A POLÍTICA DE CONCORRÊNCIA

Documentos relacionados
TÍTULO VI AS REGRAS COMUNS RELATIVAS À CONCORRÊNCIA, À FISCALIDADE E À APROXIMAÇÃO DAS LEGISLAÇÕES CAPÍTULO 1 AS REGRAS DE CONCORRÊNCIA SECÇÃO 1

REGULAMENTO (UE) N.º /.. DA COMISSÃO. de XXX

ENQUADRAMENTO COMUNITÁRIO DOS AUXÍLIOS ESTATAIS SOB A FORMA DE COMPENSAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA COMISSÃO DE ASSUNTOS CONSTITUCIONAIS, DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS RELATÓRIO COM (2013) 404 final PROPOSTA DE DIRECTIVA DO

Tratado Sobre o Funcionamento da União Europeia. (Excertos)

[notificada com o número C(2017) 2200] (Apenas faz fé o texto na língua inglesa)

ORIENTAÇÕES RELATIVAS AOS LIMITES PARA AS POSIÇÕES EM RISCO SOBRE ENTIDADES DO SISTEMA BANCÁRIO PARALELO EBA/GL/2015/20 03/06/2016.

Nota da Comissão. de Nota de orientação relativa à aplicação de determinadas disposições do Regulamento (UE) n.

LIBERDADES DE CIRCULAÇÃO

PROJETO DE SEGUNDO RELATÓRIO

Orientações finais. relativas à inter-relação entre a sequência da redução e da conversão no âmbito da DRRB e a legislação CRR/CRD

Jornal Oficial da União Europeia REGULAMENTOS

ANEXO COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO EUROPEU, AO CONSELHO, AO COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU E AO COMITÉ DAS REGIÕES

Auxílios de Estado para um Desenvolvimento Sustentável:

EBA/GL/2017/03 11/07/2017. Orientações finais. sobre a taxa de conversão da dívida em capitais próprios na recapitalização interna

Orientações finais. relativas ao tratamento dos acionistas na recapitalização interna ou na redução e conversão de instrumentos de capital

Comissão dos Assuntos Jurídicos COMUNICAÇÃO AOS MEMBROS (0047/2012)

COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO EUROPEU. em conformidade com o artigo 294.º, n.º 6, do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia

REGULAMENTO (UE) 2015/534 DO BANCO CENTRAL EUROPEU

ÍNDICE GERAL. apresentação da 8ª edição 7 apresentação da 7ª edição 9 apresentação da 6ª edição 11 apresentação da 1ª edição 13

DECISÃO DE EXECUÇÃO DA COMISSÃO. de

REGULAMENTO DELEGADO (UE) /... DA COMISSÃO. de

Proposta de REGULAMENTO DO CONSELHO

Proposta de REGULAMENTO DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO

Proposta de REGULAMENTO DO CONSELHO

DECISÃO DE EXECUÇÃO DA COMISSÃO. de

ALTERAÇÕES apresentadas pela Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários. Proposta de diretiva (COM(2018)0020 C8-0023/ /0005(CNS))

III. (Actos preparatórios) CONSELHO

BASE JURÍDICA OBJETIVOS REALIZAÇÕES

Proposta de DIRETIVA DO CONSELHO

AUTORIDADE EUROPEIA PARA A PROTEÇÃO DE DADOS

(Atos não legislativos) REGULAMENTOS

DECISÃO DE EXECUÇÃO DA COMISSÃO. de

Troca automática de informações obrigatória no domínio da fiscalidade *

Cofinanciado por / Confinanced by

(Atos não legislativos) REGULAMENTOS. Tendo em conta o Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, nomeadamente o artigo 108. o, n.

Tendo em conta o Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia,

DECISÃO DE EXECUÇÃO DA COMISSÃO. de

REGULAMENTOS. (Atos não legislativos)

(Atos não legislativos) REGULAMENTOS

Síntese do Parecer sobre a proposta de reformulação da Diretiva relativa à reutilização de Informações do Setor Público (ISP)

PE-CONS 23/16 DGG 1B UNIÃO EUROPEIA. Bruxelas, 9 de junho de 2016 (OR. en) 2016/0033 (COD) PE-CONS 23/16 EF 117 ECOFIN 395 CODEC 651

(Atos não legislativos) REGULAMENTOS

(Atos não legislativos) REGULAMENTOS

PROPOSTA DE RESOLUÇÃO

PROJETO DE RELATÓRIO

Conselho da União Europeia Bruxelas, 14 de outubro de 2016 (OR. en)

DECISÃO DE EXECUÇÃO DA COMISSÃO. de

PT Unida na diversidade PT A8-0245/166. Alteração. Jean-Marie Cavada em nome do Grupo ALDE

DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO

Proposta de REGULAMENTO DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO

Anexo à Consulta Pública do Banco de Portugal n.º 1/2017: Quadro de opções

REGULAMENTOS Jornal Oficial da União Europeia L 61/1. (Actos aprovados ao abrigo dos Tratados CE/Euratom cuja publicação é obrigatória)

DECISÃO DE EXECUÇÃO DA COMISSÃO. de

(Texto relevante para efeitos do EEE)

REGULAMENTO DELEGADO (UE) /... DA COMISSÃO. de

(Atos não legislativos) REGULAMENTOS

Envia-se em anexo, à atenção das delegações, o documento COM(2017) 606 final.

Proposta de DECISÃO DO CONSELHO

Tendo em conta o Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia,

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA COMISSÃO DE ASSUNTOS EUROPEUS

PT Unida na diversidade PT A8-0176/288. Alteração. Patrick Le Hyaric, Younous Omarjee em nome do Grupo GUE/NGL

ORIENTAÇÃO (UE) 2017/697 DO BANCO CENTRAL EUROPEU

PARLAMENTO EUROPEU Comissão do Mercado Interno e da Proteção dos Consumidores PROJETO DE PARECER

Orientações Regras e procedimentos das Centrais de Valores Mobiliários (CSD) aplicáveis em caso de incumprimento de participantes

DECISÃO DE EXECUÇÃO DA COMISSÃO

ERRATA. PT Unida na diversidade PT. Parlamento Europeu A8-0395/2017/err01. ao relatório

PT Unida na diversidade PT A8-0204/110. Alteração. Karima Delli em nome da Comissão dos Transportes e do Turismo

REGULAMENTO DELEGADO (UE) 2015/1971 DA COMISSÃO

PARECER FUNDAMENTADO DE UM PARLAMENTO NACIONAL SOBRE A SUBSIDIARIEDADE

REGULAMENTO DELEGADO (UE) /... DA COMISSÃO. de

*** PROJETO DE RECOMENDAÇÃO

AUXÍLIOS ESTATAIS COM FINALIDADE REGIONAL

Conselho da União Europeia Bruxelas, 11 de abril de 2017 (OR. en)

COMISSÃO EUROPEIA DIREÇÃO-GERAL DA CONCORRÊNCIA

(Atos legislativos) DIRETIVAS

2. A proposta de Diretiva Insolvência está sujeita ao processo legislativo ordinário.

Novos regimes jurídicos relativos a Auxílios de Estado

Parecer nº 5/ , rue Alcide De Gasperi - L Luxembourg T (+352) E eca.europa.eu

A Regulação do Mercado dos Serviços Postais Enquadramento Regulamentar. PROJEP Direito das Comunicações

PARECER FUNDAMENTADO DE UM PARLAMENTO NACIONAL SOBRE A SUBSIDIARIEDADE

(Atos não legislativos) REGULAMENTOS

Conselho da União Europeia Bruxelas, 12 de julho de 2016 (OR. en)

Recomendação de DECISÃO DO CONSELHO. que revoga a Decisão 2009/415/CE sobre a existência de um défice excessivo na Grécia

11173/17 ml/scm/jcc 1 DGG1B

(Texto relevante para efeitos do EEE)

DECISÕES. (Texto relevante para efeitos do EEE)

COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Proposta de REGULAMENTO DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO

PE-CONS 40/17 DGE 1 UNIÃO EUROPEIA. Bruxelas, 10 de outubro de 2017 (OR. en) 2017/0013 (COD) PE-CONS 40/17 ENV 658 MI 530 CODEC 1166

Proposta de DIRETIVA DO CONSELHO

Reforma legislativa da proteção de dados pessoais na União Europeia. Jornadas FCCN 2017

Proposta conjunta de DECISÃO DO CONSELHO

COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO EUROPEU. em conformidade com o artigo 294.º, n.º 6, do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia

DECLARAÇÃO DE CONFIDENCIALIDADE. Qual é o objetivo da recolha de dados? Qual é a base jurídica do tratamento de dados?

DECISÕES. (5) A delegação de poderes de decisão deve ser limitada e proporcional, e o alcance da delegação deve ser claramente definido.

TEXTOS APROVADOS. Quitação 2014: Empresa Comum Iniciativa sobre Medicamentos Inovadores 2 (IMI)

(Atos não legislativos) REGULAMENTOS

Proposta de DECISÃO DE EXECUÇÃO DO CONSELHO

Transcrição:

A POLÍTICA DE CONCORRÊNCIA Os artigos 101.º a 109.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE) contêm as regras de concorrência no mercado interno. Nos termos destes artigos, são proibidos os acordos entre empresas suscetíveis de restringir a concorrência. A empresa que detenha uma posição dominante está proibida de explorar de modo abusivo a sua posição e de, assim, afetar as trocas comerciais entre os Estados-Membros. As concentrações e aquisições de dimensão comunitária são controladas pela Comissão Europeia, podendo até, em determinados casos, ser proibidas. A concessão de auxílios estatais a determinados produtos ou empresas que provocam distorções da concorrência encontra-se proibida, embora possa ser, em determinados casos, autorizada. As regras de concorrência são igualmente aplicáveis às empresas públicas, aos serviços públicos e aos serviços de interesse geral. Estas mesmas regras podem ser revogadas caso a consecução dos objetivos destes serviços específicos fique comprometida. BASE JURÍDICA Artigos 101.º a 109.º do TFUE, assim como o Protocolo n.º 27 relativo ao mercado interno e à concorrência que declara que o objetivo do mercado interno, tal como estabelecido no artigo 3.º, n.º 3, do TUE, inclui a concorrência não falseada; Regulamento (CE) n.º 139/2004 relativo ao controlo das concentrações de empresas; Artigos 37.º, 106.º e 345.º do TFUE para as empresas públicas, bem como os artigos 14.º, 59.º, 93.º, 106.º, 107.º, 108.º e 114.º do TFUE para os serviços públicos, os serviços de interesse geral e os serviços de interesse económico geral; Protocolo n.º 26 sobre os serviços de interesse geral; Artigo 36.º da Carta dos Direitos Fundamentais. OBJETIVOS O objetivo fundamental das regras de concorrência comunitárias consiste em assegurar que a concorrência não é falseada. No entanto, a concorrência efetiva não é um fim em si mesma, mas sim uma condição da realização de um mercado interno livre e dinâmico, que funcione como um dos vários instrumentos de promoção do bem-estar económico geral. Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, a garantia de que a concorrência não é falseada deixou de ser referida expressamente no artigo 3.º do TFUE e, de acordo com o Protocolo n.º 27, passou a ser abrangida pelo conceito de mercado interno. Não é de esperar que resultem daí alterações de índole prática, uma vez que as regras de concorrência se mantiveram inalteradas. As condições da sua aplicação e os seus efeitos jurídicos consolidaram-se de tal modo ao longo da prática administrativa de há muitos anos da Comissão e da jurisprudência dos tribunais europeus que podem ser consideradas estáveis. Fichas técnicas sobre a União Europeia - 2017 1

RESULTADOS A. Proibição total dos acordos suscetíveis de restringir a concorrência (artigo 101.º do TFUE) São proibidos e automaticamente nulos (n.º 2) todos os acordos entre empresas que sejam suscetíveis de distorcer a concorrência e afetar o comércio entre os Estados-Membros (n.º 1). Os acordos que contribuam para melhorar a produção ou a distribuição dos produtos ou para promover o progresso técnico ou económico podem não ser abrangidos pela proibição, contanto que aos utilizadores se reserve uma parte equitativa do lucro daí resultante e que os acordos não imponham restrições inúteis nem tenham por objetivo eliminar a concorrência relativamente a uma parte substancial dos produtos em causa (n.º 3). A execução das regras estabelecidas nos artigos 101.º e 102.º do TFUE rege-se, desde 1 de maio de 2004, pelo Regulamento (CE) n.º 1/2003 do Conselho. Segundo esse regulamento, as próprias autoridades de concorrência nacionais, assim como os tribunais dos Estados-Membros, podem aplicar os artigos 101.º e 102.º do TFUE. Em 2017, a Comissão apresentou uma proposta de diretiva para dotar as autoridades nacionais da concorrência (ANC) de competências que lhes permitam tornar-se mais eficazes na aplicação das regras anti-trust da UE, com vista a assegurar que, ao aplicarem a mesma base jurídica, as ANC que cooperam através da Rede Europeia da Concorrência (REC) dispõem das ferramentas adequadas para criar um verdadeiro espaço comum de aplicação das leis da concorrência. De uma maneira geral, os procedimentos que se seguem revelaram-se úteis na aplicação das regras anti-trust da UE: Isenções por categoria: um grupo de acordos individuais de conteúdo semelhante que tem consequências tipicamente comparáveis para a concorrência. Caso seja de esperar que para um grupo de acordos deste tipo venham a ser cumpridas as condições de isenção estabelecidas no artigo 101.º, n.º 3, do TFUE, existe a possibilidade de, enquanto grupo, lhe conceder a isenção da proibição do artigo 101.º do TFUE, sob a forma de regulamento. Este procedimento visa facilitar a prática administrativa da Comissão. Acordos de importância menor: certos acordos que, nomeadamente, não beneficiam da isenção prevista no artigo 101.º, n.º 3, do TFUE não devem ser considerados infrações quando se trata de acordos de importância menor e sem efeitos percetíveis no mercado (princípio «de minimis»). Estes acordos são frequentemente considerados úteis para a cooperação entre pequenas e médias empresas. Na sequência das alterações a alguns regulamentos de isenção por categoria, bem como da jurisprudência recente, procedeu-se à revisão da comunicação «de minimis» de 2014 (2014/C291/01). A principal alteração consiste em clarificar que os acordos que têm como objeto a restrição da concorrência não devem ser considerados acordos de importância menor. Certos tipos de acordos continuam a ser considerados acordos passíveis de restringir a concorrência, sendo, por conseguinte, proibidos sem exceção; trata-se sobretudo da fixação de preços e das cláusulas de proteção territorial. Procedimento de transação em processos de cartéis: com base no Regulamento (CE) n.º 622/2008 existe a possibilidade de acelerar a conclusão de um processo, com uma redução do montante da coima em cerca de 10 %, quando as empresas afetadas apoiam a Comissão no seu trabalho, informando, logo numa fase inicial do processo, sobre a sua participação num acordo anticoncorrencial. Ações de indemnização: para reforçar o efeito de dissuasão de acordos proibidos e para melhor proteger os consumidores, foi adotada, em 2014, a Diretiva 2014/104/UE relativa a certas regras Fichas técnicas sobre a União Europeia - 2017 2

que regem as ações de indemnização no âmbito do direito nacional por infrações às disposições do direito da concorrência dos Estados-Membros e da União Europeia. Para os processos em matéria de cartéis, esta diretiva terá duas consequências: a indemnização civil será cumulável com as coimas e a eficácia do programa de clemência não deverá ficar comprometida. B. Exploração abusiva de uma posição dominante no mercado (artigo 102.º do TFUE) Nesta aceção, por «posição dominante» entende-se «uma posição de poder económico detida por uma empresa que lhe permite afastar a manutenção de uma concorrência efetiva no mercado em causa e lhe possibilita comportar-se, em medida apreciável, de modo independente em relação aos seus concorrentes, aos seus clientes e, finalmente, aos consumidores.» (Processo 27/76, United Brands). O princípio da posição dominante aplica-se à globalidade ou a uma parte substancial do mercado interno. A dimensão do mercado relevante depende das características do produto, da existência e do comportamento/da disponibilidade dos consumidores para mudar para produtos alternativos. O artigo 102.º do TFUE estabelece uma lista não exaustiva de exemplos de «práticas abusivas». Desde setembro de 2016, a Comissão tem aplicado um procedimento de transação sob a forma de procedimento de cooperação, incluindo em caso de violação do artigo 102.º do TFUE. C. Processo de controlo das concentrações O Regulamento (CE) n.º 139/2004 estabelece que qualquer concentração que entrave significativamente a concorrência efetiva, no mercado comum ou numa parte substancial deste, em particular em resultado da criação ou do reforço de uma posição dominante, deverá ser declarada incompatível com o mercado comum (artigo 2.º, n.º 3). O projeto de concentração deve ser notificado à Comissão, antes da realização dessa concentração. A aquisição de controlo de outras empresas constitui o ponto de partida para uma avaliação (artigo 3.º, n.º 1). A concentração não pode ser concluída enquanto a Comissão não conceder autorização para tal (artigo 7.º). Não se realiza um controlo sistemático a posteriori, nem uma dissociação de empresas coligadas. O processo pode incluir duas fases. Em geral, os processos ficam concluídos logo na primeira fase (25 dias úteis), sendo que os casos complicados serão examinados mais aprofundadamente numa segunda fase (90 dias úteis). As decisões de autorização podem ser acompanhadas de condições e obrigações (artigo 8.º). Em 2014, a Comissão apresentou o Livro Branco intitulado «Rumo a um controlo mais eficaz das concentrações da UE», através do qual se pretende alcançar uma maior eficácia conjunta das regras a nível nacional e a nível da União. Em outubro de 2016, a Comissão lançou uma consulta pública no âmbito da avaliação em curso de aspetos processuais e jurisdicionais específicos do controlo das concentrações da UE. D. Proibição dos auxílios estatais prevista no artigo 107.º do TFUE Os auxílios são prestações provenientes de recursos estatais concedidas diretamente pelos Estados-Membros. A proibição compreende, além dos subsídios a fundo perdido, os empréstimos em condições favoráveis, as isenções fiscais e as garantias de empréstimo, ou mesmo a participação das autoridades públicas no capital das empresas, na medida em que tal favoreça certas empresas ou certas produções, que falseiem ou ameacem falsear a concorrência e afetem as trocas comerciais entre os Estados-Membros. A proibição dos auxílios estatais não se aplica aos casos exaustivamente enumerados no n.º 2. Tais auxílios são compatíveis com o mercado interno e automaticamente admissíveis. Nos casos enunciados no n.º 3, a Comissão deve efetuar uma avaliação caso a caso. Mesmo no caso do controlo dos auxílios estatais, aplicam-se o princípio «de minimis» e, desde 2008, uma isenção Fichas técnicas sobre a União Europeia - 2017 3

geral por categoria [Regulamento (CE) n.º 800/2008], cujo âmbito de aplicação foi alargado em 2014 e 2017. Na sequência da crise económica e financeira, é aplicável, desde 1 de agosto de 2013, com base jurídica no artigo 107.º, n.º 3.º, alínea b), do TFUE, a chamada Comunicação sobre a aplicação das regras em matéria de auxílios estatais às medidas de apoio aos bancos no contexto da crise financeira (JO C 216 de 30.7.2013, p. 1). As demais comunicações referem-se, por exemplo, à recapitalização das instituições financeiras, ao tratamento dos ativos depreciados ou ao regresso à viabilidade e à avaliação das medidas de reestruturação. Os auxílios estatais aos bancos visam promover a concessão de créditos e o investimento num crescimento sustentável. No contexto da modernização das normas relativas aos auxílios estatais, procedeu-se à revisão de uma série de regulamentos, tendo em vista uma maior focalização nos casos de auxílios estatais que têm um impacto mais negativo no mercado interno e uma racionalização do processo. O tratamento tributário preferencial dado a determinadas empresas em alguns Estados-Membros foi considerado pela Comissão nas suas decisões iniciais como um auxílio ilegal, devendo ser exigida a sua restituição (decisão relativa aos processos Fiat Finance and Trade e Starbucks Manufacturing, de outubro de 2015). No caso da Apple, a Comissão ordenou à Irlanda a recuperação de 13 mil milhões de EUR de receitas fiscais. Tanto a Apple como a Irlanda interpuseram recurso desta decisão e a decisão do Tribunal está ainda pendente. Outros casos estão a ser investigados pela Comissão. E. Serviços públicos, serviços de interesse geral e serviços de interesse económico geral (SIEG) Pela primeira vez, o artigo 14.º, segunda frase, do TFUE confere à União Europeia uma competência legislativa não exclusiva. Nos artigos 52.º e 114.º do TFUE, o processo legislativo ordinário atribui ao Parlamento Europeu e ao Conselho o papel de colegisladores em pé de igualdade. O artigo 14.º do TFUE é completado pelo Protocolo n.º 26, o qual salienta, uma vez mais, remetendo para o artigo 14.º do TFUE, a importância destes serviços e a sua diversidade, o amplo poder de apreciação das autoridades nacionais, regionais e locais, bem como o acesso universal a esses serviços. O artigo 14.º do TFUE adquire uma importância particular por via do artigo 36.º da Carta dos Direitos Fundamentais, sendo, aqui, igualmente reconhecido o acesso que os cidadãos da União devem ter aos SIEG, com vista a promover a coesão social e territorial da União. O pacote regulamentar sobre os SIEG, atualmente em vigor, consiste numa decisão da Comissão (JO L 7 de 11.1.2012, p. 3), em duas comunicações (JO C 8 de 11.1.2012, p. 4, e JO C 8 de 11.1.2012, p. 15) e na Diretiva 2006/111/CE. O PAPEL DO PARLAMENTO EUROPEU Geralmente, o Parlamento Europeu apenas participa na legislação relativa à concorrência através do processo de consulta. Daí que a sua influência seja limitada relativamente à da Comissão e do Conselho. O Parlamento solicitou já em várias ocasiões, nomeadamente nas suas resoluções anuais sobre o Relatório Anual da Comissão sobre a política de concorrência, a aplicação do processo legislativo ordinário à legislação em matéria de concorrência. O principal papel do Parlamento é, por conseguinte, o de controlar o executivo. O Comissário responsável pela concorrência comparece, várias vezes por ano, perante a Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários (ECON) para apresentar explicações acerca da sua política e debater decisões. Fichas técnicas sobre a União Europeia - 2017 4

O processo legislativo ordinário aplicou-se à diretiva atrás referida relativa às ações de indemnização. Neste caso raro, relativamente ao qual o Parlamento agiu como colegislador (com a Comissão ECON enquanto comissão competente), para os deputados importava que os consumidores fossem totalmente indemnizados pelos danos sofridos e, ao mesmo tempo, fosse assegurada a não ocorrência de uma compensação excessiva. No interesse dos consumidores, os deputados ao Parlamento Europeu conseguiram que as decisões adotadas pelas autoridades de concorrência nacionais fossem encaradas como elementos de prova prima facie da violação da legislação relativa à concorrência. No verão de 2016, a Comissão Especial sobre Acordos Fiscais e outras medidas similares na sua natureza ou efeitos (TAXE 1, TAXE 2) deu por concluídas as suas reflexões sobre a forma de avaliar a compatibilidade das decisões fiscais emitidas pelos Estados-Membros com as regras aplicáveis aos auxílios estatais e sobre a questão da clarificação das regras relativas ao intercâmbio de informações. A proposta da Comissão sobre a atribuição de competências às ANC para aplicarem o direito da concorrência da UE de forma eficaz (ECN + proposta) está atualmente a ser examinada de acordo com o processo legislativo ordinário através do Parlamento, com a Comissão ECON como comissão competente. A posição do Parlamento, a negociar com o Conselho «Competitividade», está prevista para o início de 2018. Stephanie Honnefelder / Roberto Silvestri 06/2017 Fichas técnicas sobre a União Europeia - 2017 5