ESTUDO DA ETNOTAXONOMIA DE PEIXES NA BACIA DO RIO PIRANHAS NO ALTO SERTÃO PARAIBANO

Documentos relacionados
ANÁLISE DA REDUÇÃO DO ESPELHO D ÁGUA DOS RESERVATÓRIOS DO MUNICÍPIO DE PARELHAS/RN

SECA PROLONGADA X TRANSPOSIÇÃO: PERCEPÇÃO E DESAFIOS DOS PESCADORES DO SEMIÁRIDO PARAIBANO

ANÁLISE DOS INDICES PLUVIÓMETRICOS NO RESERVATÓRIO HIDRICO NO SEMIÁRIDO

EFEITO DO DESMATAMENTO NA DIVERSIDADE DE RÉPTEIS NUMA ÁREA DE CAATINGA NO MUNICÍPIO DE LAJES, RN, BRASIL

JANICARLA LINS DE SOUSA

RELATÓRIO DE MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA NA ÁREA DA UHE MAUÁ

ABUNDÂNCIA RELATIVA DE Auchenipterus nuchalis DO RESERVATÓRIO COARACY NUNES

ANÁLISE TEMPORAL DO REGIME PLUVIOMÉTRICO NO MUNICÍPIO DE CATOLÉ DO ROCHA-PB

PRODUTIVIDADE DAS COLMEIAS DE

DIAGNÓSTICO DA UTILIZAÇÃO DE CISTERNAS PARA ARMAZENAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS NO SERTÃO PARAIBANO

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ESPINHARAS-PB

UTILIZAÇÃO DO SIG PARA ELABORAÇÃO DE MAPAS DA BACIA DO SERIDÓ E DO PERIMETRO IRRIGADO DE SÃO GONÇALO.

MALPIGHIACEAE EM UMA ÁREA DE CAATINGA NA MESORREGIÃO DO SERTÃO PARAIBANO

ESTUDO DO ENCHIMENTO DE UM RESERVATÓRIO NO ALTO SERTÃO PARAIBANO

Região Nordestina. Cap. 9

EFEITO DO PASTOREIO E DO DESMATAMENTO NA DIVERSIDADE DE RÉPTEIS EM ÁREAS DE CAATINGA DO SERIDÓ POTIGUAR, RN, BRASIL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO PROCESSO SELETIVO 2012.

Eixo Temático ET Recursos Hídricos CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DA MICROBACIA DO RIACHO DAS COBRAS, SANTO ANDRÉ-PB E GURJÃO-PB

MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE À DESERTIFICAÇÃO DAS TERRAS DA BACIA DO TAPEROÁ-PB

Eixo Temático ET Recursos Hídricos

CONSTATAÇÃO DA VARIAÇÃO PLUVIOMÉTRICA DO MUNICÍPIO DE SOUSA/PB: A PARTIR DA SÉRIE HISTÓRICA DE 1914 Á 2015

ESTRUTURA GEOLÓGICA,RELEVO E HIDROGRAFIA

CARACTERIZAÇÃO BIOMÉTRICA DOS FRUTOS E SEMENTES DA Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz

REGIÃO NORDESTE 3 BIMESTRE PROFA. GABRIELA COUTO

COMPARAÇÃO DE ÍNDICES PLUVIOMÉTRICOS: ESTUDO DE CASO ENTRE ANOS SECOS E CHUVOSOS NO MUNICÍPIO DE POMBAL PB

VARIABILIDADE ESPACIAL DE PRECIPITAÇÕES NO MUNICÍPIO DE CARUARU PE, BRASIL.

PREVISIBILIDADE DAS CHUVAS NAS CIDADES PARAIBANAS DE CAJAZEIRAS, POMBAL E SÃO JOSÉ DE PIRANHAS

DADOS PRELIMINARES DO LEVANTAMENTO DA ICTIOFAUNA DO PLANALTO DE POÇOS DE CALDAS

PLANEJAMENTO DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA A PARTIR DE UM TELHADO DE 75 M2 NO MUNICIPIO DE AREIA

APLICAÇÃO DO MÉTODO DIRETO VOLUMÉTRICO PARA MENSURAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DA VAZÃO DE NASCENTE NA SERRA DA CAIÇARA, NO MUNICÍPIO DE MARAVILHA, ALAGOAS

FLUTUAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EM ALAGOA NOVA, PARAÍBA, EM ANOS DE EL NIÑO

POTENCIALIDADES E RIQUEZAS NATURAIS DO SEMIÁRIDO: A SERRA DE SANTA CATARINA COMO ÁREA DE EXCESSÃO

ANÁLISE DA VARIAÇÃO PLUVIOMÉTRICA DO MUNICÍPIO DE CAJAZEIRINHAS PB A PARTIR DE SÉRIES HISTÓRICAS

A PROBLEMÁTICA DA SEMIARIDEZ NO SERTÃO PARAIBANO

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RESERVATÓRIO BANANEIRAS, ALEXANDRIA /RN

ANÁLISE DA PLUVIOMETRIA NO MUNICÍPIO DE AREIA- PB: I- ESTUDO DO INÍCIO DURAÇÃO E TÉRMINO DA ESTAÇÃO CHUVOSA E OCORRÊNCIA DE VERANICOS RESUMO

TÍTULO: INFLUÊNCIA DA PCH LUIZ DIAS SOBRE A COMPOSIÇÃO DA ICTIOFAUNA NO RIO LOURENÇO VELHO, MG

PERCEPÇÃO DO BIOMA CAATINGA DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA ESTADUAL PROFESSOR JOSÉ GOMES ALVES, PATOS PB

ANÁLISE TEMPORAL DO ESPELHO D ÁGUA DO AÇUDE ENGENHEIRO ÁVIDOS (PB) USANDO IMAGENS DE SATÉLITE

COMPOSIÇÃO DA ICTIOFAUNA PRESENTES EM UM RESERVATÓRIO DO SEMIÁRIDO POTIGUAR ANTES DA TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO.

Registro de Phrynops williamsi no rio do Chapecó, Oeste de Santa Catarina, Brasil

Programa Analítico de Disciplina ENF389 Manejo de Fauna Silvestre

GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

RELATÓRIO DE MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA NA ÁREA DA UHE MAUÁ

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DAS RESERVAS DE ÁGUA DE CHUVA NO MUNICIPIO DE AGUIAR NA PARAÍBA

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA TEMPERATURA DO AR E QUALIDADE DO GRÃO DE CAFÉ NO MACIÇO DE BATURITÉ

ASPECTOS DA BIOLOGIA POPULACIONAL DO TUCUNARÉ (Cichla piquiti) NO RESERVATÓRIO DE LAJEADO, RIO TOCANTINS

MONITORAMENTO DOS TEORES DE SAIS NO AÇUDE SOLEDADE.

Adriana da Silva Santos 1 ; Francisco Marto de Souza 2 ; Fernanda Silva de Souza 3 ; Ellen Caroline Santos Lima 4 ; Camile Dutra Lourenço Gomes 5

ESTUDO SOBRE MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO DE VAZÃO ECOLÓGICA PARA O GERENCIAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MARACAÇUMÉ

ESTUDO DA PRECIPITAÇÃO EM CATOLÉ DO ROCHA-PB UTILIZANDO A TEORIA DA ENTROPIA

Localização da bacia e aspectos políticos

O USO DE BARRAGENS SUBTERRÂNEAS PARA GESTÃO HÍDICA NO SEMIÁRIDO

Introdução a Ciência Hidrológica

ESTRATÉGIAS DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO: UM CASO PARTICULAR

Importância do Monitoramento de Ictiofauna no processo de Licenciamento de empreendimentos Hidrelétricos

A PRESERVAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS E A AMEAÇA DA DESSERTIFICAÇÃO DO SEMIÁRIDO NORDESTINO

ANÁLISE DE SÉRIE HISTÓRICA DE PRECIPITAÇÃO. ESTUDO DE CASO: PRINCESA ISABEL PB

MONITORAMENTO AMBIENTAL: A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO TRÓPICO SEMI-ARIDO DO NORDESTE BRASILEIRO

Empresa Júnior de Consultoria Florestal ECOFLOR Brasília/DF Tel: (61)

CACTACEAE JUSS. DE UMA MESORREGIÃO DO SERTÃO PARAIBANO, NORDESTE DO BRASIL

RECURSOS HÍDRICOS. José Almir Cirilo Alfredo Ribeiro

INFLUÊNCIA CLIMÁTICA NA PRODUÇÃO DE MILHO (Zea mays l.) NO MUNICÍPIO DE SUMÉ-PB

A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO E A DESERTIFICAÇÃO NO MUNICÍPIO DE MONTEIRO PB

Núcleo de Recursos Renovaveis IO- FURG

EVOLUÇÃO DO VOLUME ARMAZENADO NOS ÚLTIMOS 10 ANOS NO AÇUDE FELISMINA QUEIROZ NO MUNICÍPIO DE SÃO VICENTE DO SERIDÓ PB.

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

LISTA DE EXERCÍCIOS 2º ANO

O ESTUDO DAS PLANTAS MEDICINAIS COMO FERRAMENTA PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONHECIMENTO DE MORADORES DE UMA ZONA URBANA, DE CAMPINA GRANDE-PB

Relevo brasileiro GEOGRAFIA 5º ANO FONTE: IBGE

ANÁLISE DA VARIAÇÃO PLUVIOMÉTRICA DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS PB: SÉRIE HISTÓRICA DE 1911 À 2016

Campina Grande, 2015.

ANÁLISE TEMPORAL DO REGIME FLUVIOMÉTRICO DO RIO PIANCÓ AO LONGO DE 41 ANOS: ESTUDO DE CASO DA ESTAÇÃO PAU FERRADO

ESTIMATIVA DO POTENCIAL DE CAPTAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS NO CAMPUS DA UFCG EM POMBAL PB

Sobrevivência e Crescimento Inicial de Jurema-Preta (Mimosa tenuiflora) em Plantios Homogêneos

ICTIOFAUNA DO RIACHO DO JAPIRA, BACIA DO TIBAGI, LOCALIZADO NO MUNICÍPIO DE APUCARANA-PR

Sustentabilidade e uso de água: a Paraíba no contexto da discussão

Analise da variabilidade espaço-temporal da evapotranspiração na bacia hidrográfica de São João do Rio do Peixe, Estado da Paraíba

CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA EM REGIÕES DE GRANDE VARIABILIDADE INTERANUAL E INTERDECADAL DE PRECIPITAÇÃO

Aula 07 Os Sertões Brasileiros Caatinga (floresta branca) Savana Estépica

BANCO DE QUESTÕES - GEOGRAFIA - 7º ANO - ENSINO FUNDAMENTAL

Eixo Temático ET Recursos Hídricos ANÁLISE DO ESPELHO D ÁGUA DO AÇUDE ACAUÃ: ARGEMIRO FIGUEIREDO - PB, USANDO IMAGENS DE SATÉLITE

ANÁLISE DE CONTEÚDO SOBRE O BIOMA CAATINGA EM LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO. Apresentação: Pôster

OSCILAÇÕES PLUVIOMÉTRICAS DO MUNICÍPIO DE EXU, PE- BRASIL

Manejo pesqueiro: compromisso ético com conservação

ALIMENTAÇÃO DE DUAS ESPÉCIES DE PEIXES DO CÓRREGO ITIZ, MARIALVA, PARANÁ

Hidrologia Bacias hidrográficas

Registro de Visitantes Florais de Anadenanthera colubrina (VELL.) Brenan Leguminosae), em Petrolina, PE

BIOLOGIA. Ecologia e ciências ambientais. Níveis de organização da vida. Professor: Alex Santos

ANÁLISE ESTATÍSTICA PARA IDENTIFICAÇÃO DE TENDÊNCIAS NO REGIME DE CHUVAS PARA O AGRESTE MERIDIONAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO

ANÁLISE DOS DADOS PLUVIOMÉTRICOS DO ÚLTIMO ANO ASSOCIADOS À SITUAÇÃO ATUAL DOS RESERVATÓRIOS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

BIOMAS. Os biomas brasileiros caracterizam-se, no geral, por uma grande diversidade de animais e vegetais (biodiversidade).

Migração e reprodução de Prochilodus costatus no alto rio São Francisco. Como conservar esta população se barragens forem instaladas?

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Edson Vidal Prof. Manejo de Florestas Tropicais ESALQ/USP

CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO SÃO PEDRO, JEQUITINHONHA/MG Aline J. Freire 1, Cristiano Christofaro 2

Agua Subterrânea no Semiárido Nordestino

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DAS CHUVAS NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE, REGIÃO AGRESTE DA PARAÍBA

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE DA ÁGUA BRUTA E TRATADA DO AÇUDE SUMÉ, ATRAVÉS DE PARÂMETROS QUÍMICOS.

Transcrição:

ESTUDO DA ETNOTAXONOMIA DE PEIXES NA BACIA DO RIO PIRANHAS NO ALTO SERTÃO PARAIBANO Janicarla Lins de Sousa; Kamila Cristina Lins; Veralucia Santos Barbosa Universidade Federal de Campina Grande jannecarlalins@hotmail.com Resumo: A etnoictiologia é uma subárea da etnozoologia que busca resgatar as formas de interações entre o homem e os peixes e a etnotaxonomia ocorre quando estes nomeiam as espécies a partir de conhecimentos adquiridos no seu cotidiano, favorecendo conhecer os aspectos ecológicos, morfológicos e comportamentais das espécies existentes na região. O objetivo deste trabalho consistiu em buscar dados para a compreensão dos conhecimentos voltados para a nomenclatura popular e o dos peixes encontrados na bacia do Rio Piranhas no Alto Sertão paraibano. As informações foram obtidas através de entrevistas semiestruturadas abordando a taxonomia folk e os aspectos econômicos das espécies existentes na região, posteriormente alguns espécimes citados foram coletados para identificação. Dentre as etnoespécies citadas e coletadas foram identificadas 15 espécies, pertencentes a três ordens e sete famílias. Os conhecimentos dos pescadores relacionados à etnotaxonomia foram compatíveis com a literatura em alguns aspectos, porém, foi perceptível a ausência de informações para algumas espécies de peixes. Dessa forma, ressalta-se a importância de novos estudos com enfoque na diversidade e ecologia das espécies encontradas na região, buscando favorecer a conservação das espécies de peixes, e uma melhor interação entre homem e ecossistema aquático. Palavras - chaves: Etnoespécies; Diversidade; Pescadores; Conservação Introdução Um aspecto fundamental nos estudos ictiológicos é a nomenclatura popular, estando relacionada com a morfologia, hábitos e comportamentos observados, favorecendo a identificação das espécies (RAMOS, 2012). Com base nas relações entre homens e peixes abordadas na etnoictiologia, um ramo estudado é a etnotaxonomia, a qual ocorre quando estes nomeiam as espécies a partir de conhecimentos adquiridos no seu cotidiano, sendo também conhecida como taxonomia folk ou taxonomia popular (CLAUZET et al., 2007). Esta favorece a comparação entre a classificação científica zoológica e a classificação popular (MOURÃO, 2000), levando a um conhecimento mais detalhado da biologia dos organismos e contribuindo com a manutenção da biodiversidade local (ROCHA, 2006). A abordagem direcionada aos aspectos etnoictiológicos na Caatinga, levando-se em consideração a conservação e manutenção da biodiversidade de peixes, é de suma importância para a região, marcada por instabilidades climáticas e ações antrópicas que têm levado a uma redução das populações de peixes locais (ROSA et al., 2005). A ictiofauna existente nas bacias hidrográficas da região, além de pouco estudada (ROSA et al., 2005), não pode ser definida como típica ou exclusiva, uma vez que, os ecossistemas aquáticos da Caatinga divergem e integram-se a outros ecossistemas aquáticos distintos (PAIVA, 1983; ALMEIDA, 1995 apud ROSA, et al., 2005).

Desta forma, levando-se em consideração a importância dos conhecimentos ictiológicos para Caatinga, e tendo em vista que o manejo inadequado dos recursos naturais pode influenciar diretamente na extinção dos recursos íctios. O presente trabalho teve como objetivo buscar dados para a compreensão do conhecimento da nomenclatura popular dos peixes existentes na região estudada, visando estudos futuros de conservação da ictiofauna local. Metodologia O estudo foi realizado com pescadores em três comunidades rurais, Distrito de Engenheiro Ávidos, sítios de Cochos e Barro Vermelho, pertencentes ao município de Cajazeiras, localizados na região do Alto Piranhas no estado da Paraíba, onde se encontra a bacia do rio Piranhas situada à sudoeste do referido estado (S 6º 50 e 7º 25 e 38º 10 e 38º 40 W) (FARIAS, 2004). No interior desta bacia encontram-se vários reservatórios hídricos, dentre eles o Açude de Engenheiro Ávidos ou Açude de Piranhas, com capacidade hídrica de 255.000.000 m³ (PARAÍBA, 2014). De acordo com a classificação de Koeppen, o clima da região do Alto Piranhas é quente do tipo Awig, com ocorrência de chuvas de verão-outono. A precipitação média anual da área é de 800 mm com maior índice pluviométrico de fevereiro a abril, e taxa de evotranspiração média anual é de 2.937 mm (FARIAS 2004). A vegetação predominante é a caatinga hiperxerófila, apresentando formações arbóreas em pontos divergentes (FREITAS, 2012). O relevo da região é suavemente ondulado (FARIAS, 2004), e os solos são geralmente de origem cristalina média a alta, rasos e pedregosos, suscetíveis a processos erosivos (VELLOSO et al., 2002). As informações sobre os conhecimentos etnoictiológicos foram obtidas através de entrevistas semiestruturadas, no período de outubro de 2014 a abril de 2015, junto aos pescadores da área de e teve como auxílio um roteiro com perguntas objetivas e subjetivas enfocando as espécies de peixes existentes na região e sua importância econômica e ecológica. O método utilizado para obter as informações foi a técnica bola de neve, que se baseia em indicações de outras pessoas pelos próprios informantes (BAILEY, 1982). As atividades em campo foram realizadas em quatro açudes da área de estudo. Nestes, espécimes de peixes citados nas entrevistas foram coletados e acondicionados, ainda em campo, em baldes com formalina a 10% e posteriormente levados ao Laboratório de Zoologia da Universidade Federal de Campina Grande, Campus Cajazeiras, onde foram fotografados em aquário, medidos (comprimento total cm) e conservados em etanol 70%, para posterior identificação por especialistas. Alguns espécimes foram depositados na coleção de peixes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (códigos de tombamento: UFRGS 20341, UFRGS 20342, UFRGS 20343, UFRGS 20344, UFRGS 20345, UFRGS 20346, UFRGS 20347, UFRGS 20348). Resultados e discussão A Pesquisa foi realizada com 50 pescadores, sendo 39 do sexo masculino e 11 do sexo feminino, com idade entre 19 a 84 anos. Com relação aos conhecimentos relacionados à etnotaxonomia dos peixes da região, foram citadas 22 etnoespécies, sendo estas nomeadas a partir das características e comportamentos observadas pelos próprios informantes. Foram capturadas e identificadas 15 etnoespécies, obtendo-se a nomenclatura popular, frequência das citações e o percentual das mais comercializadas (Tabela 1). Das espécies identificadas, foram encontradas representantes de três ordens: Characiforme, Perciforme, Siluriforme; e sete famílias: Anastomidae, Characidae, Prochilodontidae, Erythrinidae, Cichlidae, Loricariidae e Auchenipteridae.

Tabela 1. Etnoespécies citadas com suas respectivas frequências, classificação científica e o percentual das espécies mais comercializadas nas comunidades pertencentes à região do Alto Piranhas, município de Cajazeiras-PB. Apesar da baixa representatividade em termos de números de espécies capturadas, a ordem Characiforme, apresentou maior número de famílias. Registros de um maior número de representantes da ordem Characiforme também foram encontrados em levantamento de diversidade ictiológica na bacia do Rio Piranha-Açu por Nascimento (2010). E ainda, Gomes Filho (1999) registrando a ictiofauna em brejos de altitudes da Paraíba e Pernambuco, também constatou uma maior predominância da Ordem Characiforme, com representação de mais de 50% das espécies encontradas. Esta ordem, por sua vez, é a maior em termos de números de espécie, abrangendo aproximadamente um terço dos peixes de água doce nas bacias sul-americanas, apresentando diversidade adaptativa e flexibilidade quanto aos hábitos alimentares (VAZ et al., 2000). Considerando a importância dos reservatórios hídricos no Semiárido Nordestino para o abastecimento humano e animal, assim como para o cultivo agrícola e a pesca, questionou-se sobre as formas que os peixes contribuem com os reservatórios. Os pescadores foram bem seguros em suas respostas, destacando alimentação (30%) e comércio (28%) como principais formas de

contribuição dos peixes encontrados nos reservatórios hídricos, apenas 4% evidenciaram que os peixes contribuem para a qualidade da água e equilíbrio dos ecossistemas aquáticos, e 46% optaram por não responder. Esse percentual mostra que os aspectos ecológicos não são reconhecidos ou considerados, pois a maior importância está voltada para a economia. Conclusão A partir das informações adquiridas foi possível verificar que os conhecimentos relacionados à etnotaxonomia dos peixes existentes na região foram semelhantes entre os participantes, sendo estas compatíveis em alguns aspectos com a literatura científica, mas observou-se a ausência de informações voltadas para a ecologia das espécies mencionadas, uma vez que, os aspectos ecológicos são critérios fundamentais na nomenclatura popular dos mesmos. Tal fato pode estar relacionado ao maior conhecimento das espécies que são mais utilizadas no comércio e mais abundantes nos reservatórios hídricos da região do estudo. Dessa forma, esse trabalho servirá como base para futuros estudos voltados para a diversidade e conservação das espécies de peixes existentes na região do Alto Piranhas. Referências bibliográficas BAILEY, K. D. Methods of social research. New York: McMillan Publishers, The free press. 1982. 553 p. CLAUZET, M.; RAMIRES, M.; BEGOSSI, A. Etnoictiologia dos pescadores artesanais da Praia de Guaibim, Valença (BA), Brasil. Neotropical Biology and Conservation, v. 2, n. 3, p. 136-154, 2007. FARIAS, S. R. A. Operação integrada dos reservatórios Engenheiro Ávidos e São Gonçalo. 2004. 107 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil e Ambiental, na área de Engenharia de Recursos Hídricos) - Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande PB. 2004. FREITAS, M. I. A. SUB BACIA DO ALTO PIRANHAS, SERTÃO PARAIBANO; percepção ambiental e perspectivas na gestão dos recursos hídricos. 2012. 163 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. 2012. GOMES-FILHO, G. Characiformes (Actinopterygii: Ostariophysi) das Bacias Costeiras do Estado da Paraíba. 1999. 90 f. Dissertação (Mestrado em Zoologia) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. 1999. MOURÃO, J.S. Classificação e Ecologia de Peixes Estuarinos por Pescadores do Estuário do Rio Mamanguape PB. 2000. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) - Universidade Federal de São Carlos, São Paulo. 2000. NASCIMENTO, W. S. Diversidade ictiofaunística e ecologia reprodutiva de uma espécie nativa de peixe da bacia Piranhas-Assu, RN. 2010. 130 f. Dissertação (Mestrado em Biologia Aquática) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. 2010. PARAÍBA. Agência Executiva de Gestão das Águas. Monitoramento dos açudes da Paraiba. Disponível em http://www.aesa.pb.gov.br/. Acesso em: 11 de julho de 2014.

RAMOS, T. P. A. Ictiofauna de Água Doce da Bacia do Rio Parnaíba. 2012. 215 f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas, área de concentração Zoologia) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. 2012. ROCHA, J. C.; JURAS, A. A.; CINTRA, I. H. A.; SOUZA, R. F. C. A reprodução da pescadabranca Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840) (Perciformes: Sciaenidae) no reservatório da usina hidrelétrica de Tucuruí (Pará-Brasil). Bol. Téc. Cient. Cepnor, Belém, v. 6, n. 1, p. 49-60, 2006. ROSA, R. S.; MENEZES, N. A.; BRITSKI, H. A.; COSTA, W. J. E. M.; GROTH, F. Diversidade, padrões de distribuição e conservação da Caatinga. In: LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C. Ecologia e Conservação da Caatinga. 2 ed. Recife: Ed. UFPE, 2005. p. 135-180. VAZ, M. M.; TORQUATO, V. C.; BARBOSA, N. D. C. Guia ilustrado de peixes da bacia do Rio Grande. CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais e CETEC Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2000. 141 p. VELLOSO, A. L.; SAMPAIO, E. V. S. B.; PAREYN, F. G. C. Ecorregiões propostas para o bioma caatinga. 1 ed. Recife: Associação Plantas do Nordeste (APNE); Instituto de Conservação Ambiental. The Natury Conservancy do Brasil, 2002. 81 p.