Capítulo IV. Aterramentos elétricos

Documentos relacionados
CÁLCULO DAS TENSÕES PERMISSÍVEIS

Aterramento elétrico

A revisão da NBR 5419

GUIA NBR 5410 INSTALAÇÕES ELÉTRICAS DE BAIXA TENSÃO FASCÍCULO 15:

FASCÍCULO NBR 5410 INSTALAÇÕES ELÉTRICAS DE BAIXA TENSÃO FASCÍCULO 49:

Instalações Elétricas Prediais A ENG04482

Proteção de Sistemas de Distribuição de Energia Elétrica

LABORATÓRIO DE SISTEMAS DE POTÊNCIA EXPERIÊNCIA: CURTO-CIRCUITO RELATÓRIO. Alunos: 1)... 2)... Professor:... Data:...

CAPÍTULO IV SISTEMA DE PROTEÇÃO

Campus Curitiba Dimensionamentos Prof. Vilmair E. Wirmond 2012

GUIA NBR 5410 INSTALAÇÕES ELÉTRICAS DE BAIXA TENSÃO

SISTEMAS ELÉTRICOS. CURTO CIRCUITO Aula 2 Prof. Jáder de Alencar Vasconcelos

Fascículo. Capítulo V. Sistemas de aterramento Conceitos, sistemas não aterrados e solidamente aterrados. Curto-circuito para a seletividade

Fascículo. Capítulo X. Principais fenômenos, natureza e simetria da corrente de curto-circuito. Curto-circuito para a seletividade

MANUAL PARA INSTALAÇÃO ELÉTRICA RESFRIADOR DE ÁGUA SERIE POLAR MODELOS: PA-01 ~ PA-120 PW-09 ~ PW-120 PRECAUÇÕES INFORMAÇÕES GERAIS DE SEGURANÇA

Capítulo II. Agrupamento de cargas e definições complementares

Avaliação de sobretensões em subestações isoladas a SF6 interconectadas por cabos

Aula 04: Circuitos Trifásicos Equilibrados e Desequilibrados

MEMORIAL DESCRITIVO SUPRIMENTO DE ENREGIA ELÉTRICA AO EDIFÍCIO CREA - PI INSTALAÇÃO ELÉTRICA DE BAIXA TENSÃO

Figura Circuito para determinação da seqüência de fases

Capítulo IV. Linhas elétricas Parte 2

ATERRAMENTO DE REDE DE DISTRIBUIÇÃO NTD

MANUAL PARA INSTALAÇÃO ELÉTRICA

CURSO A PROTEÇÃO E A SELETIVIDADE EM SISTEMAS ELÉTRICOS INDUSTRIAIS

Ligação intencional à terra por meio da qual correntes elétricas podem fluir. Pode ser: Funcional: ligação à terra de um dos condutores do sistema.

TE 131 Proteção de Sistemas Elétricos. Capitulo 7 Proteção de Linhas de Transmissão

COTEQ OBTENÇÃO DA RESISTIVIDADE DE SOLO EM LOCAIS URBANOS

SELEÇÃO DOS CONDUTORES

Capítulo 4. Análise de circuitos elétricos básicos: em série, em paralelo e misto. Figura 3.32 Associação em série-paralelo de geradores.

Instalações Elétricas Prediais A ENG04482

A resistência de um fio condutor pode ser calculada de acordo com a seguinte equação, (Alexander e Sadiku, 2010):

ORIENTAÇÃO TÉCNICA - DISTRIBUIÇÃO ATERRAMENTO EM REDES DE DISTRIBUIÇÃO

Faculdade de Engenharia da UERJ Instalações Elétricas

Inst. Pablo Bosco PROJETO DE SEP

Dimensionamento de condutores

GABRIEL DEL SANTORO BRESSAN INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DE CURTO-CIRCUITO

ENGC25 - ANÁLISE DE CIRCUITOS II

Capítulo VII. Sistemas de distribuição avaliação de cargas, sistemas e ativos

SISTEMAS ELÉTRICOS. CURTO CIRCUITO Aula 1 - Introdução Prof. Jáder de Alencar Vasconcelos

AVISO AVISO. Fascículo 7: Aterramento Elétrico ELETRODOS DE ATERRAMENTO

DESEQUILÍBRIO (DESBALANCEAMENTO) DE TENSÃO Por: Eng Jose Starosta; MSc. Diretor da Ação Engenharia e Instalações e Presidente da ABESCO

A Revisão da ABNT NBR 5419: PROTEÇÃO CONTRA AS

Trabalho de Introdução à Sistemas de Energia Eletrica

2 Condutores Elétricos

Transitórios Por Gilson Paulillo, Mateus Duarte Teixeira e Ivandro Bacca*

DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO CONTRA SURTOS - DPS Orientações para Instalação em Entradas de Serviço

FASCÍCULO NBR 5410 INSTALAÇÕES ELÉTRICAS DE BAIXA TENSÃO FASCÍCULO 44:

Eletricidade Aplicada. Aulas Teóricas Professor: Jorge Andrés Cormane Angarita

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS INDUSTRIAIS DIMENSIONAMENTO DE CONDUTORES ELÉTRICOS INTRODUÇÃO

Transformadores trifásicos

Capítulo VI. Transformadores de aterramento Parte II Paulo Fernandes Costa* Aterramento do neutro

COMPATIBILIDADE ELETROMAGNÉTICA EM SUBESTAÇÕES ELÉTRICAS

Análise das solicitações impostas ao banco de capacitores devido à energização e manobras dos disjuntores

Capítulo IV Aplicação de Filtros Harmônicos Passivos LC e Eletromagnéticos em Sistemas de Distribuição

XIX Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica. Software Computacional de Perdas Técnicas de Energia PERTEC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA EEL7051 Materiais Elétricos - Laboratório

1. SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO Diretoria de Infraestrutura

Luiz Paulo Parente, Agosto de 2015 Automation & Power World Brasil SSVT Transformador de Potencial para Serviços Auxiliares

SPDA - SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFERICAS ( PARA-RAIOS ) Principais mudanças da norma NBR5419-Parte 3

MANUAL PARA INSTALAÇÃO ELÉTRICA

Retificadores com tiristores

Planejamento e projeto das instalações elétricas

Fascículo. Capítulo VIII. Aterramento híbrido para geradores e fatores de influência na escolha do tipo de aterramento

Ruído. Aula 11 Prof. Nobuo Oki

O aterramento é uma instalação imperativa em todos os equipamentos e sistemas elétricos visandosobretudo dar segurança aos usuários.

Sobretensões transitórias devido a descargas atmosféricas em estruturas com dois circuitos de tensões diferentes

Por Eduardo Mendes de Brito, especialista de produto da área de baixa tensão da Siemens

UTFPR DAELN CORRENTE ALTERNADA, REATÂNCIAS, IMPEDÂNCIA & FASE

Marcelo E. de C. Paulino

O que é Aterramento? É A LIGAÇÃO INTENCIONAL DE UM EQUIPAMENTO OU UM SISTEMA À TERRA DE MODO A CRIAR UM CAMINHO SEGURO E DE BAIXA RESISTÊNCIA.

Filosofias construtivas

3. Elementos de Sistemas Elétricos de Potência

PROJETO DE SUBESTAÇÕES EXTERNAS DIMENSIONAMENTO DOS COMPONENTES CELESC N

Curso Técnico em Informática. Eletricidade Instrumental Prof. Msc. Jean Carlos

AVALIAÇÃO NO DOMÍNIO DO TEMPO DA RESPOSTA TRANSITÓRIA DE

Professor: Cleyton Ap. dos Santos. E mail:

As tensões de operação das fontes e aquelas em que as cargas serão alimentadas possuem importância na concepção e de sua definição dependerá:

Curto-Circuito. cap. 5

APRENDIZAGEM INDUSTRIAL. UNIDADE 7 Blindagem e Aterramento do Cabeamento Estruturado

Curso Técnico em Eletroeletrônica Instalações Elétricas

Análise da Corrente de Seqüência Zero

REGULAMENTO DE INSTALAÇÕES CONSUMIDORAS FORNECIMENTO EM TENSÃO SECUNDÁRIA (ADENDO)

CONVERSÃO ELETROMECÂNICA DE ENERGIA

Carregamento e potência nominal dos transformadores

Capítulo IX. Por Cláudio Mardegan* Equivalente de Thevenin

Capítulo 3. Modelagem da Rede Elétrica Estudada

APLICAÇÃO DO CÁLCULO DA QUEDA DE TENSÃO ELÉTRICA EM UMA EQUAÇÃO DIFERENCIAL ORDINÁRIA ATRAVÉS DA METODOLOGIA DE MODELAGEM MATEMÁTICA

A u l a 0 3 : R e p r e s e n t a ç ã o d o S i s t e m a E l é t r i c o d e P o t ê n c i a

SOLUÇÕES EM QUALIDADE DE ENERGIA Soluções em média e alta tensão

Disciplina: Eletrificação Rural

3ª LISTA DE EXERCÍCIOS DE SEP

Fornecimento de Energia Elétrica

COMUNICADO TÉCNICO Nº 03

SEL 329 CONVERSÃO ELETROMECÂNICA DE ENERGIA. Transformadores

Eletricidade Aplicada. Aulas Teóricas Professor: Jorge Andrés Cormane Angarita

EMC em INSTALAÇÕES ELETRO-ELETRÔNICAS

Instalações Elétricas. Robledo Carazzai AULA 12

2 Componentes da rede de integração

Transcrição:

46 Capítulo IV Projeto de aterramento de malhas de subestações elétricas: cálculo da corrente de malha Jobson Modena e Hélio Sueta * Dando continuidade ao nosso trabalho, este capítulo trata do cálculo da corrente de malha e parâmetros envolvidos, ou seja, no caso da ocorrência de uma falta, a corrente que circula pelo condutor de aterramento é dividida por alguns trechos do circuito, além de sofrer redução de seu valor modular em função das impedâncias existentes na instalação até chegar ao eletrodo de aterramento Nessas condições, a parcela que atinge e se distribui pelo eletrodo de aterramento é efetivamente menor que a corrente no ponto em que ocorreu a falta O cálculo correto desse valor pode implicar uma significativa redução de custos no projeto do sistema de aterramento, principalmente no que concerne ao quesito materiais envolvidos no eletrodo mantendo a margem de segurança Quando tratamos do sistema de aterramento de uma subestação de energia podemos admitir que ele é constituído pelo eletrodo de aterramento (malha), pelos rabichos de aterramento e por todos os elementos metálicos e interconectados (cabos para-raios, torres e postes metálicos, blindagem de cabos de energia, condutores PEN ou neutro multiaterrado e eletrodos de aterramento circunvizinhos A Figura 1 corresponde à Figura 6 da ABNT NBR 15751 e ilustra a descrição Acoplamento das fases com o neutro Poste de distribuição Neutro Multiaterrado Alimentador de distribuição Pórtico Torre ou poste de transmissão Acoplamento das fases com o para-raios Para-raios Fases Fases Aterramento do neutro Contrapeso Blindagem dos cabos de potência e eventual condutor de acompanhamento Malha de terra Acoplamento das fases com a blindagem dos cabos Eventuais contrapesos contínuos Malha da SE remota Figura 1 Principais elementos físicos a serem considerados em cálculos e simulações para o dimensionamento de uma malha de terra

47 Quando ocorre uma falta de curta duração, a corrente de defeito (If) se divide por todo o sistema de aterramento, cabendo então a cada um dos componentes interligados a função da dispersão de partes da corrente A parcela da corrente de falta que escoa para o solo pelo eletrodo de aterramento é denominada corrente de malha (I m Uma parcela considerável deve ser atribuída às correntes que retornam ao sistema pelo eletrodo e que são provenientes de sistemas monofásicos com retorno pela terra ou qualquer outra configuração capaz de gerá-la (rede de distribuição com transformadores monofásicos ligados entre fase e neutro, transformadores trifásicos com primário em estrela aterrada, etc A essa parcela de corrente dá-se o nome de corrente de malha de longa duração (I mld Para se dimensionar o eletrodo de aterramento deve-se considerar o circuito compreendido por condutores de fase, de neutro e a terra, mutuamente acoplados As fases contribuem para a corrente de falta; o neutro (dependendo do esquema de aterramento adotado) e o eletrodo de aterramento são caminhos de escoamento dessa corrente (ou fração dela) para o solo Secundário do transformador Solo Figura 2 Sem cabo para-raios ou neutro (corresponde à Figura 7a da ABNT NBR 15751 A corrente If flui integralmente do eletrodo para o solo, então I m = I f Secundário do transformador Solo Cabo para-raios ou neutro Malha em análise A ABNT NBR 15751 apresenta duas situações para a distribuição de Im pelos caminhos possíveis de retorno à fonte em sistemas de potência típicos quando há a ocorrência de uma falta São mostrados sistemas de transmissão ou distribuição, radial, com alimentação unilateral O ponto da falta está na subestação em que o eletrodo é analisado Malha da SE alimentadora Aterramento das torres ou postes Malha em análise Figura 3 Com cabo para-raios ou neutro (corresponde à Figura 7b da ABNT NBR 15751 Além das correntes já vistas também são mostradas as correntes que fluem pelo circuito formado pelos cabos para-raios e torres da linha de transmissão

48 Para a condição de falta ocorre o acoplamento magnético entre a fase e, por exemplo, os cabos para-raios Dessa forma pode-se decompor a corrente circulante em duas componentes: 1- o componente devido ao acoplamento (I mutua ); 2- o componente devido à impedância dos cabos para-raios (ou neutro) multiaterrados (representados por I 1 e I 2 Analisando a situação verifica-se que o condutor para-raios drena parte da corrente de falta, diminuindo I m Cálculo da corrente simétrica eficaz de malha Quando I m e I f são diferentes, deve-se calcular a corrente eficaz de malha Calcular esta corrente exige o modelamento do sistema por meio de um circuito equivalente É importante lembrar que a terra pode ser um dos caminhos de retorno para a corrente de falta A ABNT NBR 15751 utiliza a formulação encontrada na teoria de Carson para a modelagem de linhas de transmissão e de distribuição Esta modelagem deve incluir o acoplamento magnético entre os cabos de fase e de para-raio (ou fase-neutro em linha de distribuição) durante o curto-circuito, por meio da impedância mútua Este acoplamento é importante, pois drena pelos cabos para-raios (ou neutro) parte da corrente de defeito, diminuindo a corrente de malha As impedâncias próprias e mútuas dependem da resistividade do solo, da frequência do sistema, dos tipos de cabos utilizados e da disposição desses cabos na torre de transmissão (ou no poste, para linhas de distribuição O circuito mostra o modelamento de um vão (entre postes ou torres) de uma linha de transmissão ou de distribuição I tk Corrente complexa que penetra a terra na torre k I ck+1 Corrente complexa no cabo guarda do vão k + 1 (I p I ck ) Corrente complexa que retorna pela terra no vão k Z p Impedância própria, com retorno pela terra, do cabo fase (impedância própria de Carson Z c Idem cabo guarda Z m Impedância mútua entre o cabo fase em falta e o cabo guarda (impedância mútua de Carson R t Resistência de aterramento da torre ligada ao nó 2 (resistência ôhmica, valor real, não complexo Ao modelarmos o sistema mostrado na Figura 3, teremos o seguinte circuito elétrico: Figura 5 Circuito elétrico para cálculo da corrente de malha considerando o sistema de potência da Figura 2 (Figura 9 da ABNT NBR 1575 Se houver geradores e motores contribuindo para a corrente de curto-circuito fase-terra, devem ser utilizadas suas respectivas impedâncias subtransitórias Com o sistema modelado e o circuito montado, calcula-se a corrente que passa pela resistência representativa da malha R m, obtendo-se assim a corrente simétrica eficaz de malha Para a resolução do circuito elétrico há vários métodos oriundos da teoria de circuitos elétricos, e cada método assume determinadas hipóteses para simplificação A escolha mais conveniente é feita considerando-se estas hipóteses e a topologia da rede O Z eq da Figura 5 é a associação em paralelo dos elementos constantes na Figura 6 Figura 4 Modelo completo de um vão de linha de transmissão ou rede de distribuição (Figura 8 da ABNT NBR 15751 k Em que: Representação genérica do vão, sendo k = 1 na torre em falta e k = n na subestação de alimentação V pk+1 Tensão de fase entre pontos 1 e 3, V 13 (valor complexo V pk Idem, entre pontos 4 e 6, V 46 I p Corrente de falta para terra (3 I 0 = I f, valor complexo I ck Corrente complexa no vão k do cabo guarda Resistência para a terra relativa à malha da SE no ponto da falta Impedância para a terra relativa ao cabo para-raios ou ao neutro multiaterrado situado a jusante do ponto da falta Figura 6 Circuito do Z eq da Figura 5 (Figura 10 da ABNT NBR 1575

50 A corrente simétrica eficaz de malha, que será o parâmetro utilizado no dimensionamento do eletrodo de aterramento, deve ser multiplicada por um fator que leva em consideração a componente contínua da corrente de curto-circuito (D f ) e o crescimento do sistema (C p ), que serão tratados adiante Corrente de Falta I f Qualquer método de cálculo de obtenção de If necessita do fornecimento das potências de curto-circuito trifásica e de fase para a terra no ponto em que será construído o sistema de aterramento, bem como as contribuições das linhas envolvidas no curto-circuito Deve-se calcular também a corrente de malha de longa duração (I mld A primeira etapa do cálculo dessa corrente consiste em definir a maior corrente permissível no neutro de um ou mais transformadores, que possam fluir permanentemente no sistema de aterramento e que devem servir de parâmetro para o ajuste das proteções de sobrecorrente de neutro dessa subestação A segunda etapa consiste em determinar a parcela de corrente que flui pela malha de terra da subestação, bem como aquela que flui pelo aterramento das linhas de transmissão e dos neutros dos alimentadores que estiverem em paralelo com esse eletrodo, na proporção inversa de suas impedâncias de aterramento vistas por essa corrente Com o resultado de I mld, deve-se verificar se os limites admissíveis pelo corpo humano, em regime de longa duração (t > 3 s) das tensões superficiais, conforme 71 da ABNT NBR 15751, não foram ultrapassados Caso essa condição não seja atendida em qualquer ponto da subestação, ou arredores, o projeto do eletrodo de aterramento deve ser refeito, de forma a suprimir a condição de risco Considerações quanto ao cálculo da corrente de malha Utilizar If ao invés de Im para o dimensionamento do eletrodo de aterramento significa, na maioria dos casos, superdimensionamento Há casos em que o uso de If no dimensionamento do eletrodo pode inviabilizar sua construção em função da topologia e do espaço existente para a instalação do eletrodo, assim é importante entender que a utilização de Im pode ser a diferença para que o projeto seja executado sem deixar de oferecer a segurança exigida Outro parâmetro que, se considerado individualmente, pode levar a um dimensionamento inadequado do eletrodo é a corrente de suportabilidade de equipamentos Então, deve-se considerar Im = If apenas em casos específicos, por exemplo, em sistemas elétricos de transmissão sem condutor para-raio, ou sistemas de distribuição sem cabo neutro conectado ao eletrodo de corte e deve considerar os efeitos do componente contínua Obtém-se Df a partir da equação mostrada a seguir ou com a Tabela 1 Tabela 1 Fator devido à assimetria da corrente de falta (Tabela 10 da ABNT NBR 1575 Duração da Falta t f s Ciclos a 60 Hz 0,008 33 0,05 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,75 1,00 0,5 3 6 12 18 24 30 45 60 X/R = 10 1,576 1,064 1,043 1,033 1,026 1,018 1,013 Fator de Decremento d f X/R = 20 1,648 1,378 1,085 1,064 1,035 1,026 X/R = 30 1,675 1,462 1,316 1,181 1,095 1,077 1,039 X/R = 40 1,688 1,515 1,378 1,163 1,101 1,068 Esse valor varia inversamente com o tempo de eliminação da falta e aumenta com a relação X/R do sistema Para a faixa de tempo de eliminação de falta normalmente considerada igual ou superior a 0,5 s, o fator adotado pode ser de D f = 1 Fator de Projeção Cp O fator de projeção C P considera o aumento da corrente de falta ao longo da vida útil da instalação em função do crescimento da rede de transmissão e de geração de energia elétrica Analisando os critérios adotados pelo planejamento das unidades geradoras, transformadoras e transmissoras, é possível prever a evolução do nível de curto-circuito do sistema, o que será quantificado pelo fator C p que multiplica a corrente de malha simétrica eficaz Em algumas situações, pode-se identificar uma correlação entre os fatores C p e S f, considerando, por exemplo, que um incremento no número de linhas de transmissão chegando a uma subestação resulta no aumento do nível de curto-circuito, o que pode acarretar a redução do fator de divisão, em função do maior número de caminhos para o solo, via cabos para-raios e torres de linhas de transmissão Devido a esse fator, recomenda-se que os estudos de aterramento considerem os níveis de corrente de falta previstos até o ano horizonte disponível no planejamento e que reavaliações futuras sejam feitas quando houver alterações significativas no estudo realizado ou evoluções do sistema, além do ano horizonte inicialmente estudado Cálculo final da corrente de malha Com os fatores já mencionados, utilizamos a seguinte equação: Fator de decremento D f Fator que permite a obtenção do valor eficaz equivalente da corrente assimétrica de falta para um determinado tempo I malha = I malha sim ef x D f x C p

51 S f = I malha sim ef I falta Fator de distribuição S f Fator que fornece a parcela da corrente de falta que dispersa na terra pelo eletrodo de aterramento da subestação de energia = = I malha I m I f x S f x C p x D f Para os casos em que a topologia da rede é muito simples ou quando a impedância mútua for desprezível em relação à impedância própria pode ser mais conveniente calcular-se Sf Obtém-se If por métodos convencionais, considerando-se os circuitos sequenciais e, diretamente da relação abaixo, a corrente de malha: Condição de segurança para futuras expansões O eletrodo de aterramento dimensionado com a "corrente de malha final", calculada conforme o procedimento que consta da ABNT NBR 15715, aqui mostrado, garantirá segurança às pessoas, desde que não sejam feitas expansões que provoquem uma corrente de curto-circuito fase-terra superior à [corrente de falta antes da expansão] x C p Havendo qualquer expansão no sistema, essa condição deve ser verificada No dimensionamento de malhas de aterramento é necessária a verificação do surgimento de potenciais perigosos, interna e externamente a essa malha, quando da ocorrência de curtos-circuitos ou na existência de correntes de desequilíbrio entre neutro e terra do sistema Para tanto, devem-se calcular os valores máximos de tensão de toque e de passo que podem ocorrer, bem como verificar possibilidades de ocorrência de transferência de potencial para ambas as situações Jobson Modena é engenheiro eletricista, membro do Comitê Brasileiro de Eletricidade (Cobei), CB-3 da ABNT, em que participa atualmente como coordenador da comissão revisora da norma de proteção contra descargas atmosféricas (ABNT NBR 5419 É diretor da Guismo Engenharia Hélio Sueta é engenheiro eletricista, mestre e doutor em Engenharia Elétrica, diretor da divisão de potência do IEE-USP e secretário da comissão de estudos que revisa a ABNT NBR 5419:2005 Continua na próxima edição Confira todos os artigos deste fascículo em wwwosetoreletricocombr Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail redacao@atitudeeditorialcombr