I ESTUDO DE DOSAGEM PARA INCORPORAÇÃO DO LODO DE ETA EM MATRIZ DE CONCRETO, COMO FORMA DE DISPOSIÇÃO FINAL

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Transcrição:

I-106 - ESTUDO DE DOSAGEM PARA INCORPORAÇÃO DO LODO DE ETA EM MATRIZ DE CONCRETO, COMO FORMA DE DISPOSIÇÃO FINAL Cinthya Hoppen (1) Engenheira Química (PUC-PR), Especialista em SGA (PUC-PR), Mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental (UFPR), Pesquisadora bolsista do CNPq pelo PROSAB, atuando na SANEPAR, Integrante do Grupo de Pesquisa em Disposição Final do Lodo de Esgoto e Lodo de ETA da Assessoria de Pesquisa e Desenvolvimento (APD / SANEPAR). Kleber Franke Portella Bacharel em Química, Mestre em Ciências (ITA), Doutor em Ciências (USP), Pesquisador do LACTEC. Cleverson Vitório Andreoli (1) Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia e Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR), Professor da UFPR, PUC-PR e da FAE/CDE Business School, Gerente da Assessoria de Pesquisa e Desenvolvimento da Companhia de Saneamento do Paraná (APD / SANEPAR). Almir Sales Engenheiro Civil, Mestre em Arquitetura (USP), Doutor em Engenharia Civil (USP), Professor da UFSCAR. Alex Joukoski Engenheiro Civil (UFPR), Engenheiro Especialista (UFPR), Mestre do Programa de Pós Graduação em Engenharia (PIPE/UFPR). Endereço (1) : SANEPAR APD: Rua Engenheiros Rebouças, 1376 - Rebouças - Curitiba - PR - CEP: 80215-900 - Brasil - Tel: +55 (41) 330-3385 - Fax: +55 (41) 333-9952 - e-mail: cinthyah@sanepar.com.br RESUMO O destino dos resíduos das ETAs em todo o mundo até a década de 80 era o lançamento em cursos d água próximo às estações, contudo os órgãos ambientais estão restringido esta prática. A busca de soluções técnica e ambientalmente vantajosas continua sendo um desafio. Uma alternativa promissora é a incorporação deste lodo em matriz de concreto, que pode minimizar a disposição inadequada destes resíduos. O objetivo deste trabalho é a determinação dos teores adequados para incorporação de lodo de ETA em concreto mantendo as suas características de qualidade. Neste estudo, primeiramente realizou-se a caracterização do lodo da ETA Passaúna, utilizado na fabricação do concreto, com a finalidade de utilizar um material representativo do resíduo gerado na estação. Para esta caracterização realizou-se análises de umidade, massa específica, análise de perda ao fogo e fluorescência de raios X. Verificou-se que o material apresentou alto teor de umidade, 88%, além da presença de sílica, alumínio e ferro. Com o estudo de dosagem foi possível determinar as proporções de lodo de ETA que incorporado no concreto apresente apresente o melhor desempenho, que foi a proporção abaixo de 7%. Os principais fatores considerados para a definição das melhores dosagens foram trabalhabilidade e resistência mecânica, além de massa específica e absorção d água e consumo dos materiais elo consumo de concreto, em relação à quantidade de lodo de ETA adicionada a um concreto referência (sem adição de lodo). Verificou-se que à medida que o teor de lodo aumentou, diminuiu a quantidade de matéria prima consumida. A trabalhabilidade, medida pelo abatimento do tronco de cone, apresentou uma grande variação, no entanto, os resultados devem ser considerados de acordo com a obra desejada. No caso da resistência à compressão, observa-se que já aos 7 dias todas as dosagens, com exceção de 10%, já atingiram valores superiores a 20 MPA, valor mais comumente utilizado na construção civil. A análise conjunta destes dados permitiu concluir que apesar da incorporação do lodo de ETA, para teores inferiores a 10%, diminuir a qualidade do concreto, ainda continua dentro dos padrões aceitáveis pela construção civil. Outro ponto a se destacar é a redução do consumo de matérias-primas, que além de reduzir os impactos ambientais causados pela extração, reduz a quantidade de resíduos lançados indiscriminadamente em rios e córregos. PALAVRAS-CHAVE: lodo de ETA, disposição final, reciclagem, resíduo em concreto, construção civil INTRODUÇÃO Desde a década de 50, o destino dos resíduos das Estações de Tratamento de Água (lodo de ETA) em todo o mundo vinha sendo os cursos d água próximos às estações, mas esta prática foi questionada devido aos riscos à saúde humana e aos impactos ao meio ambiente. A partir de 1990 foram criados conjuntos de leis que ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

regulamentam descargas de poluentes aos ambientes aquático. Esta crescente preocupação tem gerado regulamentações que restringem ou proíbem esta forma de disposição. Os métodos de tratamento e disposição final existentes, raramente, têm sido adotados nas estações de tratamento de água brasileiras, principalmente devido ao custo envolvido. A maior parte de lodo de ETA é lançado nos rios. Entre as alternativas mais conhecidas, destacam-se: aplicação no solo, aterro sanitário, lançamento em redes de esgoto e utilização como matéria prima em alguns tipos de industrias. A busca de soluções economicamente e ambientalmente vantajosas para o tratamento e disposição final do lodo de ETA continua sendo um desafio, principalmente para países em desenvolvimento, que vivem em severas restrições econômicas e onde os problemas sanitários exigem soluções emergenciais. Mensalmente são produzidos, aproximadamente, 4.000 toneladas de lodo de ETA em matéria seca, em todo o Estado do Paraná. Na cidade de Curitiba, o abastecimento de água é realizados pelas ETAs Iguaçu, Tarumã, Irai e Passaúna, o que corresponde a mais de 50% de toda a produção de lodo do Estado. A ETA Passaúna produz cerca de 360 ton/mês de lodo, estação objeto de estudo neste trabalho. O setor da construção civil é o maior consumidor de recursos naturais, absorvendo cerca de 20 a 50% do total de recursos naturais utilizados pela humanidade. A incorporação deste lodo em matriz de concreto pode ser uma forma viável de destinação final, pois além de reduzir significativamente os impactos ambientais pela minimização da quantidade de recursos naturais utilizados, evita a pressão sobre os aterros sanitários ou o seu lançamento em rios. O objetivo deste estudo é determinar os teores adequados para a incorporação do lodo de ETA em concreto, em substituição parcial da areia. A incorporação direta e sem tratamento prévio deste lodo centrifugado de ETA em concreto poderá minimizar de maneira significativa os impactos no meio ambiente reduzindo a pressão sobre o consumo de recursos naturais e da disposição final destes resíduos, além dos custos. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA De acordo com Richter (2001), o lodo de ETA é um resíduo composto de água e sólidos suspensos contidos no material utilizado, acrescidos dos produtos aplicados durante o processo de tratamento de água. Cordeiro (1999) compara a ETA com uma indústria, na qual uma matéria-prima, a água, é trabalhada resultando em um produto final, gerando durante este processo de transformação um resíduo denominado lodo de ETA. Segundo Grandin, Além Sobrinho e Garcia Jr (1993) o lodo de ETA é constituído, basicamente, de resíduos sólidos orgânicos e inorgânicos provenientes da água bruta, tais como: algas, bactérias, vírus, partículas orgânicas em suspensão, colóides, areias, argila, siltes, cálcio, magnésio, ferro, manganês, etc. Estes constituintes são observados em formas de hidróxidos de alumínio em grande quantidade, provenientes da adição de produtos químicos e, em alguns casos, polímeros condicionantes também utilizados no processo (Silva, Bidone e Marques 2000). A quantidade e a qualidade do lodo de ETA depende da freqüência de remoção deste dos decantadores (GRANDIN, ALÉM SOBRINHO, GARCIA JR, 1993). Luciano (1998), afirma que o lodo representa, em volume, entre 0,3 a 1% da água tratada. Segundo Silva e Isaac (2002) a quantidade de lodo originária dos decantadores representa cerca de 60 a 95% da quantidade total de resíduos produzidos na ETA, sendo o restante oriundo do processo de filtração. Segundo Cordeiro (1993), a caracterização de alguns aspectos do lodo de ETA tais como: composição química, distribuição e tamanho das partículas, filtrabilidade e resistência específica, é fundamental, pois por meio destes parâmetros poderão ser definidos os métodos para remoção de água e formas de disposição final. Barroso e Cordeiro (2001) descrevem que alguns metais como cobre, zinco, níquel, chumbo, cádmio, cromo e manganês e, em especial, o alumínio, presente no lodo de ETA, possuem ação tóxica, podendo apresentar efeitos positivos ou negativos nas técnicas de tratamento, disposição final e, até mesmo, na reutilização destes resíduos. Nos documentos de AWWA (1992), é complementado que os resíduos sólidos gerados nas ETAs ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2

são compostos basicamente de contaminantes químicos, em torno de 20 a 90%, os quais afetam, significativamente, a qualidade do lodo final gerado. Em estudos realizados com lodo de ETAs que utilizam coagulante de ferro e alumínio no processo comparado com lodo de esgoto, foi observado que a concentração de coliformes presentes no lodo de ETA é baixa e, em alguns caso, ausente. Verificou-se ainda que ao contrário do lodo de esgoto, o lodo de ETA possui em torno de 6% de matéria orgânica baseada no peso seco, sendo o restante, material inorgânico (AWWA, 1990). Segundo Richter (2001), o teor de sólidos totais presentes em um lodo de ETA varia entre 1.000 a 40.000 mg/l (0,1 a 4%), sendo 75 a 90% de sólidos suspensos e 20 a 35% de compostos voláteis, apresentando, portanto, uma pequena porção biodegradável que pode ser prontamente oxidável. Segundo Richter (2001) o lodo de sulfato de alumínio apresenta baixa biodegradabilidade e suas principais características são apresentadas na Tabela 01. Tabela 01: Características Típicas de Lodos de Sulfato de Alumínio. Sólidos Totais (%) Al 2 O 3.5H 2 O (%) Inorgânicos (%) ph DBO (mg/l) DQO (mg/l) 0,1 4 15-40 35 70 6-8 30-300 30 5.000 FONTE: RICHTER (2001) De acordo com Reali (1999), o lodo de sulfato de alumínio tem coloração marrom, com viscosidade e consistência que lembram chocolate líquido, além de apresentar dificuldade para sua sedimentação ou flotação em seu estado natural. Um dos grandes desafios é a busca de alternativas economicamente e tecnicamente viáveis, e ambientalmente vantajosas de destinação final do lodo de ETA. A utilização benéfica do lodo de ETA pode ser considerada uma oportunidade para aumentar a receita das empresas de saneamento, mas, principalmente, reduzir custos e impactos ambientais associados a este resíduo (TSUTIYA; HIRATA, 2001). Cordeiro (2000), complementa que a utilização de lodo de ETA como matéria prima pode reduzir a quantidade de recursos naturais utilizados, além de deixar de ocupar espaços em aterro sanitário. Para embasar a escolha para a melhor disposição final de lodo devem ser avaliados alguns aspectos como: quantidade e característica do lodo e custos das possíveis soluções escolhidas (CORDEIRO, 1981). Segundo Richter (2001), o destino final para o lodo de ETA é uma das tarefas mais difíceis no tratamento de água, pois envolve transporte e restrições ambientais. Entre as alternativas mais utilizadas de disposição final, são destacadas: lançamento em curso d água; lançamento no mar; lançamento na rede de esgoto sanitário; lagoa; aplicação no solo; e aterro sanitário. Outra alternativa, considerada por Cordeiro (2000), é a incorporação do lodo em matriz de concreto, pois, além de não prejudicar o meio ambiente ainda pode trazer benefícios para a construção civil. Das alternativas destacadas, Barbosa et. al. (2000) acreditam que o lançamento do lodo de ETA em rio pode alterar significativamente a bióta aquática, bem como, causar degradação da qualidade das águas e sedimentos. Segundo Tsutiya e Hirata (2001), a aplicação do lodo de ETA no solo pode trazer alguns benefícios, tais como: melhoria estrutural do solo, ajuste de ph, adição de traços minerais, aumento da capacidade de retenção de água e melhoria das condições de aeração. No entanto, este material pode indisponibilizar o fósforo presente no solo ou, até mesmo, apresentar toxicidade do alumínio com ph superior a 6,5. A AWWA (1995), sugere que esta alternativa pode ser viável, principalmente, por ser de baixo custo e por oferecer a possibilidade de minimização de impactos ambientais. Tsutiya e Hirata (2001), associam a disposição em aterro sanitário com o alto custo de implantação e Richter (2001) sugere que devido a este fato esta seja a última escolha a ser considerada. Reali (1999), não considera esta alternativa como meio de disposição adequada, pois o aterro apresenta restrições quanto à umidade máxima permitida para recebimento da torta de lodo. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3

Um método comumento utilizado na Europa e nos EUA de disposição do lodo de ETA é o lançamento destes em Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs). Di Bernardo, Carvalho e Scalize (1999) consideram esta alternativa atraente, pois elimina a implantação de sistemas de tratamento de resíduos na própria ETA, contudo segundo Richter (2001) esta alternativa apenas transfere o problema do tratamento e disposição do lodo de ETA para a ETE. Reali (1999), acredita que o lançamento direto na rede de esgoto sem nenhum tratamento prévio pode ser considerado uma das alternativas mais baratas de disposição final. Em estudos com lodo seco de ETA na fabricação do concreto, Sales e Cordeiro (2001), observaram que por meio dos valores obtidos nos ensaios de resistência à compressão axial e absorção, o concreto com lodo de ETA pode ser utilizado em aplicações não-estruturais, alcançando os parâmetros exigidos ao desempenho mecânico e à durabilidade. Cordeiro (2000), complementa que a utilização de lodo de ETA como matéria prima pode reduzir a quantidade de recursos naturais utilizados, além de deixar de ocupar espaços em aterro sanitário. MATERIAIS E MÉTODOS A caracterização do lodo da ETA Passaúna foi realizada de forma a obter um material representativo do resíduo gerado na estação. Para esta caracterização ocorreram coletas semanais durante os meses de janeiro e fevereiro de 2003, após o desaguamento em centrífuga já com a aplicação do polímero. Foram realizadas análises de umidade, massa específica, análise de perda ao fogo e fluorescência de raios X. Para a análise de perda ao fogo utilizou-se o lodo previamente seco a uma temperatura de 110ºC por 24 h. Foi utilizado um equipamento de análise térmica marca Netzsch STA 409C, em cadinho de platina sob atmosfera de O 2 e N 2 e taxa de aquecimento de 10ºC / minuto até atingir uma temperatura de 1.500ºC. Na análise química foram utilizadas cerca de 1 grama de lodo seco, com o qual confeccionaram-se pastilhas prensadas e analisadas pela fluorescência de raios X visando fornecer informações, qualitativas e quantitativas, sobre a composição do material. Posteriormente, foi realizado o estudo de dosagem com a finalidade de se obter o teor de lodo de ETA incorporado no concreto que apresentasse o melhor desempenho. Os principais fatores considerados para a definição das dosagens foram as variações de trabalhabilidade e de resistência mecânica do material obtido, em relação à quantidade de lodo de ETA adicionada no concreto referência (sem adição de lodo). Para confecção destes concretos com a adição do lodo de ETA, foram adotados os mesmos parâmetros de dosagem utilizados no concreto referência (sem o lodo), de forma a ser possível a comparação estatística entre as propriedades de todos os traços dosados. Os parâmetros adotados foram: relação água / cimento (a/c): 0,5; teor de agregados miúdos (areia): 40,4%; teor de agregados graúdos (brita 1): 59,6%; e relação cimento / agregados totais: 0,2 ou 1/5. A trabalhabilidade (consistência) dos concretos, determinada pelo abatimento do tronco de cone, foi o parâmetro variável para que pudesse ser avaliado em função do teor de lodo de ETA adicionado. Foram fabricados quatro concretos incorporando o lodo de ETA, com teores de 3%, 5%, 7% e 10% em substituição ao peso do agregado miúdo. A quantidade total de água a ser adicionada foi corrigida em função da umidade do lodo de ETA acrescentado. Ao término das misturas de concreto de cada dosagem executada, foram realizados ensaios para determinação das propriedades da mistura fresca, teste de abatimento de tronco de cone slump test (NBR NM 67/98), massa unitária (NBR 9833/87) e teor de ar incorporado (NBR NM 47/98). Com o valor da massa unitária foi possível o cálculo dos consumos de cada material para 1m 3 de concreto. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4

Para cada traço de concreto foram moldados 6 corpos-de-prova (CPs), destinados ao ensaio de resistência mecânica à compressão axial. Até a data dos ensaios os CPs foram mantidos em câmara úmida com umidade relativa de 95%. Após completarem as datas previstas, os CPs foram capeados com enxofre para que houvesse uma regularidade das superfícies de aplicação de carga. Posteriormente, estes CPs foram levados à ruptura por compressão axial simples aos 7 e 28 dias, seguindo recomendações da norma NBR 5739/94. Neste ensaio o CP é colocado centrado sobre o prato da máquina (máquina universal de ensaios) e submetido à pressão aumentada progressivamente até ruptura, anotando-se o valor da carga máxima. Dos CPs de concretos rompidos no ensaio de compressão axial aos 28 dias foram extraídas amostras para serem submetidas ao ensaio de determinação de absorção de água, massa específica e índice de vazios do concreto endurecido, conforme norma NBR 9778/87. RESULTADOS E DISCUSSÃO O lodo de ETA apresentou um teor de umidade de 88,11% e uma massa específica de 1,051 g/cm 3, aproximadamente igual a da água, que é 1,00 g/cm 3, justificada pela alta umidade da amostra. Este valor encontrado está dentro da faixa citada por Richter (2001), para um lodo com 12% de sólidos, sendo de 1,029 a 1,083 g/cm 3. Na análise de perda ao fogo pela técnica termogravimética, mesmo com o lodo previamente seco, houve uma redução de 49,79% da sua massa total. Esta redução de massa pode ter ocorrido devido a desidratação de materiais argilosos, decomposição de materiais carbonáceos e queima de material orgânico presente na amostra. Pela análise química por fluorescência de raios X pôde-se verificar que o lodo de ETA é composto, principalmente, de sílica, alumina e ferrita. Foram encontrados neste lodo 16,55% de SiO 2, 13,07% de Al 2 O 3 e 4,15% de Fe 2 O 3, resultado esperado devido a própria composição do material sedimentado no tratamento de água, como materiais argilosos e siltosos, e também pela contribuição do uso do sulfato de alumínio usado como coagulante no tratamento de água. Na Tabela 02 são demonstrados os compostos encontrados no lodo de ETA. Tabela 02: Análise de Fluorescência de Raios-X Compostos Analisados (%) Lodo SiO 2 16,55 Al 2 O 3 13,07 TiO 2 0,19 Fe 2 O 3 4,15 MnO 0,22 MgO 0,15 CaO 0,43 Na 2 O 0,04 K 2 O 0,06 P 2 O 5 0,26 Soma 35,12 Perda ao fogo 49,79 Total 84,91 Compostos volatilizados 15,09 Total 100 Pelo estudo de dosagem com a análises das propriedades obtidas, foi possível determinar as melhores dosagens para a confecção de concretos com lodo de ETA, conforme demonstrado na Tabela 03. Verificou-se que à medida que o teor de lodo aumentou de 0 a 10%, ocorreu redução no consumo do cimento, devido à substituição de parte dos materiais (agregado, aglomerantes e água de amassamento) pelo lodo de ETA. Esta redução do consumo é interessante do ponto de vista econômico, mas, principalmente do ponto de vista ambiental, pois há uma redução de 4% no consumo de cimento. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5

Tabela 03: Propriedades do Concreto Fresco em Função do Teor de Lodo de ETA Teor do lodo de ETA (% peso de areia) 0% 3% 5% 7% 10% Consumos (kg/m 3 ) Cimento 364 356 355 352 349 Lodo de ETA 0 22 36 50 70 Areia 736 698 682 662 636 Brita 1 1085 1061 1058 1049 1041 Abatimento do tronco de cone (mm) 65 17 10 6 0 Massa unitária (kg/m 3 ) Teórica 2373 2345 2326 2307 2280 Real 2366 2319 2305 2293 2268 Ar incorporado (%) Teórico 0,3 1,1 0,9 0,6 0,5 Real - 2,0 1,5 1,5 1,0 A consistência do concreto fresco avaliada pela medida do abatimento do tronco de cone apresentou uma variação bastante expressiva, sendo que a maior taxa de variação foi observada na mistura de 3% de lodo, como demonstrado na Tabela 03. A partir deste teor a variação foi praticamente linear, com o concreto com adição de 10% de lodo atingindo elevada consistência (abatimento nulo), requerendo assim, mais água para o adensamento. A trabalhabilidade é definida em função de fatores internos e externos ao concreto fresco, sendo a consistência um fator interno importante mas não preponderante. Neste caso, a consistência pode ser considerada satisfatória dependendo das condições de obra e adensamento desejados. No caso da massa unitária o valor correspondente ao concreto-referência diminuiu cerca de 4% com o incremento da quantidade de lodo de ETA. Isso se deve à menor massa específica do lodo centrifugado, cujo valor esteve em torno de 40% da densidade do agregado miúdo substituído. O teor de ar incorporado segue a mesma tendência que a massa unitária, diminuindo seu valor com o aumento do incremento de lodo. Apesar da redução estar em torno de 50%, não deve ter apresentado uma influência considerável nas demais propriedades do concreto. Comparando-se as tensões da ruptura por compressão axial simples dos traços contendo lodo com a do concreto-referência (sem lodo) observou-se que, mesmo aos 7 dias de idade, a resistência à compressão já atingiu valores acima de 20 MPa (Figura 01), exceto para a dosagem com 10% de lodo, a qual pode ser utilizada apenas para fins menos nobres, ou seja, para estruturas onde não são exigidas altas resistências mecânicas. Resistência (MPa) 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0% 3% 5% 7% 10% Teor de lodo de ETA 7 dias 28 dias limite mínimo aceitável Figura 01: Resistência à Compressão Axial Simples em Função do Teor de Lodo de ETA Incorporado ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6

De acordo com Mehta e Monteiro (1994) a resistência mais utilizada nas estruturas é a moderada, na qual a resistência à compressão varia entre 20 e 40 MPa. Helene e Terziani (1995) confirmam que a resistência para garantir a viabilidade do concreto deve ser superior a 20 Mpa, limite atingido pelas dosagens, com exceção de 10%, já aos 7 dias. Considerando apenas estes valores de resistência mecânica obtidos, pode-se direcionar o uso das misturas incorporando dosagens inferiores a 10% de lodo, cujas resistências resultaram acima de 25 MPa, aos 28 dias, em aplicações de concreto convencional. Os valores de absorção, massa específica e índice de vazios, obtido para as amostras dos concretos confeccionados, estão demonstrados na Tabela 04. Tabela 04: Ensaios Físicos do Concreto Endurecido em Função do teor de Lodo de ETA Teor do lodo de ETA (% peso areia) 0% 3% 5% 7% 10% Absorção (%) Após imersão em água 7,14 7,76 7,80 8,62 8,94 Após imersão e fervura 7,44 7,87 9,18 9,39 9,63 Massa específica (kg/l) Real 2,70 2,54 2,54 2,53 2,54 Seca 2,25 2,12 2,06 2,05 2,05 Após saturação 2,41 2,28 2,22 2,22 2,23 Após saturação e fervura 2,42 2,28 2,25 2,24 2,24 Índice de vazios (%) Após saturação 16,13 16,40 16,51 17,87 18,45 Após saturação e fervura 16,72 17,62 19,26 19,52 19,95 Pode-se verificar que a absorção aumenta, consideravelmente, com o incremento do lodo, o que não é desejável do ponto de vista de durabilidade frente a ambientes agressivos, uma vez que isto propicia o ingresso de elementos prejudiciais ao concreto. Segundo Neville (1997), a absorção não é considerada uma medida de qualidade de concreto, no entanto, observa-se que os concretos de boa qualidade apresentam absorção abaixo de 10%. Neste caso, a absorção ficou abaixo de 9%, podendo ser enquadrado como um concreto de boa qualidade, para certos tipos de obras onde a absorção possa ser evitada (interiores, por exemplo). Tanto no índice de vazios após saturação e após saturação e fervura apresentaram uma elevação drástica dos valores, a explicação mais provável para este aumento é que o lodo, ou passa a se comportar como uma esponja no interior do concreto fazendo com que a água penetre facilmente no material ou sofre dissolução pela imersão em água. Esta última hipótese não foi confirmada pelas técnicas utilizadas, sendo a primeira possibilidade a de maior probabilidade de acontecimento. A massa específica apresentou uma redução média de 7,4%, com a concentração de lodo variando de 0% a 10%. Esta redução é decorrente da menor densidade do lodo centrifugado em comparação à da areia. No entanto, estes valores ficam próximo de 2,5kg/l, o que, segundo Petrucci e Andriolo (1986), está dentro da faixa normal de concretos, que é entre 2,3 e 2,5 kg/l. A análise conjunta dos dados e resultados obtidos nos concretos confeccionados permite verificar que, nas condições e parâmetros adotados, os traços acima de 7% restringem a sua aplicação. Apesar do concreto ter atingido resistência mecânica para a sua utilização em concreto estrutural, mas como não foi estudado as interações químicas existentes entre o lodo e o concreto, e principalmente, pela atividade incerta de corrosão, o trabalho sugere sua utilização para concretos não estruturais. Recomenda-se que sejam realizados testes prévios para cada lodo incorporado no concreto, para a determinação da qualidade deste concreto e sua real utilização. Outro ponto a se destacar é a redução do consumo de matérias-primas naturais, areia e brita e, indiretamente, insumos para a fabricação de cimento, uma vez que o aglomerante usado, também, foi reduzido. Tais reduções quantitativas destes materiais minimizam o impacto ambiental pela diminuição da extração dos minérios nas jazidas. Além da redução drástica da quantidade de lodo lançado indiscriminadamente em rios e córregos, dispondo-os de forma correta. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7

CONCLUSÕES Os resultados dos experimentos realizados com o concreto confeccionado a partir da incorporação do lodo de ETA centrifugado permitiram concluir que: o lodo utilizado, obtido da ETA Passaúna, apresentou alta presença de sílica e alumínio devido a composição do material sedimentado e ao uso de produtos químicos no tratamento de água, conforme esperado. os traços acima de 7% restringem a sua aplicação, principalmente por não apresentarem propriedades mecânicas para sua utilização, sendo esta inferior a 15 MPa. as doses inferiores a 7% de lodo podem ser usadas em aplicações normais, ou seja, em situações que vão desde a fabricação de artefatos e estruturas pré-moldadas até construção de pavimento em concreto, devido às resistências superiores a 20 MPa, recomendada pela literatura, porém todas as dosagens deverão ser refeitas e estudadas caso a caso, para a aplicação prevista. o concreto atingiu resistência mecânica para a sua utilização em concreto estrutural, mas pelo não conhecimento das iterações químicas existentes entre o lodo e o concreto e pela atividade de corrosão, sugere-se seu uso para concretos não-estruturais. a utilização do lodo reduz o consumo de matérias-primas naturais, tais como: areia, brita e cimento, cuja extração produz impactos ambientais, além de reduzir a quantidade de lodo lançado indiscriminadamente em rios e córregos. de maneira geral, apesar de ocorrerem reduções na qualidade do concreto com a incorporação de lodo de ETA, sua utilização como forma de disposição final pode ser considerável viável. recomenda-se que sejam feitos outros testes para verificação da qualidade do concreto nas demais propriedades, entre ele: resistência à tração por flexão e compressão diametral, módulo de deformação estática, permeabilidade, lixiviação e durabilidade. como cada lodo possui uma característica diferente, principalmente no que diz respeito as características químicas, devido à qualidade do manancial e tipo de coagulante utilizado (sulfato de alumínio ou cloreto férrico), sugere-se que antes da utilização do lodo de ETA em concreto sejam realizados ensaios de resistência com o lodo a ser utilizado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. AWWA American Water Words Association. Landfilling of Water Treatment Plant Coagulant Sludge s. USA: AWWARF, 1992. 2. AWWA American Water Works Association. An Assessment of Cropland Application of Water Treatment Residuals. USA: AWWARF, 1995. 3. AWWA American Water Works Association. Land Application of Water Treatment Sludge s: Impact and Management. USA: AWWARF, 1990. 4. BARBOSA, R. M.; POVINELLI, J.; ROCHA, O.; ESPÍNDOLA, E. L. G. A Toxicidade de Despejos (lodos) de Estações de Tratamento de Água à daphnia similis (ceadocera, crustacea). In: CONGRESSO INTERAMERICANO DE ENGENHARIA SANITÁRIA, XXVII., 2000, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: AIDIS, 2000. 1 CD-ROM. 5. BARROSO, M. M.; CORDEIRO, J. S. Metais e Sólidos: Aspectos Legais dos Resíduos de Estação de Tratamento de Água. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 21., 2001, João Pessoa. Anais... João Pessoa: ABES, 2001. 1 CD-ROM. 6. CORDEIRO, J. S. Disposição, Tratabilidade e Reuso de Lodos de Estações de Tratamento de Água. São Carlos, 1981. 155 f. Dissertação (Mestrado em Hidráulica e Saneamento). Escola de Engenharia de São Carlos, USP. 7. CORDEIRO, J. S. Gerenciamento de Lodo de ETAs Remoção de água, através de leitos de secagem e codisposição da fase sólida em matrizes de cimento e resíduos da construção civil. São Carlos: UFSCar / FINEP: 2000. 145 p. Relatório Técnico PROSAB 2. 8. CORDEIRO, J. S. Importância do Tratamento e Disposição Adequada dos Lodos de ETAs. In: REALI, M. A. P. (coord.) Noções Gerais de Tratamento de Disposição Final de Lodos de ETA. Rio de Janeiro: ABES / PROSAB, 1999. p. 1-19. 9. CORDEIRO, J. S. O Problema dos Lodos Gerados nos Decantadores em Estações de Tratamento de Água. São Carlos, 1993. 342 f. Tese (Doutorado em Hidráulica e Saneamento). Escola de Engenharia de São Carlos, USP. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8

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