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Transcrição:

Conclusões André Azevedo da Fonseca SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros FONSECA, AA. A construção do mito Mário Palmério: um estudo sobre a ascensão social e política do autor de Vila dos Confins [online]. São Paulo: Editora UNESP, 2012. Conclusões. pp. 285-291. ISBN 978-85-393-0268-0. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

Conclusões Nas três primeiras décadas do século XX a maioria das cidades do Triângulo Mineiro era pequena, de aspecto sertanejo, escassa população que, em sua maioria, residia no campo, parcos recursos econômicos e irrelevante significado político no conjunto do estado de Minas Gerais. Por esse tempo, no Brasil, estavam em curso processos de civilização, impregnados dos valores liberais, que pareciam querer materializar o lema da bandeira nacional ordem e progresso vistos em diversos projetos de urbanização e higienização, na positivação do trabalho, no incentivo à industrialização e outros espalhados em diversas partes do país. Nas terras do cerrado mineiro, diferentes grupos sociais, cada um à sua maneira, apropriaram-se das ideias vinculadas à modernização e civilização, lutando por validar suas concepções e seus projetos como dominantes. (Dantas, 2009, p.188)

286 André Azevedo da Fonseca Neste livro, procuramos compreender a ascensão profissional, social e política de Mário Palmério, observando os procedimentos simbólicos que esse personagem empreendeu para teatralizar um papel social, conquistar distinção pública, legitimar-se como portador de aspirações populares e consagrar-se como um verdadeiro mito político no cenário regional. Com isso, procuramos também identificar os modos pelos quais as elites de Uberaba e do Triângulo Mineiro exerciam o seu poder simbólico para angariar prestígio, obter legitimidade política e circunscrever os símbolos de poder no imaginário local. Além disso, analisamos as condições histórico-culturais que favoreceram o surgimento de uma mitologia política no Triângulo Mineiro, no contexto das eleições de 1950. Como ensina Remond (2003, p.40), uma eleição é um indicador interessante do espírito público de determinada sociedade, assim como da opinião pública e de seus movimentos. Desse modo, o interesse historiográfico nas eleições não se restringe apenas à análise dos resultados finais, interessa-nos também o estudo das correntes e tendências, ou melhor, dos temperamentos políticos que se expressam com toda intensidade também nas campanhas eleitorais. Nessa perspectiva, a consagradora eleição de Mário Palmério e os fatores que sustentaram a sua bem-sucedida trajetória profissional, social e política inspiram hipóteses explicativas mais amplas sobre crenças, valores e anseios mais prementes da massa de eleitores de Uberaba e do Triângulo Mineiro naquele início da década de 1950. Neste estudo, vimos que, a partir da primeira metade dos anos 1940, as elites de Uberaba começaram a se empenhar de modo categórico para superar o longo período de retrocesso urbano iniciado no final do século XIX. Se até então aquela comunidade girava quase que exclusivamente em torno da economia rural, os novos tempos indicavam o renascimento da área urbana e, consequentemente, de uma série de valores ligados à vida social na cidade. Naquele período, Uberaba já havia perdido grande parte de sua importância econômica, apesar de ainda se manter como o centro urbano mais influente da região (Dantas, 2009, p.188). Conscientes dessa decadência, os discursos grandiloquentes em nome da civilização ficaram ainda mais frequentes,

A construção do mito Mário Palmério 287 assim como o imaginário de supervalorização do papel daquela cidade no cenário do interior brasileiro. Empenhadas em conferir legitimidade à sua liderança, as oligarquias buscaram projetar uma autoimagem superestimada de si mesmas, lançando mão da imprensa para encenar todo um ideal de prestígio, elegância, cultura e espírito altruísta. Esse imaginário era retroalimentado por meio de um círculo de elogios recíprocos na imprensa, que, por sua vez, circunscrevia a visibilidade social e as possibilidades de participação política a um grupo bastante restrito de indivíduos. Assim, Mário Palmério aprendeu a transitar com muita desenvoltura na sociedade e, assentado em uma bem-sucedida trajetória profissional, atuou conscientemente para encenar um papel admirável perante grupos de status, conquistando visibilidade privilegiada no cenário regional. Naquele período da história do país, tendo em vista o processo de urbanização e de consequente aquecimento na demanda por qualificação de mão de obra, as famílias passaram a valorizar os ensinos primário e secundário, assim como o profissionalizante e universitário o que acabou por estimular uma sensível expansão das escolas no decorrer da segunda metade dos anos 1940. Desse modo, naquela pequena cidade empobrecida que passara a sonhar de modo tão exultante com os ideais de civilização e cultura, a escola passou a ser interpretada como uma espécie de matriz que pudesse conceber, por meio da instrução das crianças, o projeto embrionário desse futuro superestimado. Não é surpreendente, portanto, que as instituições de ensino passassem a ser representadas por meio de um vocabulário repleto de referências sagradas e prodigiosas. Nesse contexto, aquele moço que vinha se dedicando, havia vários anos, ao magistério secundário, que começara com uma sala de aula para instrução de adultos e, em poucos anos, erguera um conjunto de edifícios suntuosos para abrigar o seu colégio e a sua faculdade foi rapidamente associado aos valores sacerdotais que se atribuíam aos empreendedores da educação na época. Essa impressão seria potencializada pelos louvores endereçados a Mário Palmério na imprensa e também pela intensa propaganda empreendida conscientemente

288 André Azevedo da Fonseca pelo próprio professor. Com tudo isso, procuramos evidenciar que a linguagem empolada empregada nos jornais os chamados nariz de cera, na terminologia jornalística não se tratava de um mero e inofensivo maneirismo de época, mas correspondia a uma intenção, consciente ou inconsciente, de exercer o poder simbólico. No contexto da profunda perplexidade que a guerra mundial havia registrado no espírito da época, as crises social, econômica, política e identitária que perturbaram o cotidiano da região no pós-guerra fermentaram uma série de inquietações que se constituiriam em um campo fértil para a efervescência de mitologias políticas. Por tudo isso, ao invocar o poder das forças históricas em nome da união de seu povo, ao apontar com firmeza o caminho certo e seguro para a superação das crises, e ao anunciar com entusiasmo e convicção a iminente conquista da civilização, da cultura e da prosperidade em sua região, o herói salvador encenado de modo espetacular pelo socialmente consagrado Mário Palmério correspondeu à angústia dos eleitores por um signo de modernidade capaz de suplantar o monopólio da economia agrária que, naquele momento, parecia definitivamente condenada ao fracasso. Em outras palavras, era como se Palmério surgisse como o filho da terra que, carregado de dons proféticos advindos de seu espírito ilustrado e empreendedor, parecia designado pelo destino para vencer as forças do atraso e conduzir o povo do Triângulo Mineiro à terra prometida da modernidade. Novato na política mas ao mesmo tempo membro de família prestigiada, figura destacada nos grupos de status e simultaneamente representante dos ideais trabalhistas, esse homem que transitava com desenvoltura entre as elites econômicas, políticas e ilustradas do Triângulo Mineiro compreendeu as aspirações de seu tempo e atuou conscientemente no sentido de mobilizar os circuitos de opinião das elites em torno de seu nome e promover uma autopropaganda intensiva para afirmar a vinculação de sua figura com valores, crenças e aspirações profundos da cultura de sua comunidade. A votação expressiva que obteve em todo o Triângulo Mineiro é um dos indícios mais evidentes da ressonância dessa representação no imaginário regional.

A construção do mito Mário Palmério 289 Em seu primeiro mandato, Mário Palmério empenhou-se para corresponder às expectativas em relação à sua atuação. Na Câmara Federal, foi vice-presidente da Comissão de Educação e Cultura durante todo o primeiro mandato (1950-1954). Já em 1951, ele fundaria a sua Faculdade de Direito, em Uberaba. Em 1954, foi um dos responsáveis pela implantação da Faculdade de Medicina do Triangulo Mineiro (FMTM), a atual Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Palmério também liderou o grupo político que por anos defendeu a separação da região do Triângulo do Estado de Minas Gerais, fundamentando a retórica emancipacionista em considerações políticas, econômicas, históricas, geográficas e culturais. Toda essa atuação fez com que ele fosse facilmente reeleito em 1954, com 18.854 votos (Tribunal Superior Eleitoral, s. d., p.150), integrando, no seu segundo mandato, a Comissão de Orçamento e a Mesa da Câmara. Em 1955, Mário Palmério estudou na Escola Superior de Guerra, onde consolidou suas ideias políticas em defesa da interiorização do desenvolvimento, expressa na sua monografia de conclusão de curso: O núcleo central brasileiro (Região Centro-Oeste). Em dezembro de 1955, o deputado Mário Palmério já anunciava os preparativos para a criação de mais uma faculdade privada: a Escola de Engenharia, que de fato viria a ser autorizada em 1956. Mas, nesse período, a sua imagem já não era unanimidade no Triângulo Mineiro. Por exemplo, notamos no Correio de Uberlândia (20.12.1955, p.1), ligado à UDN, a expressão de um ressentimento que buscava deslegitimar o apoio regional ao petebista: Uberaba, indiscutivelmente, é a cidade que possui o maior número de escolas superiores no Triângulo Mineiro, pelo fato de as outras cidades não possuírem nenhuma. [...] Com certeza os uberlandenses estão lembrados de um moço simpático, bem falante, acessível que há uns três ou quatro anos andou por aqui falando para todo mundo que mandaria para nós uma faculdade de medicina e com isto conseguindo um ótimo contingente de votos que o levou facilmente ao Palácio Tiradentes. Pois este moço que nos prometeu faculdade de medicina em praça pública é o mesmo que a obteve para nossa vizinha e centenária Uberaba. Seu nome é Mário Palmério. Que ninguém esqueça dele.

290 André Azevedo da Fonseca Em 1956, com o lançamento de Vila dos Confins, Palmério alcançaria o auge da celebridade. Contudo, como observou Oliveira (1993), o sentimento anti-mário Palmério em Uberlândia parece ter ficado ainda mais áspero no decorrer dos anos. Em pleno período de campanha eleitoral, o Correio de Uberlândia (14.9.1958, p.8) publicou um editorial ainda mais furioso: De novo contra nós. Inimigo público n º 1 de Uberlândia tenta caçar votos na cidade. O jovem professor que fora bem votado em Uberlândia na campanha de 1950, justamente pelas promessas de conseguir escolas superiores para a cidade, passou a ser visto como inimigo dos uberlandenses, na medida em que todos os benefícios eram encaminhados apenas para Uberaba: Não ficou só neste engano a ação antiuberlandense de Mário Palmério. Não se contentou ele em mentir e tirar daqui as escolas superiores. Foi mais além, o SAMDU já conseguido para Uberlândia, foi para Uberaba e lá se encontra instalado, graças às suas maquinações no Rio de Janeiro. Agora, depois de tudo isso, jornais uberlandenses vêm estampando noticiário de que Mário Palmério pretende estender a Uberlândia suas escolas superiores. Mas como? Se ele, o inimigo público nº 1 da cidade Jardim já prometeu isso uma vez e não cumpriu, se ele já nos tomou o SAMDU, melhoramento já autorizado para Uberlândia e o levou para Uberaba? Os uberlandenses têm boa memória. Não esquecerão facilmente os malefícios que Mário Palmério nos causou. [...] Inimigo público nº 1 da cidade terá a resposta que merece, pois nós não iremos mais na guitarra das escolas superiores que ele, malandro velho, tentará nos impingir. Ainda assim, em 1958 Mário Palmério elegeu-se novamente à Câmara Federal com a sua maior votação 30.115 votos (Tribunal Superior Eleitoral, 1966, p.236), mas iniciou um rápido processo de esgotamento político, de modo que o seu terceiro mandato foi marcado por uma produtividade inexpressiva. Sua carreira parlamentar encerrou-se quando, em setembro de 1962, foi nomeado por João Goulart para o cargo de embaixador do Brasil no Paraguai. Palmério assumiu em outubro daquele ano e só deixou o posto no golpe de 1964. Desiludido com a política no regime militar, Mário Palmério isolou-se em sua fazenda no Mato Grosso e escreveu Chapadão do Bugre,

A construção do mito Mário Palmério 291 o seu segundo romance, lançado em 1965. A obra obteve grande êxito de crítica e de público, de modo que, em 1968, o autor foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de Guimarães Rosa. Com toda essa consagração literária, Mário Palmério decidiu voltar à política em 1970, concorrendo à prefeitura de Uberaba. Contudo, sua candidatura foi um fracasso e ele perdeu as eleições, ficando em terceiro lugar, com 6.001 votos (ibidem, 1970). Os tempos eram outros, a sociedade havia passado por inúmeras transformações, e novos atores políticos correspondiam melhor às aspirações daquela sociedade. Talvez sem que ele tivesse se dado conta, aquela fabulosa mitologia política que o sacralizara vinte anos atrás já havia desmoronado.