Gêneros Literários. Literatura Professor: Diogo Mendes. Material de apoio do Extensivo

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Transcrição:

Gêneros Literários Texto 1 O amor nos tempos do cólera (fragmento) O doutor Urbino agarrou o louro pelo pescoço com um suspiro de triunfo: ça y est. Mas o largou de pronto, porque a escada resvalou sob seus pés e ele ficou um instante suspenso no ar, e então conseguiu perceber que se matava sem comunhão, sem tempo para se arrepender de nada nem se despedir de ninguém, às quatro e sete minutos da tarde de domingo de Pentecostes. Fermina Daza estava na cozinha provando a sopa para o jantar, quando ouviu o grito de horror de Digna Pardo e o alvoroço da criadagem da casa e depois da vizinhança. Atirou a colher de pau e tratou de correr como pôde com o peso invencível da idade, gritando feito uma louca sem saber ainda o que acontecia debaixo da copa da mangueira. E o coração lhe estourou em estilhaços quando viu seu homem estirado de costas no lodo, já morto em vida mas resistindo ainda um último minuto à chicotada final da cauda da morte para que ela sua mulher tivesse tempo de chegar. Chegou a reconhecê-la no tumulto através das lágrimas da dor que jamais se repetiria de morrer sem ela, e a olhou pela última vez para todo o sempre com os mais luminosos, mais tristes e mais agradecidos olhos que ela jamais vira no rosto dele em meio século de vida em comum, e ainda conseguiu dizer-lhe com o último alento: Só Deus sabe quanto amei você. (Gabriel García Marquez) Texto 2 João Carlos vivia em uma pequena casa construída no alto de uma colina, cuja frente dava para leste. Desde o pé da colina se espalhava em todas as direções, até o horizonte, uma planície coberta de areia. Na noite em que completava trinta anos, João, sentado nos degraus da escada colocada à frente de sua casa, olhava o sol poente e observava como a sua sombra ia diminuindo no caminho coberto de grama. De repente, viu um cavalo que descia para sua casa. As árvores e as folhagens não o permitiam ver distintamente; entretanto observou que o cavalo era manco. Ao olhar de mais perto verificou que o visitante era seu filho Guilherme, que há vinte anos tinha partido para alistar-se no exército, e, em todo esse tempo, não havia dado sinal de vida. Guilherme, ao ver seu pai, desmontou imediatamente, correu até ele, lançando-se nos seus braços e começando a chorar. (In: KOCH & TRAVAGLIA, 2003) Texto 3 Morte (hora de delírio) Pensamento gentil de paz eterna Amiga morte, vem. Tu és o termo De dous fantasmas que a existência formam, Dessa alma vã e desse corpo enfermo. Pensamento gentil de paz eterna, Amiga morte, vem. Tu és o nada, Tu és a ausência das moções da vida, do prazer que nos custa a dor passada.

(...) Amei-te sempre: pertencer-te quero Para sempre também, amiga morte. Quero o chão, quero a terra, esse elemento Que não se sente dos vaivéns da sorte. (...) Também desta vida à campa Não transporto uma saudade. Cerro meus olhos contente Sem um ai de ansiedade. E como um autômato infante Que ainda não sabe mentir, Ao pé da morte querida Hei de insensato sorrir. Por minha face sinistra Meu pranto não correrá. Em meus olhos moribundos Terrores ninguém lerá. Não achei na terra amores Que merecessem os meus. Não tenho um ente no mundo A quem diga o meu adeus. (...) Por isso, ó morte, eu amo-te e não temo: Por isso, ó morte, eu quero-te comigo. Leva-me à região da paz horrenda, Leva-me ao nada, leva-me contigo. (Junqueira Freire) Texto 4 Profundamente Quando ontem adormeci Na noite de São João Havia alegria e rumor Estrondos de bombas luzes de Bengala Vozes, cantigas e risos Ao pé das fogueiras acesas. No meio da noite despertei Não ouvi mais vozes nem risos Apenas balões Passavam, errantes Silenciosamente Apenas de vez em quando O ruído de um bonde Cortava o silêncio

Como um túnel. Onde estavam os que há pouco Dançavam Cantavam E riam Ao pé das fogueiras acesas? Estavam todos dormindo Estavam todos deitados Dormindo Profundamente. (Manuel Bandeira) Texto 5 Macbeth (fragmento) (um grito de mulher) SEYTON É um grito de mulher, bom senhor. (Sai.) MACBETH Quase esqueci que gosto tem o medo. Outrora meus sentidos gelariam. Com um guincho à noite; e a minha cabeleira Com um relato de horror ficava em pé, Como se viva. Estou farto de horrores: O pavor, íntimo do meu pensar, Já nem me assusta. (Volta Seyton.) SEYTON A rainha está morta, senhor. MACBETH Ela só devia morrer mais tarde; Haveria um momento para isso. Amanhã, e amanhã, e ainda amanhã Arrastam nesse passo o dia a dia Até o fim do tempo pré-notado. E todo o ontem conduziu os tolos À vida em pó da morte. Apaga, vela! A vida é só uma sombra: um mal ator Que grita e se debate pelo palco, Depois é esquecido; é uma história Que conta o idiota, toda som e fúria, Sem querer dizer nada.

(William Shakespeare) Texto 6 Morte e vida severina Essa vida por aqui é coisa familiar mas diga-me retirante, sabe benditos rezar? sabe cantar excelências, defuntos encomendar? sabe tirar ladainhas, sabe mortos enterrar? Já velei muitos defuntos, na serra é coisa vulgar mas nunca aprendi as rezas, sei somente acompanhar. Pois se o compadre soubesse rezar ou mesmo cantar, trabalhávamos a meias, que a freguesia bem dá. Agora se me permite minha vez de perguntar: como senhora, comadre, pode manter o seu lar? Vou explicar rapidamente, logo compreenderá: como aqui a morte é tanta, vivo de a morte ajudar. E ainda se me permite que volte a perguntar: é aqui uma profissão trabalho tão singular? é, sim, uma profissão, e a melhor de quantas há: sou de toda a região rezadora titular. E ainda se me permite mais outra vez indagar: é boa essa profissão em que a comadre ora está?

De um raio de muitas léguas vem gente aqui me chamar a verdade é que não pude queixar-me ainda de azar. E se pela última vez me permite perguntar: não existe outro trabalho para mim nesse lugar? Como aqui a morte é tanta, só é possível trabalhar nessas profissões que fazem da morte ofício ou bazar. Imagine que outra gente de profissão similar, farmacêuticos, coveiros, doutor de anel no anular, remando contra a corrente da gente que baixa ao mar, retirantes às avessas, sobem do mar para cá. Só os roçados da morte compensam aqui cultivar, e cultivá-los é fácil: simples questão de plantar não se precisa de limpa, as estiagens e as pragas fazemos mais prosperar e dão lucro imediato nem é preciso esperar pela colheita: recebe-se na hora mesma de semear. (João Cabral de Melo Neto) Texto 7 Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas. Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci. Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do [chão, aves, pessoas humildes, árvores e rios. Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar [entre pedras e lagartos. Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto [meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou [abençoado a garças. Me procurei a vida inteira e não me achei pelo que

[fui salvo. Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado. Os bois me recriam. Agora eu sou tão ocaso! Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço [coisas inúteis. No meu morrer tem uma dor de árvore. (Manoel de Barros) Texto 8 (Crônica)