENTOS PARA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA DE SEMENTES DE AROEIRA PIRIQUITA (Schinus molle L.) E AROEIRA BRANCA (Lithraea molleioides (Vell.

UTILIZAÇÃO DE AGENTES GELEIFICANTES ALTERNATIVOS NO CULTIVO IN VITRO DE Dendrobium nobile Lindl.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

TÍTULO: INFLUÊNCIA DE SUBSTRATOS ALTERNATIVOS E DE BANDEJAS NA PRODUÇÃO DE MUDAS DE ALFACE.

Ácido Giberélico na Cultura de Embriões Zigóticos de Coqueiro-anãoverde

Transcrição:

CULTIVO IN VITRO DE PLÂNTULAS DE ORQUÍDEA EM MEIO DE CULTURA ALTERNATIVO IN VITRO CULTURE OF ORCHID S SEEDLINGS IN AN ALTERNATIVE CULTURE MEDIUM Maria Helena Herrmann 1, 2* ; Elisete Maria de Freitas 2, 3 ; Eduardo Périco 2, 4. - NOTA TÉCNICA - RESUMO A micropropagação in vitro de orquídeas a partir de sementes é uma alternativa viável para a obtenção de mudas em condições controladas, visando o abastecimento do mercado e a preservação de espécies ameaçadas de extinção. Os meios de cultura tradicionais são complexos e de custos elevados, dificultando o acesso aos pequenos produtores. Este trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência de um meio de cultura alternativo no desenvolvimento de plântulas de Brassavola tuberculata (Orchidaceae), comparando-o com meios tradicionais. As sementes de B. tuberculata foram submetidas a três tratamentos: T1 (meio Murashige & Skoog); T2 (meio Knudson C); T3 (meio alternativo). Foram retiradas 30 plântulas em cada tratamento para pesagem de massa fresca aos 145, 175 e 235 dias após a semeadura. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e ao teste de Tukey. Em T1 as plântulas apresentaram crescimento menor nas três pesagens e, em T3, maior crescimento. A maior diferença entre os meios foi observada na terceira pesagem (p < 0,05) entre (T1 e T2) e (p < 0,01) entre (T1 e T3) e (T2 e T3). O meio de cultura alternativo (T3) promoveu o melhor desenvolvimento de plântulas de B. tuberculata. Palavras-chave: Orchidaceae; Brassavola tuberculata; micropropagação; preservação; alternativa de cultivo. ABSTRACT The orchid s in vitro micropropagation from seeds is a viable alternative for obtaining seedlings in controlled conditions, aiming to market supply and preservation of endangered species. The culture mediums traditionally used are complex and expensive, difficulting the access by small producers. This study aimed to evaluate the efficiency of an alternative culture medium to the seedlings development of Brassavola tuberculata (Orchidaceae), comparing with traditional mediums. The seeds of B. tuberculata were subjected to three treatments: T1 (medium Murashige & Skoog), T2 (medium Knudson C); T3 (alternative medium). A total of 30 seedlings were removed in each treatment and the fresh mass weighted at intervals of 145, 175 and 235 days after sowing. The data were submitted to the analysis of variance and Tukey test. In T1 the seedlings showed lower growth in the three weightings and, in T3, higher growth. The greater difference among the mediums was observed in the third weighting (p <0.05) between (T1 and T2) and (p < 0,01) between (T1 and T3) and (T2 and T3). The alternative culture medium (T3) promoted the best development of seedlings of B. tuberculata. Key words: Orchidaceae; Brassavola tuberculata; micropropagation; preservation; alternative cultive. A família Orchidaceae é uma das maiores famílias de Angiospermas em número de espécies, incluindo cerca de 850 gêneros e 20.000 espécies (SOUZA & LORENZI, 2005), representando um importante componente da biodiversidade, com destaque para as espécies epífitas, perfazendo cerca de 73% do total das espécies da família (ATWOOD, 1986). As orquídeas estão entre as plantas ornamentais mais apreciadas e de maior valor 1* Curso de Graduação em Ciências Biológicas do Centro Universitário UNIVATES. 2 Museu de Ciências Naturais do Centro Universitário UNIVATES. 3 Mestre em Botânica (UFRGS) e Coordenadora do Museu de Ciências Naturais do Centro Universitário UNIVATES 4 Doutor em Ecologia (USP), Professor do Curso de Graduação em Ciências Biológicas e coordenador do Programa de Pós- Graduação em Ambiente e Desenvolvimento - UNIVATES * Rua Otelo Rosa, 249. São Cristóvão. Lajeado RS. CEP: 95.900-000. E-mail: maria.helena.herrmann@gmail.com. (Recebido para Publicação em 23/06/2009, Aprovado em 04/07/2010) 162

comercial, sendo identificadas mais de 3.500 espécies no Brasil, porém, muitas destas estão correndo risco de extinção, devido à destruição de seus habitats e às coletas predatórias (COLOMBO et al., 2004). Brassavola tuberculata Hook é uma espécie epifítica, nativa no Rio Grande do Sul, com ocorrência bastante abrangente. É encontrada na Planície Costeira, Depressão Central, Planalto Sul-Rio- Grandense e Planalto das Missões (NUNES & WAECHTER, 1998). Em condições naturais, as sementes de orquídeas germinam através de uma associação com fungos micorrízicos, os quais fornecem os nutrientes necessários (RASMUSSEN, 2002). Na cultura in vitro obtêm-se maiores percentuais de germinação quando comparada com as condições naturais. Assim, a micropropagação constitui uma técnica relevante do ponto de vista comercial e também ecológico (Martini et al., 2001). O cultivo in vitro é uma ferramenta biotecnológica importante na obtenção de plantas livres de doenças e pragas, além de propiciar a produção de um número significativo de novas mudas uniformes (FIGUEIREDO et al., 2007). A formulação do meio de cultura é essencial para a planta, podendo ser formulado com diferentes combinações de acordo com os requerimentos de cada espécie (FARIA et al., 2002). Existem vários meios utilizados para os trabalhos de cultivo in vitro de orquídeas. Em geral, a composição é complexa, contendo diversos macro e micronutrientes, vitaminas e reguladores de crescimento, elevando os custos na propagação in vitro das espécies (VENTURA, 2002). O meio de cultura Knudson C (KNUDSON, 1946) é o mais utilizado para a semeadura, apresenta baixo conteúdo de sais, com aproximadamente ¼ da concentração de íons de nitrato e amônio do meio de cultura MS (MURASHIGE & SKOOG, 1962), que, por sua vez, é conhecido como um meio com alto conteúdo de sais (RIBEIRO et al., 2002). Os meios de cultura poderiam ter seu custo reduzido pela simplificação dos mesmos (STANCATO et al., 2001). Uma maneira é produzir um meio de cultura através da utilização de um adubo químico composto por nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) e produtos orgânicos como tomate, banana e água de coco. Estes componentes podem substituir os elementos químicos indicados nas tradicionais composições usadas universalmente para micropropagação de orquídeas, não sendo necessário realizar as complicadas pesagens dos nutrientes (CAMPOS, 2002). O presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência de um meio de cultura alternativo no desenvolvimento inicial de plântulas de B. tuberculata, comparando-o com meios de cultura tradicionais, visando à obtenção de plantas de qualidade em um meio de cultura de baixo custo e de fácil aplicação para pequenos produtores, viabilizando o cultivo de orquídeas por estes. O experimento foi realizado no período de março a novembro de 2007, no Laboratório de Micropropagação de Plantas do Centro Universitário UNIVATES, campus Lajeado, Rio Grande do Sul. Para a semeadura, foram utilizadas sementes de Brassavola tuberculata Hook obtidas através de polinização artificial realizada em plantas mantidas no acervo vivo do Jardim Botânico de Lajeado. Após o amadurecimento dos frutos, as cápsulas foram coletadas e todo o procedimento da semeadura foi realizado em capela de fluxo laminar, desinfestada com álcool 70% (etanol). Para a desinfestação, as sementes foram acondicionadas em placas de Petri e submetidas a vapores de formol por duas horas (ALVAREZ-PARDO, et al., 2006). Pinças e demais materiais utilizados nos procedimentos de semeadura, foram mantidos em um pote fechado com pastilhas de formol. Todo o material, antes de ser introduzido na capela, foi pulverizado com álcool 70%. Após a semeadura em frascos de vidro (200 ml) com tampa plástica autoclavável, foi realizada a vedação dos mesmos com filme de PVC. Em seguida, os frascos foram identificados e mantidos em sala de crescimento com luminosidade de 1.000 lux, fotoperíodo de 16 horas luz dia e temperatura controlada (25ºC ± 2ºC). As sementes de B. tuberculata foram inoculadas in vitro em março de 2007 e submetidas a três tratamentos, denominados T1, T2 e T3. T1 correspondeu ao meio MS (MURASHIGE & SKOOG, 1962) modificado, contendo metade da concentração dos macronutrientes, 20 g L -1 de açúcar comercial, 6 g L -1 de ágar e 1 g L -1 de caseína; T2 correspondeu ao meio de cultura Knudson C (KNUDSON, 1946), com 20 g L -1 de açúcar comercial, 7 g L -1 de ágar e adição de 2 g L -1 de carvão ativado; T3 correspondeu ao meio de cultura alternativo (CAMPOS, 2002). Para o preparo de um litro do meio alternativo foram utilizados 3 ml de adubo comercial de formulação NPK (7-9-5), 5 tomates cereja, 200 ml de água de coco, 40 g de banana caturra, 2 g de carvão ativado, 6 g de açúcar comercial, 7 g de ágar e água destilada para completar um litro. Para o preparo os componentes foram homogeneizados no liquidificador. O ph dos três tratamentos foi ajustado para 5,2 ±0,1, antes da adição do ágar, do açúcar e da caseína (para o meio MS). Em seguida, os meios de cultura foram distribuídos em frascos de vidro até atingirem cerca de 30 ml e posteriormente, esterilizados em autoclave à pressão de 1,1 atm e à temperatura de 121ºC durante 15 minutos. Para avaliar a eficiência dos meios de cultura no desenvolvimento inicial das plântulas de B. tuberculata, eram retiradas 30 plântulas de cada tratamento e realizadas três pesagens de massa fresca em balança de precisão. Após a pesagem as plântulas eram eliminadas. A primeira pesagem foi 163

realizada 145 dias após a semeadura, seguida de um intervalo de 30 dias (totalizando 175 dias) para a segunda e de 60 dias (totalizando 235 dias) para a terceira. As plântulas (repetições) foram retiradas de cada um dos frascos, no interior da capela de fluxo laminar, seguindo os procedimentos descritos anteriormente para desinfestação do local. Após a retirada das plântulas, os frascos eram novamente vedados e transferidos para a sala de crescimento. Os dados obtidos foram submetidos a uma análise de variância e ao teste de Tukey. As plântulas submetidas ao tratamento T1 (meio MS modificado) apresentaram crescimento menor nas três séries de pesagem do que as submetidas aos demais tratamentos. Com o meio T2 (Knudson C), as pesagens não indicaram crescimento homogêneo das plântulas, enquanto que em T3 (meio alternativo), percebeu-se crescimento progressivo das plântulas nas três pesagens e elevado incremento de massa, em especial na segunda e terceira pesagens. A análise de variância apresentou diferenças significativas entre os tratamentos para as três pesagens. Na primeira pesagem (F = 32,70; p < 0, 0001), o teste de Tukey indicou diferenças significativas entre T1 e T2 (p < 0,01) e T1 e T3 (p < 0,01) (Fig. 1); na segunda pesagem (F = 18,87; p < 0,0001) foram observadas diferenças significativas entre T1 e T3 (p < 0,01) e T2 e T3 (p < 0,01) (Fig. 2) e, na terceira pesagem (F = 43,16; p < 0,0001) foram observadas diferenças significativas entre T1 e T2 (p < 0,05) e T1 e T3 (p < 0,01) e T2 e T3 (p < 0,01) (Fig. 3). Figura 1. Média e desvio padrão da massa fresca das plântulas de Brassavola tuberculata Hook, após 145 dias de cultivo. 1 = meio Murashige & Skooge); 2 = meio Knudson C; 3= meio alternativo. Colunas com a mesma letra, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey, com probabilidade de erro de 1%. n = 30 repetições para cada meio. Figura 2. Média e desvio padrão da massa fresca das plântulas de Brassavola tuberculata Hook, após 175 dias de cultivo. 1 = meio Murashige & Skooge); 2 = meio Knudson C; 3= meio alternativo. Colunas com a mesma letra, não 164

diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey, com probabilidade de erro de 1%. n = 30 repetições para cada meio. Figura 3. Média e desvio padrão da massa fresca das plântulas de Brassavola tuberculata, após 235 dias de cultivo. 1 = meio Murashige & Skoog; 2 = meio Knudson C; 3= meio alternativo. Colunas com as letras a e b diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey, com probabilidade de erro de 5% e colunas com as letras a e c e b e c diferem estatisticamente entre si com probabilidade de erro de 1%. n = 30 repetições para cada meio. O meio alternativo (T3) que utiliza componentes de fácil acesso e de baixo custo apresentou resultados superiores aos meios Murashige & Skoog (T1) e Knudson C (T2). Este meio de cultura alternativo não utiliza compostos cuja compra é controlada pelo Ministério de Defesa, como nitrato de amônia e nitrato de potássio, utilizados no meio de cultura MS. Este controle é regulamentado pela Lei Federal nº 3665 de 20 de novembro de 2000 (BRASIL, 2000). O meio de cultura alternativo testado para B. tuberculata contém banana, NPK e carvão ativado. Esses componentes, testados por outros pesquisadores no cultivo in vitro de orquídeas, demonstraram ser eficientes para o desenvolvimento de plântulas de algumas espécies de orquídeas in vitro. SANTOS et al. (2006) ao realizarem experimentos in vitro de Sophronitis coccinea (Lindl.) Rchb.f. em diferentes meios acrescidos ou não de carvão ativado, constataram que em todos os meios contendo carvão houve maior incremento de massa fresca total. SILVA (2003) também obteve melhores resultados na propagação in vitro de Cattleya tigrina A.Rich., utilizando um meio de cultura com fertilizante comercial Dyna-Gro 7-9-5, tomate e água de coco, comparando-o com o meio MS. Analisando a altura da parte aérea da plântula de Oncidium nanum Lindl., UNEMOTO et al. (2007), obtiveram melhores resultados com a utilização de meio de cultura com adubo comercial na concentração NPK (6-6-8) em relação ao meio MS com metade dos macronutrientes, acrescido de 1 g L -1 de carvão ativado, 30 g L -1 de sacarose e 7 g L -1 de ágar e com ph ajustado em 5,7. STANCATO et al. (2008) estudaram o efeito das polpas de frutas no crescimento de plântulas de orquídeas in vitro. Para isso, submeteram sementes de Miltonia spectabilis Lindl., Laelia longipes Rchb.f. e Laelia tenebrosa (Rolfe) Rolfe a diferentes tratamentos: a) NPK (nas concentrações 10-10-10 e 10-30-20), b) polpa de maçã, c) polpa de tomate, d) polpa de banana, e) Knudson, f) Vacin e Went (V&W) e g) MS. M. spectabilis apresentou maior acúmulo de massa seca no meio com NPK (10-30-20) e em polpa de banana. Já L. longipes apresentou maior acúmulo de massa seca quando cultivada em meio NPK (10-10- 10) e em polpa de banana. L. tenebrosa apresentou melhor acúmulo de matéria seca quando cultivada em meio de polpa de banana. As três espécies apresentaram menor acúmulo de massa seca quando cultivadas no meio MS, conferindo com os resultados obtidos no experimento com B. tuberculata. O experimento com diferentes meios de cultura para a micropropagação in vitro de B. tuberculata indicou que o meio de cultura alternativo, produzido com adubo comercial e produtos orgânicos, foi o mais eficiente no desenvolvimento inicial das plântulas desta espécie de orquídea, atendendo ao objetivo do trabalho. 165

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVAREZ-PARDO, V.M.; FERREIRA, A.G.; NUNES, V.F. Seed disinfestation methods for in vitro cultivation of epiphyte orchids from Southern Brazil. Horticultura Brasileira, Campinas, v.24, n.9, p. 217-220, 2006. ATWOOD, J.T. The size of the Orchidaceae and the systematic distribuition of the epiphytic orchids. Selbyana, Beltsville, v.9, p.171-186, 1986. BRASIL. Decreto Nº 3665 de 20 de novembro de 2000. Dá nova redação ao Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados (R-105). Disponível em: http://www.5csm.eb.mil.br/5csm_internet/sfpc/r105.ht m. Acesso em: 28 ago. 2008. CAMPOS, D.M. de. Orquídeas: manual prático de cultura. Expressão e Cultura: Rio de Janeiro, 2002. 143p. COLOMBO, L.A.; FARIA, R.T.; CARVALHO, J.F.R.P; ASSIS, A.M.; FONSECA, I.C.B. Influência do fungicida clorotalonil no desenvolvimento vegetativo e no enraizamento in vitro de duas espécies de orquídeas brasileiras. Acta Scientiarum, Maringá, v.6, n.2, p.253-258, 2004. FARIA, R.T.; SANTIAGO, D.C.; SARIDAKIS, D.P.; ALBINO, U.B.; ARAÚJO, R. Preservation of the brazilian orchid Cattleya walkeriana Gardner using in vitro propagation. Crop Breeding and Applied Biotechnology, Viçosa, v.2, n.3, p.489-492, 2002. FIGUEIREDO, M.A.de; SANTOS, F.M. dos; COSTA E SILVA, J.O.; COSTA, F.H.S.; PASQUAL, M. Variações no Meio de Cultura sobre o Crescimento in vitro em Híbridos de Orquídea. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v.5, p.294-296, 2007. KNUDSON, L. A new nutrient solution for germination of orchid seed. American Orchid Society Bulletin, West Palm Beach, v.15, p.214-217, 1946. MARTINI, P.C.; WILLADINO, L.; ALVES, G.D.; DONATO, V.M.T. Propagação de orquídea Gongora quinquenervis por semeadura in vitro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.36, n.10, p.1319 1324, 2001. MURASHIGE, T.; SKOOG, F. A revised medium for rapid growth and bioassays with tabacco tissue cultures. Physiologia Plantarum, Scandinávia, v.15, p.495-497, 1962. NUNES, V.F.; WAECHTER, J.L. Florística e aspectos fitogeográficos de Orchidaceae epifíticas de um morro granítico subtropical. Pesquisas Botânicas, São Leopoldo, v.48, p.127-191, 1998. RASMUSSEN, H.N. Recent developments in the study of orchid mycorrhiza. Plant soil, Netherlands, v.244, p.149-163, 2002. RIBEIRO, L.S.; PASQUAL, M.; MACIEL, A.L.R.; CHAGAS, E.A.; DUTRA, L.F. Multiplicação in vitro de brotações de várias cultivares de Coffea arabica L. em diferentes meios de cultura. Ciências Agrotécnicas, Lavras, v.26, n.5, p.949-954, 2002. SANTOS, A.F.; VENTURA, G.M.; DIAS, J.M.M.; GOULART, M.S.; NOVAIS, R.F., CECON, P.R.; TEIXEIRA, S.L.; MOURA, E. Otimização da propagação de Sophronitis coccinea (Orchidaceae) considerando meios de cultivo com adição de carvão ativado. In: Congresso Brasileiro de Olericultura, 46. Anais. Goiânia. 2006. SILVA, A.L.L. Avaliação de uma receita para o cultivo de orquídeas in vitro. Orquidário, Rio de Janeiro, v.17, n.1, p. 28-30, 2003. SOUZA, V.C.; LORENZI, H. Botânica Sistemática: guia ilustrado para identificação das famílias de Angiospermas da flora brasileira. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2005. 640p. STANCATO, G.C.; BEMELMANS, P.F.; VEGRO, C.L.R. Produção de mudas de orquídeas a partir de sementes in vitro e sua viabilidade econômica: estudo de caso. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental, Campinas, v.17. n.1., p.25-33, 2001. STANCATO, G.C.; ABREU, M.F.; FURLANI, A.M.C. Crescimento de orquídeas epífitas in vitro: adição de polpa de frutos. Bragantia, Campinas, v.67, n.1, p.51-57, 2008. VENTURA, G.M. Propagação in vitro de orquídeas do grupo Cattleya. Viçosa, 2002. 147p. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Viçosa. UNEMOTO, L.K.; FARIA, R.T.; VIEIRA, A.O.S.; DALIO, R.J.D. Propagação in vitro de orquídeas brasileiras em meio de cultura simplificado. Revista Brasileira de Agrociência, Pelotas, v.13, n.2, p.267-269, 2007. 166