Volcnological and geochemical characterization of the Serra Geral Formation in Serra do Rio do Rastro, Lauro Muller SC

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CARACTERIZAÇÃO VULCANOLÓGICA E GEOQUÍMICA DA FORMAÇÃO SERRA GERAL NA SERRA DO RIO DO RASTRO, MUNICÍPIO DE LAURO MULLER SC. Marciéli E. Frozza 1 (M), Breno L. Waichel 2, Evandro F. de Lima 1 ; Carla J. Barreto 3 1 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, Porto Alegre RS, marcielif@hotmail.com 2 - Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, Florianópolis SC 3 Universidade Federal de Pernambuco UFPE, Recife - PE Resumo: O levantamento da estratigrafia dos derrames, considerando os aspectos vulcanológicos e litogeoquímicos do perfil ao longo da Serra do Rio do Rastro, SC, permitiu identificar derrames básicos do tipo pahoehoe e rubbly pahoehoe, que ocorrem intercalados. Foram definidas nesta sequência as fácies do tipo: ponded, tabular-clássico, composto-anastomosado, tabular-escoriáceo e tabular-ácido. Os dados geoquímicos indicam que há intercalação dos grupos alto-tio 2 (ATi) e baixo-tio 2 (BTi), com predomínio do último. A alternância na sucessão dos derrames sugerem variação na taxa de efusão e os dados geoquímicos apontam fontes distintas para os grupos ATi e BTi. Não há um controle dos tipos químicos nas morfologias dos derrames, nem na relação entre magma-tipo e taxas de efusão. Palavras-chave: Formação Serra Geral; Derrames Rubbly; Derrames Pahoehoe. Volcnological and geochemical characterization of the Serra Geral Formation in Serra do Rio do Rastro, Lauro Muller SC Abstract: This work presents survey data from the stratigraphy of the flows considering the volcanological and lithogeochemical aspects of the profile along the Serra do Rio do Rastro, SC. Keywords: Serra Geral Formation; pahoehoe flows; rubbly pahoehoe flows. Introdução As Províncias Basálticas Continentais (PBCs) fazem parte das Grandes Províncias Ígneas (LIPs) e são formadas por eventos magmáticos que geram grandes volumes de lava, no qual a extrusão do magma se dá através de sistemas fissurais relacionados a esforços distensivos na crosta (Coffin e Eldholm, 1994). Durante décadas, diversos estudos nas PBCs priorizaram as discussões na gênese e evolução do magmatismo baixo e alto Ti, bem como as correlações regionais quimioestratigráficas (Bellieni et al., 1984; Mantovani et al., 1985; Melfi et al., 1988; Peate et al., 1992; Peate, 1997). Trabalhos mais recentes têm focado na estruturação dos derrames levando em consideração o arcabouço estratigráfico e arquitetura interna e externa, que auxiliam na compreensão dos mecanismos de erupção e taxas de efusão dos distintos subtipos químicos. Baseadas nas feições de superfície, as lavas basálticas subaéreas foram divididas em: pahoehoe, a ā e lava em bloco (Macdonald, 1953), das quais possuem distintos mecanismos de colocação. Fatores como taxa de efusão, viscosidade do magma e a inclinação da superfície de escoamento determinam o aspecto superficial do derrame. Em seção vertical, os derrames pahoehoe possuem uma estruturação interna dividida em crosta superior, núcleo e crosta inferior. As lavas pahoehoe são geradas em sistema fechado e perdem calor de forma lenta, ocasionando na inflação no derrame. Para a formação e preservação dos derrames pahoehoe a superfície de base deve ter pouca declividade (<5º) e baixas taxas de efusão (<5 m 3 /s). Derrames transicionais, que ocorrem entre os derrames pahoehoe e a ā foram definidos por Duraiswami (2003). As lavas

transicionais do tipo rubbly pahoehoe possuem base vesicular pouco espessa preservada, núcleo maciço, crosta superior vesiculada e topo brechado. Estes derrames são gerados em sistemas abertos, nos quais há a ruptura da crosta superior devido ao aumento da pressão interna causada pela recarga do magma no núcleo do derrame. Esta ruptura forma o topo escoriáceo e denota taxas de efusões mais elevadas que podem chegar a picos de 10 6 m 3 /s (Keszthely et al, 2006). Portanto, o entendimento da sobreposição dos derrames vulcânicos é essencial para a compreensão de como os processos magmáticos variaram durante a evolução das PBCs (Jerram et al., 2005; Waichel et al., 2006; Waichel et al., 2012; Lima et al., 2012; Barreto et al., 2014; Rossetti et al, 2014). Uma das maiores províncias magmáticas do planeta é a PBC Paraná-Etendeka, que teve importante contribuição para a geração da crosta continental. No Brasil, esta província é conhecida como Província Magmática Paraná (PMP) e está inserida na Bacia do Paraná. A região da Serra do Rio do Rastro, localizada em Lauro Muler SC é considerada um importante marco geológico. Com base nos afloramentos desta serra, o geólogo americano Israel C. White definiu a primeira coluna estratigráfica da Bacia do Paraná, em 1908. A seção ocorre ao longo da rodovia SC-390 e tem seu início por volta da altitude de 200 m, onde predominam rochas sedimentares, e se estende até a cota de aproximadamente 1.430 m nos derrames basálticos. Apesar desta boa exposição nunca foram realizados estudos com abordagem em escala local de detalhe para o levantamento da estratigrafia dos derrames. O propósito do trabalho é a organização da estratigrafia, com enfoque nos aspectos vulcanológicos e a caracterização geoquímica dos derrames da Formação Serra Geral presentes na Serra do Rio do Rastro, que podem posteriormente ser lateralmente correlacionados e auxiliar na compreensão da história evolutiva do vulcanismo da Bacia do Paraná. Materiais e Métodos Foram realizados campos na área de estudo para a identificação preliminar dos morfotipos de derrames ao longo do perfil da sequência vulcânica, bem como os contatos, texturas e estruturas presentes. Também foram coletadas amostras representativas em cada tipo de derrame para a obtenção de dados geoquímicos. Os dados obtidos nesta etapa permitiram o desenvolvimento de um perfil estratigráfico com a arquitetura de fácies da sequência vulcânica. As análises geoquímicas em rocha total, foram feitas em 18 amostras enviadas para o ACME Analytical Laboratories Ltd., Vancouver, Canadá. O método utilizado foi o Inductively Coupled Plasma Emission Spectrometry (ICP-ES) para elementos maiores e menores, em rotina 4A, e por Inductively Coupled Plasma Mass Spectrometry (ICP-MS) para os elementos traços, incluindo elementos terras raras, em rotina 4B. Para a elaboração dos diagramas de caracterização e classificação, foi utilizado o software GeoChemical Data Tool KIT (GCDKit), versão 4.1. Resultados e Discussão Com base nas feições de superfície, geometria, organização interna dos derrames e na relação de contato entre eles, foram individualizadas as seguintes faciologias vulcânicas: fácies ponded, fácies tabular-clássico, fácies composto-anastomosado, fácies tabular-escoriáceo e fácies tabular-ácido (Tabela 1). Estas associações podem auxiliar na delimitação de distintos episódios vulcânicos na sequência. Foram identificados derrames do tipo pahoehoe e rubbly pahoehoe, que se apresentam intercalados na sequência vulcânica desde a altitude de 760 m (contato com a Fm. Botucatu) até aproximadamente 1.430 m. Acima desta cota até o topo da serra (1.500 m de altitude), afloram os derrames ácidos. As intercalações entre os derrames pahoehoe e rubbly pahoehoe na sequência vulcânica indicam que mais de um mecanismo de colocação foi necessário para gerar as diferentes características morfológicas de cada fácies. Estas intercalações ainda sugerem que houve variações na taxa de efusão do magmatismo. A existência de derrames de rochas ácidas de morfologia tabular

no topo da sucessão vulcânica também sugere altas taxas de efusão sob altas temperaturas, hipótese que comumente explica os derrames ácidos do tipo Palmas (Garland et al.,1995). Tabela 1: Características faciológicas descritas para a sessão da Serra do Rio do Rastro. Adaptado de Waichel et al (2012). Os dados geoquímicos foram obtidos em 18 amostras que representam os diferentes derrames da Serra do Rio do Rastro. De acordo com os critérios de classificação geral de basaltos da PMP (Bellieni et al 1984; Mantovani et al, 1985; Melfi et al, 1988), as rochas da região em estudo se enquadram nos dois grupos com relação aos teores de TiO 2 : alto-tio 2 (ATi, >2%) e baixo-tio2 (BTi, <2%), com predomínio do último (Fig. 1). Figura 1: Diagrama SiO 2 vs TiO 2 mostrando os grupos ATi e BTi. Nota-se que há tanto derrames pahoehoe quanto rubbly nos diferentes grupos.

As amostras estudadas são composicionalmente rochas básicas e intermediárias, com predomínio de basaltos e andesibasaltos com algumas ocorrências de basaltos traqui-andesíticos, andesitos e dacitos (Fig. 2 A). Todas as amostras ocupam o campo das rochas subalcalinas e toleíticas (Fig. 2 B). De acordo com o diagrama de Shand (1943), que mostra a classificação das rochas de segundo o índice de saturação em alumínio, todas as amostras são metaluminosas, com valores de A/CNK menores que 1 (Fig. 2 C). Os padrões de distribuição dos elementos terras raras, normalizados para os condritos (Boynton, 1984) mostra dois grupos distintos: o grupo alto-ti, apresenta padrão mais fracionado com razão média (La/Yb) N =9,71 e sem anomalia negativa de Eu. Já o grupo das rochas baixo-ti apresenta padrão menos fracionado de razão (La/Yb) N =5,62 e com anomalias negativas de Eu nas rochas mais diferenciadas (Fig. 2 D). A assinatura geoquímica das rochas estudadas é típica de basaltos intraplaca gerados em grandes províncias ígneas. As diferenças nos conteúdos de TiO 2 e nos padrões de ETRs, sugerem fontes distintas para os grupos ATi e BTi. As rochas mais diferenciadas se aproximam do padrão de ETR do grupo BTi, embora com uma anomalia de Eu mais pronunciada. Esta anomalia pode estar relacionada com o fracionamento de plagioclásio durante a diferenciação do tipo BTi. Figura 2. Diagramas de caracterização geoquímica. A Diagrama TAS (Le Bas et al., 1986) mostrando a classificação das rochas básicas, intermediárias a ácidas. B Diagrama AFM (Irvine e Baragar, 1971), ilustrando a assinatura toleítica das amostras. C - Diagrama A/CNK(Al 2 O 3 /CaO+Na 2 O+K 2 O) vs A/NK (Al 2 O 3 /Na 2 O+K 2 O) (Shand, 1943),. D - Diagrama de elementos terras raras normalizado pelo condrito (Boynton, 1984).

Conclusões A intercalação das diferentes morfologias e arquitetura dos derrames, juntamente com os dados geoquímicos ressalta que houve diferentes taxas de efusão e também diferentes fontes para o magmatismo nesta sequência. No entanto, não há um controle dos tipos químicos nas distintas morfologias dos derrames, não sendo possível correlacionar os magmas-tipo com as taxas de efusão. Agradecimentos Ao programa PFRH/PB 240, à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e ao Programa de Pós Graduação em Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Referências Bibliográficas BARRETO, C.J.S.; LIMA, E. F.; SHERER, C. M. S.; ROSSETTI, L.M.M. Lithofacies analysis of basic lava flows of the Parana igneous province in the south hinge of Torres Syncline, Southern Brazil. Journal of Volcanology and Geothermal Research, v. 285, p. 81-99, 2014. BELLIENI, G.; COMIN-CHIARAMONTI, P; MARQUES, L.S; MELFI, A.J.; PICCIRILLO, E.M.; NARDY, A.J.R.; ROISEMBERG, A. 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