ConScientiae Saúde ISSN: Universidade Nove de Julho Brasil

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Transcrição:

ConScientiae Saúde ISSN: 1677-1028 conscientiaesaude@uninove.br Universidade Nove de Julho Brasil Ribeiro Pense, Marcela; Correa de Carvalho, André Paulo Biodiversidade de aves do Parque Estadual do Jaraguá (SP) ConScientiae Saúde, núm. 4, 2005, pp. 55-61 Universidade Nove de Julho São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=92900406 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Biodiversidade de aves do Parque Estadual do Jaraguá 1 (SP) Marcela Ribeiro Pense Graduada em Ciências Biológicas UNINOVE. lelapense@yahoo.com.br, São Paulo SP, [Brasil] André Paulo Correa de Carvalho Mestre em Ciências Biológicas UNESP; Coordenador de curso e professor na graduação UNINOVE. andrepcc@uninove.br, São Paulo SP, [Brasil] As aves constituem o grupo de vertebrados mais estudado e conhecido em razão do hábito predominantemente diurno e do padrão de colorido conspícuo; são de extrema importância no controle biológico, na dispersão de sementes e na verificação das condições ecológicas de um determinado ambiente, atuando como bioindicadoras e servindo de base a planos de manejos em unidades de conservação. O presente trabalho de levantamento da avifauna foi realizado no Parque Estadual do Jaraguá (SP), localizado no perímetro urbano do município de São Paulo, entre setembro de 2003 e setembro de 2004. O levantamento possibilitou a verificação das espécies de aves que podem ser encontradas em um parque urbano e como respondem aos impactos (crescimento urbano desordenado e grande número de visitações). As observações foram realizadas quinzenalmente, com binóculo, preferencialmente pela manhã (período de maior atividade das aves) por meio de caminhadas, em três trilhas do parque (Bica, Pai Zé e Silêncio), nos lagos e nas áreas próximas. As espécies mais freqüentes foram Phalacrocorax brasilianus, Casmerodius alba, Coragys atratus, Galinulla chlorops, Columbia livia, Brotogeris tirica, Pitangus sulphuratus, Turdus rufiventris, Zonotrichia capensis, Basileuterus culicivurus e Coereba flaveola; as menos freqüentes foram Buteo magnirostris, Columba pumplea, Columbina talpacoti, Crotophaga ani, Dryocopus lineatus, Knipolegus nigerrimus, Myiodynastes maculatus, Chiroxiphia caudata, Saltator fuliginosus, Pipraeidea melanonota, Passer domesticus e Trichothraupis melanops. EDITORIAL ENTREVISTA ARTIGO INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES Palavras-chave: Aves. Biodiversidade. Jaraguá. Ornitologia. ConScientiae Saúde, São Paulo, v. 4, p. 55-61, 55-62, 2005. 55

1 Introdução O termo biodiversidade tem sido utilizado com diversos significados, mas, do ponto de vista científico, um dos mais comuns e abrangentes é o que a considera como a variedade natural, que inclui a diversidade de ecossistemas, o número e a freqüência de espécies ou genes (SOULE, 1991 apud SÃO PAULO, 2000). Segundo Pinto- Coelho (2002), biodiversidade refere-se ao estudo das relações quantitativas entre riqueza e abundância de espécies dentro das comunidades. Gradualmente, a conservação da biodiversidade vem ocupando um espaço de destaque na sociedade (SÃO PAULO, 2000), sendo de grande importância os trabalhos relacionados à diversidade natural, pois constituem a base para a educação ambiental, fornecem dados para a análise ecológica e proporcionam o conhecimento de variações da biodiversidade de uma localidade em função do tempo. A análise da avifauna justifica-se devido a algumas de suas características como padrão de colorido conspícuo, diversidade de espécie e respostas rápidas a alterações ambientais, atuando como bioindicadores ecológicos; são potenciais organismos para serem utilizados em programas de monitoramento ambiental e em atividades de educação ambiental (SÃO PAULO, 2000). O estudo da comunidade de aves é importante para a elaboração do plano de manejo e conservação das áreas naturais (POZZA; PIRES, 2003). O objetivo do trabalho foi o de observar e identificar a avifauna existente no Parque Estadual do Jaraguá, localizado em uma área urbana da cidade de São Paulo, relacionando família, espécie, ponto de avistamento e número de indivíduos, bem como a observação de aspectos associados à distribuição longitudinal e deslocamento entre os diversos grupos vegetais presentes no parque. 2 Material e métodos O presente estudo foi desenvolvido no parque, distante 16 quilômetros do centro da cidade, entre a latitude 23º24 Sul e a longitude 45º44 Oeste (SÃO PAULO, 2000). O parque constitui um dos últimos remanescentes de mata atlântica em áreas urbanas da cidade, possuindo importância histórica, estética, recreacional, econômica, e relevância do ponto de vista das funções ambientais, como, por exemplo, qualidade do ar e da água, manutenção de temperaturas mais amenas, entre outros (SÃO PAULO, 2000). O acelerado processo de fragmentação da Mata Atlântica tornou esse bioma uma das áreas de maior prioridade para a conservação biológica em todo o mundo, em razão de grande parte dos fragmentos ter sofrido algum tipo de perturbação antrópica (DARIO; ALMEIDA, 2000; DARIO; VICENZO; ALMEIDA, 2002). A região na qual o parque está localizado apresenta-se impactada pela presença humana, relacionada tanto com a habitação quanto com a visitação, sendo sua diversidade florística e faunística pouco conhecida e raros os trabalhos desenvolvidos sobre a avifauna local. O trabalho de identificação das espécies que compõem a avifauna foi realizado por meio de saídas técnicas que ocorreram quinzenalmente aos domingos pela manhã, em um período de quatro horas, iniciado em 14 de setembro de 2003 e concluído em 19 de setembro de 2004. Para as observações, utilizou-se a forma clássica de levantamento que consistiu 56 ConScientiae Saúde, São Paulo, v. 4, p. 55-61, 2005.

na observação direta, com binóculo (Grand Prix, aumento 4x50; Phoenix, aumento 10x50), gravador (Panasonic RN-202), e prancheta para anotações, para que os dados mais importantes fossem imediatamente relatados, além da utilização de lista de espécies das aves do parque (CENTRO DE ESTUDOS ORNITOLÓGICOS, 2002; SÃO PAULO, 2000) e de guias para identificação (HOFLING; CAMARGO, 1999; SOUZA, 2002; DEVELEY; ENDRIGO, 2004). Durante as atividades, procurou-se cobrir a maior área do parque, por meio de caminhadas pelas diversas trilhas existentes na unidade, sem um roteiro preestabelecido. As principais trilhas percorridas foram a do Silêncio (T1), a da Bica (T2) e a do Pai Zé (T3), respectivamente com 828 metros (m), 1,6 mil m e 1,6 mil m de extensão. Também foram realizados avistamentos no lago próximo ao portão de entrada do parque (L1), no lago próximo à estrada que leva ao pico (L2) e nas áreas próximas às trilhas e a tais lagos, nas quais foram possíveis observações de algumas espécies de avifauna (D). Tal prática possibilitou a visualização da avifauna em diferentes ambientes e épocas do ano. Foram ainda verificados dados sobre freqüência de ocorrência (FO) e guildas alimentares. A freqüência de ocorrência (FO) que corresponde ao número de amostras em que determinada espécie foi observada em relação ao número total de amostras (LINDSDALE, 1928 apud DARIO, 1999) foi a seguinte: Em que: FO = Nai Nta 100 Nai = número de amostras em que a espécie foi observada; Nta = número total de amostras. 3 Resultados e discussão Considerando-se a área total compreendida pelas trilhas visitadas e o tempo dispendido para as observações, foram identificadas 70 espécies, 26 famílias e 15 ordens (Tabela 1), de acordo com Sick (2001). Dario e Almeida (2000) identificaram 54 espécies, 14 famílias e seis ordens nos domínios da Mata Atlântica do município de Paraibuna, em 2.502 horas de atividades de coleta de espécimes, utilizando rede; na mesma região, Dario, Vicenzo e Almeida (2002), valendo-se do método de ponto fixo, observaram 113 espécies, 27 famílias e 13 ordens; Straube (2003), em seu trabalho de levantamento em área de Mata Atlântica no Paraná, na Área Especial de Interesse Turístico do Marumbi, registrou 314 espécies, 46 famílias e 20 ordens; São Paulo (2000) e Centro de Estudos Ornitológicos (2002), em trabalhos de lista de avifauna no Parque Estadual do Jaraguá, registraram, respectivamente, 15 e 12 ordens, 29 e 27 famílias, 71 e 114 espécies. FO é uma relação interessante para pontuar em trabalhos de biodiversidade, pois permite obter a freqüência de cada espécie para cada ambiente estudado (POZZA, 2002) e concluir se uma espécie é encontrada regularmente ou não (VIELLIARD; SILVA, 1990 apud PIRATELLI, 1999). No Parque Estadual do Jaraguá, foram observadas 45 espécies com FO menor que 25%, entre as quais Vanellus chilensis, Columba pumblea, Crotophaga ani, Pulsatrix koeniswaldiana, Phaetornis petrei, Eupetonema macroura, Gralaria varia, Serpophaga subcristata, Todisrosrum cinereum, Attila rufus, Myiodinastes maculatus, Parula pitiayumi, Trichothraupis melanops, Pipraeidea melanonota, Euphonia chlorotica, Dacnis cayana, Volatinia jacarina, Saltator fuliginosus e Passer domesticus apresentaram a menor FO; nove espécies com EDITORIAL ENTREVISTA ARTIGO INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES ConScientiae Saúde, São Paulo, v. 4, p. 55-61, 2005. 57

FO entre 25 e 50%, inclusive Anhinga anhinga, Penelope obscura, Piaya cayana e Coereba flaveola; oito espécies com FO entre 50 e 75%, entre as quais Coragys atratus, Dendrocygna viduata, Tolmomyias sulphurescens e Basileuterus culicivurus; oito espécies com FO acima de 75%, incluindo Phalacrocorax brasilianus, Columba livia, Pitangus sulphuratus e Zonotrichia capensis. Tabela 1: Sistemática e frequência de ocorrência (FO) Ordem Família Espécie Nome vulgar FO (%) Pelecaniformes Phalacrocoracidae Phalacrococrax brasilianus Biguá 83,3 Pelecaniformes Anhingidae Anhinga anhinga Biguatinga 50 Ciconiiformes Ardeidae Ardea cocoi Socó-grande 26,7 Ciconiiformes Ardeidae Casmerodius alba Garça-branca-grande 60 Ciconiiformes Ardeidae Egretta thula Garça-branca-pequena 23,3 Ciconiiformes Ardeidae Butorides striatus Socozinho 60 Ciconiiformes Ardeidae Nycticorax nycticorax Socó-dorminhoco 13,3 Ciconiiformes Cathartidae Coragys atratus Urubu 56,7 Anseriformes Anatidae Dendrocygna viduata Irerê 73,3 Anseriformes Anatidae Amazonetta brasiliensis Ananaí 43,3 Falconiformes Accipritidae Rupornis magniplumis Gavião-carijó 16,7 Galliformes Cracidae Penelope obscura Jacuguaçu 26,7 Gruiformes Rallidae Aramides saracura Saracura-do-mato 10 Gruiformes Rallidae Galinulla chlorops Frango-d água 86,7 Charadriiformes Charadriidae Vanellus chilensis Quero-quero 3,3 Columbiformes Columbidae Columba pumblea Pomba-amargosa 3,3 Columbiformes Columbidae Columba cívia doméstica Pomba-doméstica 100 Columbiformes Columbidae Columbina talpacoti Rolinha-caldo-de-feijão 10 Columbiformes Columbidae Leptotila verreauxi Juriti-gemedeira 23,3 Psittaciformes Psittacidae Brotogeris tirica Periquito 76,7 Psittaciformes Psittacidae Pionus maximiliani Maitaca 26,7 Cuculiformes Cuculidae Piaya cayana macraura Alma-de-gato 40 Cuculiformes Cuculidae Crotophaga ani Anum-preto 3,3 Strigiformes Strigidae Pulsatrix koeniswaldiana Murucututu 3,3 Apodiformes Trochilidae Phaetornis petrei Rabo-branco-desobre-amarelo Apodiformes Trochilidae Eupetonema macroura Tesourão 3,3 Apodiformes Trochilidae Thalurania glaucops Tesousa-de-fronte-violeta 20 Apodiformes Trochilidae Amazilia lactea Beija-flor-de-peito-azul 10 Coraciiformes Alcedinidae Ceryle torquata Martim-pescador-grande 63,3 Coraciiformes Alcedinidae Chloroceryle amazona Martim-pescador-verde 56,7 Piciformes Ramphastidae Ramphastos dicolorus Tucano-do-bico-verde 40 Piciformes Ramphastidae Ramphastos vitelinus Tucano-do-bico-preto 10 Piciformes Picidae Picumnus cirratus Pica-pau-anão 10 Piciformes Picidae Celeus flavescens João-velho 20 3,3 58 ConScientiae Saúde, São Paulo, v. 4, p. 55-61, 2005.

Tabela 1: Continuação Sistemática e frequência de ocorrência (FO) Ordem Família Espécie Nome vulgar FO (%) Piciformes Picidae Dryocopus lineatus Pica-pau-da-banda-branca 6,7 Piciformes Picidae Veniliornis spilogaster Pica-pauzinho-verde-carijó 10 Passeriformes Formicaridae Gralaria varia Tuvacoçu 3,3 Passeriformes Furnariidae Lochmias nematura João-porca 20 Passeriformes Tyrannidae Serpohaga subcristata Alegrinho 3,3 Passeriformes Tyrannidae Todirostrum cinereum Relógio 3,3 Passeriformes Tyrannidae Tolmomyias sulphurescens Bico-chato 56,7 Passeriformes Tyrannidae Knipolegus nigerrimus Maria-preta-degarganta-vermelha Passeriformes Tyrannidae Fluvicula nengeta Lavadeira-mascarada 3,3 Passeriformes Tyrannidae Attila rufus Capitão-saíra 83,3 Passeriformes Tyrannidae Pitangus sulphuratus Bem-te-vi 100 Passeriformes Tyrannidae Megarhincus pitangua Nei-nei 30 Passeriformes Tyrannidae Myiodynastes maculatus Bem-te-vi-rajado 3,3 Passeriformes Tyrannidae Satrapa icterophrys Suiriri 10 Passeriformes Pipridae Chirophixia caudata Tangará-dançarino 3,3 Passeriformes Troglodytidae Troglodytes aedon Curruíra 13,3 Passeriformes Muscicapidae Platycichla flavipes Sabiá-úna 6,7 Passeriformes Muscicapidae Turdus rufiventris Sabiá-laranjeira 83,3 Passeriformes Muscicapidae Turdus amaurucalinus Sabiá-poca 10 Passeriformes Muscicapidae Turdus leucomelas Sabiá-branco 6,7 Passeriformes Vireonidae Cyclarhis gujanensis Pitiguari 10 Passeriformes Emberezidae Parula pitiayumi Mariquita 3,3 Passeriformes Emberezidae Basileuterus culicivurus Pula-pula 70 Passeriformes Emberezidae Coereba flaveola Cambacica 50 Passeriformes Emberezidae Tachyphonus coronatus Tiê-preto 6,7 Passeriformes Emberezidae Trichothraupis melanops Tiê-de-topete 3,3 Passeriformes Emberezidae Thraupis sayca Sanhaço 13,3 Passeriformes Emberezidae Pipraeidea melanonota Viúva 3,3 Passeriformes Emberezidae Euphonia chlorotica Fi-fi-verdadeira 3,3 Passeriformes Emberezidae Tangara cayna Saíra-amarela 6,7 Passeriformes Emberezidae Dacnis cayana Saí-azul 3,3 Passeriformes Emberezidae Sporophila caerulescens nigridlis Papa-capim 20 Passeriformes Emberezidae Zonotrichia capensis Tico-tico 100 Passeriformes Emberezidae Volatinia jacarina Tiziu 3,3 Passeriformes Emberezidae Pitylus Saltator fuliginosus Bico-de-pimenta 3,3 Passeriformes Passeridae Passer domesticus Pardal 3,3 Fonte: Os autores. 6,7 EDITORIAL ENTREVISTA ARTIGO INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES Foram acrescentadas às listas anteriormente verificadas por São Paulo (2000) e pelo Centro de Estudos Ornitológicos (2002) um total de seis espécies: Vanellus chilensis (Charadriidae), ConScientiae Saúde, São Paulo, v. 4, p. 55-61, 2005. 59

Pulsatrix koeniswaldiana (Strigidae), Nycticorax nycticorax (Ardeidae), Fluvicula nengeta (Tyrannidae), Pipraeidae melanonota e Saltator fuliginosus (Emberezidae). A inclusão de novas espécies em lista de fauna são fundamentais para o enriquecimento das informações e do conhecimento da biodiversidade de um determinado local, o que possibilita determinar as condições ambientais e quanto essas condições já evoluíram positiva ou negativamente, e tomar providências para conservação da área. Das 70 espécies observadas, nove delas (13% do total) são endêmicas e duas espécies (3% do total) apresentam padrão migratório. Aramides saracura, Brotogeris tirica, Pulsatrix koeniswaldiana, Thalurania glacops, Ramphastos dicolorus, Attila rufus, Chiroxiphia caudata, Tachyphonus coronatus e Saltator fuliginosus são espécies endêmicas; Pipraeidea melanonota e Myiodynastes maculatus apresentam padrão migratório. Pipraeidea melanonota, vista em São Paulo no período de inverno, foi registrada no parque uma única vez na primeira excursão de setembro de 2004; Myiodynastes maculatus é uma espécie que aparece nos arredores de São Paulo nos meses mais quentes do ano e foi registrada no parque em outubro de 2003. A visualização de tais espécies aponta para a necessidade de conservação da área. 4 Conclusão O levantamento realizado no Parque Estadual do Jaraguá, se comparado aos estudos realizados na mesma área pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2000) e pelo Centro de Estudos Ornitológicos (2002), em relação ao número de observadores, equipamentos e técnicas para observação, atingiu um número significativo de espécies avistadas. A presença de espécies endêmicas e migratórias demonstra a necessidade de estudos sobre a biodiversidade da área, além da elaboração de planos de manejo e conservação. O acréscimo de espécies à lista de avifauna do parque é importante para maior e melhor avaliação da biodiversidade ali existente e maior riqueza de dados para trabalhos futuros, o que exige novos levantamentos para que, com um número maior de informações, seja possível trabalho mais intenso, atuante e eficaz de conservação dessa biodiversidade. Considerando a área total do parque ameaçada pelos impactos de um crescimento urbano desordenado e por um número cada vez maior de visitações e a importância da riqueza de avifauna ali presente que também tem sofrido com esse processo depredatório, é imprescindível, para a proteção e manutenção do parque, que se desenvolvam projetos de recuperação e conservação, incluindo atividades de educação ambiental com a população. Biodiversity of birds in Parque Estadual do Jaraguá (SP) Birds are the most studied and known group of vertebrates due mainly to their predominantly daily habits and their conspicuous colored pattern. They are extremely important on biological control, seed distribution and ecological conditions survey of a given environment. They can be useful bioindicators and also be used in planning management in natural areas. This research on bird checklist was developed at Parque Estadual do Jaraguá (SP), which is located in the urban area of the city of São Paulo and shows some impacts caused by the non-controlled urban growth and by the huge frequency of visitations. This 60 ConScientiae Saúde, São Paulo, v. 4, p. 55-61, 2005.

research intends to check the birds that live in an urban park and their response to all the frequent impacts on the park. The observations were made fortnightly in the mornings, when birds are active, from September 2003 to September 2004. The research was conducted in the traditional way, through walks and binoculars visualization along three paths inside the woods, in the lakes and nearby areas. 70 species from 26 families and 15 orders were observed. The most frequent species were Phalacrocorax brasilianus, Casmerodius alba, Coragys atratus, Galinulla chlorops, Columbia lívia, Brotogeris tirica, Pitangus sulphuratus, Turdus rufiventris, Zonotrichia capensis, Basileuterus culicivurus and Coereba flaveola. The less frequent species were Buteo Magnirostris, Columba pumplea, Columbina talpacoti, Crotophaga ani, Dryocopus lineatus, Knipolegus nigerrimus, Myiodynastes maculatus, Chiroxiphia caudata, Saltator fuliginosus, Pipraeidea melanonota, Passer domesticus and Trichothraupis melanops. Key words: Biodiversity. Birds. Jaraguá. Ornitology. Notas 1 Texto elaborado a partir do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para o curso de Ciências Biológicas, da Uninove, sob orientação do professor André Paulo Correa de Carvalho. Referências DARIO, F. R.; ALMEIDA, A. F. Influência de corredor florestal sobre a avifauna da Mata Atlântica. Scientia Forestalis, Piracicaba, v. 58, p. 99-109, 2000. DARIO, F. R.; VICENZO, M. C.V.; ALMEIDA, A. F. Avifauna em fragmento da Mata Atlântica. Ciência Rural, Santa Maria, v. 32, n.6, p. 989-996, 2002. DEVELEY, P. F.; ENDRIGO, E. Guia de campo aves da grande São Paulo. 1. ed. São Paulo: Aves e Fotos, 2004. HOFLING, E.; CAMARGO, H. F. A. Aves no campus. 3. ed. São Paulo: Edusp, 1999. PINTO-COELHO, R. M. Fundamentos em ecologia. 1. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. PIRATELLI, J. A. Comunidades de aves de sub-bosque na região leste de Mato Grosso do Sul. 1999. Tese (Doutorado em Zoologia) Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Rio Claro, 1999. POZZA, F. R.; PIRES, J. S. P. Bird communities in two fragments of semideciduous forest in Rural São Paulo State. Brazilian Journal of Biology, São Carlos, v. 63, n. 2, p. 307-319, 2003. POZZA, D. D. Composição da avifauna da estação ecológica de São Carlos (Brotas SP) e reserva ambiental da Fazenda Santa Cecília (Patrocínio Paulista SP). 2002. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Recursos Naturais) Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2002. SICK, H. Ornitologia brasileira. 1. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. SÃO PAULO (SP). Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Projeto Biota Jaraguá. São Paulo: 2000. SOUZA, D. All the birds of Brazil: an identification guide. 1. ed. Salvador: DALL, 2002. STRAUBE, F. C. Avifauna da área especial de interesse turístico do Marumbi, Paraná, Brasil. Atualidades Ornitológicas, Ivaiporã, v. 113, p. 12, 2003. EDITORIAL ENTREVISTA ARTIGO INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES CENTRO DE ESTUDOS ORNITOLÓGICOS. Parque Estadual do Jaraguá. São Paulo: 2002. Disponível em: <http://www.ib.usp.br/ceo/listasun/listajar.htm>. Acesso em: 28 ago. 2003. DARIO, F. R. Influência de corredor florestal entre fragmentos da Mata Atlântica utilizando-se a avifauna como indicador ecológico. 1999. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1999. recebido em: 18 mar. 2005 / aprovado em: 29 mar. 2005 Para referenciar este texto: PENSE, M. R.; CARVALHO, A. P. C. de. Biodiversidade de aves do Parque Estadual do Jaraguá (SP). ConScientiae Saúde, São Paulo, v. 4, p. 55-61, 2005. ConScientiae Saúde, São Paulo, v. 4, p. 55-61, 2005. 61