O Modelo da Confiança
Ken Blanchard Cynthia Olmstead Martha Lawrence O Modelo da Confiança O segredo para formar equipas fortes, motivadas e vencedoras Tradução: Maria Lucília Filipe
CONFIANÇA QUEBRADA Na casa do senhor e da senhora Berryhill, no campo, vivia uma gata chamada Whiskers e um cão chamado Woof. Os dois não se davam bem. Tinham as suas razões. A personalidade apalermada de Woof e a sua desleixada higiene pessoal irritavam a gata. O ar convencido e os hábitos cheios de nove horas de Whiskers punham o cão fora de si. Há algum tempo Woof exaltou -se de tal maneira que perseguiu Whiskers por uma árvore acima. Esta nunca lhe perdoou. Por duas vezes Whiskers mostrara as garras pequeninas. Desde então, Woof evitava -a. Além disso, era do conhecimento geral que gatos e cães não se entendiam. Tanto Whiskers como Woof tinham ouvido às suas mães e aos seus pais todas as histórias de terror sobre a inimizade de há gerações entre gatos e cães. Um dia Woof cometeu o erro terrível de pisar a cauda da gata. Whiskers atacou, atingindo o cão no focinho. Espicaçado pela dor, Woof rosnou, abocanhou a gata, que saltou para a mesa da sala de jantar para fugir. Não conseguiu completar o salto. As garras cravaram -se na Confiança Quebrada 17
toalha de mesa e, enquanto ela caía de costas, arrastava para o chão toda a mesa cheia de pratos, que tinham acabado de ser postos para o jantar, onde se partiram com grande estrépito. Foi nessa altura que a senhora Berryhill entrou a correr na sala, com o bebé ao colo. Oh, não. Que confusão! gritou ela. O bebé, Billy, começou a chorar um som ensurdecedor e horrível. A seguir, entrou de rompante Kylie, de sete anos, e gritou: O que é que aconteceu? Por fim, o senhor Berryhill irrompeu pela sala, corado de fúria. Pronto! berrou, enquanto Woof e Whiskers saíam da sala a correr. Se não aprendem a entender -se, vou livrar -me de vocês. De todos! Quando o senhor Berryhill disse «de todos» referia- -se aos outros três animais que viviam lá em casa: um papagaio chamado Presley, um hamster chamado Harriet e um peixe -dourado chamado Wiggles. A voz do senhor Berryhill ressoou, por isso, todos os animais da casa o ouviram distintamente. Era também evidente pelo tom de voz do senhor Berryhill que não se tratava de uma ameaça frívola. Já andava há algum tempo aborrecido com o caos criado por Woof e Whiskers. O senhor Berryhill parecia ter chegado ao ponto de rutura. Os olhos de Kylie encheram -se de lágrimas: Não, pai, por favor, não te desfaças dos nossos animais! 18 O MODELO DA CONFIANÇA
O senhor Berryhill acocorou -se e olhou a sua pequenita nos olhos: Não quero desfazer -me deles, querida, mas temos de acreditar que estes animais se portam bem se ficarem a viver em nossa casa. Se vão andar a lutar e a partir -nos os pratos, têm de ir -se embora. Mas, papá começou Kylie. O pai tem razão atalhou a senhora Berryhill. Se os animais vão fazer parte da nossa família temos de confiar neles. Se se portarem bem, podemos ficar com eles? perguntou Kylie em lágrimas. Sim, mas só se deixarem de brigar disse o senhor Berryhill. O papagaio, que era velho e sensato, abanou a cabeça com ar grave. Para os ouvidos humanos, Presley limitou -se a começar a gritar. No entanto, para todos os animais da casa, o seu anúncio foi claro: Encontro de todos os animais na sala esta noite, à meia -noite em ponto. A vossa presença é obrigatória. Trata -se de uma emergência! * Naquela noite, enquanto se preparavam para se deitarem, a senhora Berryhill teve uma conversa franca com o marido. Querido, o cão e a gata criaram realmente uma triste confusão esta noite. Mas a tua reação pareceu um pouco exagerada. Passa -se alguma coisa que eu deva saber? Confiança Quebrada 19
O senhor Berryhill sentou -se e soltou um suspiro. As coisas no trabalho não estão a correr tão bem como eu esperava. Tive uma reunião hoje com o meu chefe e ele disse -me que não sabe se eu estou no lugar certo. O que é que ele queria dizer com isso? Disse que estava desiludido comigo, porque parece que não possuo capacidades para fazer as coisas sozinho. Disse que não tinha tempo de fazer o trabalho dele e o meu. Isso, realmente, deve ter -te aborrecido concordou a senhora Berryhill. Sinceramente! O meu cargo tem uma série de novas responsabilidades, e eu estou farto de trabalhar. Aborrece -me que ele espere que eu entre em velocidade de cruzeiro de um dia para o outro. Quem me dera que passasse algum tempo a ajudar -me a identificar pessoas que podiam ensinar -me, se ele não tem tempo. Não podes falar com ele sobre isso? perguntou a senhora Berryhill. O senhor Berryhill abanou a cabeça. Não será fácil. Diz que tem a porta sempre aberta, mas conseguir uma reunião com ele é, só por si, um projeto de grande monta. Parece que tu e o teu chefe têm problemas de confiança. Tal como temos com o nosso gato e o nosso cão acrescentou com um sorriso. Pois, stresse no trabalho e caos em casa. Estou entre a espada e a parede! disse com uma risada. Obrigado por me ouvires, querida. Preciso mesmo deste fim de semana para descontrair. 20 O MODELO DA CONFIANÇA