CRITÉRIOS TÉCNICOS PARA A DESTRUIÇÃO DE ESTOQUES DE POLUENTES ORGÂNICOS PERSISTENTES



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Transcrição:

CRITÉRIOS TÉCNICOS PARA A DESTRUIÇÃO DE ESTOQUES DE POLUENTES ORGÂNICOS PERSISTENTES 7 de outubro de 1998

CRITÉRIOS TÉCNICOS PARA A DESTRUIÇÃO DE ESTOQUES DE POLUENTES ORGÂNICOS PERSISTENTES 7 de outubro de 1998 Por Pat Costner Unidade Científica da Greenpeace Internacional Darryl Luscombe, Greenpeace Austrália Morag Simpson, Greenpeace Canadá ISBN: 90-73361-47-8

Sumário página Sumário Executivo IV Introdução 1 1.0 Tecnologias Antigas de Tratamento e Disposição 3 1.1 Armazenamento 3 1.2 Enterro em Aterros Sanitários 4 1.3 Injeção em Poço Profundo 5 1.4 Sistemas de Combustão 6 1.4.1 Incineradores Dedicados 6 1.4.1.1 Eficiência de Destruição do Incinerador 8 1.4.1.2 Incineradores e Redução de Lixo 11 1.4.1.3 Subprodutos da Combustão 12 1.4.1.4 Impactos da Incineração na Saúde Humana e no Meio 13 Ambiente 1.4.2 Fornos de Cimento 14 1.4.2.1 Impactos Gerais dos Fornos de Cimento 15 1.4.2.2 A Queima de Materiais Perigosos em Fornos de 16 Cimento 1.4.2.2.1 Desempenho dos Fornos de Cimento na Queima de 16 Resíduos perigosos 1.4.2.2.2 Produtos da Combustão Incompleta Lançados a 17 Partir de Fornos de Cimento 1.4.2.2.3 Impactos da Queima de Resíduos perigosos em 17 Fornos de Cimento 2.0 Tecnologias Modernas de Destruição 20 2.1 Avaliação de Tecnologias de Destruição Selecionadas 22 2.1.1 Environment Australia 22 2.1.2 Organização das Nações Unidas para a Alimentação e 22 Agricultura 2.1.3 Departamento de Defesa dos Estados Unidos 23 2.1.4 Departamento de Energia dos Estados Unidos 23 2.2 Redução Química em Fase Gasosa 24 2.3 Oxidação Eletroquímica 27 2.4 Pirólise em Metal Fundido 27 2.5 Oxidação em Sal Fundido 29 2.6 Processo por Elétrons Solvatados 30 2.7 Oxidação em Água Supercrítica 31 2.8 Arco Plasma 33 2.8.1 PACT 33 2.8.2 PLASCON 34 2.9 Hidrogenação Catalítica 35 2.10 Decloração Catalizada por Base 36 Referências 39 II

Lista de Tabelas página Tabela 1: Recomendação da FAO sobre Materiais a Serem Excluídos ou Limitados na Disposição por Incineração 6 Tabela 2: Eficiências de Destruição (EDs) e Eficiências de Destruição e Remoção (EDRs) Alcançadas Durante Queima Experimental 10 Tabela 3: Eficiências de Destruição (EDs) e Eficiências de Destruição e Remoção (EDRs) Alcançadas com Substâncias Químicas Preocupantes e com Seus Substitutos Durante Experimento com Incinerador no Drake Superfund Site, em Lock Haven, Pensilvânia, EUA. Tabela 4: Seleção de Tecnologias Modernas de Destruição 21 Tabela 5: ECO LOGIC Processo de Redução em Fase Gasosa - Eficiências de Destruição e Eficiências de Destruição e Remoção (EDRs) Alcançadas com PCBs e clorobenzenos. Tabela 6: Tecnologia de Elétrons Solvados - Materiais Tratados, Natureza e Destino dos Resíduos Tratados Tabela 7: Hidrogenação Catalítica - Eficiências de Destruição Alcançada com Organoclorados Tabela 8: Decloração Catalizada por Base - Dioxinas nos Gases de Chaminés 11 25 31 35 37 III

Sumário Executivo Os governos do mundo concordaram em negociar um instrumento global com sustentação legal para proteger a saúde humana e o meio ambiente dos poluentes orgânicos persistentes (POPs). Uma das principais formas de esses poluentes penetrarem no meio ambiente geral é escapando de depósitos, estoques e reservatórios ambientais (incluindo solos e sedimentos) de obsoletos compostos à base de POPs (PCBs, agrotóxicos, etc.) e de resíduos contaminado por POPs (dioxinas, PCBs, etc.). Recentemente vem-se desenvolveno um consenso crescente de que os os estoques, depósitos e reservatórios ambientais de compostos obsoletos e de lixo contaminado por POPs devem ser rapidamente identificados, coletados e destruídos apropriadamente contribuindo para o fim da propagação para o meio ambiente. Eem contrapartida, abre-se um debate sobre quais seriam as formas apropriadas de coleta e destruição destes resíduos e compostos obsoletos. Muitas tecnologias estão sendo comercializadas para a destruição de POPs e de materiais contaminados por POPs. As mudanças nesse campo são rápidas, e muitas informações ainda não estão disponíveis. Por esse motivo, este artigo não pode ser considerado completo ou definitivo, e sim uma contribuição para pesquisa em curso, tratando-se de um documento ainda em desenvolvimento que explora critérios para a destruição de poluentes orgânicos persistentes. Também aborda várias tecnologias de destruição, tanto as mais antigas quanto as desenvolvidas recentemente, incluindo uma breve descrição de potencialidades e aplicações e, quando disponível, os seus custos. O Greenpeace concluiu que, para possibilitar a proteção adequada das populações locais e distantes de humanos e animais, as tecnologias usadas para a destruição de estoques de poluentes orgânicos persistentes (POPs) devem atender aos seguintes critérios fundamentais de desempenho: Eficiências de destruição de 100 por cento para os compostos químicos preocupantes. A determinação da eficiência de destruição de 100 por cento deve necessariamente embasar-se na não-detecção de qualquer concentração de compostos químicos preocupantes em todo e qualquer resíduo, usando as técnicas de análise mais sensíveis disponíveis em nível mundial. Análises para a verificação de resídios não-tratados devem ser feitas com uma certa freqüência durante todas as etapas do processo de destruição, garantindo que esse critério seja seguido. Confinamento completo de todos os resíduos para o rastreamento e, se necessário, reprocessamento para garantir que nenhum resíduo contenha níveis detectáveis de compostos preocupantes, ou outros constituintes perigosos, como poluentes orgânicos persistentes recém-formados ou outras substâncias perigosas. Nenhuma emissão não-controlada. IV

As tecnologias de combustão que já há um tempo vêm sendo usadas para tentar destruir os estoques de POPs e materiais contaminados por POPs falharam em atender a esses critérios. De fato, as tecnologias de combustão são identificadas como principais formas de liberação de POPs e outras substâncias perigosas no meio ambiente. Em anos mais recentes, várias agências e organizações internacionais e nacionais avaliaram outras tecnologias de destruição, algumas das quais agora estão em operação em escala comercial em um ou mais países. Assim como as tecnologias de combustão, essas novas tecnologias têm altas demandas de recursos e podem, de outra forma, ter um custo para o meio ambiente, para segurança e a saúde dos trabalhadores e do público geral que as considera inaceitáveis para uso continuado e a longo prazo, como na disposição do lixo de atividades domésticas e industriais contínuas. Para a destruição de depósitos, estoques e reservatórios ambientais de substâncias POPs obsoletas e de lixo contaminado por POPs, algumas dessas novas tecnologias (por exemplo, a redução química em fase gasosa) representam uma melhora qualitativa significativa comparadas à combustão. Em muitos casos, essas tecnologias mais novas, se implementadas apropriadamente, representam uma alternativa melhor do que a decisão de incinerar ou de não fazer nada e esperar até que surja uma tecnologia melhor para a destruição de POPs. V

Introdução Erradicar os poluentes orgânicos persistentes (POPs) do meio ambiente global requer a eliminação de suas fontes, sejam elas instalações, processos ou materiais específicos. Significa também a destruição de POPs estocados e da contaminação ambiental a eles associada. Estima-se que os POPs estocados incluam mais de um milhão de toneladas de PCBs distribuídos globalmente 1,2 e mais de 100.000 toneladas de agrotóxicos obsoletos em países que não são membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. 3 Não há estimativas sobre os estoques de materiais contendo dioxinas a. No entanto, pode-se esperar que as acumulações de materiais contaminados por dioxinas sejam grandes, especialmente em países onde as indústrias que utilizam cloro estão bem desenvolvidas e onde se confiou na incineração como forma de disposição final do lixo. Do mesmo modo, não há estimativas sobre o quanto dos solos e sedimentos contaminados está associado a estoques existentes de PCBs, agrotóxicos obsoletos e materiais contendo dioxinas. Os estoques de POPs e a contaminação a eles associada impõem grandes preocupações relacionadas ao meio ambiente, à saúde pública e aos aspectos econômicos. Os responsáveis pela existência desses estoques (os fabricantes e/ou as instituições que coordenaram e financiaram a distribuição de POPs e de tecnologias geradoras de POPs) devem se responsabilizar pela destruição dos estoques e pela contaminação a eles associada. A destruição dos estoques de POPs e a descontaminação de materiais contaminados devem ser feitas sempre de uma forma que proteja as populações humanas e animais próximas e distantes, assim como os trabalhadores, evitando uma maior exposição por vias diretas (ex. inalação) e indiretas (ex. através da cadeia alimentar). Para isso, as tecnologias de destruição devem atender a certos critérios rígidos e devem ser aplicadas e reguladas com a supervisão de especialistas. Se a destruição ocorre em um país que não tem agências reguladoras fortes e capacitadas, mecanismos de supervisão especiais e confiáveis devem ser implementados. Os critérios para a destruição dos estoques de POPs ainda não foram estabelecidos. No entanto, chegou-se a um acordo global sobre os critérios básicos para a destruição de um outro grupo de compostos persistentes, os identificados como destruidores da camada de ozônio (ODS, do inglês ozone depleting substances ): 4 "A destruição deve ser feita de forma a não degradar ainda mais o meio ambiente (ex. aquecimento global, deposição ácida, tóxicos, etc.)." a Nesse relatório, os termos "dioxina" e "dioxinas" incluem tanto as dibenzo-p-dioxinas policloradas e os dibenzofuranos policlorados, isto é, tanto as dioxinas quanto os furanos, a não ser quando os furanos forem expressamente identificados. 1

As tecnologias usadas para a destruição dos ODS precisam também alcançar uma eficiência de destruição de 99,99%, que é determinada como mostra-se a seguir: 5 "Eficiência de Destruição (ED): o total de destruição de ODS é calculado com base no peso total de ODS na entrada do processo, menos a soma dos ODS em todos os produtos, subprodutos e emissões ao meio ambiente, dividido pela entrada de ODS. (A ED é relatada em forma de porcentagem.)" [Dados limitados disponíveis mostram eficiências de destruição de incineradores de reísduos perigosos modernos variando entre 65 e 99,9%. Em relação aos valores freqüentemente mais altos anunciados para esses incineradores, ao redor de 99,9999%, ver o ítem "Eficiência de Destruição e Remoção" (EDR). A EDR leva em consideração apenas as emissões das chaminés, sem considerar as outras emissões e resíduos.] Os critérios para a destruição de POPs devem ser ainda mais rígidos do que os dos ODS. A lista inicial de doze POPs (dioxinas, furanos, PCB (bifenilas policloradas), HCH (ou HCB), aldrin, dieldrin, endrin, clordano, toxafeno, mirex, DDT e heptacloro) foi selecionada porque essas substâncias e grupos de substâncias são tóxicas, persistentes e bioacumulativas. As tecnologias usadas para a destruição dos estoques já existentes desses materiais devem demonstrar um nível de desempenho que seja proporcional à capacidade destes POPs de causar danos. Conseqüentemente, as tecnologias apropriadas para a destruição de estoques de POPs devem atender aos seguintes critérios básicos de desempenho: Eficiências de destruição de 100 por cento para os compostos químicos preocupantes. A determinação da eficiência de destruição de 100 por cento deve necessariamente embasar-se na não-detecção de qualquer concentração de compostos químicos preocupantes em todo e qualquer resíduo, usando as técnicas de análise mais sensíveis disponíveis em nível mundial. Análises para a verificação de resídios não-tratados devem ser feitas com uma certa freqüência durante todas as etapas do processo de destruição, garantindo que esse critério seja seguido. Confinamento completo de todos os resíduos para o rastreamento e, se necessário, reprocessamento para garantir que nenhum resíduo contenha níveis detectáveis de compostos preocupantes, ou outras substâncias perigosas. Nenhuma emissão não-controlada. É necessária uma avaliação sobre até que ponto determinada tecnologia atende, durante os testes preliminares e as operações de rotina, aos critérios acima citados. Essa avaliação envolve muitos aspectos, incluindo, mas não limitando-se, aos seguintes: conhecimentos científicos e de engenharia; 2

equipamentos e instalações para a coleta de amostras e análise dos materiais a serem destruídos e de todos os resíduos do processo de destruição; diretrizes rigorosas de operação; e uma estrutura reguladora abrangente, que inclua a execução e o monitoramento das exigências. Pode haver circunstâncias em que se concorde que é necessário instalar uma planta industrial de destruição para atender a uma determinada área contaminada e/ou estoques e reservatórios de POPs em uma região específica. Em tais circunstâncias, a planta deve estar localizada dentro da área afetada ou próxima a ela. As instalações devem ser removidas quando o projeto de destruição específico for concluído, de forma que elas não se tornem um ímã que atraia resíduos de outras regiões. A participação pública centrada na comunidade deve ser uma parte integrante de todo o processo de destruição/descontaminação. A comunidade deve estar envolvida no processo de tomada de decisão, incluindo avaliação dos estoques, a escolha do local onde será realizado o processo de destruição, o monitoramento, aprovando todas as etapas. A disponibilidade e os custos são também fatores cruciais na seleção entre as tecnologias de destruição apropriadas. Tais custos incluem não apenas custos associados com a construção e a operação de plantas de destruição, mas também custos de infra-estrutura. Por exemplo, a regulamentação e a supervisão dessas instalações requerem pessoal dedicado, como conselheiros legais para preparar a regulamentação do projeto, engenheiros e cientistas para implementar o projeto, assim como de treinamento e equipamento para a comunicação, para as análises químicas, etc. 1.0 Tecnologias Antigas de Tratamento e Disposição No passado, os POPs e outros materiais difíceis de serem destruídos freqüentemente receberam destinos como o armazenamento, o enterro em aterros sanitários, e/ou a queima em sistemas de combustão (incineradores dedicados, caldeiras industriais, fornos de cimento). Ainda hoje, algumas nações permitem a injeção em poço profundo. Entre essas práticas, apenas os sistemas de combustão atingem algum grau de destruição. 1.1 Armazenamento A literatura científica oferece pouca informação sobre a eficácia de vários métodos de armazenamento no que toca à prevenção de escape de substâncias tais como os doze POPs indicados. Além dos derramamentos e dos vazamentos, a volatização de POPs dos locais de armazenamento é problemática, especialmente em climas tropicais. Por exemplo, em Bangkok, na Tailândia, Watanabe et al. (1996) mediram a quantidade de PCBs ao ar livre fora de um prédio onde condensadores elétricos estavam armazenados. 3

Imediatamente abaixo na direção do vento, a concentração média de PCB no ar era de 820 nanogramas por metro cúbico (ng/m 3 ). A concentração de PCB foi de 570 ng/m 3 em torno de 5 metros acima na direção oposta do vento. 6 Esses valores são aproximadamente 1000 vezes maiores do que os medidos no ar de regiões urbanas do Reino Unido 7 e de 15.000 a 48.000 vezes maiores do que os encontrados no ar do Ártico. 8 Em torno de 25 por cento dos PCBs no ar foram atribuídos à volatização dos condensadores e o restante à volatização de PCBs derramados no solo ao redor. 9 Sabe-se que mesmo em um clima mais frio, temperado, o armazenamento e o manuseio desses compostos podem resultar em emissões ao meio ambiente, apesar da utilização das melhores medidas preventivas disponíveis. Por exemplo, em um depósito de PCBs no Canadá com instalações bem construídas e fechadas, mantidas sob pressão negativa com filtros de exaustão de carbono, o ar filtrado ainda lançava PCBs ao ambiente. 10 1.2 Enterro em Aterros Sanitários Para substâncias persistentes, o enterro em aterros sanitários não é uma tecnologia de destruição; é apenas um método de confinamento. Além disso, é um método relativamente ineficaz de confinamento. Os componentes no lixo enterrado podem e escapam ao ambiente próximo, principalmente através da lixiviação para águas subterrâneas e da volatização para o ar. Após décadas de pesquisas, avanços na engenharia e grandes investimentos, os aterros sanitários mais modernos, de última geração, ainda são descritos como potenciais "bombas-relógio" --: 11 "Sistemas de isolamento [aterros sanitários] são geralmente eficazes nos primeiros 10 anos e têm um efeito retardatário após 25 anos, mas são quase comparáveis a uma situação de referência (isto é, sem isolamento) após 100 anos. Portanto, sistemas de isolamento para locais de disposição e solos contaminados sem a imobilização dos contaminantes podem representar uma "bomba-relógio" atrasada que pode, no futuro, pôr em risco a saúde humana e o meio ambiente." e ameaças permanentes --: 12 "Uma Ameaça Permanente Aterros sanitários do tipo "tumba seca" para os resíduos perigosos e para o lixo sólido municipal representam uma ameaça constante para a qualidade das águas subterrâneas. Visto que a cobertura plástica usada nos revestimentos compostos irá eventualmente se deteriorar, e que não há possibilidade das coberturas deste tipo de aterro sanitário manterem a umidade fora do aterro sanitário enquanto o lixo representar uma ameaça -- isto é, sempre -- será inevitável que o material lixiviado atravessará o revestimento e irá poluir as águas subterrâneas que estão abaixo dele." 4

Os POPs (ex. PCBs) são conhecidos por escapar de aterros sanitários pela volatização para o ar ao redor. 13 Até mesmo alguns metais, como por exemplo o mercúrio elementar, escapam pela mesma rota. 14 Sabe-se que os PCBs e outros contaminantes semi-voláteis evaporam mais rapidamente em função do aumento da umidade no solo e em sedimentos, e até mesmo com um aumento na umidade relativa do ar. 15 Também comenta-se que pode ocorrer a volatização quando essas substâncias são enterradas em aterros sanitários resultando na contaminação da vegetação ao redor. 16 A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) (1996) descreveu os os problemas associados ao enterro de agrotóxicos em aterros sanitários da seguinte forma: 17 "Muitos países que enterravam agrotóxicos no passado estão agora experimentando séria contaminação ambiental e enfrentando altos custos para a retirada dos agrotóxicos e para mitigar os danos ao meio ambiente e à saúde humana." 1.3 Injeção em Poço Profundo A injeção de substâncias perigosas em poços profundos não é uma tecnologia muito usada. De fato, a FAO (1996) apontou a injeção em poço profundo como "não apropriada... devido ao risco ambiental e à falta de controle." 18 Nos poucos países onde esse método de disposição é usado, as emissões químicas desses poços profundos são comuns. Por exemplo, até 1989, haviam ocorrido pelo menos 39 falhas documentadas em poços de injeção de resíduos perigosos nos Estados Unidos. Essas falhas variaram de vazamento em aqüíferos profundos, incluindo águas subterrâneas usada como fonte de água potável até terremotos e emissões explosivas na nascente. 19,20,21,22,23,24 Não há métodos para predizer as rotas ou a velocidade da migração dos resíduos injetados para as águas subterrâneas ou do escape para a superfície. Não é possível detectar pequenas fraturas verticais em formações subterrâneas que podem transportar os compostos injetados através de camadas não-porosas até as águas subterrâneas. Pouco se sabe sobre o comportamento químico a longo prazo de substâncias que foram injetadas em poços profundos - potenciais reações entre os resíduos perigosos e rochas, argila, areia, água, salmoura, óleo, gás, etc., subterrâneos, ou os efeitos que essas reações podem ter na migração e na toxicidade. Uma vez que os materiais perigosos deixaram o buraco do poço e penetraram nas camadas porosas nas quais foram injetadas, não é possível rastrear a sua movimentação. O seu paradeiro só é conhecido quando são encontrados como contaminantes de águas subterrâneas. 5

1.4 Sistemas de Combustão Até a industrialização, a queima era vista como um método eficaz de dispor qualquer material não-desejado no qual poderia-se atear fogo. Neste século, a natureza dos materiais não-desejados -- resíduos e produtos descartados gerados por atividades humanas -- sofreu mudanças drásticas. Como resultado, sistemas de combustão do lixo cada vez mais complexos e caros foram construídos com o único objetivo de queimar materiais descartados pelas sociedades industrializadas. Também, ao redor do mundo, em torno de 60 fornos de cimento foram modificados de forma que vários resíduos pudessem ser queimados juntos com combustíveis tradicionais. 25 A FAO (1996) idenficou certos materiais cuja disposição em incineradores e fornos de cimento não é recomendada, conforme mostra a Tabela 1. 26 É importante ressaltar que esses materiais "não recomendados" incluem, na maioria dos casos, aqueles contendo cloro, como os POPs atualmente listados. Tabela 1: Recomendações da FAO Sobre Materiais a Serem Excluídos ou Limitados Para Processos de Queima em Incineradores Dedicados e em Fornos de Cimento 27 Método de Incineração Incineração em alta temperatura, em geral Incinerador em pequena escala sem "scrubber" Incinerador em pequena escala e incinerador móvel com "scrubber" Forno de cimento Não recomendado Agrotóxicos inorgânicos, agrotóxicos contendo mercúrio, e organometais Agrotóxicos contendo cloro, fósforo, enxofre ou nitrogênio e grandes quantidades de agrotóxicos em geral Agrotóxicos contendo cloro, bromo ou outros halogênios, com algumas qualificações Agrotóxicos contendo cloro, bromo ou outros halogênios, incluindo derivados do ácido fenoxiacético, com algumas qualificações 1.4.1 Incineradores Dedicados Na avaliação da possibilidade de se usar incineradores para a destruição de estoques de POPs, o Grupo de Trabalho Ad Hoc do Fórum Intergovernamental de Segurança Química (IFCS) (1996) ofereceu a seguinte conclusão em suas recomendações, que foram mais tarde adotadas pelo Conselho de Administração do Programa das Nações Unidas Para o Meio 6

Ambiente (1997): 28,29 "O IFCS concluiu que as plantas de incineração de resíduos com melhor tecnologia disponíveis hoje envolvem altos custos de construção, são de operação sofisticada, e a sua adoção maciça em países em desenvolvimento é improvável em futuro próximo. Outras opções incluindo o transporte para plantas já existentes e/ou o uso de outras metodologias de disposição e/ou políticas de materiais de sucesso comprovado devem ser mais pesquisadas." Embora incineradores modernos podem ser inviáveis devido ao custo para vários países, o custo é apenas uma das várias limitações importantes desta tecnologia, conforme descrito por Hagh e Allen (1990): 30 "Os átomos de cloro são obstáculos eficazes para o fogo. Eles tendem a extinguir os radicais livres de hidrogênio, que propagam as reações no incinerador. Portanto, é difícil atingir a combustão completa. Os incineradores têm um alto custo operacional por exigirem altas temperaturas. Os gases de chaminé da combustão apresentam um problema sério de corrosão nas altas temperaturas de operação. O problema que causa maior preocupação é a geração de produtos da combustão incompleta, que são formados em pequenas quantidades. Quando os PCBs são queimados, dioxinas e dibenzofuranos clorados (CDF) podem ser formados. Outros materiais presentes nos efluentes da chaminé incluem HCl, CO, CO 2, NO x, e O 2. Remover esses materiais dos gases de chaminé pode ser extremamente difícil e caro." Os incineradores modernos são comumente descritos como muito eficazes na destruição de POPs e substâncias semelhantes. No entanto, testes recentes sugerem que os incineradores alcançam eficiências de destruição que são consideravelmente inferiores às alcançadas por certas tecnologias que não fazem uso da combustão, conforme discutido no Ítem 1.4.1.1. Além disso, certos incineradores que queimam POPs e outros resíduos estão associados à propagação de POPs não-destruídos e recém-formados no ambiente próximo, contaminando o ar, o solo, a vegetação, os animais e populações humanas (ver Ítem 1.4.1.4). A FAO (1996) ressaltou o fato de que incineradores de resíduos perigosos dedicados, de grande-escala, alcançam altas Eficiências de Destruição e Remoção (ver discussão na Seção. 1.4.1.1 abaixo) e identificou esses sistemas de combustão como o método de sua preferência para a destruição de agrotóxicos obsoletos. No entanto, a FAO (1996) também reconheceu que esses incineradores são fontes de certos POPs, como as dioxinas: 31 " O uso não apropriado de incineradores pode criar subprodutos sólidos e 7

aéreos perigosos que apresentam um sério risco para o meio ambiente e para a saúde humana. Freqüentemente esses subprodutos são mais tóxicos que o produto original. Um problema sério que causa preocupação é a formação de dibenzodioxinas policloradas e dibenzofuranos policlorados (freqüentemente referidos como dioxinas e furanos), que são extremamente tóxicos e persistentes no meio ambiente. As dioxinas e os furanos são formados como resultado de uma reação durante o processo de esfriamento dos gases de chaminé. Alguns fatores que afetam essa reação são: a temperatura do gás de chaminé; a presença de cloro ou outros halogênios; e a presença de um catalizador." Após considerar a potencial emissão em gases de chaminé de dioxinas e substâncias preocupantes não-destruídas durante a incineração do estoque de armas químicas dos Estados Unidos, o Conselho Nacional de Pesquisa (NRC) (1991) recomendou que os gases de chaminé de incineradores localizados em áreas populosas devem ser tratados por adsorção em carbono ativado. 32 1.4.1.1 Eficiência de Destruição do Incinerador Nos primórdios dos incineradores de alta temperatura, assumiu-se que esses combustores estavam destruindo substâncias à base de carbono, como os POPs atualmente listados, com eficiências de destruição b de 100 por cento. No entanto, com o desenvolvimento de métodos relativamente confiáveis de coleta e análise das emissões das chaminés, foi descoberto que quantidades variáveis das substâncias eviadas aos incineradores escapavam à destruição e eram lançadas com os gases de chaminé. Algumas agências reguladoras nacionais começaram a avaliar o desempenho do incinerador comparando a taxa em que um determinado composto é inserido no incinerador com a taxa de emissões pela chaminé. Embora essa comparação não tenha nenhuma relação com a capacidade de um incinerador de destruir um determinado composto, foi denominada "eficiência de destruição e remoção" c (EDR). Em outras palavras, um b A Eficiência de destruição (ED) é determinada da seguinte forma: M M ED = M i i o x100 onde M i é a massa da substância inserida no sistema de destruição durante um determinado período de tempo e M o é a massa dessa mesma substância que é lançada em gases de chaminé, cinzas volantes, água de "scrubber", cinzas de fundo, e quaisquer outros resíduos de incineradores. Por exemplo, se uma substância é colocada em um incinerador a uma taxa de 400 quilogramas por hora e é lançada junto com os gases de chaminé, com a água de "scrubber", com cinzas volantes e cinzas de fundo, cumulativamente, a uma taxa de 4 quilogramas por hora, o incinerador alcançará uma eficiência de destruição de 99 por cento com essa substância. c A Eficiência de Destruição e Remoção é determinada da seguinte forma: 8

incinerador com um sistema de limpeza de gases de chaminé altamente eficaz pode apresentar uma EDR alta mesmo se estiver ocorrendo pouca ou nenhuma destruição. Dados amplos mostram que compostos não-destruídos são lançados não apenas nos gases de chaminé dos incineradores mas também em cinzas volantes, água de "scrubber" (sistema de lavagem de gases), água de quenching (sistema de resfriamento) e até mesmo, em alguns casos, cinza de fundo e escória. Mesmo assim, o desempenho de incineradores e outros sistemas de combustão continua a ser avaliado com base em EDRs ao invés de eficiências de destruição. É também importante ressaltar que os termos "EDR" e "eficiência de destruição" são às vezes usados de forma incorreta. Por exemplo, em um artigo recente descrevendo o desempenho de um incinerador de resíduos perigosos na Holanda com lindano, hexaclorociclohexano e PCBs, os autores compararam inputs de quantidades conhecidas desses compostos com as taxas de emissão em gases de chaminé. Os resultados foram denominados "eficiências de destruição", embora os valores apresentados fossem, na verdade, EDRs. 33 Além disso, a Environment Australia (1997) recentemente descreveu uma tecnologia não incineradora afirmando que ela alcança "eficiências de destruição... não tão altas quanto as que podem ser alcançadas por sistemas de combustão de alta temperatura." 34 A literatura científica com peer-review contém dados limitados sobre as eficiências de destruição de um combustor de alta temperatura e essas eficiências não foram tão altas quanto várias tecnologias não-incineradoras. 35 Assim, parece provável que as medidas às quais a Agência se referiu eram EDRs, e não eficiências de destruição. Poucos testes com incineradores de resíduos perigosos foram realizados de forma a permitir que se determinasse as eficiências de destruição. No entanto, as eficiências de destruição alcançadas por esses incineradores são bem abaixo do padrão de 99,99 por cento, determinado pelo UNEP, para a destruição de substâncias destruidoras do ozônio 36 apesar de EDRs de 99,999 por cento ou mais terem sido encontradas. Por exemplo, as eficiências de destruição e as EDRs foram determinadas para três compostos durante a queima experimental de um incinerador de resíduos perigosos nos Estados Unidos. Durante essa série de testes, eficiências de destruição também foram medidas para outros quatro compostos. Conforme mostrado abaixo na Tabela 2, as eficiências de destruição do incinerador (97,49 a 99,93 por cento) foram muito mais baixas que as EDRs (99,999995 por cento). 37 EDR = M i M i M s x100 onde M i é a massa de um composto inserido em um sistema de destruição durante um dado período de tempo e M s é a massa desse composto que é lançada em gases de chaminé durante o mesmo período de tempo. Por exemplo, se um composto é inserido em um incinerador a uma taxa de 400 quilogramas por hora e é lançado em gases de chaminé a uma taxa de 0,4 quilogramas por hora, o incinerador alcança uma EDR de 99,9 por cento com esse composto. 9

Tabela 2: Eficiências de Destruição (EDs) e Eficiências de Destruição e Remoção (EDRs) Obtidas Durante Queima Experimental em um Incinerador no McGuire and Baird Superfund Site, Holbrook, Massachussetts, EUA 38 Clorobenz eno Xilenos Naftaleno 2-Metilnaftaleno 1,2,4,5- Tetraclorobenzeno 4,4'- DDD a Teste 1 ED, % 99,82 99,71 97,90 97,49 98,17 98,76 EDR, % >99,99977 nd 99,999972 nd 99,9999950 nd Teste 2 ED, % 99,93 99,92 99,51 99,55 99,48 99,57 EDR, % 99,99978 nd 99,999929 nd 99,999989 nd Teste 3 ED, % 99,88 99,91 99,48 99,56 99,48 99,83 EDR, % >99,99981 nd 99,999953 nd 99,999989 nd a o 4,4'-DDD é um dos produtos da degradação do DDT. nd - não disponível É importante ressaltar que as eficiências de destruição reais obtidas por esse incinerador foram sem dúvida mais baixas do que as mostradas acima. Por exemplo, as concentrações dos compostos não-destruídos na cinza volante foram determinadas depois de a cinza volante ter passado por outro processo de combustão em um outro sistema térmico. Além disso, os resíduos foram analisados com métodos relativamente insensíveis, o que pode resultar em uma subestimação das concentrações dos compostos presentes. Também, as EDRs refletem os desempenhos combinados de uma cadeia de mecanismos térmicos, não apenas um incinerador. Em uma queima experimental em outro incinerador de resíduos perigosos, as EDRs foram determinadas usando dois compostos químicos selecionados como substitutos para os compostos preocupantes propriamente ditos. Os compostos substitutos foram escolhidos com base em evidências de que são mais difíceis de serem destruídos do que os compostos preocupantes. 39,40,41 Conforme mostrado abaixo, na Tabela 3, as eficiências de destruição alcançadas com os compostos preocupantes, de 65,4 a 83,7 por cento, foram muito abaixo das EDRs alcançadas com os compostos substitutos, 99,999871 a >99,99998 por cento. 10

Tabela 3: Eficiências de Destruição (EDs) e Eficiências de Destruição e Remoção (EDRs) Alcançadas com Substâncias Químicas Preocupantes e com Seus Substitutos Durante Queima Experimental em um Incinerador no Drake Superfund Site, em Lock Haven, Pensilvânia, EUA 42 Substâncias Preocupantes Teste 1 Teste 2 Teste 3 Teste 4 ED com Fenac (2,3,6- ácido triclorofenilacético), % 75,3 71,8 65,4 83,7 ED com β-naftilamina, % nd 94,3 98,7 98,8 Compostos Substitutos EDR com 1,4- diclorobenzeno, % 99,999983 99,999961 >99,99998 99,999949 EDR com naftaleno, % 99,999941 99,999896 99,999935 99,999871 1.4.1.2 Incineradores e Redução de Lixo Os incineradores também têm reputação de transformar um volume de material não-desejado em um volume muito menor de resíduos sólidos. No entanto, isso não ocorre quando substâncias que contêm cloro, como os POPs listados, são queimadas. Quando resíduos ricos em cloro são queimados, o cloreto de hidrogênio resultante deve ser neutralizado, o que resulta em grandes quantidades de sais residuais, que podem estar contaminados por dioxinas e outros produtos da combustão incompleta assim como compostos preocupantes não-destruídos. Por exemplo, na queima de resíduos da fabricação dos agrotóxicos organoclorados 2,4-D e 2,4,5-T um incinerador de resíduos perigosos nos Estados Unidos gerou um volume de cinzas e sais contaminados por dioxinas aproximadamente 80% maior do que o volume de materiais queimado. 43 Em outro caso, um estabelecimento de incineração queimando agentes neurotóxicos gerou aproximadamente cinco quilogramas de resíduos sólidos por quilograma de agente. 44,45 Devido ao seu alto conteúdo tóxico, as cinzas e os sais produzidos durante a incineração dos agentes assim como as produzidas na incineração dos agrotóxicos organoclorados foram considerados resíduos perigosos. Os resíduos da incineração de agentes dos nervos foram mandados para um aterro sanitário de resíduos perigosos construído especialmente para esse fim, enquanto os resíduos dos agrotóxicos organoclorados permanecem em um estabelecimento de armazenamento 11

acima do solo. 1.4.1.3 Subprodutos da Combustão Conforme apontado anteriormente pela FAO, uma das principais preocupações na queima de resíduos perigosos é a geração de compostos novos, às vezes extremamente tóxicos, durante e após a combustão -- os assim chamados produtos da combustão incompleta (PCIs). Dentre os PCIs que já foram identificados, as dioxinas e os furanos são freqüentemente vistos como a maior ameaça para a saúde humana e para o meio ambiente. Esses e outros POPs, incluindo os PCBs 46 e o hexaclorobenzeno, 47 são criados quando materiais contendo cloro são queimados. Estudos sugerem que as populações dos Estados Unidos e de alguns países europeus agora carregam no seu corpo quantidades de dioxinas e furanos que estão nos níveis, ou próximos deles, em que sabe-se que ocorrem efeitos na saúde humana. 48 Emissões gasosas da combustão de materiais fabricados pelo homem que contêm cloro foram identificadas como as principais fontes dessas dioxinas e furanos. 49 De fato, vários estudos com sistemas de combustão, tanto laboratoriais quanto em escala piloto, mostraram que um aumento no input de materiais contendo cloro é acompanhado por um output maior de dioxinas e furanos. 50,51,52,53,54,55,56,57 A mesma associação foi demonstrada em estudos com incineradores de grande-escala. 58,59,60,61,62,63,64 Em alguns países desenvolvidos, as concentrações de dioxinas nas emissões das chaminés dos incineradores mais avançados e bem operados caem normalmente para menos de 0,1 ng TEQ d /m 3, uma concentração que, eles crêem, não é mais motivo de preocupação em relação à saúde da população em geral e dos animais. Porém, é importante ressaltar que essa crença ignora o fator mais importante: a massa das dioxinas lançadas em gases de chaminé ao longo do tempo. Por exemplo, gases de chaminé foram lançados a uma taxa de aproximadamente 1.500 m 3 por minuto durante queimas experimentais em um dos maiores e mais modernos incineradores de resíduos perigosos nos Estados Unidos. Com uma média de conteúdo de dioxinas de 0,14 ng TEQ/m 3, esse incinerador estava lançando mais de 300.000 ng TEQ por dia. 65 Nessa velocidade, esse incinerador estava lançando a céu aberto cada dia uma quantidade de dioxinas equivalente à ingestão diária tolerável para 1 a 4 milhões de adultos, baseado nos valores recentemente revisados da ONU de d Existem 75 dibenzo-p-dioxinas policloradas (PCDDs) e 135 dibenzofuranos policlorados (PCDFs), dentre os quais sete PCDDs e dez PCDFs são motivo de grande preocupação toxicológica. Dentre esses dezessete PCDD/Fs, a 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina (2,3,7,8- TCDD) é considerada a de maior poder toxicológico. Foi atribuído a essa dioxina mais poderosa um fator de equivalência tóxica (TEF, do inglês "toxic equivalency factor") de 1 e as outras dezesseis receberam cada uma um TEF que reflete o seu poder toxicológico em relação ao da 2,3,7,8-TCDD. As concentrações de cada um dos dezessete PCDD/Fs são multiplicadas pelo TEF específico de cada composto e os valores resultantes são somados para produzir o valor de equivalência tóxica (TEQ, do inglês "toxic equivalency value"). 12

ingestão diária tolerável de dioxinas de 1-4 picogramas por quilograma de peso corporal por dia. 66 1.4.1.4 Impactos da Incineração na Saúde Pública e no Meio Ambiente A proximidade a incineradores queimando materiais contendo cloro foi associada a um aumento nos níveis de dioxinas no ambiente próximo e em populações próximas. No Japão, onde o lixo municipal contém níveis relativamente altos do plástico organoclorado, PVC, 67 descobriu-se que as altas concentrações de dioxinas no solo ao redor de um incinerador de lixo municipal tinham uma "forte relação" com altos índices de câncer nas populações próximas. 68 Um grupo de médicos apontou níveis elevados desses POPs no leite materno de mulheres que moravam na linha do vento de alguns incineradores na Alemanha. 69 Agências federais e estaduais dos Estados Unidos avaliaram os níveis de dioxinas em lipídios do sangue de pessoas que moravam próximas a um incinerador de resíduos da fabricação de dois agrotóxicos organoclorados, o 2,4-D e o 2,4,5-T. 70,71 Ao longo de um período de três anos, as concentrações da forma mais tóxica de dioxina, 2,3,7,8-TCDD, aumentaram uma média de 25 por cento em mais de 60 por cento dos participantes do estudo. 72 Autoridades na Espanha descobriram que, ao longo de um período de dois anos, as dioxinas nos lipídios do sangue de pessoas que moravam próximas a um incinerador de lixo urbano aumentaram em 10 a 15 por cento. Além disso, os níveis de PCBs nos lipídios do sangue dessas pessoas aumentaram em torno de 5 por cento. 73 No Canadá, oficiais da saúde recomendaram que não comessem animais selvagens caçados em um raio de 30 quilômetros do incinerador de PCBs Swan Hills devido ao acúmulo de dioxinas lançadas daquela instalação industrial. 74 Em um programa coordenado pela FAO, alguns estoques de agrotóxicos obsoletos de países em desenvolvimento estão sendo queimados em incineradores europeus. Em um desses incineradores, o da planta Rechem, no Reino Unido, onde PCBs e outros resíduos são queimados, estudos mostraram níveis elevados de dioxinas no ar, no solo e nos alimentos de regiões próximas. Os ovos de patos e de galinhas domésticas apresentaram níveis de dioxinas que eram 4,7 e 20 vezes maiores, respectivamente, do que os níveis médios da região. Os níveis de dioxinas no ar ambiente de uma casa próxima eram 3,5 vezes o nível médio, enquanto que as concentrações no solo eram três vezes maiores que o normal. As concentrações de dioxinas em maçãs cultivadas no mesmo 13

distrito que o incinerador apresentaram níveis de dioxinas 2,3 vezes maiores do que o histórico de medidas. Os cientistas estimaram que, comparado com as exposições médias do local, as pessoas nesse distrito estavam ingerindo 2,4 vezes mais dioxinas através do leite, 1,3 vezes mais nas batatas e 3,2 vezes mais no solo. 75 Dada a situação dos estabelecimentos de Swan Hills e Rechem, a recomendação da FAO de enviar os estoques de POPs a um incinerador dedicado de resíduos perigosos em um país industrializado 76 pode não ser a estratégia mais segura e eficaz de acabar com a contaminação por POPs. Pelo contrário, esse método de disposição pode resultar na transformação de uma parte de um grupo de POPs, como PCBs ou agrotóxicos contendo cloro, em outro, como as dioxinas, transferindo os problemas ambientais e de saúde pública de uma comunidade para outra. É também importante ressaltar que as emissões gasosas representam apenas uma fração relativamente pequena da quantidade total de dioxinas geradas pela combustão de materiais contendo dioxinas. Em um estudo sobre onze incineradores de lixo municipal em grande escala na Alemanha, as emissões das chaminés continham apenas 12 por cento do produto total desses POPs, enquanto o restante estava distribuído entre os outros resíduos dos incineradores. 77 Não se pode esperar que a prática comum de enterrar os resíduos dos incineradores em aterros sanitários evite a emissão eventual desses POPs no ambiente mais amplo, conforme apontado por Acharya et al. (1991): 78 "A captura e a remoção transferem os PCDD/PCDF [dioxinas e furanos] do gás de chaminé a outras correntes de resíduos... que então são reintroduzidas no meio ambiente." Por exemplo, cientistas no Japão descobriram que dioxinas estavam escapando e penetrando os recursos hídricos a partir das cinzas de incineradores de lixo municipal que haviam sido enterradas em aterros sanitários. 79 1.4.2 Fornos de Cimento Os fornos de cimento são cilindros rotativos inclinados alinhados, com tijolos refratários, e acessos internamente. Eles são desenvolvidos e construídos para aquecer vários materiais, como pedra calcária, argila, xisto, areia, etc, para produzir o "clinquer", que moído com pequenas quantidades de gesso produz cimento. Esses fornos podem chegar a mais de 250 metros de comprimento e 8 metros de diâmetro. A matéria prima é inserida através da extremidade mais alta, elevada ou "fria" do forno. Na medida em que o forno gira em baixa velocidade, a matéria-prima desce para a extremidade mais quente, ou da "chama", e, aos poucos, é alterada fisicamente e quimicamente em temperaturas que chegam a 1.500 o C. Sob esse calor intenso, que geralmente é fornecido pela queima de carvão ou de óleo combustível, a 14

matéria-prima se mistura e forma uma substânica rochosa -- o "clinquer". Uma vez esfriado, o clinquer é moído com uma pequena quantidade de gesso para produzir cimento. Os gases de combustão entram no formo pela extremidade mais quente e baixa, sobem, aquecendo a matéria prima que desce na direção oposta, e saem pela extremidade de cima. Os gases então passam por mecanismos de controle da poluição do ar antes de chegar à atmosfera. Esses mecanismos são tipicamente um filtro de tecido ou um precipitador eletrostático; ambos servem para remover o material particulado carregado pela corrente gasosa antes de os gases entrarem em contato com a atmosfera. Esse material particulado é chamado de poeira de forno de cimento (CKD, do inglês "cement kiln dust"). O cimento é produzido por processos molhados ou secos. No processo mais antigo, molhado, mistura-se a matéria-prima com água para formar uma substância pastosa que então é colocada no forno. O processo molhado requer um input de calor de 5 a 7 trilhões de BTUs por tonelada de clinquer para evaporar a água da substância pastosa. 80 Fornos de processo seco são mais eficientes energeticamente, exigindo uma média de 4,4 milhões de BTU, aproximadamente equivalente a 180 quilogramas de carvão, por tonelada de cimento: 81 Fornos de processo seco geralmente também têm uma capacidade maior. 82 1.4.2.1 Impactos Gerais dos Fornos de Cimento Independente do tipo de material queimado para produzir a energia calorífica, os fornos de cimento apresentam riscos para a saúde dos trabalhadores, das populações próximas, e para o meio ambiente, especialmente através dos impactos da poeira dos fornos de cimento (CKD). Por exemplo, um estudo com trabalhadores de fábricas de cimento dos Emirados Árabes Unidos mostrou que eles sofrem de tosse crônica, bronquite crônica, ardência e coceira nos olhos, olhos lacrimejantes, dor de cabeça e fadiga. 83 Trabalhadores de fábrica de cimento em outro estudo apresentaram uma maior prevalência de sintomas respiratórios crônicos e uma capacidade ventilatória reducida. 84 A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (1995) encontrou evidências de contaminação de águas subterrâneas em todas as fábricas de cimento que tiveram dados disponíveis sobre o monitoramento das águas subterrâneas, além de 36 casos de danos documentados ao ar devido ao CKD. A Agência resumiu o assunto da seguinte forma: 85 "[O]utras evidências (isto é, casos de contaminação) indicam que emissões fugitivas de CKD contribuem bastante para danos ambientais por meio da degradação da qualidade do ar.... A EPA concluiu que um maior controle do CKD é fundamental para proteger a população dos riscos à saúde e para prevenir danos ambientais resultantes da disposição atual desse resíduo. As principais preocupações relacionadas 15

ao meio ambiente a serem abordadas através de controles adicionais são os danos documentados às águas subterrâneas e aos abastecimentos de água potável, e os potenciais riscos à saúde humana da inalação do CKD do ar e a ingestão através da cadeia alimentar... De uma forma significativa, as emissões às águas subterrâneas foram observadas em todos os locais dos quais a EPA recebeu dados sobre o monitoramento de águas subterrâneas.... [O]s estudos de avaliação de riscos da EPA também indicaram os potenciais de efeitos adversos na ecologia aquática devidos a emissões químicas possíveis para correntes e lagos próximos a algumas fábricas de cimento." 1.4.2.2 A Queima de Materiais Perigosos em Fornos de Cimento Os fornos de cimento em alguns países industrializados começaram a aumentar ou até mesmo a substituir totalmente os combustíveis convencionais por resíduos perigosos industriais. No entanto, conforme mostrado na Tabela 1, a FAO em alguns casos é contrária à queima de agrotóxicos clorados em fornos de cimento. A FAO também alerta que a disposição de materiais perigosos, como os agrotóxicos obsoletos, pela queima em fornos de cimento "frequentemente não é possível de forma segura e/ou custo-efetiva," chegando a dizer: 86 "Muitos dos tipos mais antigos de fornos de cimento não são adequados. São poucos os fornos de cimento em países em desenvolvimento que atendem às exigências técnicas que, em princípio, os tornariam adequados para a incineração de certos grupos de agrotóxicos. O apoio de especialistas é necessário para avaliar se os fornos podem ser usados, e é necessário ter um equipamento especial para inserir os agrotóxicos no forno. Esse equipamento é caro e deve apenas ser instalado e usado sob supervisão de um especialista." 1.4.2.2.1 Desempenho dos Fornos de Cimento na Queima de Resíduos perigosos De acordo com a EPA (1998), as "condições inerentes ao forno de cimento se assemelham às condições dos incineradores de resíduos perigosos". 87 Assim, algumas das limitações gerais dos incineradores de resíduos perigosos que foram discutidas anteriormente se aplicam também aos fornos de cimento que queimam resíduos perigosos. Por exemplo, uma revisão das queimas experimentais em oito fornos de cimento mostrou que as EDRs para uma série de compostos específicos variam de 91,043 a 99,9999 por cento, com uma EDR média de 99,53 por cento. 88 No entanto, conforme discutido anteriormente, apenas as emissões pela chaminé de compostos nãodestruídos são consideradas no cálculo das EDRs. Isto é, as quantidades de compostos não-destruídos depositados no CKD, no clinquer e em outros resíduos não foram consideradas. Conseqüentemente, as eficiências de 16

destruição propriamente ditas foram sem dúvida mais baixas. 1.4.2.2.2 Produtos da Combustão Incompleta Lançados a Partir de Fornos de Cimento Quando compostos, resíduos e materiais semelhantes perigosos são queimados em fornos de cimento, os produtos da combustão incompleta (PCI) são lançados em gases de chaminé assim como adsorvidos ou incorporados ao CKD capturado pelos mecanismos de controle da poluição do ar. As dioxinas estão entre os PCIs identificados nas emissões de chaminés de fornos de cimento. Os fornos de cimento liberam volumes particularmente grandes de gases de chaminé. Por exemplo, a taxa de fluxo de gases de chaminé em um forno de cimento nos Estados Unidos que queimava resíduos era em torno de 5.500 metros cúbicos secos por minuto. 89 Se esse forno de cimento estivesse atendendo aos padrões europeus de emissões de dioxinas para incineradores, 0,1 ng TEQ/m 3, ele iria iria lançar dioxinas a céu aberto a uma taxa de 792.000 ng/dia. Essa quantidade de dioxinas é equivalente à ingestão diária de dioxinas tolerável para 2,8 a 11,3 milhões de adultos, baseado na ingestão diária tolerável de 1 a 4 picogramas por quilograma de peso corporal por dia proposta pela OMS 90. O CKD, que contêm níveis mais altos de dioxinas quando materiais clorados são queimados, é outra fonte de emissões de dioxinas ao meio ambiente por meio de emissões fugitivas e outras rotas, como a reincorporação no produto do cimento. 1.4.2.2.3 Impactos da Queima de Resíduos perigosos em Fornos de Cimento Os impactos da queima de resíduos perigosos em fornos de cimento podem ser comparados aos dos fornos de cimento que queimam combustíveis convencionais, como mostra-se a seguir: Dioxinas são lançadas das chaminés dos fornos de cimento, não importando se o forno é aquecido com combustíveis convencionais ou com resíduos perigosos. No entanto, de acordo com a EPA, os fornos de cimento que queimam resíduos perigosos lançam dioxinas nos seus gases de chaminé a taxas que são mais de 80 vezes maiores do que as dos fornos de cimento que queimam combustíveis convencionais. Nos Estados Unidos, os fornos de cimento que queimam resíduos perigosos são listados como a quinta principal fonte de emissões de dioxinas ao ar, enquanto que os que não queimam resíduos perigosos são a décima principal fonte. 91 A posição relativamente alta desses últimos pode ser, em parte, devida à prática comum de queimar outros materiais que contêm cloro, como pneus e lixo sólido municipal, conforme documentado em um banco de dados. 92 Da mesma forma, as dioxinas são encontradas em CKD de fornos de cimento que queimam combustíveis convencionais assim como nos que 17