Versão Pública DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA CCENT. 08/2005: MONSANTO/SEMINIS I INTRODUÇÃO

Documentos relacionados
AC I Ccent. 25/2008 MONSANTO/DE RUITER SEEDS

Versão Pública DECISÃO DE NÃO OPOSIÇÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA CCENT. 26/2007: VISTA / INDAS I INTRODUÇÃO

Nota: indicam-se entre parêntesis rectos as informações cujo conteúdo exacto haja sido considerado como confidencial.

VERSÃO PÚBLICA. DECISÃO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA Processo AC I Ccent. 63/2006 SEGULAH / ISABERG I INTRODUÇÃO

AC I Ccent. 40/2008 IBERHOLDING/VITACRESS. Decisão de Não Oposição Da Autoridade da Concorrência

DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA CCENT. 27/2005: FLORIMOND DESPREZ/ADVANTA LAMBDA I INTRODUÇÃO

DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA Processo AC I CCENT. 43/2004 GRULA/COOPERTORRES/TORRENTAL I. INTRODUÇÃO

Ccent. 48/2010 EUREST HOLDING/REILIMPA. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

VERSÃO PÚBLICA. DECISÃO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA Processo AC I 34/2007 CDC CI / Genoyer I INTRODUÇÃO

CCENT. N.º 52/2008 OPWAY/RECIGROUP. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Versão Pública. AC I Ccent. 70/2007 RAR/COLEPCCL. Decisão de Não Oposição Da Autoridade da Concorrência

Ccent. 58/2010 SÜD-CHEMIE / EXALOID. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA. Ccent nº 20/2005- SERCOS*DESCO

VERSÃO PÚBLICA. AC I Ccent. 65/2007 Auto Partner III/AutoGarme. Decisão de Não Oposição Da Autoridade da Concorrência

DECISÃO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA Ccent 10/ Nortesaga / Motortejo, Autovip, M.Tejo e Promotejo

Decisão do Conselho da Autoridade da Concorrência. PROCESSO AC-I-CCENT/32/ FOX PAINE e Sr. ROMO/SEMINIS

Ccent. 66/2007. Soares da Costa / C.P.E. Decisão de Não Oposição. Da Autoridade da Concorrência

Versão Pública. DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA Ccent. 43/2005 BLITZ GmbH/ DYWIDAG SYSTEMS INTERNATIONAL GmbH I INTRODUÇÃO

DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA Ccent. 22/2004 Previdente (Socitrel) / Galycas / Emesa.

Versão Pública DECISÃO DE INAPLICABILIDADE DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA CCENT. 32/2007: KOHLER / LOMBARDINI I INTRODUÇÃO

VERSÃO PÚBLICA. AC I Ccent. 64/2007 Auto Partner III/A.A. Clemente da Costa e José Mário Clemente da Costa

Versão Pública DECISÃO DE NÃO OPOSIÇÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA. AC I Ccent. 56/2006 GCT / QUALIFRUTAS I INTRODUÇÃO

Versão Pública DECISÃO DE NÃO OPOSIÇÃO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA PROCESSO CCENT. Nº 26/ 2005 SVITZER LISBOA/LISBON TUGS I.

Versão não confidencial. DECISÃO DE NÃO OPOSIÇÃO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA AC I Ccent. N.º 71/2005: CAIXA DESENVOLVIMENTO / NUTRICAFÉS

Versão Pública DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA CCENT. 62/2006 LONZA / CAMBREX I INTRODUÇÃO

Ccent. 17/2011 BHAP/Inalfa. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Versão Pública DECISÃO DE NÃO OPOSIÇÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA. AC I Ccent. 34/2006 GCT e SPS/ NUTRIFRESH 1

DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA. Ccent. 6/2004 Philip Morris Products, S.A. / Amer-Yhtymä Oyj / Amer- Tupakka Oy

Ccent. 47/2010 Grupo Soares da Costa/Energia Própria. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Ccent. 13/2010 ATLANSIDER/ECOMETAIS. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA CCENT. 10/2007 HUSQVARNA/GARDENA I INTRODUÇÃO

Ccent. 34/2009 BOEHRINGER/VACINAS DE GADO BOVINO. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Versão Pública. AC I Ccent. 34/2008 Grupo LeYa/Oficina do Livro. Decisão de Não Oposição Da Autoridade da Concorrência

Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Ccent. 26/2009 SOLZAIMA / NEWCO. Decisão de Inaplicabilidade da Autoridade da Concorrência

Ccent. 06/2009 CLECE/SOPELME. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

AC I Ccent. 60/2008 Auto Industrial/Braz Heleno. Decisão de Não Oposição Da Autoridade da Concorrência

Ccent. 10/2010 Fundo Explorer II / Transportes Gonçalo. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Ccent. 36/2010 Bausch & Lomb/Negócio de Mióticos Injectáveis da Novartis. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Versão Pública. AC I Ccent.37/2008 LS CABLE / SUPERIOR ESSEX. Decisão de Não Oposição Da Autoridade da Concorrência

Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Versão Pública. DECISÃO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA Processo AC I 42/2006 AXA/FINANCIÈRE ELIOKEM e ELIOKEM, Inc I INTRODUÇÃO

Versão Pública. Ccent n. º 45/2008 CETELEM/COFINOGA. Decisão de Não Oposição Da Autoridade da Concorrência

Ccent. 16/2010 L OREAL / ESSIE COSMETICS. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Ccent. 49/2005 NESTLÉ WATERS / PEYROTEO & CARAVELA, LDA. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Ccent. 14/2012 CAMARGO CORRÊA / CIMPOR. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Ccent n.º 29/ RE Coatings (Riverside) / Kaul * Capol. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Sonae Investimentos / Mundo VIP

DECISÃO DE NÃO OPOSIÇÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA. Ccent. 09/2005 Espírito Santo Tourism (Europe)/ Espírito Santo Viagens INTRODUÇÃO

Versão Pública. DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA Ccent. 2/2006 AXA LBO III FCPR/AIXAM MEGA I INTRODUÇÃO

Versão Pública DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA Ccent. 18/2004 SECIL BRITAS/ CARCUBOS 1 I - INTRODUÇÃO

Versão Pública. Ccent. 67/2007 SAG GEST / ECOMETAIS. Decisão de Não Oposição Da Autoridade da Concorrência

Decisão da Autoridade da Concorrência* Processo AC- I - CCENT/15/ CCL INDUSTRIES (UK) / RAR / COLEP/CCL I. INTRODUÇÃO

Ccent. 75/2007 SUGAL / TOMGAL

Versão Pública. Ccent. n.º 58/2008 Fundo Explorer II/ Companhia das Sandes

Ccent. 60/2010 Verifone /Hypercom. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

AC I Ccent. 55/2008 3i/MÉMORA Decisão de Não Oposição Da Autoridade da Concorrência

Versão Pública. DECISÃO DE NÃO OPOSIÇÃO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA AC I Ccent. 12/2006 PINGO DOCE / SUPERMERCADO FEIRA ( Santa Comba Dão)

Versão Pública. AC I Ccent. 4/2009 CERUTIL / VISTA ALEGRE ATLANTIS. Decisão de Não Oposição Da Autoridade da Concorrência

Ccent. 57/2007 CAPIO / UNILABS. Decisão de Não Oposição Da Autoridade da Concorrência

Ccent. 48/2017 Ocidental / 3Shoppings*GuimarãeShopping*MaiaShopping. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA. Processo AC-I-49/2003 CSL Limited/Aventis Behring LLC

Ccent. 30/2012 JFL-DMH/Chemring Marine. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Decisão do Conselho da Autoridade da Concorrência CCENT. 26/2004 ENERSIS / FESPECT / RENEWABLE ENERGY SYSTEM I. INTRODUÇÃO

Ccent. 39/2015 Devro/PVI. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

DECISÃO DE NÃO OPOSIÇÃO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA. Processo AC I Ccent. 42/2007 METALGEST SLB SAD I INTRODUÇÃO

DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA Ccent. 4/2005 SACYR- VALLEHERMOSO, S.A-/FINERGE-GESTÃO DE PROJECTOS ENERGÉTICOS, S.

Versão Pública DECISÃO DE NÃO OPOSIÇÃO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA PROCESSO CCENT. Nº 14/ 2005 ENERSYS/ FIAMM / MOTIVE POWER BUSINESS 1

DECISÃO DE NÃO OPOSIÇÃO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA

Ccent. 15/2012 JOSÉ MELLO*ARCUS / BRISA. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Versão Pública DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA CCENT. 47/2004: FIMA/VG UNILEVER BESTFOODS PORTUGAL 1 I INTRODUÇÃO

VERSÃO PÚBLICA. DECISÃO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA Processo AC I Ccent. 15/2007 Itron/ Actaris I INTRODUÇÃO

Ccent 28/2009 Salvador Caetano Auto/Auto Partner*Auto Partner III

Ccent. 5/2010 Charon / Activos STAR. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Ccent. 3/2010 Murganheira/Raposeira*TC. Decisão de Inaplicabilidade da Autoridade da Concorrência

Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Ccent. 29/2011 FMC / RPC. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Versão pública. DECISÃO DE NÃO OPOSIÇÃO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA AC I Ccent. 74/2005 PINGO DOCE / POLISUPER ( Mem Martins) I INTRODUÇÃO

Ccent. 39/2011 TYCO/LPG. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência. [alínea b) do n.º 1 do artigo 35.º da Lei n.º 18/2003, de 11 de Junho]

DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA CCENT. 10/2005: ANGELINI/AVENTIS/ROUSSEL I INTRODUÇÃO

Versão Pública DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA CCENT. 03/2007: OPCA / ALELUIA I INTRODUÇÃO

Decisão do Conselho da Autoridade da Concorrência. PROCESSO AC-I-Ccent/41/2003-SAINT GOBAIN/GABELEX

Ccent. 57/2012 Metalsa / ISE. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Ccent. 34/2010 Grifolds/Talecris. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Ccent. 52/2010 IMPULSIONATIS*PAC*SILBEST/HOLQUADROS. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Ccent. 17/2017 Smartbox / Odisseias. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Versão Pública DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA. Processo AC - I - Ccent. 35/2004 GLOBAL NOTÍCIAS/NAVEPRINTER

Ccent. 25/2016 VALLIS / CASTELBEL. Decisão de Não Oposição da Autoridade da Concorrência

Decisão da Autoridade da Concorrência. Processo AC- I - CCENT/07/ DEUTSCHE BETEILIGUNGS, A.G./OTTO SAUER ACHSENFABRIK KEILBERG GMBH & CO, KG

Decisão de Inaplicabilidade da Autoridade da Concorrência

Transcrição:

DECISÃO DO CONSELHO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA CCENT. 08/2005: MONSANTO/SEMINIS I INTRODUÇÃO 1. Em 2 de Fevereiro de 2004, a Autoridade da Concorrência recebeu uma notificação relativa a um projecto de concentração, que consiste na aquisição do controlo exclusivo da empresa Seminis Inc. (doravante Seminis) pela empresa Monsanto Company (doravante Monsanto), através da fusão da Monsanto Sub Inc. (subsidiária, detida a 100% pela Monsanto, constituída para o efeito) com a Seminis. 2. A fusão ocorrerá nos Estados Unidos da América e na sequência da mesma a Seminis tornar-se-á uma subsidiária detida a 100% pela Monsanto. 3. A operação notificada é subsumível no conceito de concentração contido no artigo 8.º, n.º 1, alínea a), da Lei n.º 18/2003, de 11 de Junho, (doravante Lei da Concorrência). 4. A operação de concentração encontra-se sujeita à obrigatoriedade de notificação prévia, por preencher a condição prevista na alínea a), n.º 1.º do artigo 9.º da Lei da Concorrência. II AS PARTES 2.1 Empresa Notificante Monsanto MONSANTO 1

5. A notificante é uma sociedade americana, de Delaware, holding do grupo internacional do mesmo nome, com actividade na área da produção e venda de tratamentos para sementes e produtos de protecção às colheitas, tais como herbicidas e pesticidas. 6. A Monsanto detém 100% das participações sociais da empresa Monsanto Agricultura España, S.L., [confidencial]. Detém igualmente 100% das participações sociais da empresa Monsanto Produtos Químicos e Agrícolas, Sociedade Unipessoal, Lda., com sede em Portugal, [confidencial]. 7. A Monsanto realizou os seguintes volumes de negócios: Tabela 1: Volumes de negócios consolidados da Monsanto (milhões de ) 2002 2003 2004 Portugal <150 milhões <150 milhões <150 milhões EEE >150 milhões >150 milhões >150 milhões Mundial >150 milhões >150 milhões >150 milhões Fonte: Notificante. 2.2. Empresa adquirida SEMINIS. SEMINIS 8. A adquirida é um dos principais produtores mundiais de sementes de vegetais e frutas; em Portugal detém 100% das participações sociais da empresa Seminis Portugal Distribuição de Sementes e Representações, Sociedade Unipessoal, Lda. 2

9. Esta empresa, [confidencial], prestando serviços de assistência nas vendas e serviços de marketing para a Seminis Vegetables Seeds Ibérica, S.A subsidiária da empresa adquirida com sede em Espanha. 10. Em Portugal, as vendas e distribuição de produtos Seminis, são efectuadas pela subsidiária atrás identificada. 11. A Seminis realizou os seguintes volumes de negócios: Tabela 2: Volumes de negócios consolidados da Seminis (milhões de ) 2002 2003 2004 Portugal <150 milhões <150 milhões <150 milhões EEE <150 milhões <150 milhões <150 milhões Mundial >150 milhões >150 milhões >150 milhões Fonte: Notificante. III NATUREZA DA OPERAÇÃO 12. Conforme referido supra, a operação de concentração em causa consiste na aquisição do controlo exclusivo da Seminis pela Monsanto. 13. Para realizar a operação de concentração e subsequente aquisição do controlo exclusivo, a Monsanto criou a Monsanto Sub Inc. (subsidiária, detida a 100%), a qual será objecto de fusão com a Seminis. 14. Ou seja, em resultado da operação de fusão, que ocorrerá nos Estados Unidos da América, a Monsanto Sub será extinta e a sociedade sobrevivente, a Seminis, passará a ser detida a 100% pela Monsanto. 3

15. Em consequência, a Seminis conservará a sua identidade e em virtude da fusão passará a ser detida directamente pela Monsanto, permanecendo os dois grupos com a mesma estrutura. IV MERCADO RELEVANTE 4.1 Mercado do Produto Relevante 16. O mercado em causa é o da comercialização de sementes de vegetais e frutas, actividade que tanto a notificante como a empresa a adquirir desenvolvem [confidencial]. 17. Ora, conforme procura salientar a notificante, a procura de sementes faz-se em função do tipo de semente que se pretende e respectiva utilização. Assim, um agricultor que pretenda produzir determinado cereal, fruta ou vegetal irá adquirir uma semente adequada a essa necessidade (e.g., se pretende semear milho, não vai seguramente comprar sementes de melão). 18. Deste modo, os diferentes tipos de sementes de cereais, frutas e vegetais não são substituíveis entre si, representando por isso produtos distintos. Na verdade, tem sido este o entendimento das diversas autoridades nacionais e comunitárias, existindo abundante jurisprudência que o comprova. 1 1 Vejam-se, e.g., casos comunitários IV/M.556 Zeneca/Vanderhave, IV/M.737 Ciba Geigy/Sandoz, IV/M.1497 Novartis/Maïsadour, IV/M.1512 Dupont/Pioneer. 4

19. Assim, é pelo facto de estarmos perante produtos distintos, nalguns dos quais a Seminis detém quotas superiores a 30%, que a operação de concentração é notificável (nos termos da alínea a), do n.º 1, do artigo 9.º, da Lei da Concorrência), tratando-se, contudo, de uma mera transferência de quota para a adquirente Monsanto. 20. O exercício desta actividade abarca a criação das sementes, a sua produção e comercialização. 21. No caso em apreço, as empresas participantes apenas comercializam as sementes no mercado português. 22. Acresce que não existe sobreposição entre adquirente e adquirida face às sementes comercializadas, na exacta medida em que a Monsanto comercializa essencialmente, em Portugal, sementes de milho (com [...] de quota) e girassol (com [...] de quota). 23. Por seu lado, a Seminis comercializa sementes de vegetais e fruta, num universo indicado na notificação de, pelo menos, 24 tipos de semente, indicando-se na seguinte tabela aquelas cuja quota excede os 30%. Tabela 3: quotas de mercado da Seminis, para o ano de 2004, em Portugal, superiores a 30%. Seminis Quotas de mercado Melancia [55 a 65 %] Ervilha (processada) [55 a 65 %] Feijão [30 a 40%] Tomate fresco [30 a 40%] Brócolos [30 a 40%] Abóbora [30 a 40%] Fonte: notificante. 5

24. Salienta-se que, de acordo com a notificação, as vendas da Seminis, em Portugal e relativas a 2004, representaram [10-20%] das vendas globais de sementes de vegetais e frutas, sendo líder do sector. 25. Contudo, importa referir que a presença da Seminis é muito diferenciada, em cada um dos mercados de cada tipo de semente, pois que de acordo com elementos disponibilizados pela notificante, para além dos seis tipos de sementes identificados, a Seminis tanto apresenta quotas com valores entre 0% e 5% (e.g. espargos, couve, pepino, alho francês, cenoura, aipo e alface), como entre 15% e 25% (e.g. couve-flor, rabanete, pimento e milho doce). 26. Este facto corrobora a definição adoptada para o mercado de produto relevante em que cada tipo de semente é um produto distinto. 27. Atenta a segmentação proposta, a operação tem carácter conglomeral, na medida em que não há sobreposição nos diversos tipos de sementes. 28. Não poderemos olvidar que a presente operação apenas analisa a comercialização de sementes em Portugal. Neste sentido, pode-se afirmar existir uma elevada substituibilidade do lado da oferta, na medida em que quem vende um tipo de semente, vende qualquer outro, ao mesmo tempo que, agora na perspectiva da procura, o consumidor de um tipo de semente poderá comprar vários tipos de sementes. 29. Deste modo, poder-se-ia aceitar uma definição mais lata do mercado da comercialização das sementes de vegetais e fruta, sem necessidade de segmentações mais estreitas, porquanto não se perspectivam problemas de natureza concorrencial. 6

30. Todavia, e atento o preenchimento do limiar da quota estabelecido na Lei da Concorrência (artigo 9.º, n.º1, alínea a)), em seis tipos de semente claramente identificados na presente operação, deve aceitar-se o entendimento que vem sendo proposto pela jurisprudência comunitária de que se tratam de produtos que, na perspectiva da procura, não são substituíveis entre si, devendo, portanto, ser analisados separadamente. 31. De todo o exposto, conclui-se que a análise desenvolvida em sede de instrução do procedimento, para efeitos de apreciação concorrencial da presente operação de concentração, permite definir como mercados do produto relevante a comercialização das sementes de abóbora, de melancia, de feijão, de tomate fresco, de ervilha (processada) e de brócolos. Mercado geográfico relevante 32. A notificante considera o mercado geográfico relevante como correspondendo ao território nacional. 33. Esta posição apoia-se no entendimento de que as necessidades da procura variam em função do Estado-Membro onde se inserem. Para além de necessidades diferentes, os preços e condições de fornecimento ao consumidor final são igualmente distintos consoante o país. A isto acrescem as necessidades específicas dos solos e do clima de cada país. Ainda a corroborar uma definição de cariz nacional, temos a sujeição da comercialização de sementes a um processo de registo e controlo de qualidade, que é distinto consoante o país em causa. 7

34. Deste modo conclui-se, na esteira de decisões comunitárias anteriores 2, que o mercado geográfico relevante tem carácter nacional. V AVALIAÇÃO CONCORRENCIAL 35. De acordo com as características dos mercados relevantes identificados supra, e atentos os produtos comercializados pelas empresas em causa, pode-se afirmar que a operação de concentração tem natureza conglomeral, na exacta medida em que não há sobreposição nos vários mercados de sementes. 36. Importa salientar que nenhuma das empresas comercializa os seus produtos directamente em Portugal, os quais são antes importados por cooperativas de agricultores ou empresas distribuidoras de sementes [confidencial]. 37. Deste modo, há uma mera transferência da quota de mercado imputável à Seminis para a Monsanto, mantendo-se a estrutura de mercado inalterada. 38. A Monsanto, no que se refere a Portugal, apenas comercializa sementes de milho e girassol, mercados que se apresentam concentrados, nele operando apenas sete e seis empresas, respectivamente. A Monsanto, em ambos os segmentos, ocupa a segunda posição, detendo aproximadamente metade da quota das primeiras (Pioneer e Syngenta, respectivamente), conforme se pode observar na tabela seguinte. Tabela 4: quotas de mercado da Monsanto, e concorrentes, para o ano de 2004, em Portugal. 2 Põe exemplo, decisão da Comissão de 20 de Agosto de 2004, proferida no processo COMP/M.3506 Fox Paine/Advanta; 8

Milho Girassol Monsanto [ ] [ ] Pioneer [ ] [ ] KWS [ ] -- Limagrain [ ] -- Syngenta [ ] [ ] Arlesa (Rústica) [ ] [ ] Koipesol Holden -- [ ] Harvest Advanta -- [ ] Total 100% 100% Fonte: Notificante 39. Já a Seminis detém quotas de mercado superiores a 30% em seis tipos de sementes. Estes mercados são caracterizados pela coexistência de várias empresas, que possuem igualmente quotas de não despicienda importância, conforme se pode observar na tabela seguinte. Tabela 5: Quotas de mercado da Seminis e cinco maiores concorrentes, para o ano de 2004, em Portugal. Quotas de mercado Melancia Ervilha Feijão Tomate Brócolos Abóbora (processada) fresco Seminis [60-70%] [60-70%] [30-40%] [30-40%] [30-40%] [30-40%] Sakata Seed - - - - [40-50%] - Syngenta [10-20%] [20-30%] - [10-20%] - - Nunhens - [0-10%] [20-30%] - - - Clause - - - - - [30-40%] Intersemilhas [10-20%] - -- - [10-20%] - Rijk Zwaan [0-10%] - [30-40%] [0-10%] - - De Ruiter - - [0-10%] [20-30%] - - Filo - - - - - [10-20%] Gaulier - [0-10%] 9

Danisco [0-10%] - - - - - Seeds Enza - - - [10-20%] - - Western - - - [0-10%] - - Outros [0-10%] - [0-10%] [0-10%] [0-10%] [10-20%] TOTAL 100% 100% 100% 100% 100% 100% Fonte: notificante. 40. Da análise da estrutura da oferta (nos mercados em que actua a adquirida) infere-se que, apenas para estes seis tipos de sementes num universo de pelo menos duas dezenas de sementes, a Seminis ocupa uma posição cimeira com excepção para o segmento dos Brócolos. 41. Ora conforme referido ponto 25, a Seminis apenas detém quotas superiores a 30% em seis tipos de semente, apresentando ao invés quotas inferiores a 5% em pelo menos oito tipos de semente, mercados nos quais os líderes são as suas concorrentes. 42. A isto acresce, como salienta a notificante, a inexistência de barreiras significativas à entrada. No que respeita à produção de sementes, poder-se-á referir que existe a necessidade de investimento em I&D, porquanto se afigura necessário numa perspectiva concorrencial a criação de novas sementes pelas empresas produtoras, para assim responderem à procura, o que poderá traduzir-se numa barreira à entrada, sendo certo, porém, afirmam as Partes, que o tempo de desenvolvimento de novas sementes tem vindo a ser cada vez mais encurtado. 43. Contudo, a operação em apreço apenas incide no mercado da comercialização das referidas sementes, para o qual não existe senão uma obrigatoriedade de registo no país em causa e sujeição aos controlos de qualidade em vigor. Deste modo se infere que não existem barreiras significativas à entrada para a comercialização de sementes. 10

44. De todo o exposto resulta que: a) o mercado do produto relevante define-se em função do tipo de semente; b) a adquirida tem uma quota superior a 30% em apenas seis tipos de sementes, num universo de quase 3 dezenas; c) nos restantes tipos de sementes os líderes de mercado são as empresas concorrentes; d) não existem barreiras significativas à entrada; e) não existe sobreposição entre actividade da adquirente e da adquirida, tratando-se de uma mera transferência de quota. 45. Assim, conclui-se que a operação de concentração em causa não é susceptível de conduzir à criação ou reforço de uma posição dominante, da qual possam resultar entraves significativos à concorrência nos mercados dos produtos relevante considerados, no território nacional. VI AUDIÊNCIA DE INTERESSADOS 46. Nos termos do n.º 2 do artigo 38.º da Lei n.º 18/2003, de 11 de Junho, foi dispensada a audição prévia dos autores da notificação, dada a ausência de contra-interessados e uma vez que a presente decisão é de não oposição. VII CONCLUSÃO 47. Face ao exposto, o Conselho da Autoridade da Concorrência, no uso da competência que lhe é conferida pela alínea b) do n.º 1, do artigo 17.º dos Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 10/2003, de 18 de Janeiro, delibera, nos termos da alínea b) do n.º 1 do artigo 35.º da Lei n.º 18/2003, de 11 de Junho, não se opor à presente operação de 11

concentração, uma vez que a mesma não é susceptível de criar ou reforçar uma posição dominante da qual possam resultar entraves significativos à concorrência efectiva nos mercados relevantes da comercialização de sementes de abóbora, de melancia, de feijão, de tomate fresco, de ervilha (processada) e de brócolos, no território nacional. Lisboa, 8 de Março de 2005 O Conselho da Autoridade da Concorrência Prof. Doutor Abel Mateus (Presidente) Eng. Eduardo Lopes Rodrigues (Vogal) Dra. Teresa Moreira (Vogal) 12