Matéria Orgânica do Solo. Everlon Cid Rigobelo

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Transcrição:

Matéria Orgânica do Solo Everlon Cid Rigobelo 1

Solo receptáculo final Recebedor Resíduos orgânicos de origem Vegetal, animal Produtos de suas transformações 2

Solo receptáculo final Vegetação Responsável pela deposição de materiais orgânicos no solo 3

Solo receptáculo final Vegetação Queda de material morto do dossel Restos culturais Necromassa formando a serapilheira Rizodeposição próxima as raízes 4

Material do Solo Quantidade e qualidade do material no solo Tipo de vegetação - condições ambientais Florestas tropicais Toneladas de materiais são depositadas por ano Contendo quantidades variadas de nutrientes 5

Tipo de Vegetação Floresta Tropical Floresta Temperada 6

Serrapilheira-Solo Grandes quantidades de carbono Promove a comunicação entre solo e vegetação Habitat Abundante fauna Comunidade microbiana heterotrófica 7

Estoque de Serrapilheira Regulado pela quantidade de material depositado Decomposição na superfície do solo Floresta tropical São depositados 10,5 Mg ha -1 de matéria seca Quantidade de serapilheira chega a 3,2 Mg ha -1 8

Estoque de Serrapilheira Floresta de clima temperado Deposição de 4,0 Mg ha -1 Quantidade de serapilheira chega a 8,4 Mg ha -1 9

Estoque de Serrapilheira Coeficiente k Mede a taxa de desaparecimento ou de renovação dessa camada K= quantidade da necromassa depositada quantidade de serrapilheira encontrada 10

K coeficiente de renovação da serrapilheira Floresta tropical K = 3,3 Floresta temperada K= 0,5 K - valor maior que 1,0 (renovação completa) Floresta de coníferas K=0,1 Renovação lenta da serrapilheira 11

Renovação da Serrapilheira Sofrem variações em função: Vegetação dominante Condições edafoclimáticas do ecossistema Clima Precipitação Relevo Temperatura 12

Renovação da Serrapilheira Deposição de material orgânico no solo Podem ser transformados na superfície Incorporados no perfil do solo 13

Material Orgânico do Solo Material incorporado no perfil do solo Fará parte da matriz do solo Constituirá a Matéria Orgânica do solo (MOS) 14

Material Orgânico do Solo Composição dos materiais vegetais Celulose 20 a 50% da matéria seca Hemicelulose 10 a 30% Lignina 5 a 30% Proteínas 2 a 15% 15

Material Orgânico do Solo Outros constituintes Ceras, graxas, pigmentos e outros compostos Os componentes sofrem alterações diferenciadas no solo Celulose e hemicelulose são degradadas Lignina aumenta pela sua recalcitrância Proteínas aumentam devido ao aumento da biomassa 16

Teores de componentes do solo Celulose e hemicelulose De 20 a 50% atingem menos de 10% Lignina De 5 a 30% atingem a 45% Proteínas De 2 a 15% chegam a 30% 17

Atividade Decompositora do Solo Realizada por micro-organismos Fungos, bactérias e microfauna Considerados consumidores primários Responsáveis pela atividade respiratória do solo 18

Atividade Decompositora do Solo Fungos e bactérias Realizam 96% atividade respiratória do solo Fauna contribui com 4% 19

Solo Incinerador biológico Máquina biotransformadora Operada pelos micro-organismos Ocorre a emissão de CO2 Reflete a intensidade dos processos degradativos 20

Solo Incinerador biológico Regulador de processos globais Atua nas trocas gasosas Fluxos de nutrientes nos sistemas Solo vegetação - atmosfera 21

Respiração do Solo Atividade microbiana Atividade dos invertebrados Atividades das raízes Representa Degradação dos restos vegetais depositados Degradação dos exudatos radiculares Degradação da matéria orgânica do solo Degradação do carbono adicionado Degradação de organismos mortos Reflete Perda do carbono orgânico Reciclagem de nutrientes Respostas ao manejo (ações antrópicas) Indica Qualidade biológica do solo 22

Decomposição da Matéria Orgânica Organismos macroscópicos Reguladores e trituradores do material orgânico 23

Decomposição da Matéria Orgânica Micro-organismos Transformadores Decompositores primários Fungos, bactérias e actinomicetos 24

O papel das plantas Plantas Reúnem os nutrientes do solo e da atmosfera Esses nutrientes caminham Micro-organismos heterotróficos Ácaros, pássaros e mamíferos 25

Organismos envolvidos na cadeia trófica do solo Coleópteros Miriápodes Colêmbolas Quilópodos Enquitrídeos Aranhas 26

Categorização funcional dos organismos envolvidos na cadeia trófica Grupo Funcional Organismos Predadores/Parasitas Trituradores Trituradores/Decompositores Decompositores/Trituradores Apenas decompositores Coleópteras, ácaros, crustáceos, lepidópteros, formigas, miriápodes, quilópodos Colêmbolas, miriápodes, coleópteros, dípteros, ácaros, minhocas, enquitrídeos, fungos, bactérias e actinomicetos Fungos, bactérias, actinomicetos, colêmbolas, enquitrídeos, minhocas Fungos, bactérias, actinomicetos Moreira, FMS, Siqueira, Microbiologia e Bioquímica do Solo, 2ed. 2006, 729p. Aranhas, coleópteros, ácaros e outros (predadores) Aranhas, coleópteras, ácaros e nematoides (predadores) Nematóides, protozoários, ácaros e colêmbolas Protozoários, nematoides, ácaros, colêmbolas 27

Fases da decomposição dos resíduos orgânicos com serapilheira (Burns & Martins, 1986) Fases Redução do tamanho das partículas Ataque microbiano inicial Ataque microbiano intermediário Ataque final Principais aspectos funcionais Fauna do solo promove a fragmentação. Ocorre pouca ou nenhuma decomposição nessa fase. Substâncias mais facilmente decompostas (proteínas, amido e celulose) são atacadas por fungos e bactérias esporulantes, formando biomassa e liberando NH 3, H 2 S, C-CO 2 e ácidos orgânicos Subprodutos orgânicos e tecidos microbianos são atacados por uma variedade de micro-organismos, produzindo nova biomassa, e acentuam-se as perdas de C-CO 2 Decomposição gradual dos componentes mais resistentes como lignina, por actinomicetos e fungos especialistas Moreira, FMS, Siqueira, Microbiologia e Bioquímica do Solo, 2ed. 2006, 729p. 28

Decomposição dos Resíduos Orgânicos Produção de húmus Características físicas, química e biológicas Liberação de nutrientes Protege o solo contra a degradação Processo governado pela C/N do resíduo 29

Composição Físico-química média dos resíduos Constituintes % de Carbono/Peso seco Celulose 15-60 Hemicelulose 10-30 Lignina 5-30 Açúcares e ácidos aminados Óleos, gorduras, resinas e pigmentos 5-10 1-13 30

Reação de Decomposição dos Resíduos Orgânicos Processos oxidativos e biológicos liberam CO2, nutrientes, água e substância húmicas. 31

Fatores que afetam a decomposição Composição Em função da origem do resíduo orgânico Quantidade Quanto maior a quantidade de resíduo orgânico incorporado ao solo, maior será a atividade biológica e consequentemente maior será a necessidade de organismos decompositores 32

Relação C/N e velocidade de decomposição Relação C/N < 20:1 Mais rápida decomposição Relação C/N > 30:1 Menor susceptibilidade à mineralização Maior susceptibilidade à imobilização 33

Relação C/N e velocidade de decomposição Velocidade de decomposição Maior nas plantas jovens do que nas plantas adultas Apresentam baixa C/N 34

Relação ácido/base Na presença de acidez excessiva Ocorre em geral falta de elementos minerais Ca, Mg e micronutrientes Limita em parte o processo de mineralização Silva, JRT, 2005 35

Relação Lignina/celulose Se a lignina/celulose > 0,5 (planta jovens) Rápida mineralização Se a lignina/celulose < 0,4 (troncos) Mineralização lenta 36

Temperatura T < 5º C mineralização lenta 5º C < T < 35ºC aumento da taxa de decomposição T > 40º C redução da taxa de decomposição 37

Umidade do Solo Adequada: 60-70 % da Capacidade de Campo Umidade Elevada Reduz [O 2 ] Menor mineralização. 38

ph do solo Fator determinante Da composição da microflora e da taxa de conversão do carbono; Decomposição mais rápida Em solos neutros ou ligeiramente alcalinos Calagem Acelera a decomposição da matéria orgânica incorporada ao solo 39

Nitrogênio O N é essencial também p/ crescimento microbiano; Se [N -resíduo] for alta Relação C/N baixa Rápida decomposição Microflora terá suas necessidades atendidas; 40

Nitrogênio Substrato com baixa [N] Relação C/N alta Decomposição é lenta Possibilidade de Imobilização. Mineralização será estimulada pela adição de N suplementar (Adubo -N). 41

Nitrogênio 42

Relação C/N de diferentes materiais 43

Considerações Finais 44