Sobre uma montanha invisível chamada música

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4 - Considerações finais

Transcrição:

Sobre uma montanha invisível chamada música Paulo Costa Lima SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros LIMA, PC. Sobre uma montanha invisível chamada música. In: Música popular e adjacências... [online]. Salvador: EDUFBA, 2010, pp. 67-70. ISBN 978-85-232-1202-5. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International license. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0.

Sobre uma montanha invisível chamada música Música... Se pudesse ter, Não o que penso ou desejo. Mas o que não pude haver E que até nem em sonhos vejo, Se também eu pudesse fruir Entre as algemas de aqui estar! Não faz mal. Flui, Para que eu deixe de pensar! Fernando Pessoa Com o compositor, as coisas começam de maneira intimista, dentro da cabeça, imaginando, ante-ouvindo músicas ou ideias que às vezes chegam a se materializar, se é que podemos fazer uso dessa figura de linguagem. A realidade, desse ponto de vista, parece tudo, menos real, porque ela surge como imaginação, mania ou devaneio, talvez até algo na direção do delírio mesmo que seja o delírio obsessivo do controle de todos os parâmetros, ou o defensivo que escolhe um sistema para que este escolha a música e progride daí para o que temos de mais material: ondas. Música popular e adjacências... 67

A composição é, portanto, uma arte de antecipação do objeto sonoro, uma modelagem, e quem lá leu Die Verneigung, de Freud, sabe que este Flui, para que eu deixe de pensar!, de Fernando Pessoa, é facilmente outra coisa, Flui, para que eu não deixe de pensar, ou melhor, para que eu pense sem me saber pensando.... É o que faz Schopenhauer falar da música como um jardim familiar e inacessível, uma ponte privilegiada para o real primitivo e para tudo que não é ainda, nunca foi ou nunca será simbolizável, isto é, acessível à consciência com a lógica da linguagem falada. Sendo assim, o passado extremo do corte que constitui o sujeito e o futuro implícito do desejo, se misturam e se confundem de uma maneira curiosa, esse um dos segredos da arte musical. Está na ordem do dia perguntar pelo gozo da vanguarda, fazendo referência dessa forma à dificuldade antológica de abordar a relação entre prazer e música neste século que termina. Na Arcádia baiana dos anos sessenta, herdeira de algum Adorno via Koellreutter, Smetak e Widmer confira Grupo de Compositores da Bahia, na internet, a questão da busca do novo apontava para o lugar do gozo. Convivi com grupos que acreditavam que este paradigma seria absorvido pela sociedade em geral; restava investir e esperar. Gozava- -se, como na ciência, com a descoberta/invenção de uma ordem escondida nos pedaços de caos a que temos acesso, com o poder fálico da reconstituição desse mistério de natureza divina, como nos diz o discurso de Descartes/Lacan. O que o Grupo de Compositores da Bahia nos deixou de mais valioso foi justamente um investimento profundo nesta direção do gozo/ciência e ao mesmo tempo sua negação, a desconfiança em qualquer princípio declarado, um voto de anarquia que estabelece uma cumplicidade com o arquétipo de Gregório de Mattos e com os traços das culturas circundantes, com seus mitos e suores. 68 Paulo Costa Lima

Basta lembrar das máquinas/instrumentais de Smetak, da utilização que fez das cabaças, ou ainda do sentido de comunhão que o Ernst Widmer da década de oitenta buscava, para citar apenas dois exemplos. Essa ambiguidade foi uma matriz pedagógica da maior importância, que apontava na direção desses tempos recentes, onde o sentido das dicotomias e superações parece ter sido ele próprio superado. Não deveria ter sido tão grande o espanto de encontrar no universo rítmico do candomblé, com seus vários séculos de permanência, algo tão moderno quanto a teoria rítmica mais moderna. O conhecimento mais profundo desse universo passou a ser, para mim, um requisito indispensável na construção de uma contemporaneidade baiana. O mais curioso é que os desenvolvimentos surgidos desse contato com o universo rítmico afro-baiano acabaram se encontrando com uma outra direção herdada do Grupo de Compositores, a valorização da variação como atitude de vida musical; não apenas a variação como formato, e sim como procedimento, como exploração motívica, como elemento de construção de um discurso. Mais do que os efeitos contemporâneos, esse é o elemento pivô do trabalho das décadas de 60 e 70, e representa uma ligação estável entre o trabalho baiano e toda uma corrente analítica deste século, derivada da ideia schonberguiana de Grundgestalt. O universo rítmico do candomblé se associa muito bem a essa vertente, porque ele próprio pode ser concebido como um mosaico composto por unidades de duração elementar de 1 e de 2 tempos. Estudando padrões rítmicos afro-baianos aparentemente independentes como o Opanijé, o Ijexá e o Daró, vemos como podem ser facilmente concebidos tal qual variantes de um modelo básico, e como esse modelo básico está implicado também no Alujá, no Giká e no Barravento. Música popular e adjacências... 69

Contornando toda essa disposição combinatória, o que temos é um investimento potente numa concepção de tempo que se afasta da linearidade ocidental na direção do êxtase. 70 Paulo Costa Lima